Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

29/06/12

Ao compasso do tempo - 22 de Junho de 2012

É perguntado ao futuro bispo, na sua ordenação, “se quer ser compassivo com os pobres, os deslocados e todos os que precisam”. A resposta, conforme o ritual, é: “Sim, quero”. Compassivo pode parecer equívoco pela sua sentimentalidade. O grande teólogo Metz tem o cuidado de afastar essas interpretações afectivas, para sublinhar que, na realidade, o conceito traduz a percepção do sofrimento dos outros, tomando parte nesses aspectos dolorosos e conferindo-lhes as devidas soluções (Igreja e Missão, n. 204-206, 2007, ps 437-439). É bem conhecida a afirmação do citado teólogo, nas suas últimas produções: mais que solícito pelos pecadores (indiscutível na Sua Missão), Jesus Cristo é, antes de mais, presença junto dos sofrimentos do mundo. Nesta perspectiva, mostra-se a força do Cristianismo, uma força que toca e penetra o mundo. Ele envia os cristãos para a frente dos conflitos fundamentais da história presente. Ele define “a mística da compaixão enquanto mística política” (cf. citação feita). No pão, arredio da mesa, no acolhimento aos refugiados e migrantes, na cura dos direitos, tão difíceis de se verem postos em prática, na cultura da cidadania fraterna e civilizada… reside um campo sem fim, onde o empenhamento solucionador é um programa de reflexão, de estudo e de acção. Os critérios evangélicos, que regem este “ver, julgar e agir”, são muito exigentes em ordem à mudança de situações. O Papa Bento XVI bem apontou estas metas aos bispos de Portugal, em Fátima, a 13 de 2010: “Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz à dos mais débeis a quem tendes sabiamente motivado para ter voz própria, sem temer nunca levantar a voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados”. Levantar a voz? Terei lido bem? No diálogo da Igreja com o mundo, evocando os 50 anos do Concílio Vaticano II, estas direcções pastorais bem precisam de ser conhecidas e exercitadas, pondo de lado possíveis preconceitos ou ideias menos claras e menos distintas. Os conceitos bem urgem gozar de clareza, porque a realidade da sociedade de hoje oferece-nos, e de forma gradual crescente, um conjunto de sofrimentos e de mal estar, que o pensamento não pode viver sossegado. O “Livro do Desassossego” brotou destes estados de alma. Lisboa, 22 de Junho de 2012 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

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26/06/12

Seis mil euros/anuais... por estudante

Em 2010/11, cada estudante do ensino superior custou, anualmente, cerca de seis mil euros. Atendendo aos dados revelados por um estudo universitário, divulgado, por estes dias, podemos inferir que cada estudante do ensino superior (universitário ou de outro grau académico com idênticas exigências... ao nível teórico) custou ao Estado três mil e seiscentos euros... num universo de mais de trinta mil utentes/clientes desta fase de instrução... comparticipando, por seu truno, o setor privado (estudantes e famílias) com mais de sessenta por cento dos custos. Diante destes números como que temos refletir sobre vários aspetos subjacentes à questão e de nos perguntarmos sem receio sobre outros problemas mais profundos: = Ao vermos o esforço e o sacrifício de tantas famílias para que os seus filhos e outros parentes possam usufruir de maior capacidade de instrução, perguntamos: - Os nossos estudantes sabem aproveitar, devidamente, este esforço das suas famílias e mesmo dos contribuintes em geral? = Quando vemos muitos dos nossos estudantes a gastarem muitas das suas energias mais em festas e em divertimentos do que nos estudos, perguntamos: - Com certos forrobodós – semanas académicas e queimas das fitas, recepções ao caloiro e rituais de final de curso – poderemos levar a sério quem prepara o seu futuro com tais comportamentos? = Quando vemos uma maior promoção de atividades extra-curriculares do que a atenção dada aos estudos, como que inquirimos: - Certos adereços (pretensamente) estudantis – como tunas e até torneios desportivos, seja qual for a modalidade – servem de cobertura ou de distração para quem estuda? = Perscrutando mais ou menos como funcionam certos mecanismos estudantis, temos de ser minimamente sérios no trato dos gastos de cada estudante e, por isso, perguntamos: - Quando vemos crescer mais a copofonia entre os mais novos do que a propensão para o estudo, qual será a futuro das gerações agora cambaleando sob efeitos etílicos? = Com tantos interesses em jogo à volta da classe estudantil, sobretudo, no âmbito de ensino superior, como que ousamos perguntar: - Quem faz a gestão – órgãos diretivos e projetos de valorização em classe, categoria e formação – destes ingredientes não estará a explorar as fragilidades dos ‘estudantes’ em vez de os concentrar na sua valorização mínima e suficiente? *** Precisamos de ter ideias claras, distintas e razoáveis para que não nos andemos a enganar uns aos outros, fazendo de conta que tudo está bem, mesmo que clamando pela tendência para a gratuidade do ensino superior. Diz o povo e com razão que aquilo que é gratuito pode não ser de boa qualidade. Deste modo não podemos valorizar aquilo que valor não tem nem endeusar quem pouco ou nada vale. Precisamos de fazer reverter em favor comum o esforço de que os nossos jovens tenham qualidade na sua formação e na capacitação em serem ainda melhores no exercício das suas profisssões. Não podemos é continuar a pactuar com incompetências nem com gente que pouco mais não sabe do que prolongar, por tempo indeterminado, a adolescência à custa dos sacrifícios alheios. Urge, por isso varrer das escolas de ensino superior quem não estuda e ajudar quem, por seu turno, quer crescer na sua valorização cultural, servindo os outros. Com efeito, mais do que um custo o estudo é um investimento, seja qual for o curso ou a escola. Assim consigamos criar condições para promover os melhores e relegar para a berma quem não presta, porque explora os familiares e até os contribuintes!... Faça-se a seleção, já e depressa! António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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11/06/12

Em memória do Padre Carlos Veríssimo

Foi a sepultar, no cemitério de Santiago, Sesimbra, no passado dia oito de Junho, o Senhor Padre Carlos Veríssimo de Figueiredo. Tinha 91 anos de idade e quase 68 de padre. Sendo o único padre vivo natural de Sesimbra, como que temos a necessidade de falar – sem encómios nem panegíricos – deste que foi um padre que viveu o seu sacerdócio no contexto do Patriarcado de Lisboa – antes e depois da criação da Diocese de Setúbal – tanto na vida académica – ligado aos Seminários e à Universidade Católica – como na vida castrense, sem uma muito definida ligação de ofício com a vida paroquial. Recordamos, pela função paroquial, um dos momentos mais significativos, na dimensão eclesiástica, em que fomos chamados, numa tarde de domingo, aí há cinco anos, para levarmos a santa unção ao Padre Carlos: estava inconsciente, sem falar nem reagir aos estímulos vitais mínimos, já há alguns dias. Demos-lhe a Santa Unção... sem qualquer reação perceptível da sua parte. Era tal a convicção do ‘fim’ que até combinámos, com quem o assistia – e fê-lo por quase uma dezena de anos! – qual a ‘indumentária’ em ordem ao derradeiro passamento... Com tristeza esperamos, então, o desfecho! Eis que, no dia seguinte, começou a falar... vivendo todo esse tempo até à sua morte em vésperas da solenidade do Corpo de Deus... no último dia seis de Junho. Para além da confiança no sacramento da Unção dos doentes – quantos outros casos poderemos testemunhar sem dúvida nem falsa presunção! – queremos referir a súbtil convivência com este Padre nonagenário, que foi caindo até à despedida ‘definitiva’ da terra dos vivos, talvez sepultado ainda antes de falecer e numa espécie de despojamento para onde muitos de nós caminharemos... sem nos darmos, totalmente, conta! Dotado de um poder artístico – de música e de desenho – fora do vulgar soube fazer destes dotes um caminho de anúncio de Deus, sob alguns laivos de memorização nas conquistas realizadas e para com amigos que o sentiam como mestre e lhe tributavam grande admiração correspondida com outros tantos sinais de retribuição... afetiva. = Observações Tal como noutros momentos de homenagem – tanto de leigos/as como de padres – sentimos que há esquecimentos e ausências que não deviam acontecer. Certas figuras sociais e políticas, da vida eclesial e do contexto cultural, na expressão local ou no âmbito diocesano, deviam estar mais em gratidão, pois a história faz-se com gestos e não com silêncios cúmplices ou mesmo atraiçoadores. Tal como para com outras figuras de grande longevidade, recentemente desaparecidas, também aqui esperávamos que houvesse memória e que uns tantos não se furtassem a manifestar veneração a quem muito devem e a quem já partiu. Porque todos pouco mais não somos do que pó – levantado ou em vias de sepultação – necessitamos que os vindouros vejam nos nossos atos e perante as nossas atitudes algo que aponte para a dignidade sem adulação e que sempre sejamos capazes de fazer crescer a gratidão como virtude e, sobretudo, como qualidade humana e com muito mais força cristã. Senhor Padre Carlos: obrigado pela caricatura que me ofereceu, em 1998, por ocasião da primeira festa do Senhor Jesus das Chagas, que vive em Sesimbra: nela dizia e a contemplo diariamente: ‘amai a vida’! Paz à sua alma e interceda por todos nós... António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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Ao compasso do tempo - 08 de Junho de 2012

Há visões da vida que não se reduzem às dimensões do lucro, do luxo, das exclusivas aspirações materiais, da aquisição de coisas. Mudar de carro pelo seu modelo mais recente é experiência ainda comum. Mas adquirir um livro (para ler…) é fruta rara do nosso pomar. Em momentos de subida do nível de vida, o fim de semana desencadeou em muitas pessoas o desejo de ter mais uma casa, no campo ou na praia. Mas comprar um disco ou um vídeo de relevo artístico ou assistir a um concerto só por razões de gosto, ainda não é alargadamente significativo. Tais valores não constituem escola acabada. São emblemas de reduzido grupo que sempre encontrou nessas produções um modelo de maturidade no sentido de se orientarem em ordem ao tónus espiritual que integra a unidade humana. A espiritualidade da cultura diz respeito a dimensões que cultuam o pensamento, a sensibilidade, o gosto, o silêncio, o estudo, a solidariedade, a ciência e as suas múltiplas luzes, etc, etc. Em livro recente de Alain de Botton (Religião para ateus, Lisboa, D. Quixote) são essas as sementes de valorização (laica e humana) que os ateus, segundo o autor, poderão encontrar nos sistemas religiosos. Em discurso antigo, Vaclav Havel sublinha a ausência lamentável de uma espiritualidade (humana e laica, não excluindo Havel a religiosa, ele que não se confessava particularmente crente). No terreno minado da situação portuguesa, o adubo da verdade e lealdade de maneiras, da claridade e clareza de imperativos éticos, das coesões de grupos cujo principal interesse é a justiça dos outros sofre a contrariedade de “toupeiras”, de sistemas mercantilistas, de clubes que se vão constituindo para rendimento próprio. A espiritualidade evoca-a Havel em texto clássico, por sinal dado à estampa no Público, em Novembro 2004, do qual destaco estas passagens: “as empresas globais, os carteis de comunicação social e as poderosas burocracias estão a transformar os partidos políticos em organizações cuja principal tarefa deixou de ser o serviço público para passar a ser a protecção de clientelas e interesses políticos (…) Os “media” trivializam problemas sérios; frequentemente a democracia parece mais um jogo virtual para os consumidores do que um assunto sério para cidadãos sérios (…) assistimos a um processo de globalização económica que escapou ao controlo político e, consequentemente, está a causar a ruína económica (…) A política mão é apenas uma tecnologia do poder (…) tem de ter uma dimensão moral”. Vem mesmo a calhar! E quando se abafa os gritos do “coro dos escravos”, bem gostava eu de ouvir a opinião de Vaclav Havel (falecido em Dezembro último)! Lisboa, 8 de Junho de 2012 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

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Irmãos de S. João de Deus há 90 anos no Trapiche

Celebram-se este ano os 90 anos da vinda dos Irmãos de S. João de Deus para a Madeira. Deixamos aqui algumas notas cronológicas dos anos 1920-1922 sobre os inícios da Comunidade. - 1920 (22 de Maio) - Chegam ao Funchal os Irmãos Elias Pereira da Almeida e Maria Manuel Gonçalves para estabelecer com a Junta Geral do Funchal as condições para a CSSJD. No dia seguinte, foram conhecer a Quinta do Trapiche (que já tinha sido doada pela proprietária D. Maria Paula G. Rego, metade à Diocese e outra metade à prima e a Irmã de S. Vicente de Paulo responsável do Hospício D. Amélia; cf DN 2.06.1922). - 1920 ( Maio) – Por aqueles dias Reunião “agitada” na Junta Geral para decidir confiar aos Irmãos o Manicómio Câmara Pestana. A reunião foi inconclusiva, como já tinha sido uma outra de dois Irmãos que vieram ao Funchal para o mesmo fim em 1907. Em ambos os casos os Irmãos regressaram a Lisboa. - Pelos fins de 1921 – O Superior do Telhal recebe uma carta do Dr. João de Almada presidente (1922) da Associação dos Médicos Madeirenses (AMM) a propor uma alternativa de acordo com o Senhor Bispo que cederia a Quinta do Trapiche para os Irmãos aí se instalarem como entidade particular. - 1922 (2 de Fevereiro) - Embarcaram para o Funchal os Irmãos António Maria Rodrigues e Manuel Maria Gonçalves. Chegados ao Funchal e hospedados no Seminário pelo Cónego Barreto seu Reitor, começaram a estudar a possibilidade de iniciar a desejada Fundação, mas como ainda havia reações hostis apresentaram-se ao público com o pretexto de fazer um peditório para a Casa de Saúde do Telhal, o qual ia continuar até fins de Abril. - 1922 (15 de Fevereiro) – Ocupação da Quinta do Trapiche por contrato de arrendamento sem limite de tempo com a Diocese com efeito a partir de 01-01-1922, por 3 anos. - 1922 (fins de Abril) - Os dois Irmãos têm que acompanhar um sacerdote ao Telhal para se tratar. - 1922 (15 Maio) – Embarcaram em Lisboa os Irmãos Sinforiano Lucas Feijão e Manuel Maria Gonçalves com destino ao Funchal trazendo com eles 100 escudos e o indispensável para se instalarem na Quinta do Trapiche. - 1922 (17 de Maio) - Desembarcaram no Funchal e foram intimidados por um guarda-fiscal para que os acompanhasse debaixo de prisão até ao posto da Alfandega por suspeita de contrabando. 1922 (1 de Junho) – Falecimento de D. Maria Paula G. Rego 1922 (1 de Junho) – Ao Irmão Manuel Maria Gonçalves, superior indigitado, o Sr. Bispo cede por empréstimo a Quinta do Trapiche para nela fixar residência; esta data ficou registada no Livro de Família como a da entrada desse e do Irmão Sinforiano Lucas Feijão. Mais tarde a quinta será comprada - 1922 (2 de Junho) O Irmão Manuel Maria Gonçalves vai a Santo António de manhã para missa da 1ª 6ª feira e à tarde para assistir ao funeral de D. Maria Paula G. Rego. - 1922 (3 de Junho) O Cónego Jaime de Gouveia Barreto celebra na capela da Quinta do Trapiche a festa de Beato João Grande , Irmão da Ordem Hospitaleira; foi a primeira missa com os Irmãos. - 1922 (24 de Junho)- Neste dia o Padre Joaquim Figueira, Secretário da Câmara Eclesiástica, celebra a Festa de [Santa Ana] S. João Baptista, oragos da capela, ficando o Santíssimo Sacramento daí em diante na Quinta. - 1922 (10 de Outubro) – Ereção Canónica desta Casa da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus com três Irmãos. (Continua) Funchal, 10 de Junho de 2012/Aires Gameiro

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04/06/12

Troca de favores – cultura ou tentação?

Segundo um relatório do sistema nacional de integridade, revelado, recentemente, há uma rede de troca de favores entre os vários membros do governo – seja do atual, seja de outros. Aquilo que alguns rotulam de ‘fator C’ – talvez possa ser de ‘cunha’, ‘compadrio’, ‘corrupção’ ou outra palavra iniciada com esta letra... mesmo que possa ser positiva como ‘confiança’, ‘competência’ ou até ‘carreira de sucesso’... Um dado digno de registo, tendo em conta aquele relatório, é o que se refere à conivência (ou será antes, conluio?) entre membros do governo e certos gabinetes de advogados, bem como à (pretensa) declaração de rendimentos dos titulares de cargos públicos, com a incumbência de fazerem tal declaração no início e no fim de cada mandato e não anualmente, como era habitual... para que possa haver clareza de meios e de fins. = ‘Ser esperto ou parecer sério’? – eis a questão que poderia ocupar-nos numa reflexão mais ou menos simplista. De fato, como que vivemos num estado de suspeita sobre quem ocupa (ou pretenda candidatar-se) algum cargo de teor político, sobretudo, se for remunerado, de forma direta ou indireta. De muitos e variados modos se faz cair um certo labéu sobre quem está na vida política, extrapolando de casos pequenos para a generalidade de todos... numa muito desagradável acusação sobre competentes e prevaricadores, de honestos e corruptos, de gente de bem e uns tantos menos bons... Sem nos darmos conta como que colocamos ao mesmo nível pessoas sérias e desonestas, que certamente as há, pois, certas anormalidades não acontecem por arte do acaso, mas antes têm de ter sujeitos e operacionais, tenham eles rostos ou se escondam sob a capa do anonimato. = Habilidosos ou cúmplices? – eis uma outra questão, na medida em que somos confrontados com certas situações que nos fazem viver um tanto na desconfiança, mesmo da nossa própria sombra. Com efeito, nestes cerca de quarenta anos de democracia, em Portugal, temos tido a necessidade de ir criando algumas carrapaças de insensibilidade para com certas lamúrias, venham elas dos mais necessitados ou dos oportunistas, dos verdadeiros pobres ou dos que vivem à custa da subsidiodependência, em razão do trabalho ou de certos expedientes... Numa muito típica posição portuguesa é muito fácil desconfiar da fortuna alheia, colocando-a, normalmente, sob suspeita e menos boa intenção, embora tentemos absolver as nossas conquistas com rasgos de boa sorte e de melhor habilidade... Quanta inveja é adulada na hora de julgar os outros! Quanta cobiça é exteriorizada nos momentos de falar dos outros! Quanta vaidade consome mentes e faz réus à nossa volta! Quanta ruindade povoa o mais íntimo de tanta gente com que nos cruzamos no nosso dia a dia! = Denunciar ou pactuar? – um modo desafio perante certas – e como sói dizer-se: determinadas – situações onde nem todos se assumem como favorecidos, mesmo que se sobreponham ardilosamente a outros e tão pouco se arrependem – isto poderá soar, no seu conceito jactante, a debilidade! – das mais díspares provocações aos que sofrem, verdadeiramente, as agruras da vida, mesmo que em silêncio e de forma envergonhada. À boa maneira da nossa mentalidade lusa, somos capazes de proferir ‘acusações’ – mesmo sem provar, totalmente, o que é dito! – mas com grande dificuldade damos a cara pelas denúncias insinuadas. Que triste sina a nossa de termos de (quase) pactuar, inconscientemente, com certos cobardes! Que fado o nosso de, nacionalmente, vivermos à custa do menosprezo alheio, embora adulando aqueles que podem favorecer! Como poderemos crescer, efetivamente, se nos agigantamos na mediocridade coletiva? Agora que temos estado mais ou menos em controlo económico, imposto pelas forças da troika, assim sejamos capazes de reformular os nossos critérios à luz do essencial e não daquilo que pouco ou nada vale! A quem devemos favores? Como os vamos pagar? Com que meios? Qual o verdadeiro custo? António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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Ao Compasso do tempo - 01 de junho de 2012

Há névoas sobre o mundo político português, e conforme os media, sobre o próprio Vaticano. Lembro-me de um almoço em Paris, há cerca de quarenta anos em que um leigo francês, virando-se para mim e para outro padre português, nos alertava para o que éramos para o mundo: simplesmente uns “corvos”, enquanto gente vestida de preto (já não era o caso) e anunciadora de maus presságios. Corvos! Mal imaginava que tal designação viria a atribuir-se aos conspiradores e aos metediços da comunicação social! Por mais leituras que por aí grassem, expliquem-me como se organiza escritos sobre a vida privada de responsáveis, numa devassa de tal ordem que, sem pôr em causa a incumbência das secretas, nos fica a impressão de que métodos pidescos estão de volta! A ausência de princípios morais, a frequência de ambientes de luxos para uma conversa de ocasião, as névoas que ensombram a cumplicidade de figuras políticas com empresas de objetivos pouco explicados, a mesma aliança entre associações “invisíveis” e os desempenhos de seus representantes no mundo monetário-político infelizmente não andam longe estas notícias das que nos surgem a respeito do Vaticano, onde nos é apontada gente em fila á espera de capitanear a equipa ou intermediários a aproveitarem-se de papéis e relatos, para publicidade do que é manifestamente privado. É certo que o demasiado segredo ou o secretismo é uma tentação de virar tudo ao contrário. Desde o secretismo histórico do plano dos Descobrimentos até ao de nomeações e de mudanças nos nossos tempos, parece ser tema mal conseguido. O que não se quer que se saiba, todo o mundo conhece. Da tentação de vir tudo para a praça pública até à investigação indevida, é só um passo. A nebulosa consiste nos métodos impróprios, na difusão da mentira, na tentativa de desassossegar a ordem pública com a desordem, como quem possuísse o conhecimento prévio de onde colocar os pedras do xadrez. Bem sabemos da pouca clareza e da discutível segurança com que se chega a afirmar o contraditório! E é esta confusão a respeito da verdade que deixa perturbado quem sempre a busca. Não acontece que tantas vozes erguidas contra a independência de Timor Leste vieram, tempos depois, defender posições contrárias?! Comentadores acentuaram que o Cardeal Ratzinguer não quis ser papa. Para concluírem hoje: “E, de facto, não foi” (Nouvel Observateur, nº 2477, 26 de Abril de 2012, p. 59). Na biografia de Françoise Sagan, seu único filho Denis Westhoff cita François Mauriac, para quem a discutida romancista “esteve muito mais próxima da graça do que certos crentes”. Segundo o filho, a mãe teve um profundo respeito pelo outro, um amor pelo outro e a preocupação constante de não causar a alguém qualquer mal”.(Nouvel Observateur, 24 de Maio de 2012, nº 2481, p. 66). São opiniões. Conforme Teilhard, quando os cristãos “ se converterem à esperança da terra”, muitas coisas mudarão (Quelques refléxions sur la conversion du monde, 1936). E acrescenta: “um dia, há já mil anos, os papas dedicaram-se a dizer adeus ao mundo romano e a ir para junto dos bárbaros. Espera-se hoje em dia um passo semelhante”. Em 16 de Abril último (data do aniversário natalício), o Papa Bento XVI sublinhou: “a Sua Luz é mais forte do que toda a obscuridade”. As “línguas de fogo” devem substituir as “névoas” e os “corvos”. Como? Lisboa, 1 de Junho de 2012 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

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01/06/12

Um católico não praticante no confessionário de Cristo

Um homem sentia que nem tudo ia bem consigo; corre para Jesus, detem-no no caminho e ali mesmo se ajoelha para Lhe pedir que o ajude a confessar-se pois sabe que é um mestre bom. Que devo fazer para entrar na prática da vida cristã, perdão, na vida eterna e no Reino de Deus, perguntou o homem? Diz lá o que te preocupa. Tu sabes que é preciso cumprir os mandamentos: «não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe» (Mc 10,17-27). O homem começou logo a confessar os pecados, perdão, os não pecados, e diz logo: eu não mato, não roubo… tenho cumprido tudo há muitos anos, desde que me crismei, perdão, desde jovem e sou um católico, perdão um observante da lei não praticante. Bem se é assim, tens cumprido sete mandamentos, estás no bom caminho. Só te falta cumprir os outros três primeiros que são uma coisa muito importante. Sabes, tu estás a pôr os teus bens no lugar de Deus, a adorá-los como ídolos em vez de Deus. O que te falta é amar a Deus sobre todas as coisas e não amar o teu dinheiro mais que Ele. Também não cumpres o segundo, abusas em vão do nome de católico, perdão, do nome de Deus e do seu Reino não aceitado os teu irmãos. E ainda te falta cumprir o terceiro. Nem no sétimo dia da semana paras de festejar o ídolo da tua riqueza e outros ídolos que tens comprado com ela. Deus pediu que o sétimo dia seja reservado para o honrar, o adorar e Lhe agradecer os bens e tu honras e adoras o dinheiro. Ele quer que tu, os teus servos, escravos e animais parem para honrares o Pai que criou as coisas para todos, e não apenas para ti. O domingo, perdão, o sétimo dia é para festejar o Pai do Céu com teus irmãos pobres a quem não dás nada. Olha deixa o dinheiro-ídolo, o abuso do nome de católico, perdão, o nome de Deus; respeita o domingo, perdão, o sétimo dia, para praticares as coisas de Deus e deixares de ser um católico, perdão, um homem não praticante das coisas de Deus. Assim não digas que tens o tesouro do Céu, que és católico, perdão, que és um observante da lei. Para alcançares a vida eterna tens que desapegar o coração da tua riqueza, distribuir o que tens a mais pelos pobres e seguir-Me em primeiro lugar. O homem ficou triste por amar mais o ídolo da riqueza e não querer dar nada aos seus irmãos pobres e afastou-se. Jesus disse aos discípulos que aquela tinha sido uma má confissão do católico não praticante, perdão, do penitente observante não praticante de alguns mandamentos. Camelo que não passou no fundo da agulha. Terá este homem deixado de dizer que era católico, perdão, um não praticante de três mandamentos; e de pretender entrar assim mesmo e com pressa no Reino de Deus? Ou terá começado a praticar os mandamentos que lhe faltavam? A confissão, sem emenda, é mal feita. Quando ele se aliviar dos seu ídolos e começar a adorar a Deus mais que tudo não é impossível que o Pai o faça passar pela porta estreita para o seu Reino. Funchal, 28.05.2012 Aires Gameiro

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Envelhecimento ativo para adoecer menos

Estamos no Ano Europeu do envelhecimento ativo. Há encontros e congressos. O XI Congressos de Psiquiatria S. João de Deus desde que se promoveu o primeiro em 1979 com 550 participantes, teve em Fevereiro cerca 400. Multiplicam-se outros sobre idosos. Desengane-se o leitor se vai para um congresso destes para aprender a adoecer menos. Nos seus temas há uma concentração saturante de doenças e perturbações, e sobre os que os assistem e tratam. São feitos para isso. As excepções são raras. E os prelectores estão lá para vender o produto e os produtos da sua arte: ajudar, não para ensinar a dispensar a ajuda. São profissionais ativos. Os cidadãos contem com eles para ficarem mais passivos. Nem têm que ter muita voz e iniciativa. Há dias num único jornal davam-se títulos de várias doenças a centenas de milhar de doentes em Portugal; e daí a dias outro titulara mais doenças e doentes… Um milhão? Dois milhõe de doentes e muito mais em Portugal? A brincar pergunto aos meus amigos se há alguém com saúde em Portugal? Nestes congressos nunca se diz quem não é doente e pouco se diz como não se tornar tão doente nem em que idade começar esse como. Estes e muitos encontros reduzem ou aumentam os estigmas? A questão de Pio Abreu é muito actual “como tornar-se doente mental”; e podíamos dizer: como tornar-se idosos inválidos; como continuar doente e como depender passivamente e ser manipulado por médicos, psicólogos, enfermeiros…? Então, não se fala de ser idoso ativo, da reabilitação psicossocial para a autonomia e para ser menos doente? Nem por isso. Parece que a mensagem é: mais medicamentos, mais cuidados por outros; e, caso “estragou” a saúde com o fumo, as drogas, o álcool, o excesso e qualidade do que come e de tanta coisa, os profissionais aí estão para o tratar… e ainda bem. Mas…E para evitar que adoeçam? Nem por isso. Para evitar não adoecer tanto, tinha que se começar aos dois, três anos de idade e continuar aos 20, 30, 40 anos… Tinham que se ouvir palestras de pessoas que sempre mantiveram comportamentos e consumos saudáveis, e idosos ativos e de saúde. Pelo menos um deles por cada profissional teria voz nos encontros. Mas não se lhes dá voz. Ativos em quê? Não apenas a fazer bugigangas mais ou menos inúteis e sentados horas seguidas. Idosos ativos tirados das suas atividades e do seu emprego antes do tempo? E a engonhar nalgum lar ou centro dia? Ativo com pensionistas e reformados proibidos de se ocuparem nalgum trabalho sob pena de perderem a pensão? Os cidadãos poderiam evitar 30% das doenças que os afectam por sua conta e risco se fossem alertados, treinados e quisessem. Alguns treinam-se mais a falar das suas mazelas e achaques a toda a gente, e a aplicar a si mesmo com brio o rótulo ouvido ao médico. São os maiores. No dizer de Pio Abreu, as pessoas teriam nascido para ser manipuladas. Não anda longe da realidade. E outras nasceram para manipular. Nos tempos de crise, menos. Há mais resistência à manipulação e os manipuladores têm menos meios. Mudar os rótulos de doentes e de cuidadores que induzem estigma, rotina e dependência, podem estimular mais atividade nos “doentes”. O uso de alguns termos pode aumentar os problemas se não capacitam os cidadãos e se não os desrobotorizam dos mestres da manipulação. Interesses disfarçados não faltam para os manterem robots submissos ao consumo inútil e danoso. As dimensões da pessoa são imensas e a espiritualidade questiona as mais esquecidas pelas especialidades redutoras do todo da pessoa. Precisam-se especialistas do todo da pessoa que não neguem as dimensões invisíveis, transcendentais, sinalizadas no primeiro mandamento do decálogo. Convidem o Principezinho a falar delas aos especialistas. Fevereiro de 2012 Aires Gameiro

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A crise... Os pobres e os ricos!

Como todos sabem e sentem, na sequência de anos e anos de desgoverno por parte de quem nos dirigia, gastando o que se tinha e o que se não tinha para dar nas vistas do mundo e ganhar votos autárquicos e nacionais, e também de vaidades insensatas de muitos portugueses que se julgavam ricos com o dinheiro que os bancos emprestavam e até ofereciam, atulhamo-nos em dívidas tão grandes que nem os juros dessas dívidas conseguimos pagar agora. O que vai ser de nós!? Como é que isto foi possível, e ninguém segurou isto enquanto se estava a tempo? É que está tudo desfalcado: o Estado e as Autarquias devem aos fornecedores e aos credores; os Bancos não têm dinheiro para emprestar às Empresas; as Empresas despedem os trabalhadores e fecham portas; os particulares, desempregados e desorientados, não conseguem pagar as dívidas aos Bancos e os impostos ao Estado, e eles tiram-lhes a casa, o carro, a caravana e o barco de recreio… Como nós estamos! Mas o pior é que, neste estado de pobreza nacional, grande parte das pessoas continuam a não ter juízo: os nossos políticos (embora um bocadinho melhor do que os da Grécia), em vez de se unirem todos para salvar o país, continuam a guerrear-se para ver se ganham alguns votos, se crescem mais um pouco nas sondagens, ou se chegam mais depressa ao poder; os trabalhadores das empresas públicas mal geridas (CP, METRO, TAP, ESTRADAS, R. T. P., REFER…) - as grandes causadoras da dívida do país - fazem greves e manifestações seguidas, tentando desesperadamente salvaguardar os seus lautos e injustos privilégios; a nossa selecção de futebol vai gastar 33 mil euros diários no Euro /2012, enquanto a de Espanha se ficará por uns 4 mil e setecentos; e muitos cidadãos, não querendo mudar de vida fácil nem perder hábitos de consumismo gostoso, continuam a fazer vida de “bons vivants”, enquanto lhes restam ainda alguns cêntimos na algibeira. Enquanto isto, sem dinheiro para acudir às necessidades do país e sujeito a uma TROIKA que impõe regras apertadas para nos emprestar o dinheiro de que precisamos e sem o qual não conseguimos sobreviver (e está no seu direito…), e empenhado em diminuir as nossas dívidas o mais depressa possível, o Governo, como abutre esfomeado, cai em cima dos cidadãos que vivem do seu trabalho retirando-lhes os subsídios de férias e do natal e aumentando-lhes os impostos, e em cima dos mais frágeis da sociedade sobrecarregando-os com taxas moderadoras na saúde e com a subida do IVA no gás, na água, na electricidade e na restauração. O que vai ser de quem não tem rendimentos suficientes? O que vai ser dos que vivem apenas com uma pensão social de miséria? É que, quem sofre a crise e a sua austeridade são precisamente aqueles que nada fizeram para lhe dar origem: gente que sempre trabalhou honestamente, para orientar a casa e dar mantença à família. Em minha opinião, outros deviam ser chamados a saldar as dívidas e a pagar os juros: em primeiro lugar, todos os culpados. De modo geral, e sem nomear ninguém, os que governaram mal e levaram o país à bancarrota; os administradores das Empresas Públicas, em grande parte responsáveis por este enorme buraco nacional; os instituidores e os gestores das empresas publico-privadas, outro cancro nacional; os presidentes do Banco de Portugal e do Tribunal de Contas que não preveniram a situação como era seu dever; os corruptos que se governaram à custa dos dinheiros públicos; os que levaram bancos à falência sem se saber para onde foi o dinheiro…. Em vez de serem chamados à responsabilidade, de responderem nos tribunais e de serem obrigados a repor o que habilmente extorquiram em seu proveito, caso o tenham feito, passeiam-se por Lisboa, Paris e Londres… à espera que o tempo passe, as pessoas se esqueçam e os processos prescrevam, vivem lautamente em seus palácios, ou até administram empresas públicas com ordenados chorudos. Isto, se assim continuar, pode acabar muito mal. Este é o caminho que põe termo às democracias e abre a porta às ditaduras. Já foi assim da outra vez. Se me ouvissem, eu pedia ao governo que tirasse o dinheiro a quem o tem, e a quem, por ter muito, nenhuma falta lhe faz: logo à cabeça, os antigos Presidentes da República e da Assembleia de Deputados cujas mordomias contribuem grandemente para o enorme deficit nas contas nacionais; a seguir, as pensões antecipadas e vitalícias dos militares de Abril e dos políticos locais e nacionais que tiveram o “direito” de as receber quando ainda eram umas “crianças”, enquanto os demais cidadãos, para receberem pensões de miséria, têm de trabalhar uma vida inteira; a seguir, e sem deixar para trás os “homens e os meninos da bola”, todos aqueles que neste país auferem todos os meses ordenados e pensões exorbitantes de muitos e muitos milhares de euros, tantos que a gente nem sabe como é que eles conseguem digeri-los; depois, e finalmente, aqueles que têm manifestações de grande luxo, em moradias e palácios, em ouro e pedrarias, em automóveis de alta gama, em barcos de recreio, e em contas astronómicas nos bancos nacionais ou estrangeiros. Esses sim, é que podiam e deviam pagar a crise, porque até o faziam sem saberem o que é a austeridade e a pobreza, e como ela magoa e dói aos seus pobres semelhantes. Porque tiram as casas a quem está desempregado e não tem com que pagar os compromissos mensais que assumiu com o empréstimo? Isso, não há direito! Bancos e Finanças, que prolonguem o tempo determinado para eles saldarem as dívidas, que lhes troquem as boas casas que adquiriram sem poderem, por outras à medida das suas capacidades. Tirar-lhes a casa e pô-los na rua, é que não! Concluindo, acho que o Governo devia fazer o papel do conhecido “Robin Hood” nos bosques de Sheerwod, não falando já do “Zé da Silva” de Telhado, de Penafiel: tirar aos mais ricos para poder ajudar os mais pobres. Nas actuais circunstâncias, isso é que seria governar bem! Se sou exagerado ou injusto, que Deus me perdoe! RESENDE, 21/05/12 J. CORREIA DUARTE

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