Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

31/05/10

Vocações nos Estados Unidos

Costuma celebrar-se no princípio de Janeiro, nos Estados Unidos da América, a seguir à Festa do Baptismo do Senhor, a Semana das Vocações. Na celebração desta Festa os cristãos renovam os compromissos do seu Baptismo: caminhar segundo as pegadas de Jesus, amando a Deus acima de todas as coisas, vivendo na força da caridade, como fogo do Espírito Santo, dando graças a Deus pelo dom da vida, acertando o passo com Cristo e com a sua comunidade de fé à qual procura servir e sobretudo entusiasmar na vivência da fé. Isto num mundo em que há muitos baptizados que depressa esqueceram ou puseram de parte este compromisso com Deus e com os irmãos.

O sacramento do Baptismo introduz-nos no amor do Pai e por Ele somos chamados a anunciar a Boa Nova em todas as dimensões da vida, social, política, comunitária.
"Esta semana oferece a oportunidade às paróquias de toda a nação de promover as vocações por meio da oração e a educação", disse o cardeal-arcebispo de Boston, Sean O'Malley, Presidente da Comissão Episcopal para o clero, a vida consagrada e as vocações. "É nossa responsabilidade encorajar os jovens a serem generosos em sua resposta quando sentem a possibilidade de uma chamada ao serviço na Igreja.
Devemos pedir também aos pais, aos familiares e às nossas comunidades paroquiais para fazer parte deste novo trabalho, enquanto as vocações são responsabilidade de todos. Como rezamos por um maior número de seminaristas e candidatos à vida religiosa, recordamos também a importância de salvaguardar o dom da vocação".

Nesta semana se tomam várias iniciativas para sublinhar a importância do sacerdócio e da vida consagrada, como mediação entre Deus e a humanidade, com renovada intensidade neste Ano Sacerdotal. As várias dioceses dos Estados Unidos apresentam a missão do sacerdote por meio dos jornais diocesanos, dos sites web e muitas outras variadas
iniciativas: congressos, oração, reflexão, retiro, adoração ao Santíssimo Sacramento, apadrinhamento de sacerdotes.

Os Estados Unidos são o país que põe por ano muitos milhões para ajudar os países mais pobres e sobretudo aqueles que vão sendo flagelados pelas forças incontroláveis de uma Natureza que se vem vingando cada vez com mais frequência da "sacrílega" actuação de muitos que agem descaradamente contra as leis naturais. Podem os
habitantes dos Estados Unidos não serem dos melhores, mas pelo menos manifestam sua solidariedade, pois é um país rico, que tem governado a banca e a economia. É um país no entanto onde também há naturalmente pobreza e há também muitos malandros que não querem trabalhar. Mas também faz o bem a muitos, embora à mistura de guerras. São um travão na proliferação destas, através da via diplomática, onde tem tido
ultimamente gente de alto gabarito.

Segundo "The Official Catholic Directory 2009", há actualmente nos Estados Unidos 41.489 sacerdotes (28.061 diocesanos e 13.428 religiosos), 4.973 seminaristas (3.274 diocesanos e 1.699 religiosos), 60.715 religiosas e 4.905 religiosos não sacerdotes.

ARMANDO SOARES smbn


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Senhor presidente, francamente, não gostei!

Quando sua Ex.cia o senhor Presidente da República promulgou, “à primeira”, a lei do casamento de pessoas homossexuais, fiquei triste, magoado… deveras desapontado. Não tanto por tê-lo feito, mas sobretudo pelo modo como o fez.

Senhor Presidente, eu não vou ser malcriado. Em obediência ao Quarto Mandamento da Lei de Deus que nos manda “honrar pai e mãe e outros legítimos superiores”, minha mãe sempre me ensinou com todo o cuidado a respeitar as autoridades legitimamente constituídas. É o caso de V. Ex.cia. E mais lhe direi ainda: num tempo de democracia tão baixa em que a maior parte do povo, aprendendo aliás com o exemplo dos políticos, referindo-se a Vossas Excelências, diz simplesmente e sem respeito “o Cavaco”, o Guterres” e “o Sócrates”, eu continuo a dizer o “Senhor Prof. Cavaco Silva” e “o Senhor Engenheiro Sócrates”. Já vê Vossa Excelência o respeito que tenho pelas autoridades, quer concorde com elas quer não concorde.
Não me fico porém sem lhe dizer que a ideia que tinha a seu respeito – um homem firme, honesto, seguro, coerente – desvaneceu-se no meu espírito.
Sinceramente, não era isto o que eu esperava de V. Ex.cia.
Não me leve a mal por favor, que a minha intenção não é ofendê – lo, nem eu tenho tal direito. Porém, quando vi V. Ex.cia na televisão a explicar ao país e à nação, por a mais b (com alguma dificuldade, notava-se), a sua decisão de aprovar de bandeja a lei que lhe chegara da Assembleia da República a legalizar os casamentos (?) entre pessoas do mesmo sexo, eu não consegui deixar de me lembrar do governador Pilatos que, em Jerusalém, dois mil anos antes de nós, também veio ao pátio exterior do seu palácio dizer ao povo que não concordava com a morte de Jesus mas que, já que o povo assim pedia e queria, o ia entregar de imediato. Ele, ao menos, ainda lavou as mãos!...tentando purificar-se do crime e desresponsabilizar-se da decisão.
Senhor presidente, não é tanto a promulgação que está em causa. V. Ex.cia, mais cedo ou mais tarde, acabaria possivelmente por ter de o fazer.
O que está em causa é a sua incoerência: diz ao povo que não concorda com a lei e promulga-a de imediato, tendo outras soluções? Não concordando com a lei e indo a mesma lei contra a sua consciência, entendo eu que o mínimo que V. Ex.cia deveria fazer era devolvê-la à sua origem, indicando as razões por que o fazia, nomeadamente explicando a sua oposição pessoal fundamentada, incluindo a sua repugnância pessoal por uma coisa tão aberrante para a sua consciência e dignidade de português de lei. Tanto mais que o Governo e o Partido Socialista, com o apoio de outros mais, tinham decidido como lhe aprouve, nas costas do povo, sobre um tema tão fracturante na sociedade portuguesa, desprezando inclusivamente um pedido de referendo assinado por cerca de 100 mil portugueses merecedores de outro respeito por parte do poder político! Não acha, senhor Presidente?
Se Vossa Ex.cia agisse de modo diferente, os senhores deputados seriam obrigados a discutir de novo o assunto. Pensariam duas vezes. Aprofundariam melhor a questão. E logo depois se veria.
Se, por hipótese, a lei voltasse à mão de V. Ex.cia aprovada de novo por dois terços da Assembleia, teria então forçosamente de a promulgar, mas, nesse caso, já não era responsável pelo seu acto nem culpado pela sua assinatura. A sua discordância ficaria de pé. Honrosamente de pé. Assim, não. Assim, o seu acto foi semelhante ao de Pilatos, e desgostou muitos e muitos honestos, respeitosos e educados portugueses.
Disse V. Ex.cia que teria de o fazer mais tarde, e que só se iria perder tempo com novas e repetidas discussões no Parlamento, havendo necessidade e urgência de os senhores deputados tratarem de outros assuntos relacionados com a crise nacional. Até agora, não vi nada, senhor Presidente, a não ser as “tricas-tricas” do costume, o lançamento de mais e mais impostos sobre o povo e um aumento brutal das despesas vergonhosamente escandalosas da Assembleia da República, em dias de tão difíceis para o resto do país.
Peço desculpa ao senhor Presidente se fui inconveniente ou injusto. V. Ex.cia sabe muito melhor do que eu o que deve ou não deve fazer. Está informado de assuntos e problemas que eu desconheço certamente.
Uma coisa porém é certa: aos olhos de muitos e bons portugueses, exemplares no cumprimento dos seus mais sagrados deveres cívicos, não lhe ficou nada bem ir dizer adeus ao Papa ao aeroporto Sá Carneiro e voltar a correr para o seu Palácio para assinar uma lei destas.
Desculpe…mas eu não gostei.
E não fui só eu.

Resende, 25 de Maio de 2010
J. CORREIA DUARTE


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Ainda Bento XVI

De prestigiado oficial-general, responsável, ao tempo, da Chefia do Estado-Maior da sua arma, recebi uma carta da qual tomo a liberdade de citar uma passagem. Apenas um comentário: uma coisa é o triunfalismo e a emoção incontida na vinda de Bento XVI; outra coisa, é, a justiça prestada a quem, pelo espírito de competência, de sacrifício, de liderança de um conjunto coeso de pessoas, soube imprimir um ritmo de mobilização, em nome da fé, da cidadania, do bom gosto e de uma concertação plural, possíveis porque tais raras virtudes espelharam a pureza e a força do povo.



E passemos ao texto:
“E o que sentirão ao verificar que, quando o País se está a afundar, e é preciso enfrentar a crise, é o dinheiro dos nossos impostos que vai tapar os buracos dos desvios gananciosos feitos pela banca e, quando do exterior, para quem a nossa credibilidade já quase deixou de existir, nos são exigidos duros sacrifícios, são sempre os mais desfavorecidos que pagam? (…) E no meio deste mar de desgraças surgem agora uns poucos dias de beleza, de irmandade, de esquecimento do sórdido, de elevação não contestada, de verdadeira espiritualidade sentida e vivida por milhares de pessoas, numa demonstração de que o povo é, afinal, o detentor oculto mas permanente dos valores que interesses menos confessos têm vindo a pretender destruir (…)
O Sr. D. Januário sabe que eu não sou católico, mas isso não me impede de saber distinguir onde estão esses valores, de me sentir irmanado com os sentimentos de espiritualidade verdadeiros, de apreciar a beleza e grandiosidade da cerimónia, a sua dimensão e o seu significado.
Factos que fazem doer a “muita gente”.
E foi na sequência deste curto mas significativo intervalo na ansiedade, que senti necessidade de desabafar, de manifestar como me impressionou toda a organização dos eventos, como senti que, no meio da mediocridade em que vivemos, estes poucos dias de elevação e beleza poderiam ser, para todo o mundo que estava a assistir nas televisões e para os estrangeiros presentes de tantos países, a verdadeira imagem doo nosso povo, tão diferente da que a irresponsabilidade dos responsáveis faz acreditar.
O agradável comentário do Sumo Pontífice à hipótese de o avião poder estar retido, foi simples mas significativo episódio bem significativo da sua própria apreciação de toda a visita! (…)
Para além de todas as considerações de natureza religiosa e de índole estética, todo o Acontecimento foi verdadeiro sucesso para quem nele participou, presente ou assistente, e está de parabéns a Igreja Católica e em especial a Igreja Portuguesa.
E que muito custe aos ditos “laicos” para que se apercebam que o povo é que é a verdadeira essência da Nação!”

MDN, Lisboa, 28 de Maio de 2010

Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança


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24/05/10

Bento XVI - Surpreendente

Já muito se disse e escreveu sobre o Papa Bento XVI, a pretexto da sua recente visita a Portugal. Apesar disso, não resisti a tecer, também, algumas considerações sobre este tão importante evento, que veio mudar, radicalmente, o pensar de muitos (católicos e não católicos).

Ao abrirmos os jornais e televisões encontramos os mais variados títulos: “Viagem a Portugal mudou a imagem de Bento XVI”, “Viagem do Papa foi uma surpresa”, “Este Papa e o comum preconceito”, “O Papa que não sorria”, “Bento XVI deixa herança a Fátima” (Expresso); “A mudança de Bento XVI”, “Uma visita que moveu milhões” (Sol); “0 Papa que cantou nos Jerónimos” (Sábado); “Ratzinger chegou a Portugal e partiu Papa” (Televisões), etc.
Estes títulos reflectem o pensar de muitos a respeito do actual Papa, eleito com 78 anos de idade, um dos mais eminentes teólogos, que sucedeu a João Paulo II, que ascendeu a chefe da Igreja Católica aos 58 anos, mais extrovertido e que cativava mais com a sua presença, do que com a palavra. O Papa João Paulo II, vindo dum país comunista, desportista, operário fabril e actor de teatro, quando foi eleito Papa, despertou, facilmente, a simpatia de todos; Bento XVI, académico, teólogo, músico, foi recebido, pela maioria, com antipatia e preconceitos, rotulado de “conservador”, “duro”, “introvertido”, “antipático”, etc. Os jornais chegaram a titular “ A marca Bento XVI vende menos que João Paulo II”!
No fim do dia 14 de Maio, os meios de comunicação social já afirmavam que a “Viagem a Portugal mudou a imagem do Papa”, pois, não só as pessoas passaram a ter uma ideia diferente de Bento XVI, como ele próprio também mudou fruto da calorosa recepção, que os portugueses lhe fizeram!
Podemos afirmar que a maioria dos portugueses (aqueles que o acompanharam, presencial-mente, e todos os outros que o seguiram na televisão) ficou satisfeita, honrada e agradecida pela vinda de Bento XVI (muitos países não têm essa honra), embora alguns (os do costume) não perdessem a oportunidade para a criticar, pois fez perder “milhões” com as “tolerâncias de ponto” e se gastou muito dinheiro com a “recepção”, num tempo de “crise” económica e com tanta gente a passar fome!
A ironia está em que todos esses “críticos” ficaram “satisfeitos” por não ir trabalhar, dando mostras que não estão nada preocupados com a tão propalada “crise”! O Evangelista João relatou, já há dois mil anos, a “critica” feita por um certo Judas ao gesto amistoso de Maria de Betânea quando brindou Jesus de Nazaré com um perfume caro (João 12, 4-8)!
Bem fez o Presidente da República ao agradecer, na despedida, a visita do Papa a Portugal: “A Vossa presença, a Vossa palavra e o Vosso exemplo trouxeram esperança aos corações agradecidos dos Portugueses...Portugal despede-se de Vós revigorado pela mensagem de esperança e confiança que nos deixais”.
Podemos dizer que as várias intervenções do Papa Bento XVI, ao longo dos quatro dias, “tocaram”, indelevelmente, todos os homens de “boa vontade” e não só os “fiéis católicos”, que acorreram, fervorosamente, a ouvi-lo. Mesmo antes de aterrar no aeroporto de Figo Maduro, já havia respondido, dum modo concludente, a todos aqueles que exigiam dele uma declaração sobre a “Pedofilia na Igreja”: “A maior perseguição não vem dos inimigos de fora, mas nasce nos pecados da própria Igreja”. Em Fátima, a propósito do celibato, lembrou aos “consagrados”: “Somos livres para ser santos, livres para ser pobres, castos e obedientes”.
No primeiro dia da visita, 11 de Maio, no Terreiro do Paço, o Santo Padre elogiou o espírito missionário dos portugueses, no seguimento da recomendação de Jesus: “Ide fazer discípulos de todas as nações”. A propósito dos ataques à Igreja “santa e pecadora” recordou que “é nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos...e que a prioridade pastoral hoje é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante da perspectiva evangélica no meio do mundo, na família, na cultura, na economia e na política”.
Aos homens da cultura, Bento XVI recomendou um equilíbrio entre a tradição e o presente inovador, com uma busca constante da verdade e da beleza “Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de Beleza”.
Nos seus discursos falou também do diálogo com o mundo e da “aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo”.
No Porto, àqueles que o acusavam de conservador ou ditador, o Santo Padre lembrou que “nada impomos, mas propomos”, reconhecendo que “nos últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos”.
O Papa Bento XVI terminou a sua visita a Portugal com o desejo de um “renovado impulso espiritual e apostólico” e que a sua bênção “seja portadora de esperança, de paz e de coragem”!

Cón. Fernando Marques


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Fátima, o Papa e as Comunidades Portuguesas

Este mês de maio foi deveras especial para Portugal inteiro – residentes e emigrantes - pela visita amiga e peregrinação orante do Santo Padre, Papa Bento XVI, a três dioceses portuguesas – com grandes diásporas! - e, nelas, a toda a Igreja e Nação. Também os emigrantes, apesar de pouco citados nos discursos e mass media, foram visitados e abençoados pelo Santo Padre, pastor universal!

Maio é um mês sem igual! Sempre o foi entre os portugueses! É o mês típicamente intenso das manifestações religiosas marianas das Comunidades Portuguesas dispersas pelo mundo.
Neste mês florido em que as Comunidades, desde as mais integradas, bem acompanhadas e numerosas, àquelas mais esquecidas, sem padre e minoritárias se organizam - quase de forma espontânea e, na sua maioria sob a iniciativa principal de leigos e leigas - em mordomias nortenhas, irmandades ao estilo lusitano, associações e grupos devotos mais informais é, precisamente nesta altura que ganham visibilidade pública. É neste período que vivem um dos mais fortes momentos de comunhão, religiosidade, voluntariado e solidariedade do ano. Assim, maio será sempre o mês de Maria, da Paz, do Rosário e da Mensagem de Fátima!
Assiste-se a grupos comprometidos com o Rosário em família, em capelas de bairro ou catedrais, a Missas solenes seguidas de procissões de rua em paróquias de acolhimento, a andores engalanados de invulgar beleza guardados por homens de opa e com força de braços, a cortejos de crianças vestidas de branco e outras a imitar os três pastorinhos, a peregrinações regionais e nacionais aos santuários marianos locais (Lourdes, Banneaux, Tornquist, Einsendeln, Aparecida, Wiltz, Benoni, Lyon, só para citar alguns....) bem preparadas e animadas espiritualmente pelos missionários e missionárias que servem as comunidades católicas portuguesas e lusófonas. Muitas destas Peregrinações dos Portugueses, graças á fidelidade dos emigrantes cristãos chegam a ser a maior manifestação anual de cristãos presentes em tais dioceses pela quantidade de gente, pela simbologia cultural partilhada e beleza da religiosidade popular! A presença do sacerdote ou bispo é tão desejada que se convida, onde não há, ou então para solenizar ainda mais a festa à Virgem de Fátima sacerdotes e bispos de Portugal ou outros misionários portugueses a trabalhar pelo mundo fora. Em geral, a liturgia vai-se já adaptando à sensibilidade cultural e linguística local, sendo já muitas destas festas celebradas em várias línguas, não só a portuguesa. É Fátima a tornar-se património da igreja universal graças à fidelidade dos emigrantes em mobilidade pela Europa , pela Comunidade lusofóna e pelo Mundo. È Fátima a evangelizar com a afectividade, a festa, os sentimentos humanos, a fraternidade que brota das migrações e encontro de povos, muitas famílias e comunidades que, desiludidas com o secularismo e relativismo, hoje procuram um sentido novo para a vida, para o futuro e acusam sede de uma transcendência que liberte a alma e lhe recorde a beleza da vida como dom! A visita de mais um Papa a Fátima, o terceiro, vem dar credibilidade à mensagem de Fátima, aos símbolos culturais e à religiosidade popular de que os emigrantes portugueses têm sido arautos e testemunhas há quase um século pelo mundo.
Os emigrantes portugueses – trabalhadores, estudantes e missionários – acompanharam a Visita Apostólica de Bento XVI, como se tivessem estado presentes na calorosa missa dos Aliados no Porto, na comovente procissão do Adeus em Fátima, à beira do azul Tejo em Lisboa e no “bem-vindo” das crianças no Cristo-Rei de Almada. E, de facto, estiveram intensamente presentes e em profunda comunhão, não apenas através das novas tecnologias (TV, Rádio, Imprensa e Internet), mas, sobretudo, pela oração familiar e em comunidade. Nessa semana da visita papal e fim-de-semana que se seguiu aos dias 12 e 13 maio, multiplicaram-se as novenas, tríduos, missas, procissões, promessas e festas populares em honra de N. Sra. do Rosário de Fátima. Como também não podia deixar de ser, em palavras e gestos, unidos a toda a igreja, manifestaram a solidariedade dos emigrantes portugueses para com o Sucessor de Pedro, neste particular momento de sofrimento e perseguição mediática e ideológica para com a Igreja.
Rui Pedro



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VEM ESPÍRITO SANTO



Vem, Espírito Santo,
Com tua Luz refulgente,
Afastar de vez as trevas
Que ofuscam nossa mente,
Impedindo-nos de ler
Tantos sinais da bondade
E do amor de Deus impresso
Em nós e no universo,
Revelando-Se um Pai terno
A abraçar a humanidade.

Vem, Espírito Santo,
Que és fogo ardente de amor,
Dar-nos da fé o vigor,
Entusiasmo e encanto,
Para acolher o dif’rente
Com o sentimento gozoso
De um coração generoso,
Para que a Paz aconteça
E a Caridade floresça,
Dando muitos e bons frutos,
No tronco da Esperança,
Com sabor à confiança
No Deus da eterna Aliança.

Vem, Espírito Santo,
Fonte de Sabedoria
E verdadeira Alegria!
Vem, doce Fortaleza,
Consolação e Firmeza,
Ensinar-nos o segredo
De testemunhar, sem medo,
A fé viva em Deus Amor
Que propõe ao mundo inteiro
Seu projecto salvador,
Mostrando, em Jesus seu filho,
Quanto nos amou primeiro.

Vem, Espírito Santo,
Recriar a nossa vida,
Para sermos testemunhas
Do Amor de Deus, sem medida,
Compassivo e clemente,
Que ama e salva toda a gente.

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 21.05.2010

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Apelos a renascer



O sol, em seu esplendor,
Nada guarda para si.
Que belo exemplo de amor!

Para o mundo ser feliz
E renascer para o bem,
Põe ao serviço de todos,
Sem exclusão de ninguém,
A energia que produz,
O calor, o brilho e a luz.

As flores, ao despertar
De um sono na natureza,
Exultam por partilhar
Todo o encanto e beleza
Com quem quiser contemplar
E, com elas, descobrir
O sentido da existência
Vivida a repartir
O belo e o bom que se tem,
Para que todos aprendam
Que é feliz quem faz o bem.

Por veredas e caminhos,
Ou nas fendas dos rochedos,
Lá estão elas a animar,
Com as aves a cantar,
O penoso caminhar
Dos corações peregrinos,
Ansiosos por tocar,
Sentir e experimentar,
Em si, o poder divino,
Que os convide a renascer
E a escolher novo caminho
De vida comprometida,
Que os leve a ressuscitar
Para o amor sem medida Que Deus tem para lhes dar.

Neste Maio, em Portugal,
Há esperança renovada,
Na alma do nosso povo,
Desejoso de escutar,
Com todo o homem de bem,
Propostas de fé e vida,
Pela voz autorizada
De quem crê num mundo novo,
Onde o poder é serviço
E a força legislativa
Vem do amor sem medida,
Assente na Caridade,
Na Justiça e na Verdade.

Por isso, ousamos erguer
Nossa voz às muitas vozes
Que se unem a cantar:
Vem Pastor Universal,
Às terras de Portugal,
Com um apelo a renascer.
Vem avivar nossa fé,
Para ser força vital,
De uma nova sociedade,
No mundo e em Portugal.

Vem trazer ao povo crente
A Luz que ilumina a mente
E aquece o coração,
Para bem saber viver
Do amor e do perdão,
Servindo Cristo presente
No rosto de cada irmão.

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 6.05.2010





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Razões da Esperança


Num clima de incerteza
E falta de confiança,
Fez-se ouvir a voz profética
Do Pastor Universal,
Nas terras de Portugal,
Calma, firme e coerente,
Humilde e dialogante
Com quem pensa diferente,
Dando razões da Esperança
Que nos abre à dimensão
Da ternura e da beleza,
Da justiça e da verdade,
Frutos do amor compassivo
Que nos revela o Deus vivo
No humano coração,
Sedento da identidade
Que o banhará de paz,
No mar da felicidade.

Por isso, vibrou feliz,
Quem escutou confiante
Essa voz testemunhante
Do amor do Redentor
Que a cada um olha e diz:
-Deus te ama de verdade!

A alegria irrompeu
E a festa aconteceu,
Sob os céus de Portugal
Que, com ardor, acolheu
O Pastor Universal,
Com quem cantou e orou,
E o mundo inteiro abraçou
No silêncio sem igual
Em que a fé os mergulhou.

E ao saber-se, assim, amado,
Quem não se sente chamado
A ser proposta da paz,
Da justiça e da verdade,
Da esperança e da bondade,
Que Deus Pai de Amor nos faz,
Para bem da humanidade?

Maria Lina da Silva, fmm
Lisboa, 14.05.2010




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21/05/10

Bento XVI em Portugal - O Papa da serenidade e da firmeza

O Papa Bento XVI que tem sido contestado por muitos numa comparação com o grande amigo e santo que foi João Paulo II, fez em Portugal uma caminhada de 4 dias tendo conquistado a alma do povo português e connosco aprendeu a sorrir e exprimir aquela serenidade reveladora dum homem de profunda espiritualidade, super inteligente, tímido mas afável, prudente, cordial e mais próximo do povo, quebrando algumas
vezes o protocolo para se aproximar da multidão. Isso tenho constatado nas cinco vezes que me encontrei em Roma em audiências. Sempre me impressionou.

Na viagem de regresso a Roma mandou o seguinte telegrama a Sua Excia o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva: "Ao deixar o espaço português, venho renovar-lhe a deferente saudação e cordial gratidão pelo acolhimento fidalgo que me reservou e pela solicitude do Governo em assegurar tranquila realização desta minha visita a Portugal, com ponto alto em Fátima, onde pude ajoelhar aos pés de Nossa Senhora,
depondo no seu coração materno aflições e esperanças da família humana inteira e de modo especial do dilecto povo português sobre cujo presente e futuro invoco a luz protectora de Deus com propiciadora Bênção Apostólica. Benedictus PP XVI".

No dia 16 de Maio falando a meio milhão de peregrinos renidos na Praça de S. Pedro confessou: "Foi emocionante para mim ver, em Fátima, a imensa multidão que na escola de Maria rezou pela conversão dos corações" e agradeceu à Virgem Maria que pôde venerar no Santuário de Fátima.
Ainda no avião Bento XVI falou da pedofilia que tem afectado a Igreja Católica sublinhando que a " maior perseguição à Iggreja" não vem de "inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja". Daí a necessidade de reaprender a penitência, de aceitar a purificação, de implorar perdão". Como disse o Padre Anselmo Borges "Bento XVI há algum tempo que tem assumido uma tomada de posição muito forte contra a pedofilia
na Igreja".

No Terreiro do Paço, em Lisboa, recordou o nome de alguns santos, como o grande missionário São João de Brito, e o papel dos portugueses na evangelização e deixou um convite a fazerem agora a evangelização na Europa ""Hoje, participando na Comunidade Europeia, levai o contributo da vossa identidade cultural e religiosa", "cada mulher e homem cristão tem de ser uma presença irradiante da perspectiva evangélica
no meio do mundo, na família, na cultura, na economia e na política".
Foi um desafio a todos e especialmente aos jovens. Estes foram acompanhando e ovacionando o Papa ao longo da sua visita e decobriram um homem tímido mas bondoso. Firme e apelativo: "A prioridade pastoral hoje é fazer de cada mulher e homem cristão uma presença irradiante da perspectiva evangélica no meio do mundo", afirmou.
Aos homens da cultura , no CCB, disse: "fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza".

Mas o Papa veio como peregrino de Fátima. Ajoelhou aos pés da Virgem e rezou por Portugal e pelo mundo inteiro que precisa de respeitar os verdadeiros valores e a dignidade da pessoa humana. "Venho como peregrino de Nossa Senhora de Fátima, investido pelo alto na missão de confirmar os meus irmãos que avançam na sua peregrinação a caminho do céu".
No Santuário rezou com meio milhão de pessoas.
A todos os cristãos exortou: "Não tenhais medo de falar de Deus e de ostentar sem vergonha os sinais da fé, fazendo resplandecer aos olhos dos vossos contemporâneos a luz de Cristo".
Aos Bispos disse que o tempo actual exige "um novo vigor missionário dos cristãos, chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do Mundo"
Aos cerca de oito mil padres, diáconos e seminaristas deixou pedidos de fidelidade, castidade, pobreza e obediência. E não se pode esquecer que "a fidelidade à própria vocação exige coragem e confiança".
Com as organizações da pastoral social, louvou a acção caritativa da Igreja no país e as iniciativas que lutem contra as condições socioeconómicas que levam ao aborto e falou da necessidade de avançar com acções que respeitem os valores da família, "fundada sobre o matrimónio indissolúvel de um homem com uma mulher". For forte. Como
disse Eugénio da Fonseca, Presidente da Caritas Portuguesa: "Foi forte, mas ele ?~e assim mesmo: nunca vira a cara à verdade e à defesa da vida em todas as suas dimensões".

No Porto, uma multidão de cerca de 150 mil pessoas encheu a Avenida dos Aliados. O tema da homilia foi o da missão, numa diocese que se encontra a viver a Missão 2010 que quer dinamizar os católicos da diocese. E sublinhou: "é necessário que vos torneis comigo testemunhas da ressurreição de Jesus. Na realidade, se não fordes vós
as suas testemunhas no próprio ambiente, quem o será em vosso lugar?"
Antes de regressar a Roma, numas palavras de agradecimento, que a todos sensibilizaram, afirmou: "Levo guardada na alma a cordialidade do vosso acolhimento afectuoso, a forma tão calorosa e espontânea como se cimentaram os laços de comunhão com os grupos humanos com quem pude contactar".

O Presidente Cavaco Silva, que acompanhou o Papa Bento XVI durante toda a sua visita, disse que os portugueses: "nele encontraram a bondade humana, o carisma sereno, a profundidade de pensamento, a fortaleza de ânimo, sinais inspiradores num tempo de grandes desafios como aquele que atravessamos. Portugal despede-se de vós revigorado
pela mensagem de Esperança e confiança que nos deixais".

Temos de remar contra o pessimismo daqueles que só vêem no horizonte o "Inverno da Igreja". Há que confiar na "Primavera", surgida nas "novas comunidades eclesiais" sob o "sopro" do Espírito, que vão rejuvenescendo a Igreja. Ficou connosco a imagem do Papa Bento XVI que é, no dizer de Rui Osório "activo na contemplação e contemplativo na acção. Mesmo na celebração da Eucaristia privilegia o silêncio e a
escuta".
Veio desconhecido e foi mais conhecido, o homem da serenidade, de inteligência profunda, bondoso, mais próximo do povo. E que gostaria de voltar nos 100 anos das Aparições, se lhe fosse possível.
Merece um caloroso elogio D. Carlos Azevedo e todos aqueles que com ele colaboraram para esta peregrinação fosse um êxito mediático e na dimensão dum aprofundamento da fé da vida cristã no povo português, na Europa e no Mundo. Para todos o Papa falou. Como diz D. Bruno Forte: "Sem Deus o homem está à beira do abismo". A práxis o demonstra. Cada vez estamos mais perto. A voz do Papa é sempre um alerta para arrepiar caminho.

Armando Soares
Padre e Jornalista CP. 6100


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Ao Compasso do Tempo – Crónica de 21 de Maio de 2010e 2009

Leitura semana dos problemas do mundo e da Igreja

Alguns dias antes de o helicóptero do Papa Bento XVI aterrar no Regimento de Artilharia da Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, achei que era meu dever oferecer-me para, em breve conferência, destacar aspectos da doutrinação do actual Sumo Pontífice.
Revelei como peças-mestras desse pensamento as seguintes três dimensões: a)o diálogo da Igreja com correntes culturais em todos os preciosos momentos da história.
A este propósito, recordei uma opção de há cerca de quarenta anos! Tendo sido, nessa altura, encarregado da cadeira de História da Filosofia Medieval, na Faculdade de Letras do Porto, escolhi o 2º capítulo da “Introdução ao Cristianismo” do teólogo Joseph Ratzinger para articularmos o encontro interdisciplinar entre o cristianismo nascente e a cultura filosófica da época. Do conjunto de conhecidos peritos (E.R. Dodds, J. Pépin, W. Yaeger), optei por Ratzinger, cuja obra citada constituía publicação recente (1968, em Munique, e traduzida em 1969, nas Edições Sígueme, em Espanha).
“Não é necessário insistir na revolução que, em ordem à direcção da existência humana, implica o facto de que o Supremo não seja já a autarquia absoluta e fechada sobre si mesma, mas a relação, o poder que cria, conduz e ama todas as coisas… (…) Aparece assim a identidade original da verdade e do amor” (trad., Salamanca, Ed. Sígeme, 1970, p.119);
b) a frontalidade com os problemas e o tempo. Nesta perspectiva, o discurso em Ratisbona (12 de Setembro de 2006) põe a nu as violências operadas pela irracionalidade de uma escolha (no caso, a islâmica), salientando que o mesmo défice, após o apogeu do século treze, foi visível nos últimos tempos da medievaliedade, quando o voluntarismo menorizou a Razão, tornando-se prioritárias as decisões no tocante ao questionamento reflexivo.
E vejamos… Se Bento XVI foi julgado e inadequado (pois a civilização muçulmana não foi um património de desvios e irrelevâncias…), poucos, em atenção ao texto, foram capazes de notar que equivalente reparo foi endereçado ao pensamento cristão, particularmente no tocante a Duns Escoto, muito próximo (ou influenciado?) pelo árabe Ibn Hazim. A reflexão de Bento XVI não é preconceituosa, do ponto de vista lateral islâmico. A menos ponderação racional opera no pensamento cristão, de alguns momentos, como, na época contemporânea, a racionalidade não se pode confinar a delírios tecnicistas, marginalizados restantes aspectos da instrumentação intelectual.
Se hoje tivesse como responsabilidade o magistério filosófico, adoptaria como texto de aula teórica ou prática, este ensinamento-síntese das múltiplas irrupções doutrinais da Idade Média.
Como a matéria não é fácil… nem sequer se estuda um texto… Nem sequer se defronta um “adversário”… que pensa a história do próprio pensamento! Esta a Raiz de preconceitos e de desinteresse pelo que é complexo…;
c) em terceiro lugar (numa revisão tão sintética), salienta-se a sensibilidade ao empenhamento social, onde a defesa da justiça é o início do compromisso solidário.
A “caridade na verdade” foi analisada por multidão de pessoas. Mas foi também ignorada por uma multidão maior.
No decurso do texto, a “crise” actual é posta em cena, respondendo-lhe o Papa com soluções de mudanças, onde a ética governa o lucro, a Riqueza é uma partilha ao serviço de todos, e a solidariedade conduz até lonjuras inauditas, o que um tímido direito vai esboçando…
E agora, na visita de Bento XVI ao Porto, a Câmara Municipal do Porto ofereceu aos bispos, em 14 de Maio, o livro “A Teologia da História de São Boaventura” pela primeira vez traduzida no nosso meio, da autoria de J. Ratzinger (1957), sendo responsável a editorial franciscana.
Nota: Em 30 de Março último morreu, com oitenta anos, o bispo alemão (emérito de Hildesheim), Joseph Homeyer. Foi um europeísta exemplar. A Igreja de Portugal é-lhe devedora em algumas das nossas dioceses.

MDN, Capelania Mor, 21 Maio de 2010

Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança

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18/05/10

Visita do Papa Bento XVI - Em Fátima no meio do povo... reflectindo

Sentindo ainda nos ouvidos, repassando pelo coração, saboreando com a inteligência... as palavras, os gestos, a presença do Papa Bento XVI como que ousamos – sobretudo em Fátima – viver este acontecimento da graça de Deus, que foi a visita papal entre 11 e 14 de Maio, duma forma diferente. Atendendo à nossa condição eclesiástica poderíamos ter estado num lugar previamente reservado, com alguma comodidade e – salvo melhor leitura – assumindo a condição de clérigo nos actos, sobretudo, litúrgicos. Por isso, tudo quanto vamos partilhar fazemo-lo da escolha em estarmos no meio do povo, com a assembleia anónima e ao sabor das mais dispares condicionantes...

Sentindo ainda nos ouvidos, repassando pelo coração, saboreando com a inteligência... as palavras, os gestos, a presença do Papa Bento XVI como que ousamos – sobretudo em Fátima – viver este acontecimento da graça de Deus, que foi a visita papal entre 11 e 14 de Maio, duma forma diferente. Atendendo à nossa condição eclesiástica poderíamos ter estado num lugar previamente reservado, com alguma comodidade e – salvo melhor leitura – assumindo a condição de clérigo nos actos, sobretudo, litúrgicos. Por isso, tudo quanto vamos partilhar fazemo-lo da escolha em estarmos no meio do povo, com a assembleia anónima e ao sabor das mais dispares condicionantes...
* Éramos milhares. Isso parece que afligiu uns tantos, que intentaram até comparar esta multidão com a dos festejos benfiquistas dias antes!
* Temos um chefe... simples, alegre e feliz. Estas vertentes confundiram quantos disseram no passado – da sua cátedra ideológica ressabiada – que Bento XVI era alguém frio e (talvez) sem manifestações de afecto. Já se diz que haverá um Papa antes da sua vinda a Portugal e outro daqui para a frente.
* Manifestamos alma. Foi contagiante ver pessoas de várias procedências sociais misturaram-se para viver a sua fé católica... mesmo que por entre condicionalismos de pormenor.
* Temos futuro. Como foi impressionante constatar a reverência de tantas crianças, muitos adolescentes e bastantes jovens – portugueses e não só – a vibrar com a presença serena do nosso Papa.

Apesar destes aspectos luminosos tentamos – um tanto a quente – reflectir sobre outras questões, que nos foram surgindo no decorrer da visita papal... em Fátima:
= As palavras e as emoções estiveram ao vivo na Igreja da Santíssima Trindade no encontro com os padres, diáconos, seminaristas e religiosos/as – numa mistura assaz controlada nos cartões, mas que mais parecia um cocktail incaracterístico – pela oração, a adoração do Santíssimo Sacramento, pela exortação e a consagração ao Sagrado Coração de Maria... feitas pelo Papa.
Disse-nos Bento XVI, na Igreja da SS.ma Trindade, ao final da tarde do dia 12: «A todos vós que doastes a vida a Cristo, desejo nesta tarde exprimir o apreço e reconhecimento eclesial. Obrigado pelo vosso testemunho muitas vezes silencioso e nada fácil; obrigado pela vossa fidelidade ao Evangelho e à Igreja. Em Jesus presente na Eucaristia, abraço os meus irmãos no sacerdócio e os diáconos, consagradas e consagrados, seminaristas e membros dos movimentos e novas comunidades eclesiais».

= Qual foi o povo que se aproximou desta visita do Papa: Um povo simples ou simplório? Um povo indiferenciado ou diversificado culturalmente? Um povo educado ou um algo rude? Um pouco de tudo isto, fomos vendo no grande recinto do santuário de Fátima. De tudo um pouco, tanto pela forma de escuta como no modo de estar à vontade. Com efeito, foi impressionante o respeito na noite em que o Papa Bento XVI rezou o rosário na Capelinha das Aparições. Era grande a comunhão, na noite, com o sucessor de São Pedro. Transparecia um clima de intensa espiritualidade naquele recinto, onde ecoavam as palavras do Papa da ternura – assim se poderia designar Bento XVI – numa simbiose entre o que dizia e o seu intenso olhar... contemplativo.
Disse-nos Bento XVI, antes da procissão das velas, no dia 12, à noite: «No nosso tempo em que a fé, em vastas zonas da terra, corre o perigo de apagar-se como uma chama que já não recebe alimento, a prioridade que está acima de todas é tornar Deus presente neste mundo e abrir aos homens o acesso a Deus».

= Atendendo aos sinais apresentados pelo povo e pelas autoridades, pelos responsáveis da Igreja e pela presença das comunidades/paróquias/movimentos, notava-se que há algo que tem de ser aprofundado... depois desta visita papal.
Disse-nos Bento XVI, na homilia da missa do dia 13: «Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo, veio do Céu a nossa bendita Mãe oferecendo-se para transplantar no coração de quantos se Lhe entregam o Amor de Deus que arde no seu. Então eram só três, cujo exemplo de vida irradiou e se multiplicou em grupos sem conta por toda a superfície da terra, nomeadamente à passagem da Virgem Peregrina, que se votaram à causa da solidariedade fraterna. Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade».
Estivemos, em Fátima, entre o povo e até fomos dos que não conseguiram comungar, na missa presidida pelo Papa, por falta de hóstias... mas só mais tarde numa celebração em ritmo vietnamita.
Do meio do povo quisemos estar atentos. Assim sejamos todos dignos de prosseguir a nossa caminhada de fé em Igreja católica.

A. Sílvio Couto


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O Papa da Amizade

Visita de Bento XVI a Portugal - 11 a 14 de Maio de 2010

Por ser cristão e compreender que a visita de um Papa ao nosso país se traduz num acontecimento extraordinário, tanto para a Igreja Portuguesa como para quase todos, resolvi colocar por escrito a importância da sua vinda até nós.
A ideia de muitas pessoas, inclusive a minha, era de que estava para vir um Papa a Portugal muito marcado pelos tempos de quando era Prefeito para a Doutrina da Fé. Portanto um grande teólogo, filósofo e músico mas também uma figura rígida, fria e austera.
Contudo a sua visita vem deitar por terra qualquer estereótipo que se poderia ter sobre o Papa Bento XVI.
E a sua mensagem começa em plena viagem de Roma-Lisboa, ao dizer com toda a verdade e clareza que a Igreja tem pecados e que quem os comete são pessoas ligadas a ela, necessitando por isso de uma purificação profunda.
Depois as suas primeiras palavras, já no aeroporto de Figo Maduro em Lisboa, começaram por desvendar a sua intelectualidade, mas, ao mesmo tempo, a sensibilidade que demonstrou quando disse que vinha para falar a todos (sem excepção, diga-se, cristãos e não cristãos)e também se referiu a Portugal como pátria amiga.
Como tal, considero Bento XVI o Papa da Amizade porque quase sempre em todos os seus discursos fez questão de fazer referência à amizade, ao amor que os cristãos jovens e adultos devem ter para com Cristo e a Igreja.
Em Lisboa, a celebração do Terreiro do Paço é marcada pelo seu belo discurso onde menciona a importância que Portugal e em especial a cidade de Lisboa tiveram na evangelização e dilatação da Palavra de Deus, pedindo que continuemos a espalhar essa mesma Palavra de Deus anunciada por tantos santos portugueses.
Bento XVI demonstrou igualmente um afecto muito grande pela juventude e o seu à-vontade no pequeno discurso que fez aos jovens nessa noite deixou-nos claramente a ideia de que o Papa se preocupa com a juventude; que o Papa nutre um enorme carinho pelos jovens; que o Papa quer estar com os jovens.
A sua simplicidade continuou quando rompeu com o protocolo de estado e se deslocou em direcção a umas crianças. Mais uma vez é-nos demonstrada a sua amizade pelos que o vêm ver, por aqueles que estiveram horas a fio à sua espera e com esperança de um pequeno gesto da sua parte, como um aceno, um olhar, um sorriso, um cumprimento,…
No encontro com o mundo da cultura, as suas palavras foram de uma beleza encantadora, referindo que a cultura foi ao longo dos tempos marcada pelo Cristianismo. De seguida admitiu que a Igreja necessita de se actualizar e de continuar a proclamar a verdade no mundo da cultura. Fez igualmente referência à alma portuguesa. E cito as palavras de Sua Santidade no discurso que proferiu neste mesmo encontro:
” Prezados amigos, há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade.”
Fátima é, sem dúvida, o momento alto desta viagem de Bento XVI. Ele, ao ter afirmado que é um peregrino de Fátima, colocou diante de Nossa Senhora todos os problemas do mundo e o sofrimento em que a Igreja se encontra mergulhada. Foram momentos intensos de entrega pessoal a Nossa Senhora.
Mais tarde pede a todos os cristãos que não tenham medo de falarem de Deus, de se assumirem como crentes e de apresentarem sem qualquer vergonha os sinais da Fé.
Depois, já na recitação do Rosário, Bento XVI mostra uma vez mais um gesto belo e de profunda comunhão para com todos os cristão ali presentes. Fez questão de recitar o rosário por meio do terço que lhe fora oferecido pelo bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto.
Bento XVI na homilia do 13 de Maio mostra mais uma vez que a humanidade está em sofrimento e precisa da bênção de Nossa Senhora. Ele que se encontra ali aos seus pés como um simples peregrino juntamente com os demais.
O Papa veio a Fátima rezar por toda a humanidade e de certa forma rezar pela Igreja Católica face aos acontecimentos recentes.
É deste modo que refere que a missão de Fátima encontra-se por concluir. Ou seja, há muito sofrimento e miséria que só é ultrapassável com muito amor e fraternidade.
Relativamente ao encontro que teve com a pastoral Socio-Caritativa, Bento XVI relembra a necessidade de protegermos a Família contra os atentados como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O Papa também quis fazer uma referência positiva do bom trabalho que a Igreja realiza nas diversas valências tais como as actividades educativas e caritativas, pedindo que as mesmas “sejam completadas com projectos de liberdade que promovam o ser humano, na busca da fraternidade universal”.
No encontro com os Bispos portugueses, o Papa Bento XVI lamenta os cristãos que se envergonham de testemunhar Cristo, nas várias áreas da sociedade, político, económico e da comunicação. Pede ainda que haja um laicado mais maduro capaz de enfrentar as dificuldades.
O Papa pediu ainda aos bispos portugueses que promovam “uma cultura e uma espiritualidade de caridade e de paz”.
Bento XVI agradeceu também a “determinação” com que os Bispos de Portugal o acompanham num momento em que “o Papa precisa de abrir-se ao mistério da Cruz, abraçando-a como única esperança”.
Na homilia feita pelo santo padre na cidade do Porto, reforça mais uma vez a necessidade dos cristãos serem missionários de Cristo neste mundo tão degradado.
Bento XVI diz ainda que “nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos.”
Portanto é preciso rasgar com tempos antigos e debater novas questões de carácter tão profundo para a Igreja como para a sociedade em geral.
Finalizo o meu pensamento afirmando de modo muito honesto que a imagem que as pessoas tinham do Papa foi-se alterando ao longo desta visita de uma forma positiva e, diria de uma forma muito profunda.
Bento XVI conseguiu conquistar os corações dos fiéis.
Os cristãos começaram a entender Bento XVI como o Papa que está próximo, que sorri, que é amigo e gentil.

Professor Tito Romeu




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Ao Compasso do Tempo – Crónica de 14 de Maio de 2010

1. Que recordação deixou em cada um de nós o Papa Bento XVI? Esperávamos melhor? Temíamos dificuldades e reacções?

2. É de opinião que cada uma das comunidades cristãs se sentiu motivada em viver com outra qualidade e exigência?

3. Que aspectos concretos deveriam ter merecido um comentário do Papa e uma esperança mais reconfortante?

4. Calo-me me já… Mas não teria havido palavras a mais, repetidas, em refrão, em “slogan”…?

5. Apesar de repetições e de cansaços, o que houve de mais primaveril, simples, humano, próximo, simpático, bom…?

6. A Igreja em Portugal merece ser transformada!
Em quê?



Capelania Mor, MDN, 14 de Maio de 2010


Januário Torgal Ferreira

Bispo das Forças Armadas e de Segurança


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10/05/10

O Papa em Protugal...

O Papa vem a Portugal.


Sua santidade virá ao Terreiro do Paço – o coração do país, rumará depois a Fátima – o coração da igreja portuguesa, e despedir-se-á no Porto – o coração do norte e o gene de Portugal.
Quem é Bento XVI?
Joseph Ratzinger nasceu em Markt, diocese de Passau – Alemanha, no dia 16 de Abril de 1927 (Sábado Santo) e foi baptizado nesse mesmo dia, na Vigília Pascal.
O pai, comissário da polícia, provinha de uma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições económicas. A mãe, filha de artesãos, antes de casar, trabalhara como cozinheira em hotéis da sua região.
A infância do papa decorreu numa pequena localidade, perto da fronteira da Áustria, a 30 quilómetros de Salzburgo, onde, num ambiente “mozarteano”, recebeu a sua básica formação humana, cristã e cultural.
A sua juventude não foi fácil: nesses tempos, o regime nazi perseguia ferozmente a Igreja Católica, como depois a perseguiu o comunismo, como agora a persegue o laicismo. Ratzinger testemunhou um dia, com amargura e revolta, o espancamento e a tortura do seu pároco antes da celebração da Santa Missa.
Foi nesse ambiente terrível de medos e de mentiras que o papa actual descobriu a beleza da verdade e o valor da fé em Cristo.
Ordenado sacerdote em 29 de Junho de 1951, iniciou um ano depois a sua famosa carreira de professor: primeiro na Escolas Superiores de Freising e Bona, depois em Munster, mais tarde na Universidade de Tubinga e, finalmente, já como Professor Catedrático, na Universidade de Ratisbona, onde foi também Vice-Reitor.
De 1962 a 1965, prestou um notável contributo no Concílio Vaticano II, como perito especialmente convidado e apreciado.
Sagrado Bispo de Munchen em 28 de Maio de 1977, e adoptando como lema da sua vida pastoral “seguir a verdade e estar sempre ao seu serviço”, assim justificava a sua escolha: “No mundo actual omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e todavia, tudo se desmorona se falta a verdade”.
Nomeado Cardeal pelo Papa Paulo VI, participou activamente na eleição do Papa João Paulo I, em Julho de 1978, e do papa João Paulo II em Outubro do mesmo ano.
Nomeado por João Paulo II Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 25 de Novembro de 1981, e sendo ao tempo o mais conhecido teólogo do mundo, foi ele também o Presidente da Comissão encarregada pelo mesmo papa de preparar o Catecismo da Igreja Católica que demorou seis anos a redigir.
Sendo um dos maiores luminares do conhecimento humano na época em que vivemos, é membro de diversas Academias Científicas e recebeu numerosos doutoramentos “honoris causa”em universidades da Europa e da América.
Para além de ser um hábil pianista, domina pelo menos seis idiomas.
Quando, depois da morte de João Paulo II, houve necessidade de eleger um novo papa, o conclave que o escolheu, em 19 de Abril de 2005, foi um dos mais breves de sempre: o seu amor à verdade, a sua dedicação à Igreja, a sua estatura moral, a sua postura ética, a sua capacidade de liderança e a sua carreira científica impunham-se de tal modo que não houve dúvidas em elegê-lo quase de imediato.
Na altura em que foi eleito, houve amplas camadas da sociedade que, estando ansiosamente à espera de um papa mais novo e mais “aberto aos novos tempos”, se sentiram desiludidas e defraudadas apelidando o papa eleito de conservador e retrógrado.
Talvez não percebessem que o Evangelho de Jesus – a doutrina que a Igreja segue e o estatuto a que a Igreja obedece – não deve nem pode adaptar-se aos anseios fáceis e aos caminhos largos de uma sociedade libertária que se afasta progressivamente de regras e de valores e que vai caminhando para o abismo sem se dar conta.
Não é o Evangelho que tem de ser adulterado para corresponder às mentalidades e aos costumes novos da sociedade. A nossa sociedade é que tem de abandonar muitos dos seus comportamentos e atitudes que só dão uma felicidade fácil e ilusória, pôr-se o mais depressa possível de acordo com o Evangelho e adoptar os valores que o Evangelho proclama e defende como indispensáveis às pessoas para serem verdadeiramente felizes e viverem uma vida com futuro e com esperança.
A Igreja Católica e o Papa de Roma têm a obrigação solene e séria de serem no mundo a grande referência da vida, o grande baluarte na defesa dos valores universais, a clara luz do pensamento e da verdade e a baliza segura das etapas dum mundo que caminha às vezes por caminhos ínvios e perigosos.
Ora, o Papa é isso mesmo. Deve ser isso mesmo. E tem vindo a sê-lo.
A grande luta de Bento XVI é contra o “relativismo” e contra o “secularismo” que dominam o mundo e parecem contagiar tudo e todos, nesta sociedade de hedonismo e de consumo que caracteriza os nossos dias. Ele percebeu que é essa a sua missão. Ele deu conta de que é esse o melhor serviço que pode e deve prestar ao mundo do seu tempo. E está a fazê-lo. Com grande serenidade e coragem. E com um sorriso e uma confiança que desarma os seus atrevidos inimigos. Com a mesma coragem com que João Paulo II derrubou os muros que esmagavam a liberdade em amplas regiões do mundo e reduziam as pessoas a peças de uma máquina que controlava tudo e todos: até as próprias consciências.
Bento XVI não é um demagogo qualquer que baliza os seus discursos pelo êxito que deles pode resultar! Ele é o Pai e o Pastor a quem Jesus confiou as suas ovelhas para as confirmar na Fé e na Verdade.
É isso o que ele vem fazer!
E é disso que nós, os portugueses, e todos os povos de mundo precisamos certamente.
Viva o Papa.

Resende, 02 de Maio de 2010

J. CORREIA DUARTE






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Bento XVI, identidade do cristão e abcessos sociais (notas)

O Papa actual ficará na história como papa dos abcessos da pedofilia e outros desvios da fé e racionalidade. Todas as revoluções violentas e não violentas são fracturantes. Impõem mudanças aceitáveis e mudanças arbitrárias e insustentáveis, imorais, a médio, longo e prolongado prazo. As primeiras consolidam-se, as arbitrárias tendem a regredir lentamente ao ponto de partida até reduzir as fracturas culturais. As fracturas são perdas de níveis de harmonia de mais valia que as tais mudanças fracturantes arbitrárias. Enquanto duram estas semeiam abcessos pelo corpo social que se desenvolvem e proliferam em novas fracturas e novos abcessos.

Deixando para trás as revoluções da Reforma e Contra-reforma, para as quais também valem estas notas, as mudanças arbitrárias da Revolução Francesa continuam presentes na sociedade actual em metamorfoses fracturantes diversas: deusa razão, rejeição da cultura cristã europeia, ausência de algo harmonizador, imposição de idolatrias sedutoras…Sofre-se com a falta de harmonia social. No trio de liberdade, igualdade, fraternidade falta o valor verdade e um princípio unificador, harmonizador. Falta uma referência e critério para a liberdade, igualdade e fraternidade.
As revoluções liberais posteriores têm sido um suceder-se de novas edições de mais do mesmo. A revolução comunista foi a mais clamorosa e radical e arbitrária de todas. Os seus abcessos de irracionalidade e violência arbitrária indescritível quase se pensava que seriam conquistas definitivas. Duraram setenta anos! As revoluções nazi e fascistas e os seus abcessos arbitrários duraram menos mas ainda assim longos anos. Umas e outras podem ser vistas como sucessivos desvarios da revolução francesa. Todas mantiveram ou agravaram as fracturas sociais, provocaram abcessos dentro e fora das instituições. Parecia que após os conflitos sangrentos das duas grandes guerras e do seu alastrar pelo mundo, a União Europeia se tornava uma esperança para sarar as fracturas culturais e trazer harmonia. Já se duvida. Entretanto a desarmonia cultural fracturante revestiu-se de guerra fria e de novas revoluções pelo mundo das independências dos países colonizados, dos Maios 68…(e 25s de Abril). O Vaticano II surgiu como uma enorme esperança de harmonização para dentro e fora da Igreja católica capaz de curar feridas e sarar fracturas culturais e religiosas. E a esperança ainda se mantém. Contudo não tardaram a rebentar, antes e após o concilio, abcessos inesperados de imoralidade, perda de fé, revoltas contra o papa, desvarios libertários de sexo, infidelidade aos compromissos mais sagrados, práticas de pedofilia, pederastia e homossexualidade dentro e fora da Igreja, à mistura com ondas de protestantismos pós-conciliares. Foram surgindo vários surtos arbitrários de outras metamorfoses revolucionárias em que não é difícil enxergar as sementes de todas as anteriores.
E agora aí temos o Papa Bento XVI disposto a lancetar estes abcessos sociais, culturais, políticos e religiosos. Mas faz doer e muito. É preciso muita coragem, firmeza e fé num Poder que está acima dele e que é o Senhor da História. Enquanto não se conseguir sarar as feridas e as fracturas arbitrárias e desarmonizadoras da cultura não poderá haver algum sossego e paz. Bento XVI tem muitos contra o seu projecto; fora, como seria de esperar, e dentro/fora da catolicidade. Mas o que é isso para o número astronómico dos que estão com ele à volta de Jesus Cristo e de Nossa Senhora de Fátima. É pois uma esperança o facto de que na sua peregrinação a Fátima Bento XVI não está só. Tem muita ajuda do Alto e muita dos seus irmãos/Igreja.
Fátima, 5 de Maio de 2010.
Aires Gameiro



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09/05/10

Que paixão move o nosso mundo?

Por ocasião da sua passagem pela diocese de Setúbal, o Padre Raniero Cantalamessa partilhou uma reflexão com os padres, no âmbito da formação permanente. Na abordagem que fez à necessidade de renovação do sacerdócio, o pregador da casa pontifícia apresentou três características para que possa haver uma mudança do coração/enamoramento por Cristo: concentração, renunciar a tudo e nova fonte de energia.

Se, num primeiro aspecto, atendermos àquelas exigências, que a mudança/enamoramento – mesmo ao nível humano – envolve, podemos e devemos questionar se, de facto, vivemos – mais do que para dar lições aos outros – aquelas etapas de entusiasmo, de crescimento e de maturidade da nossa relação com os outros e, mesmo, com Deus.
Vejamos, então, aquelas três características do enamoramento/mudança do coração supra enunciadas:
* Concentração
Se olharmos como somos desafiados a tentar fazer tantas coisas ao mesmo tempo, poderemos considerar que nos falta capacidade de concentração. Ainda há dias uma senhora dizia dos seus netos: eles são capazes de estar ao computador, a enviar mensagens, a ver televisão, a reenviar outras mensagens, a falar ao telemóvel, etc. Não será isto, antes, disfunção de atenções? Quantas vezes vemos a falta de consideração das pessoas umas pelas outras, pois estão a consultar a internet enquanto respondem ao interlocutor pelo telefone! Quantas vezes se tenta dar um ar de tocar muitas coisas, mas fazemo-lo pela superficialidade! Quantas vezes criámos um aspecto de atarefados, quando, afinal, não passamos de pessoas fúteis, que não levam os outros a sério nem podem ser levadas a sério também!
A exigência da concentração nota-se nas pequenas como nas grandes coisas. O treino da concentração tem de ser exercitado na qualidade de tempo que damos uns aos outros. A capacidade de concentração manifesta-se na atitude de vermos os outros olhos nos olhos, na serenidade com que falamos com eles e na disponibilidade para ‘gastarmos’ tempo com aqueles que, de verdade, amamos.
E Deus entra também neste leque de prioridades... seja qual for a vocação ou a função que possamos exercer na vida e/ou na Igreja!
* Renunciar a tudo
Depois da concentração, vem a renúncia a tudo quanto possa obstaculizar a nossa capacidade de vivermos para aquilo – este neutro quer dizer a abrangência do sentido mais do que a neutralidade de pessoas – que polariza a nossa atenção... verdadeiramente.
Efectivamente, se um homem pretende enamorar-se por uma mulher, terá de deixar as outras todas (por mais interessantes e belas que possam até ser!) para se concentrar naquela que o seu coração escolheu... e o mesmo se diga de uma mulher por um homem. Esta renúncia positiva não tem outra função do que a de permitir que ambos se aceitem numa exclusividade de dádiva em amor, em amizade ou em caridade... conforme a focagem físico/psicológico/espiritual.
Neste sentido a consagração em celibato por amor do Reino dos Céus insere-se nesta lógica de renúncia pelo enamoramento a Cristo em Igreja católica.
Nada há de mais sereno do que a renúncia por alguém – pode escrever-se com maiúscula, Deus – que envolve todo o nosso ser na profundidade da entrega, da comunhão e da partilha.
* Nova fonte de energia
Claramente se percebe quando uma pessoa está desmotivada, pois as dificuldades – próprias de quem vive em condição de fragilidade – ou são vencidas com coragem e convicção ou somos esmagados pelos flocos de pó, que, por vezes, podem entupir a nossa força de combate.
Nova energia é aquilo que todos precisamos para recomeçar cada manhã, sabendo que as agruras estão à porta, não da rua, mas do próprio quarto de dormir.
Nova fonte de energia – particularmente para um cristão – será a de elevar o pensamento para Deus e n’Ele confiar humilde e continuamente.
Deixamos a título de exemplo uma breve oração do Cardeal Mercier ao Espírito Santo para termos, cada manhã, nova energia de caminhada:
Espírito Santo, alma da minha alma, eu vos adoro.
Iluminai-me, guiai-me, fortalecei-me, consolai-me,
dizei-me o que fazer, dai-me as vossas ordens.
Prometo submeter-me a tudo o que desejais de mim
e aceitar tudo o que permitirdes que me aconteça.
Acreditamos que a nova fonte de energia é, continuamente, o Espírito Santo. Assim Ele nos renove – seja qual for a nossa vocação – e conduza, hoje.

A. Sílvio Couto

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