Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

26/09/11

Contra uma certa cultura... de fachada

Numa espécie de repulsa e duma incontida rejeição, ouso dizer – como português com alguma instrução, graças a Deus, com distanciamento de certos ‘cultos’ e ainda com alguma independência assumida e agradecida – que me enoja a petulância de alguns (pretensos) inteletuais que se nivelam pelas pretensões daqueles que os adulam e se curvam acintosamente a quem os promove e explora.

Sinto vergonha – não ‘em ser português’ como disse um certo purpurado com galões militares e outras tantas regalias de bem-falante – em ter de ficar calado – que não em silêncio nem a resmungar – ao tentarem reduzir a expressão ‘cultura’ aos fazedores dessa reinante mentalidade hedonista/materialista, marxista/maçónica e, sobretudo, em cruzada anti-cristã.
Tendo participado – ativa, consciente e atentamente – na manifestação cultural duma procissão católica, na Moita do Ribatejo – com milhares de pessoas, tanto participantes como assistentes – e sem qualquer referência noticiosa, que uns míseros fantoches – esse seria um bom epíteto para o número ‘artístico’ que serviu de boneco à notícia, no centro de Lisboa – tenham levado a dar-lhes tempo de antena como ‘indignados’, quando o termo mais correto deveria ser de ‘indignos’, apesar de tudo, nesta ‘nossa cultura’... medíocre, subsidiada e de fachada adulada e aduladora... dos patrocionadores e/ou abespinhada de quem não a promove ou aplaude... mesmo que tacitamente.

1.Culturalmente laicista por conveniência ou tática?
Não deixa de ser preocupante que a tendência da noção de ´cultura’ seja, cada vez mais, uma espécie de luta contra tudo que possa manifestamente farejar-se como avesso às coisas de índole espiritual – incluímos aqui as várias leituras sob as diferentes tendências onde a perspetiva metafísica possa surgir! – combatendo, sobretudo, o mínimo afloramento cristão... como retrógrado, conservador ou (quase) anti-social. De fato, estamos a colher os resultados da sementeira de ignorância fora de Deus e/ou da ruptura com os valores evangélicos, tanto na dimensão social como na incidência política, educacional e, mais abragentemente, cultural... pois interessou explorar um certo preconceito obscurantista, afunilando os métodos e condicionando as leituras...
Os programas da maior parte dos estudos – nas escolas secundárias e/ou nas universidades – foram sendo concebidos em ordem a decapitar da noção de espiritualidade todo e qualquer desenvolvimento dos mais novos, tornando-os servidores da ideologia que faz de cada indivíduo uma espécie de ‘ser não-pensante’, desde que aplauda uns tantos autores progressistas... na linha anti-vida, contra a família e como mentores da regulação estatal dos comportamentos com os subsídios da pílula e do preservativo... a pataco ou de emergência.
Vivemos numa tendência progressiva a fazer de cada pessoa uma espécie de joguete nas coisas de valorização da dimensão psicológica e espiritual... promovendo jogos de dissimulação, de acontecimentos de boa aceitação popular, com convívios e comezainas ao desbarato, simulando espetáculos com artistas bem cotados... pois distrair o povo vai entretendo e alienando... fazendo, agora, dos jogos (de futebol ou afins) essoutra subtileza para distrair os mais incautos, os esfomeados, os desempregados...
Até onde poderá ir esta campanha? Quem ousará afrontar tais interesses? Poderemos contar com interessados nesta luta... do lado do não-materialismo?

2. Depois do atual ‘pão e jogos’, poderá surgir uma outra cultura... humanista?
Se atendermos à época de decadência do império romano do Ocidente poderemos encontrar idênticos sinais de crise de civilização com aquela que estamos a viver: imoralidade (mistura de amoralidade com comportamentos de imoralidade, cfr. Rm 1,26-27), descalabro económico e tensões sociais... afrontamento da nova cultura emergente do cristianismo, como desafio social e moral. De fato, a força do cristianismo cresceu do lodo (esterco ou descalabro) da cultura, cada vez menos humanista, do império romano do ocidente.
Hoje, sentimos as oscilações da nossa (dita) cultura ocidental, que, como que rejeitando os seus alicerces mais comuns e fundacionais, se vê confrontada com um colapso da razão de ser do (pretenso) projeto europeu, que poderá implodir, quando cada estado ou uma ou outra das tendências quiserem impor-se às outras... mesmo que vivendo num frágil equilíbrio das várias forças... ideológicas, financeiras e morais/espirituais.
- Não basta tentar encher estádios de futebol, se o povo vive na penúria.
- Não basta fazer festas e distribuir bebidas ao desbarato, se o povo continua ignorante.
- Não basta reclamar contra tudo e com alguns, se o povo estiver desempregado e ao sabor dos manipuladores.
- Não basta encher praças e avenidas com subsidiodependentes, se o povo ao chegar a casa tiver o prato cheio de nada.
- Não basta tentar enganar... porque a mentira, a exploração e o medo depressa desenganam, quem pensa.

Porque acreditamos na força do humanismo cristão, dizemos: podem contar connosco na valorização da cultura popular, servindo as pessoas, desinteressadamente.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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Ao Compasso do Tempo - Crónica de 23 de Setembro de 2011

Já previa que tal sucedesse… A uma simples declaração, vinda da Conferência Episcopal, onde eram destacadas as razões do último recurso da greve, pus-me imediatamente o problema das consequências… Neste contexto sensível, em que o país está mergulhado, um comentário dessa índole (conforme foi publicado) é uma garrafa de gás, sob a pressão de um fósforo.

É como trazer à boca do palco a teoria da legítima defesa, no concernente a certas questões.
Em entrevista à TSF, há uma semana, declarei que, na ambiência dos nossos dias, o juízo citado iria gerar hostilidades. E foi o caso. No “Público” de 21 de Setembro, p. 35, pode ler-se: “ A Igreja, por exemplo, acaba de se juntar ao primeiro-ministro e parece querer interferir na liberdade da manifestação e no direito à indignação dos portugueses. O caminho indicado, pasme-se, foi tentar condicionar os sindicatos, dizendo-lhes que o direito à greve deve ser exercido com temperança”.

Não nego o último recurso… Nem creio que a afirmação, de modo frio, seja a relatada. Mas, seja o que for, do meu “cantinho” sinto-me na obrigação de clamar que esta não pode ser a posição da Igreja em Portugal. Por mim, nunca este será o pronunciamento oficial. Quem está ao lado do freio, vive deslocado do direito. Só que não acredito que fosse este o sentido do comentário proferido.

Estamos a atravessar um período em que, em nome do salvacionismo, tudo é patriótico e produtivo. Mesmo que as promessas sejam ao contrário, e, pior do que isso, se dê culto e devoção ao contraditório.

Bem sei que a pragmatismo derruba os melhores propósitos. Só que não posso advogar as soluções práticas que colidam com promessas e propósitos de mudança. A verdura da inexperiência dá destes frutos e tristezas.

É oportuno ouvir, ter confiança, unir e reconciliar, cultuar a lealdade, dominar com humildade a direcção do caminho, e, conforme se escreve, saber com tempo fazer “os trabalhos de casa”.

Tantas promessas a respeito de uma nova humanidade…! Mas, quando a pena de morte é a sacralizarão do assassínio, em alguns estados dos Estados Unidos, é de perguntar que diferença entre a barbárie e a civilização?!

Quando se luta pela inocência, e se vive o apocalipse, como poderei eu acreditar que a Humanidade nada quer com a abominação?

Como poderá a gente portuguesa ter a certeza de que, nos próximos tempos, não se lance mão de novos apoios financeiros, aos quais deverá corresponder o chamado “patriotismo” de quem deve pagar o que outros devem!
A moralidade é empresa muito complexa!


MDN – Capelania Mor, 23 de Setembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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20/09/11

Santo António na Rússia – uma Missão do nosso tempo

Em São Petersburgo, na Rússia, não longe da Catedral Católica da Assunção da Santíssima Virgem Maria, do Seminário Católico e da Catedral Ortodoxa da Santíssima Trindade, fica o Convento de Santo António, o primeiro convento da Ordem dos Franciscanos Menores nesta cidade. Uma longa ponte, no espaço e no tempo, entre Lisboa e São Petersburgo. Mas muito mais do que isso.

“Um Santo do mundo”
Desde que São Francisco de Assis fundou a sua Ordem, em 1210, os frades Franciscanos têm levado aos quatro cantos do mundo a sua mensagem de Paz e o seu exemplo de Amor ao próximo. Foi a esta Ordem, que instaurou um novo conceito de vida monástica – activa e de apostolado, para além de apenas contemplativa e de oração - e uma nova via na vida missionária – a “Cruzada da Palavra”, que Santo António, ao ver, em Coimbra, os corpos mutilados dos cinco primeiros mártires Franciscanos, trazidos de Marrocos pelo infante D. Pedro, quis também pertencer.
Santo António recebeu de São Francisco a missão de ensinar a Palavra de Deus aos Irmãos, Palavra essa que Santo António conhecia, interpretava e comunicava como ninguém. Foi, aliás, em reconhecimento disso, que o Papa Pio XII o proclamou Doutor da Igreja, em 1946, com a bula “Exsulta, Lusitania felix”.
De Lisboa, para os Portugueses, de Pádua, para os Italianos, “Santo António, antes de mais, é um santo universal, de todo o mundo”, como referiu Frei Vítor Melícias ao programa Ecclesia no passado dia 13 de Junho, dia de Santo António. E é um Santo de todo o mundo devido, sobretudo, à acção missionário dos Franciscanos, que, em todos os sítios onde chegavam, construíam conventos e igrejas em sua honra. Assim acontece também com a Rússia.
A presença dos Franciscanos em terras russas remonta aos princípios da própria Ordem, está inextricavelmente ligada ao estabelecimento das primeiras estruturas da Igreja Católica na Rússia e, nos dias de hoje, ao renascimento da mesma Igreja neste país.

Igrejas divergentes
Quando o Príncipe Vladimir, Príncipe de Kiev, em 988, escolheu o Cristinianismo Ordodoxo como religião oficial, os principados da Antiga Rússia que governava e que viriam a constituir a Rússia tornaram-se herdeiros de um conflito religioso que lhes era estranho (e que viria a resultar, em 1054, no Cisma do Oriente - a cisão da Igreja em Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, esta última mais conhecida, simplesmente, por Igreja Ortodoxa), mas que viriam a aprofundar, com a recusa em aceitar a união da Igreja Católica com a Igreja Ortodoxa, assinada em 1439 durante o Concílio de Florença. A Igreja Ortodoxa Russa tornou-se autocéfala, ou seja, com autoridade própria para resolver assuntos internos, e com o direito de nomear ou remover os seus próprios bispos, em todos os degraus da sua hierarquia.
Desde sempre a religião Ortodoxa serviu, para aqueles povos, como elemento unificador e de afirmação de indepência. O papel de elemento unificador foi determinante durante a ocupação Mongol (1237-1480) - a religião era o único laço que unia os vários principados da Antiga Rússia, politicamente submetidos aos Cães Mongóis.

Embaixadores do Papa
As hordas Mongóis, depois de conquistar quase todo o território da Antiga Rússia, continuaram a dirigir-se para o ocidente, transformando em ruínas cidades e aldeias Polacas e Húngaras, e chegando até à Saxónia e às margens do mar Adriático. E é durante as invasões mongóis que os Franciscanos aparecem pela primeira vez em terras russas.
Em 1245, uma delegação do Papa Inocêncio IV, constituída por três Franciscanos, partiu em direcção ao oriente, ao encontro do Cão Mongol, com a missão de estabelecer relações diplomáticas com aqueles povos e tentar converter o Cão ao Cristianismo. Esta missão era encabeçada por Giovanni di Piano Carpini, então com 63 anos, que tinha sido companheiro de São Francisco.
Pelo caminho, puderam testemunhar a violência dos Mongóis. Ao deixar Kiev, encontraram “no campo, incontáveis cabeças e ossos de mortos; era esta cidade bem grande e muito populada, e agora está reduzida a quase nada; existem ali não mais de duzentas casas, e a gente é mantida na mais dura escravidão”, como escreveu Piano Carpini. Um dos Irmãos não aguentou os horrores com que se deparou na viagem e voltou para trás, mas a missão continuou. Depois de Kiev, atravessaram o rio Volga e os Urais, e continuaram em direcção ao sul do lago Baical, chegando, em 1246, a Shar Ord, onde estava o quartel-general do Cão.
Se bem que o objectivo de converter o Cão Mongol ao cristianismo não foi conseguido, esta foi uma Missão de enorme significado: os Franciscanos levaram, pela primeira vez, o Catolicismo àqueles territórios. Por todos os sítios onde passaram, pregaram e converteram muitas das pessoas que encontraram no caminho.
Ao regresssar, Giovanni di Piano Carpini escreveu o livro “História do Mongóis, a quem nós chamamos Tártaros”. A Europa teve assim, pela primeira vez, informação sobre aqueles povos e os seus hábitos.
No futuro, os Franciscanos vieram a fundar conventos, sobretudo, nos territórios que hoje são a Lituânia, Ucrânia, Bielorrússia, parte da Rússia Ocidental, e no sul da Rússia, no Cáucaso. No século XVII, a Província Franciscana Russa-Lituana tinha como padroeiro Santo António. Quando esta Província foi dividida em duas, em 1686, a Província Russa continuou a ter o mesmo padroeiro. Foram erigidas igrejas em honra de Santo António perto de Slutsk (1598), em Miropole (1600), em Lvov (1617), em Vitebsk (1685). Sabe-se que houve também uma igreja de Santo António em Kiev.

A igreja “estrangeira”
O Catolicismo é, assim, desde as origens do estado Russo, um religião estrangeira, nomeadamente a religião de vizinhos como a Polónia e a Lituânia (durante mais de dois séculos unidas na Comunidade Polaca-Lituana ou Rzeczpospolita, 1569-1795), com quem esteve frequentemente envolvido em conflitos de guerra. Daqui resulta o papel do Cristiansmo Ortodoxo como elemento de afirmação de indepência do povo russo.
Em Moscovo, um Franciscano aparece pela primeira vez em 1526, como embaixador do Papa Clemente VII ao Grão-Príncipe Vassil III. Em 1695, atendendo a um pedido dos Franciscanos ao czar Pedro I (o Grande), iniciou-se a construção da primeira igreja Católica de pedra em Moscovo.
O número de Católicos na Rússia aumentou significativamente quando Pedro I convidou estrangeiros para participar na construção de São Petersburgo, a futura capital do Império Russo, fundada em 1703. Desejando atrair os melhores mestres da altura, Pedro I prometeu garantir-lhes tolerância religiosa e total liberdade de culto.
Segundo a Crónica do Convento de Santo António, em 1719 chegou a São Petersburgo o Padre Franciscano Conventual Bernardino Chiù, que foi posteriormente, durante seis anos, Capelão dos Arquitectos da cidade. “Provavelmente eles trouxeram-no consigo”, diz o Padre Andrei Buko OFM Conv (Ordem dos Frades Menores Conventuais), “ele era o confessor do escultor e arquitecto Bartolomeo Carlo Rastrelli e do arquitecto Niccolò Michetti, e vivia juntamente com eles.” E acrescenta, com um sorriso: “Talvez a beleza da cidade de São Petersburgo se deva à orientação espiritual que deu aos arquitectos!”
Aparece assim, para além da comunidade que já existia em Moscovo, uma comunidade católica em São Petersburgo. A população católica da cidade era constituída por alemães, franceses, italianos e polacos.
Contudo, em 1769, a czarina Catarina II (a Grande) publicou o “Regulamento” para a organização das comunidades católicas, Regulamento esse que contrariava o Direito Canónico e através do qual se pretendia limitar a liberdade da Igreja Católica na Rússia, subordiná-la e separá-la de Roma. Nomeadamente, um dos pontos do Regulamento referia que a tentativa de converter Cristãos Ortodoxos ao Catolicismo era passível de persecução judicial.
As tensões entre os Ortodoxos Russos e os Católicos agravaram-se com as sucessivas partições da Polónia (a Rzeczpospolita, que foi perdendo, em 1772 e em 1792, território para os estados vizinhos, foi definitivamente dividida entre a Prússia, a Áustria e a Rússia em 1795, tendo, literalmente, desaparecido do mapa). Para além de ser uma religião estrangeira, o Catolicismo na Rússia passou também a ser a religião de um estado parcialmente ocupado por ela, e a população católica na Rússia cresceu significativamente. A Igreja Católica, naturalmente, constituía também elemento unificador para os Polacos dos territórios ocupados - nos anos 60 do século XIX, era a única instituição que os unia. Quaisquer tentativas de libertação por parte da Polónia reflectiam-se na relação da Rússia com os seus cidadãos Católicos, nomeadamente membros do clero, sob a forma de perseguições politicamente motivadas, incluido censura, prisão e exílio na Sibéria.
O padre Andrei Buko dá um exemplo, pleno de simbolismo: “Em 1750, em Sakolniki (a 300 km de São Petersburgo, perto de Pskov), que era uma pequena cidade – hoje é uma aldeia – havia um Convento Franciscano e uma Igreja em honra da Santíssima Virgem Maria e de Santo António de Pádua. Santo António era aí muito venerado, vinham pessoas de todas as aldeias em redor, o que não agradava ao poder em São Petersburgo… Depois da primeira partição da Polónia, em 1772, foi encerrado o convento e também a escola para crianças que lhe estava afecta, e a igreja passou a ser usada pela Igreja Ortodoxa Russa. Mas deixaram três altares, o que não era comum. E, nomeadamente, deixaram o altar de Santo António, mas substituiram-no por outro santo, Santo Antão, venerado tanto pelos Cristãos Ortodoxos como pelos Católicos. E as pessoas continuaram a ir lá rezar. E, diz a lenda, que, uma vez, houve uma aparição de Santo António...”
Em consequência das revoltas de 1831 e 1863, no território da ex-Rzeczpospolita, contra o domínio russo, a Rússia procedeu à cassação de Ordens religiosas. Tanto quanto foi possível apurar, não há evidência para a presença de Franciscanos Conventuais em São Petersburgo desde essa altura.

Setenta anos de perseguição
Em Abril de 1905, o czar Nicolau II editou o “Manifesto sobre a liberdade de culto no Império Russo” que favorecia, embora não completamente, a normalização da situação da Igreja Católica.
Depois da revolução de Fevereiro de 1917, que depôs Nicolau II, o Governo Provisório de Alexandre Kerenski promulgou uma lei que equiparava juridicamente a Igreja Católica Romana e a Igeja Ortodoxa.
Mas, em breve, imediatamente a seguir ao golpe bolshevique de Outubro de 1917, foram promulgados sucessivos decretos que visavam destruir a Igreja e, sobretudo a partir de Setembro de 1918, a Igreja Católica na Rússia voltou a sofrer, por duas ordens de razões: sofreu, tal como a Igreja Ortodoxa Russa, devido ao carácter anti-Cristão do regime bolshevique, que mais tarde recebeu o nome de comunista; e continuou a sofrer por ser uma religião estrangeira, a religião de estados que se opunham ao comunismo.
Foi proibido o ensino religioso; levaram-se a cabo acções de propaganda anti-Cristã: jornais, panfletos, manisfestações, “brincadeiras” infantis em que se ultrajava a religião e os seus símbolos, fogueiras públicas em que se queimavam cruxifixos e outros símbolos religiosos; os cristãos foram perseguidos, presos, deportados para campos de concentração, torturados, fuzilados; igrejas foram profanadas, saqueadas, encerradas e destruídas; cemitérios foram profanados e arrasados.
Na carta publicada a 9 de Fevereiro de 1930 no jornal do Vaticano “L’Osservatore Romano”, o papa Pio XI manisfestou-se abertamente contra o regime bolshevique e apelou a uma Cruzada de Oração, apelo este que desencadeou, na Rússia Soviética, uma grandiosa campanha antireligiosa reforçada, nomeadamente anti-Católica.
Sabe-se que, apesar das perseguições, se mantiveram vestígios de ordens religiosas em São Petersburgo (que passou a ser chamada Petrogrado e depois Leninegrado). A mais activa era a Ordem Terciária (ou seja, secular) Franciscana, que contava algumas centenas de membros, sobretudo mulheres. Existiram também, até 1927, conventos clandestinos.
Entre 1911 e 1938, existiu uma igreja em honra de São Francisco de Assis, num dos distritos da cidade.
O Servo de Deus padre Pavel Chomicz (1893-1942) dirigiu, nos anos 20, grupos de fiéis Terciários Franciscanos em Leninegrado. Acusado de dirigir a “associação contra-revolucionária” de São Francisco, esteve preso, entre 1926 e 1936, nos campos de concentração e trabalhos forçados nas ilhas de Solovetskii. Regressou a Leninegrado em 1939 e viveu na clandestinidade, celebrando missas nas casas dos fiéis. Em 1941 passou a ser o Administrador Apostólico de Leninegrado. Em 1942, durante o Cerco de Leninegrado, foi novamente detido, acusado de organizar igrejas clandestinas e condenado à morte. Foi fuzilado em 10 de Setembro de 1942.
Em 2003 foi iniciado, em Roma, o processo de beatificação de 16 mártires Católicos da Rússia do século XX, entre eles o Servo de Deus padre Pavel Chomicz.

Ciclos de destruição e renascimento
A partir de 1989, depois da queda do Muro de Berlim, e, posteriormente, do colapso da União Soviética, tem-se assistido, a pouco e pouco, ao renascimento da Igreja Católica na Rússia.
Em 1994, como conta o Padre Andrei Buko, os Franciscanos voltaram à Rússia. “A iniciativa foi do nosso Ministro Geral, o padre Lanfranco Serrini, que queria que os Franciscanos regressassem a estas paragens e propôs à Província Polaca “lançar mãos à obra”. Surgiram os primeiros voluntários que foram para Moscovo em 1994, e vieram para São Petersburgo em 1995.”
O Padre Gregori Tserokh (tragicamente falecido, num acidente de viação, em 2004, aos 42 anos) foi o delegado do Ministro Provincial da Província Franciscana de Varsóvia na Rússia e o primeiro Custódio Geral da Custódia Geral Russa de São Francisco de Assis, inaugurada a 13 de Maio de 2001.
Até 1918, havia em São Petersburgo um Seminário (1869-1918) e uma Academia de Teologia (1842-1918). O edifício do Seminário foi devolvido aos Católicos em 1995, mas o da Academia não. Em 1996, o Seminário, que funcionava em Moscovo desde 1993, foi transferido para o edíficio histórico em São Petersburgo. “Por isso, procurámos um lugar para o convento perto do seminário, para que os nossos seminaristas lá estudassem”, explica o Padre Andrei.
“No sítio em que nos encontramos, havia um edifício velho e degradado, uma ex-fábrica de aparelhos eléctricos, que foi adquirido pelos Franciscanos em Junho de 1996. A Crónica do Convento diz que, no início do século passado, em 1900, nesse mesmo edifício havia um centro de beneficência.”
A primeira comunidade de Franciscanos, dois sacerdotes e quatro seminaristas, começaram, eles próprios, a pouco e pouco, a limpar a área, a retirar os tornos mecânicos e outras máquinas-ferramenta, enfim, a preparar condições mínimas para viver o dia-a-dia. Entretanto, improvisaram quartos, uma capela, uma biblioteca. “Não tivemos electricidade até Outubro, altura em que nos ligámos à rede eléctrica através da sede dos bombeiros próxima.” – conta o Padre Andrei – “Os bombeiros davam-nos electricidade, e, em troca, vinham cá preparar comida, e assim nos ajudámos uns aos outros nos primeiros tempos. No inverno, quando era preciso, éramos nós que reparávamos os canos gelados na rua. Tínhamos uma grande oficina de marcenaria, os bancos da nossa capela foram ali feitos.”
Entretanto, chegaram mais seminaristas. “Em 1997, juntamente com a Cáritas, abrimos aqui um centro de ajuda alimentar para os mais desfavorecidos. Nessa altura, dávamos assistência a uma média de 200-300 pessoas por dia. Depois, tivemos também um infantário para os meninos da rua, que estavam aqui desde as 11-12 horas até às 17-18.”
Foi igualmente em 1997, a 13 de Junho, dia de Santo António, que foram trazidas as relíquias de Santo António da Basílica de Pádua e teve lugar a dedicação solene do Convento a Santo António.
No mesmo ano, em que se comemoraram os 90 anos das Aparições de Fátima, a imagem peregrina de Nossa Senhora que visitou a Rússia também esteve aqui, no convento de Santo António.
Ainda nesse ano, foram editados, pela primeira vez na Rússia, os Sermões de Santo António, em edição bilingue (latim e russo), pela Editorial Franciscana dos Frades Menores Conventuais, em Moscovo (fundada, em 1994, pelo Padre Gregori Tserokh).
Em 2001 iniciou-se a construção do novo edifício do convento. E, mais uma vez, o nome de um arquitecto italiano, Leonardo Brugiotti, aparece ligado aos Franciscanos em São Petersburgo.
Em 2008, ainda antes do novo edifício estar completamente concluído, as relíquias de Santo António regressaram à Rússia para uma peregrinação pelas comunidades Fransciscanas (além de São Petersburgo, existem actualmente quatro – em Moscovo, a comunidade central, Astracã, Kaluga e Chernyakhovsk). A peregrinação iniciou-se em São Petersburgo, onde, a 13 de Setembro, foi inaugurada e abençoada a nova capela do Convento de Santo António.
Estiveram presentes, entre outros membros do clero, o então Núncio Apostólico na Rússia, Arcebispo Antonio Mennini, e o Padre Enzo Poiana, reitor da Basílica de Pádua.
No início do passado mês de Julho, o padre Enzo Poiana e o arquitecto estiveram em São Petersburgo para preparar o local do novo altar da capela de Santo António, altar que será trazido de Pádua.
Este altar é muito especial: durante o restauro, na Basílica de Pádua, do altar onde se encontram as relíquias de Santo António, a urna com as relíquias foi transferida para um outro altar, construído especialmente para esse fim. Em Fevereiro de 2010, a urna retornou ao espaço original. E esse altar, em que temporariamente se encontraram as relíquias, vai ser oferido ao convento de Santo António em São Petersburgo. “Planeia-se que seja trazido para cá neste mês de Setembro” - revela o Padre Andrei. “Vai ser, então, possível consagrar a capela.”

O mensageiro de Nossa Senhora
E a conversão da Rússia, já aconteceu? Segundo a opinião do Padre Andrei Buko, já aconteceu, mas não totalmente. “A Rússia voltou ao Cristianismo, mas essa conversão ainda não é profunda, é mais exterior. Há uma parte da elite intelectual que pensa seriamente nisso e tenta retornar ao Cristianismo.”
Em relação à reconciliação e ao diálogo entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, afirma que ao nível “simples” já existe – “existem pessoas que pensam de maneira sensata e que compreendem o que é que é verdadeiramente importante. Mas são muito poucas.”
“O nosso papel hoje, aqui, é o de servir como motivador e estímulo de mudança” – é assim que vê, actualmente, a missão dos Franscicanos em São Petersburgo.
Na sua palestra “Santo António e a Palavra de Deus”, no passado dia 7 de Junho, num dos habituais encontros “Terça-feira com os Franciscanos”, no Centro de Cultura Cristã e Espiritualidade Franciscana (afecto ao Convento de Santo António), o Padre Andrei disse - “Há uma coisa que me agrada muito: como diz a biografia Assidua, a casa dos pais de Santo António ficava perto da Catedral da Assunção da Santíssima Virgem Maria (hoje Sé Catedral de Lisboa). E eu pensei – nós temos aqui, em São Petersburgo, a casa de Santo António, perto da Catedral da Assunção da Santíssima Virgem Maria. Não deve ser por acaso.”
Que não seja por acaso, e que a presença de Santo António na Rússia gere sabedoria, entendimento, bondade e Paz.
Ana Luísa Simões Gamboa, em São Petersburgo



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19/09/11

Ai, se eu fosse rico!

Num suspiro quase incontido muitas pessoas tentam concretizar este desejo: ‘ser rico’ e com isso conseguirem viver (talvez) sem trabalhar, usufruindo de certas mordomias, gozar de outras regalias... numa espécie de preguiça militante e (até) malévola... quanto baste.

Para tentar atingir tal desejo uns jogam nos mais díspares concursos e jogos de fortuna/azar, outros tentam conseguir algum sortilégio ou mesmo herança, mas muito poucos anseiam serem ricos trabalhando honesta e lealmente.

1.Breve diagnóstico
Acabado o tempo de férias – mais ou menos oficial – do Verão terminado, teremos de enfrentar (quase irremediavelmente) uma vaga de manifestações dos promotores da contestação, seja sindical e político/partidária, seja dos setores mais ou menos atingidos pela contenção económico/financeira.
- Daqueles que contribuíram – pela falsidade dos números e das opções políticas – vemos uma espécie de assobiar para o lado, não se sentindo corresponsáveis pelo descalabro do país nem pela vergonha da Nação, que vive, agora, de mão estendida à pedinchice europeia... pagando todos nós os erros de alguns.
- Daqueles que sempre vivem, sobretudo, da miséria alheia, vemos uma razoável pretensão em serem paladinos duma salvação, quando afinal, o que eles desejam é esse ‘quanto pior melhor’, pois sobrevivem dalguma desgraça alheia em ordem a crescerem na sua maledicência, seja ela sindicalista, seja autárquica ou mesmo interesseira de projetos internacionalistas de sabor (já) esgotado... noutras paragens e ideologias.
- Daqueles que fogem quando as coisas correm mal – sem quase nunca responderem nem serem responsabilizados pelos erros ou pelas más opções que deixaram o país na miséria – espreitam, novamente, alguma oportunidade de voltarem ao lugar da projeção, da promoção e mesmo da nova rentabilização dos conhecimentos – há quem lhe chame lóbi – tidos e havidos no desempenho da função... dita social.
Sem pretendermos fomentar qualquer ‘caça à bruxas’, não será conveniente vivermos para sempre embuchados... na convicção de que vale tudo e ninguém assume as suas responsabilidades, tanto pessoais como grupais e político-partidárias!

2. Alguns desafios
Talvez tenha chegado o tempo de sermos (minimamente) sérios para levantarmos o nosso país na prossecução de um projeto nacional – sem tentarmos esconder um certo teor mais ou menos nacionalista – onde cada um sente as necessidades alheias como intenções pessoais e faz das debilidades próprias um alavancar de força para vencer com a ajuda dos outros... em sintonia, em concordância e como imperativo de consciência comunitária, que é mais do que coletiva ou bem intencionada... consumista.
- Daqueles que têm a força económica precisamos que ponham os seus bens ao serviço dos outros, sem medo de serem vilipendiados por esses que empregam... tanto nas horas de sucesso, como nos momentos de (indesejável) insucesso. Certos empregados precisam de ser educados e uns tantos empregadores manifestam, por seu lado, uma urgente necessidade de reciclagem em ordem ao bem comum, profissionalizando-se e tornando-se empresários, que é muito mais do que serem (meros) patrões!
- Daqueles que vivem na esfera sindical precisamos que tenham visão de futuro, tanto nas reivindicações como nas manifestações de contestação, pois, se o direito lhes assiste a exigirem, o bom-senso deverá nortear os objetivos atuais e, particularmente, os futuros. Estamos a ser escrutinados por quem nos empresta o dinheiro e não podemos deitar tudo a perder com pruridos de poderzinhos interesseiros!
- Daqueles que têm o dinheiro – mesmo sem ser, totalmente, esmiuçado pelos impostos – esperamos que sejam capazes de criar condições para investirem, atendendo às razões e não às meras emoções... espevitando a criatividade e não enrolando-se na mera incapacidade de serem compreendidos pelos (ditos) trabalhadores.

Afinal, pretender ‘ser rico’ exige bom-senso e discernimento, pois nem sempre aqueles a quem se dá a mão e, por vezes, o pão têm consciência do esforço para tal continuarem dele a usufruírem. Deus nos livre de certos ‘pobres’ virem a ser ricos... tudo e todos esmagariam com a sua prosápia e inconsciente ambição!

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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Ao Compasso do Tempo - Crónica de 16 de Setembro de 2011

Os problemas sociais estão na ordem do dia. Infelizmente, porque a história dos nossos tempos carrega infortúnios conhecidos.

Felizmente, porque as motivações do desenvolvimento e da humanização são expressões livres da cultura dos povos, de politicas de sensibilidade, de economia social.
Estas perspectivas são temas da nossa cultura democrática. Não há monopólios de ninguém nem de alguns. Quem fala destes assuntos recebe, no imediato, uma classificação ideológica. Neste seguimento, dever-ser-á concluir que a esquerda traz aos ombros a cruz e a paixão dos injustiçados? E a direita, só em período eleitoral, contacta com o povo, e soergue, em voz alta, prometendo decisões, a escravatura dos oprimidos?
Em contraste com promessas de “aurora boreal”, em Dezembro de 2011,o iva promete subir no próximo ano, em matéria de atrocidades no tocante a impostos, configura-se como mais uma subida ao Calvário!
Como é possível identificar-se o patriotismo (que significa solidariedade e defesa dos outros, sobretudo dos que nunca mereceram consideração de quem era poder) com os que patrocinam o desfalque de possibilidades, e decepam o suor de cada dia e a dignidade de quem procura sobreviver, mau grado muros e impedimentos?
Prover às necessidades de 700 mil famílias, alimentando-as com apoios de primeira qualidade, em desagravo da subida da luz, do gás e dos transportes, magnifica odisseia e desembarque!
Mas 700 mil? Não são hoje existentes, entre nós, dois milhões de pobres? Que resta a estes, aos quais foi assegurado que ninguém ficaria para trás?
E, já agora, em matéria de “corporativismos”…
Por que razão as forças armadas e de segurança constituíram o primeiro grupo selecto, na questão de serem protagonistas de privações de direitos? Porquê? Volvidos alguns dias, o mesmo carimbo de “subtracção” foi afixado na cabeça de todos os funcionários públicos!
Quem se rebelou contra a primeva “dieta, sem levantamento de rancho, bem se esforçou por chamar a atenção para a seguinte realidade: avulsos e sublinhados em primeira mão, os membros das forças armadas e de segurança foram expostos ao labéu de quem os seleccionou isoladamente, parecendo significar por esta decisão, que se havia responsáveis pela depressão lusíada… eram os “lusíadas, descendentes do quadrado de Aljubarrota, aos quais se adicionaram os marinheiros, os aviadores, os republicanos guardas e os agentes policiais.
Ninguém até hoje respondeu a esta questão. E volto a afirmar: os militares e os agentes policiais não são mais nem menos. A igualdade de tratamento é um direito preliminar!
Quem estiver sem culpa, atire a primeira pedra, e denuncie a traição de quem defende a Pátria, se necessário for, com a própria vida!
Se houver excessos, privilégios e injustiças, porquê não desenhá-los em letra gorda? Neste sector citado, e em todos os outros, sem espírito de classe nem de beneficiários da nação, estendamo-nos no tocante a erros, no tocante a condecorações de justiça…


Lisboa, 16 de Setembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira


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15/09/11

De professores de disciplinas a educadores e mestres de vida

Participei, com muito proveito, num seminário orientado para a formação de professores das escolas católicas, sem outro interesse que a sua qualificação de educadores cristãos. Mais de duzentos, vindos de todo o país, participando livremente e preocupados em somar créditos, não para si, mas para os seus alunos. Os orientadores eram leigos, vindos de Espanha, professores investigadores, que, neste Verão, como já o fizeram em anos anteriores, ele acabava de chegar da Guatemala e ela dos Camarões. Viagens à sua custa, trabalho totalmente gratuito para ajudarem a qualificar as escolas, por rudimentares que fossem, e a formação dos seus docentes. Também este testemunho qualifica o seu trabalho.

Uma reflexão séria e consequente, feita no início do ano lectivo, permite aos docentes vencer rotinas, abrir horizontes e actualizar, qualitativamente, os projectos a encetar. Tudo isto se torna necessário, dadas as mudanças sociais e culturais em curso que atingem os alunos, as aquisições da inovação pedagógica, a clarificação dos processos educativos. Em todos os níveis de ensino há professores que são mestres. Mas pode haver outros que o não são, nem têm qualquer preocupação nesse sentido.
Todo o ensinamento se torna mais claro e convincente quando o aluno o vê traduzido no viver do mestre. Há quem não pense deste modo. A verdade, porém, é que a memória dos bons mestres que tivemos fica para a vida, mesmo que se tenhamos esquecido o conteúdo das aulas recebidas.
Partilhar saber é partilhar vida. Um saber que vai para além do exame, porque uma boa escola, com professores mestres, não se esgota a preparar para um exame final. Ela tem, também, no seu horizonte de acção diária, a preocupação de preparar para o exame da vida, feito num futuro sempre próximo, que permite avaliar não apenas a competência profissional, mas, ao mesmo tempo, a capacidade de relação com todos e de trabalho em equipa, a honestidade nos métodos, a abertura solidária aos outros, a participação social, a preocupação criativa e inovadora, a resistência às dificuldades, o enfrentar dos desafios. Mas não é para isto que existem as escolas? E como poderão realizar esta missão sem modelos de vida ao alcance diário dos alunos? Os primeiros modelos são, ou têm de ser, os professores do dia a dia.
Educar é transmitir conhecimentos, tornar acessível o património cultural universal, dar sentido crítico ante o saber disponível, que as novas tecnologias proporcionam. Mas é, ao mesmo tempo, pois que para isso não há aulas próprias, educar a mente e a vontade, ou seja, ajudar a arrumar a cabeça e o coração, para que o ser e agir sejam humanos e dignos de pessoas sérias e honestas, solidárias e participativas. Pessoas para as quais a verdade, o bem e o sentido dos outros são o caminho orientador da vida.
A pessoa escolarizada e educada deve ser, progressivamente, capaz, porque assim aprendeu com os seus mestres, a gerar modelos de mudança concretos ante os problemas que surgem no seu caminho diário. Não se forma gente para chorar eternamente os seus problemas, nem para atirar para os outros a culpa e o dever da solução. Forma-se para que seja capaz de conjugar forças que lhe permitam, por si e em colaboração com outros, saltar o muro das dificuldades, ainda que muito alto, e construir, do outro lado, a sua casa e a realização dos seus projectos sonhados.
A nossa sociedade é a prova diária do fracasso de processos educativos em curso. Os “rankings”, como outrora os quadros de honra se, momentaneamente, trazem prestígio à escola, acabam por poder desvirtuar o objectivo global e social da educação. Um aluno de notas altas tanto pode dar um cidadão válido, como um génio insonso ou um potencial criminoso. Uma escola só voltada para si e para o seu prestígio, também se pode tornar um espaço desvirtuado e desvirtuador. A escola, de facto, não tem por missão fazer bons alunos, mas sim bons adultos, bons cidadãos.

Se a escola existe por causa dos alunos, é a instituição, como tal, com os seus professores e demais membros da comunidade educativa, sem esquecer os pais e outros encarregados de educação, quem encarna esta causa e quem procura garantir o êxito possível. Mas, de todos os intervenientes são ainda os professores, educadores e mestres, os mais próximos e determinantes. Não o serão, porém, e podem mesmo ser o contrário, se a educação não for a sua paixão e não tiverem referências e modelos educativos sérios que os mobilizem na sua vida e acção.

D. António Marcelino


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13/09/11

Ao Compasso do Tempo – Crónica de 09 de Setembro de 2011

Uma miríade acontecimentos apela à nossa atenção nestes últimos tempos: jornada mundial da juventude, em Madrid; 11 de Setembro; situação política na Europa, particularmente em Portugal; a liberdade e a Líbia…

E a que conclusão chegar? Simples. Os pobres são os “aristocratas” de uma nova ordem mundial. Ficam soterrados na consciência humana e sob a rima de papéis e de avaliações em gabinetes ditos responsáveis; quando muito, recebem uma malga de sopa ou ajudas avulsas, cada vez em menor número. Não desrespeito a qualidade destas medidas. Mas o respeito pelos desrespeitados não permite outros sentimentos.

a) No contexto do 11 de Setembro, em cujo âmbito se concluiu que os causadores directos dessa barbárie não eram filhos da desgraça; ao contrário, detentores de títulos universitários…
No entanto, o General Powel exclamou, na altura: “A causa do terrorismo é a pobreza dos povos”.

b) De inúmeros depoimentos de jovens que, em meados de Agosto, estiveram em Madrid com o Papa Bento XVI, respigo os que se seguem:
“A riqueza está mal dividida (…). É preciso colocar a pessoa no centro da economia”; “as empresas olham mais ao lucro e fazem cortes nos salários dos trabalhadores; os governos devem escutar mais as pessoas”; “a desigualdade na América do Sul leva os jovens a ver na violência uma solução”. Quem tomou parte neste acontecimento (agora a medir no trabalho de cada diocese ao serviço da multidão dos mais novos), lembrará sempre o conselho de Bento XVI: “aproximem-se dos enfermos e dos pobres” (Ver Público de 21 de Agosto último, p. 11)

c) No clamor de uma Europa doente, “os dirigentes políticos multiplicam os anúncios de austeridade, com o risco de matarem completamente o pouco do crescimento que ainda existe. É absurdo!” (Marc Fiorentino, especialista de mercados financeiros, Nouvel Observateur, 18 de Agosto de 2001, p. 41).
Por essas, e outras razões, José Pacheco Pereira (Público, 3 de Setembro corrente) sugeria outros olhares sobre Portugal, vindas de um padre, de um bom sociólogo prático, de um médico, de um bom funcionário das finanças, de um juiz, de um velho polícia…
Para salvar a “Casa lusitana” todos não somos demais.

d) E na Líbia?
Morreu, felizmente, uma soberania, onde todos os crimes eram permitidos. Nasceu o projecto de uma universidade de direitos, de que é corolário o direito de ingerência (Bernard – Henri Lévy, Le Point, 25 de Agosto 2011, p. 110)

E que mais?
Os pobres são legião e ninguém os cura.
O pagamento da dívida e a consolidação orçamental deveriam começar por eles.
Já não há palavra!


MDN – Capelania Mor, 9 de Setembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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12/09/11

Numa tentativa de evangelização pela procissão

Por estes dias realizaram-se, em vários pontos do nosso país, procissões inseridas em programas de festas e de romarias: umas com mais sabor cristão, outras mais como desfiles etnográficos, algumas com muitas imagens de santos e de santas, outras com alguma palavra da Palavra de Deus e, muitas outras, infelizmente sem qualquer aproveitamento dessa oportunidade de evangelização. Cremos que será um crime-de-lesa-majestade não aproveitar esses momentos das procissões para levar, tantos os que nelas participam como aqueles que as vêem, a refletir sobre a vida, a fé e mesma a condição humana... Deixamos, seguidamente, uma intervenção (despretenciosa) na procissão de Nossa Senhora da Boa Viagem, que por estes dias se festeja – com momentos de convívio, de tauromaquia e de fé – na Moita do Ribatejo... É (tão somente) uma breve explicação dos santos/as que integram a dita procissão, pois dos muitos assistentes talvez nem os/as conheçam. Diante de Vós, Nossa Senhora da Boa Viagem, eis o povo da Moita, em dia de festa. Aqui, junto ao cais, estamos todos os que Vos reconhecemos -- mais ou menos conscientemente -- como nossa Mãe, nossa rainha e nossa protetora. * Trazemos nesta procissão santos e santas que nos fortalecem na fé e nos fazem viver em comunhão com Jesus e em Igreja: - São Pedro é o chefe da Igreja, escolhido de entre pescadores para ser o responsável da Igreja ontem como hoje; - São Miguel, o vencedor de Satanás, continua, hoje, a defender a Igreja e o mundo das insídias do maligno; - São José, casto esposo de Maria e protetor da Sagrada Família vela, ainda hoje, por nós; - São João Baptista, o precursor de Jesus, aponta para Ele, dizendo-nos que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; - Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Atalaia e Nossa Senhora dos Prazeres completam e resumem, numa primeira etapa, a vitória sobre o pecado, a força de confiança e a glorificação pascal... em cada lugar e em cada tempo. * Com os mártires -- Santa Luzia, São Sebastião e São Lourenço -- refontalizamos a nossa fé adormecida, revigorando e fortalecendo o nosso compromisso neste mundo e neste tempo. * Diante dos confessores e religiosos, que trazemos connosco na caminhada desta procissão, tentamos valorizar a entrega de vida e a dinâmica do nosso compromisso que se quer mais consciente e atuante: - São Marçal protege-nos das chamas e dos perigos... com a ajuda daqueles que combatem os fogos, hoje como ontem; - Por Santo Amaro nos confiamos à proteção contra as dores dos ossos e das mazelas corporais e mesmo espirituais; - Em Santo António vemos e reconhecemos a entrega aos outros e a recuperação dos objetos perdidos; - Com Santa Rita de Cássia confiamos os casos perdidos... mesmo os mais difíceis pessoais e familiares; - Através de São Luís Gonzaga tentamos envolver todos os jovens e particularmente os estudantes; - Na figura do Menino Jesus Praga sentimos a fortaleza da fragilidade, tanto na vida tanto como na espiritualidade de abandono... em Deus; - Com Santa Teresinha do Menino Jesus vivemos a infância espiritual... sempre nova e cada vez mais necessária na vida em Igreja; * Pelas evocações de Nossa Senhora do Carmo, de Nossa Senhora de Lourdes e de Nossa Senhora de Fátima, tentamos perceber os convites e os desafios de Deus à conversão nas várias manifestações de Sua e nossa Mãe... * Finalmente, nesta procissão, trazemos em manifestação de fé pela vida, - a presença do Sagrado Coração de Jesus - n’Ele vemos e reconhecemos a bondade de Deus para connosco, que Se fez coração em amor e em misericórdia... ontem, hoje e para sempre. - Contemplando, mais atentamente a Vossa imagem -- Nossa Senhora da Boa Viagem -- vemos o Vosso filho Jesus que Se irradia do Vosso coração e, na vossa mão direita, percebemos a caravela em saída para o trabalho... de ontem e de hoje. . Que Vosso Filho nos acolha, hoje e sempre. . Pelo nosso trabalho ensinai-nos a santificar a nossa vida em amor, com confiança e maior abandono a Deus... Com efeito, cada dia aprendemos melhor o sentido indicado nos sinais de Deus, hoje, amadurecidos cada vez melhor! Esperamos, com este breve texto localizado no tempo e no espaço, poder contribuir para uma certa evangelização através desta procissão, tentando conhecer o meio e reconhecer as dificuldades de anúncio de Jesus. António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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Estímulos e travões no processo de recuperação

Dizer que o momento que atravessamos é difícil não vai além de repetir o que todos sabemos e vamos sentindo. É verdade, no entanto, que para uns as dificuldades são maiores do que para outros. Sendo assim, não podemos deixar de nos perguntar como consegue sobreviver uma família modesta com um ou os dois pais desempregados ou um casal de idosos com uma reforma mais do que magra. Muitas perguntas pertinentes se podem e devem fazer para se poder interiorizar a crise. Multiplicam-se, é certo, as expressões de solidariedade. Porém não é fácil a pessoas que sempre tiveram uma vida que se ia bastando por si própria terem agora de recorrer a instituições para pedir alimento ou ajudas que lhes permitam responder a despesas inadiáveis. O que toca na auto-estima também empobrece as pessoas. As medidas de restrição necessárias são sempre difíceis e não se aceitam de bom grado. Enquanto alguns já se sentem esmagados, outros continuam na ilusão de que, para si, as restrições ainda não chegaram e, quem sabe, até podem não chegar. A atenção vai sobretudo para a gente nova, quando não está habituada a sacrifícios que sempre atirou para os pais, ou estes lhe ocultaram o peso e a solução dos problemas. Não adianta chorar no muro das lamentações, nem continuar à procura dos culpados, de todos bem conhecidos. A hora é de assumir a situação, na parte que a cada um toca, como uma tarefa inadiável, a que é preciso meter ombros. O peso toca mais a uns que a outros, e não há que atirá-lo, como tantas vezes acontece, para os eternamente fragilizados e provados pela vida. A equidade e a solidariedade são regra e completam-se quando, no horizonte das decisões, estão pessoas e situações concretas. O sentido colectivo de responsabilidade é um dever comum de cidadania. Esta não é proclamação de comício, nem é um emblema de lapela. Porém, se as dificuldades são de quem as sente, não podem parecer que o não são de quem tem de decidir neste difícil contexto. Por tudo isto, não se pode perder na rua o que se vai tentando construir, dolorosamente, na casa de cada um e nos gabinetes dos decisores, presos por compromissos inadiáveis e vendo já, ali ao lado, casas a ruir e a arder. É legítimo lutar por um lugar de trabalho, denunciar os desvios de quem se aproveita dos momentos de crise, chamar a atenção para a realidade presente na consideração dos problemas e na procura das melhores soluções, pôr a descoberto situações de injustiça, unir esforços para melhores resultados. Mas, sempre na preocupação de encontrar caminhos e lançar pontes, nunca de levantar novos muros ou de aprofundar, mais ainda, fossos já antes difíceis de transpor. A união de forças não se faz apenas em função e proveito de grupos, mas do melhor bem possível, a favor de todos. Já escrevi antes que, nesta hora, e penso que em todas as horas, quem governa e também quem é governado não pode deixar de estar atento às descriminações e privilégios, à pressão das organizações corporativas, quando mais voltadas para os seus membros que para a consecução do bem comum, à tentação das atitudes demagógicas. Tudo isto pode provocar tensões, dificultar o espírito de colaboração e de convivência democrática, impedir soluções justas para os problemas em campo. Ao falar de estímulos e travões no processo de recuperação, tenho presente esta realidade. Pelos anúncios e ameaças feitas, penso agora, especialmente, nas organizações corporativas, sejam elas partidos políticos, sindicatos ou ordens. Normalmente olha-se mais para o que se pretende do que para ver se isso é possivel e para os meios para se conseguir. Nem sempre e em tudo, os fins justificam os meios. Também não se pode dizer ao país que ou se ganha na sala de reuniões ou se faz guerra na rua. Não interessa ganhar mais sócios ou prender os que podem fugir, criando um clima que não permite ir mais além na solução dos problemas do país, tal como ele se encontra. Há reivindicações que não mudam de tom quando a intransigência permanece e os interesses corporativos cavalgam o processo. Pode a vitória estar em impedir que se faça o que tem de ser feito? Sabemos que para responder a projectos de colectivos sociais, seria necessário um governo da cor de quem projecta. Isso, por agora não existe, nem se vê estar próximo. Não havendo alternativa, têm de jogar no tabuleiro da democracia, não no da demagogia, tanto os governantes como as corporações. A conquista de direitos, em si legítimos, tem de ser considerada no contexto concreto que se vive no país. Decisões de gabinete ou multidões na rua, por si só não ganham batalhas. Antes, podem dificultar a participação, socialmente exigida a todos. Não interessa nem a política da terra queimada, nem o orgulhosamente sós. Já todos sabemos o que isto significa e não estamos, por certo, ansiosos por um retorno. D. António Marcelino

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06/09/11

Livres ou facciosos e intolerantes?

Compreende-se que alguns acontecimentos da Igreja, e a própria Igreja, em si mesma, provoquem incómodos aos laicos ateus e a às instituições que andam por esses caminhos. Quem quiser viver como cidadão livre num país democrático tem de fazer um esforço pessoal que lhe permita uma coabitação respeitadora e pacífica, incompatível com facciosismos e intolerâncias. Trata-se de uma exigência de bom senso e de lucidez, que o agir de alguns contraria a cada passo.

Fátima incomoda, as jornadas mundiais de juventude incomodam, as centenas de jovens voluntários que dão as suas férias à promoção de países com reduzidos meios de desenvolvimento incomodam, as instituições privadas de solidariedade social, que se desdobram, gratuitamente, na ajuda aos mais carenciados incomodam, a coragem do Papa ao denunciar os malefícios do relativismo intelectual e moral e ao apontar aos jovens caminhos de libertação interior incomoda… Mas tudo isto, porquê? Será que as ideologias, quaisquer que elas sejam, têm mais importância que as pessoas? Será que a expressão livre da fé, traduzida em gestos comunitários e pessoais de amor fraterno e solidário, inquina o ambiente social? Será que a uniformidade nas ideias e nos comportamentos é mais rica que a liberdade de cada um se afirmar e traçar o seu caminho? Será que os jovens que arrasam tudo e se destroem a si mesmos e, voluntariamente, se excluem da convivência familiar e social e de comportamentos normais, merecem mais consideração do que aqueles que têm um sentido na vida e procuram uma participação na sociedade e uma convivência respeitosa e construtiva de bem? Será que as mentiras, por mais evidentes, nunca desmentidas, são mais úteis à purificação da sociedade, do que o reconhecimento humilde dos erros a superar e o dar as mãos aos caídos da vida, quando neles restam ainda alguns lampejos de esperança?
Aceito que haja quem não goste de Deus, quem negue a Jesus Cristo a sua divindade, quem teime em ver a Igreja do século XXI à luz de alguns desvios e erros de séculos passados, e, até, quem insista na afirmação, velha e caduca, que diz que “Deus morreu”. Não é, porém, de aceitar, pacificamente, que se negue a quem pensa de modo diferente, o direito de viver segundo as suas legítimas convicções, e de opinar, publicamente, no mesmo sentido. O que diverge, quem quer que ele seja, por si mesmo, não é um inimigo a abater. Os que negam, atacam e não respeitam as opiniões dos outros e de todos, são sempre os mais dogmáticos e intransigentes na afirmação e imposição da sua própria opinião, como se fosse a única verdade aceitável.
É cada vez mais clara a verificação de que o mal que envenena as relações pessoais e sociais é fruto da falta de cultura. À teimosia nos preconceitos que geram facciosismo e não permitem sequer ver as consequências da intolerância e da falta de respeito pelos outros, também se lhe poderá chamar, no mínimo, falta de educação e de civismo.

A Igreja Católica, na sua vertente humana, não fez sempre tudo bem ao longo da sua história. Ela continua com defeitos, os dos seus membros, e sofrerá sempre pelas suas limitações. Preveniu-a desta realidade o seu Fundador, marcando-lhe um rumo de procurada coerência e de testemunho intrépido da verdade do Evangelho. O Vaticano II assumiu que a Igreja santa, continuará sempre necessitada de purificação. E a liturgia recomenda que, tanto os membros da hierarquia, como os fiéis, cada dia se proclamem pecadores, frente a Deus e aos irmãos, sempre abertos à misericórdia de um Deus que é Pai, a quem mais apraz perdoar e estimular nos caminhos do bem, que castigar ou condenar. Não obstante esta realidade, a história da Igreja, ao longo de vinte séculos, é mais a história viva de quem não perdeu o rumo e deixou marcas de bem em todos os tempos e lugares, como a instituição que mais humanizou, reconciliou e abriu caminhos de progresso e de paz.

Não é preciso fazer profissão de fé cristã para verificar que assim foi e assim é. Basta ler a história, sem preconceitos e com a preocupação honesta de uma leitura correcta, para se ir descobrindo, mesmo nos desvios lamentáveis, o sentido e a luta pela verdade e pelas pessoas. Certamente que esta leitura não é possível fazer-se com o coração e a inteligência dominados por intolerâncias e por ódios de estimação. São os olhos tortos, que entortam as coisas direitas.

No mais profundo de cada pessoa humana, independentemente da religião ou não religião, há sempre um coração que quer o bem e uma inteligência ávida de verdade. Quem for capaz de dar voz a este irreprimível desejo interior experimentará a verdadeira liberdade e a alegria da possibilidade de uma convivência sadia com todos.

D. António Marcelino


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