Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

24/02/11

Capelães da Casa de Saúde S. João de Deus (Funchal) Nos 50 anos da Paróquia da Graça (3)

O Irmão Manuel Maria Gonçalves nas notas já referidas (Hospitalidade, nº 108 Out-Dez 1962) conta que no dia 3 de Junho de 1922, dia da festa do Irmão Beato João Grande, o Cónego Jaime Gouveia Barreto celebrou a primeira missa na Quinta do Trapiche desde que ali chegou aquele Irmão no dia 1 de Junho à noite e de no dia seguinte ter ido à missa e comunhão da 1ª Sexta-feira em Santo António, e de ter participado no Funchal no funeral de Maria Paula G. Rego, a antiga dona da Quinta do Trapiche que a quis doar aos Irmãos.

Só tornou a haver missa na capelinha da Quinta no dia 24 de Junho dia do seu orago, S. João Baptista, sendo celebrante o Padre Joaquim Figueira, secretário da Câmara Eclesiástica e mais tarde pároco de Santo António, tendo desde esse dia ficado o Santíssimo Sacramento de forma permanente na capela da Quinta .
O primeiro capelão
A partir de férias ali passadas do Padre José Marques Coelho de Braga e professor do Seminário do Funchal começou a haver missa todos os dias. Após as férias este sacerdote continuou a ir celebrar à capela aos domingos pois os vizinhos ofereceram-se para o compensarem para ele ali deslocar nos domingos e dias santos. Nos outros dias, diz o Irmão Manuel Maria, os Irmãos iam a Santo António.

Capelães da Ordem Hospitaleira
No dia 22 de Fevereiro de 1923 com o Provincial (província espanhola e portuguesa nessa altura) Frei Juan de Jesus Andradas, hoje beatificado como mártir por ter sido morto por confessar a sua fé em Jesus Cristo em 1936, visitou a Casa acompanhado do seu secretário Frei Cláudio Piña e do Padre José Maria Antunes como capelão até a 7 de Agosto de 1925 em que foi nomeado Mestre de Noviços no Telhal. Mais tarde foi missionário em leprosarias e hospital psiquiátrico de Moçambique. Sucedeu-lhe o Padre Lázaro da Silva, chegado a 17 de Agosto do mesmo ano ao Funchal ficando de capelão até 10 de Março de 1931. Este sacerdote terá sido esporadicamente confessor da Madre Virgínia de 1925 até à sua morte em 17 de Janeiro de 1929, sendo os Irmãos que levaram o féretro no funeral da Serva de Deus. Ela teria vindo por vezes à missa ao Trapiche mas não se conhece documentação precisa sobre isso.
O Padre Bernardino de S. José e Silva, outro sacerdote da Ordem veio substituir o anterior de 7 de Julho de 1931 a 7 de Novembro de 1943 em que saiu para ir em 1944 como missionário para uma leprosaria em Moçambique. Entretanto a nova grande capela, mais tarde “igreja paroquial” foi construída nos primeiro anos de 1930.

Capelães/coadjutores
Desta data em diante, à falta de capelães da Ordem, os superiores pediram um capelão ao Senhor Bispo. Estes exerciam simultaneamente o munus de coadjutores de Santo António e celebravam as missas dominicais para o povo do alto de Santo António.
O primeiro terá sido o Padre Manuel Gonçalves Pita de 1943 a 1951, e o Padre Alberto de Sousa de 1951 a 1954 em que foi substituído pelo Padre (cónego) João da Conceição até 1956. Também o D. Teodoro de Faria foi capelão em 1956 e em 1957 o Padre Luís Afonso.
A partir de 1958 foi capelão o Padre António Gonçalves que de capelão/ coadjutor passou em 1961 a primeiro pároco da Paróquia da Graça de quem falaremos em próximo apontamento.
Funchal, 22 de Fevereiro de 2011
Aires Gameiro


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Ruínas de uma guerra e ódio destruidor de uma liberdade não preparada

Fui há poucos dias à Guiné-Bissau, em missão de solidariedade fraterna, depois de lá ter ido, já lá vão quase quarenta anos, numa difícil e perigosa missão pastoral.

Então, era a guerra. Agora, a muita miséria à vista, onde ressalta o esforço heróico de abnegados reconstrutores, uns que aí vivem de há anos, outros que vão por um tempo, todos procurando dar prioridade ao essencial: a educação, a saúde, a reconciliação lenta de etnias e religiões, o acolhimento a um voluntariado preparado e generoso, a coragem de não desistir nunca ante o que faz falta, ainda que conseguido com dores e lentidão. Tudo aquilo que se vê com algum futuro é fruto da iniciativa possível, sobretudo das instituições religiosas, porque outra iniciativa, bem urgente, como a da criação de pequenas e médias empresas que garantam trabalho, não encontra garantias de sucesso, dada a falta de segurança, de apoio, de rumo, de esperança.

País adiado
A Guiné-Bissau aparece-nos, em aspectos fundamentais, como um país ainda sem rumo certo, nem pressa de o encontrar, onde as pessoas vão vegetando, entregues a um provisório, que se vai tornando definitivo. De quem manda, se acaso há aí alguém a servir o povo, tudo sem pressa, a menos que se espere gente de fora a quem é preciso dar a imagem de um progresso que, de facto, não existe.
A riqueza mais visível da Guiné Bissau são os muitos milhares de jovens e crianças. Património humano e natural que se está deteriorando de muitas maneiras pela falta de empenhamento presente, de perspectivas de futuro, de ocupação estimulante, de um trabalho que impulsione a viver, a crescer e a produzir.
O primeiro bispo da diocese, criada depois da independência e que ocupava todo o país, foi um franciscano italiano, D. Septímio Ferrazzetta, missionário que já aí vivia e trabalhava desde há anos, conhecia bem a realidade, viu os horrores da guerra e recebeu, com a chamada ao episcopado, um nação em ruínas e sem meios. Dotado de um coração onde o amor ao povo não tinha limites, de uma fé em Deus que era o segredo da sua coragem frente aos empreendimentos inadiáveis, de uma lucidez nos processos de acção, de uma capacidade exímia para convocar quantos, de perto e de longe, podiam colaborar com ajudas indispensáveis, foi, todos hoje o reconhecem, o primeiro cabouqueiro de uma restauração lenta, mas promissora, que foi de novo implantando e enraizando a comunidade cristã no seio de uma comunidade humana, necessitada de estímulos e de sinais de esperança, concretos e visíveis. Colhi dele a frase emblemática da sua dedicação, gravada no liceu João XXIII, que criou e que é hoje a melhor escola de Bissau. Diz assim: “Melhor que todas as construções é construir o coração do homem”. O mais difícil, por certo, mas o mais indispensável.

Saúde e educação
Logo depois vieram mais escolas, centros de formação profissional, hospitais e maternidades, apoios aos mais desprotegidos, iniciativas que pudessem gerar fraternidade e reconciliação, voluntariado organizado e colaboração sem reservas nem fronteiras. Hoje, na Guiné, país com maiorias muçulmanas e animistas e onde os cristãos são minoria, a acção da Igreja traduz-se em oásis activos e vivos, no meio de um deserto, que não gera nem vida nem esperança.
Um famoso hospital de leprosos, hoje com muitos doentes de sida e tuberculose, é dirigido por um padre franciscano português, médico, que, com um sorriso de ”Paz e Bem”, espalha cuidados, acolhimento, serenidade, alegria, esperança e competência profissional. Um hospital, modesto, mas asseado e lindo, que se transformou em lugar de apelo a médicos e enfermeiros de Portugal, que ali vão, em grupo e a seu custo, para fazer as cirurgias possíveis, durante uma semana, num trabalho sem horas e numa dedicação sem limites.

Voluntariado
Encontrei na viagem, com a alegria de saber que iríamos ser hospedados na mesma casa da diocese, um grupo de voluntários italianos que viajavam à sua custa e iam terminar as obras de restauração de um orfanato, assaltado e abandonado após a independência. Desde 2007 que tomaram a obra à sua conta e foram resgatando, gratuitamente, de ruínas abandonadas durante anos, com o apoio da sua paróquia e de outros amigos da Itália, o que por fim se tornou num lindo edifício, entregue à Diocese, equipado e mobilado, para poder receber crianças órfãs, ainda antes do Verão. Outros grupos de voluntários de Portugal e da Itália, de gente activa, jovens e adultos, homens e mulheres, mas, sobretudo, de reformados, chegam, trabalham sem horário os dias de que dispõem, ensinam os nativos residentes, regressam felizes.

“Construir o coração do homem”
Cada dia dou mais por mim a pensar se a Guiné, apesar da sua pobreza natural, que é evidente, não seria hoje um país diferente, se o tempo do colonialismo tivesse sido um tempo de promoção humana e social, de responsabilização, de valorização das pessoas e dos bens naturais disponíveis, um tempo de serviço e de respeito pela cultura e costumes locais? Muitos dos que já lá estavam e continuam agora, os missionários, sabiam como fazer e tentavam esse caminho com o povo. Ou foram, então, expulsos, ou viram destruídas as obras que serviam o povo e eram fruto de muito trabalho, generoso e abnegado. Outra gente, que por lá passou, nunca encarnou a realidade, abusou do poder, espalhou morte, viu mais os seus interesses que o das pessoas que ali viviam, para se libertar a si, criou escravos. Muito mal feito o que era urgente fazer e nunca o faria a guerra. A história da descolonização, necessária e justa, na Guiné e não só, mostra que nem sempre se respeitou o serviço às pessoas, à sua terra e à sua cultura. Era a única justificação para estar lá. As comemorações recentes, feitas com largo tempo de antena televisiva, com histórias pessoais a querer passar por heróicas, não falaram do presente, mostrando o fruto apodrecido de uma acção desumana e de uma decisão pouco responsável. A Igreja lá continua em campo, com generosidade e esperança, a mostrar que o mais importante será sempre “construir o coração do homem”. Missão só possível, quando a educação se assume como um serviço de amor, quando o outro é uma pessoa e um irmão. A lição também vale para cá e para hoje.

D. António Marcelino
23 de Fevereiro de 2011



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21/02/11

Vítimas (visíveis) do abandono... familiar, social e desumano

Desde há duas semanas que, quase diariamente, é notícia o achamento de idosos falecidos – há mais ou menos tempo – ou caídos em casa, em estado de decomposição ou descobertos após dias de desaparecimento... numa espécie de espectáculo onde as figuras mais degradantes estão fora do palco, em surdina e encapotadas pela ineficácia nos cuidados – materialistas, hedonistas e anónimos – com que tentam cuidar, sobretudo, dos mais velhos.

É preciso, efectivamente, chorar sobre o leite derramado, pois é deste desastre que todos podemos e devemos colher as lições mínimas em atenção às respostas máximas!
Diz-se que há cerca de quatrocentos mil velhos sós e/ou abandonados, no contexto português, tanto no quadro rural como na incidência urbana. Entretanto, vêem-se pulular lares e asilos (este termo foi banido da linguagem, mas continua azedo na mentalidade) por tudo quanto é lado, praticando preços exorbitantes e, nem sempre, aliando custo à qualidade. No entanto, muitos outros velhos vão ficando esquecidos ou marginalizados pela ocupação laboral de familiares que, muitas vezes, se tornam, para com eles como abutres ou, no mínimo, sangessugas.
Estes episódios mais recentes têm criado uma onda de quase de histerismo colectivo. Por estes dias li uma nota na internet: ‘Vaga incontrolável de arrombamento de portas de casas de pessoas desaparecidas porque não postavam nada no facebook há quinze minutos’. Explicando esta atitude dizia-se até que alguns dos que viram a casa arrombada e isso aconteu no intervalo em irem à procura daqueles de quem não tinham notícias ‘só’ há quinze minutos.
De facto, estas notícias devem-nos fazer pensar. Tentaremos deixar breves anotações, sem pretendermos dizer tudo e muito menos querendo esgotar o assunto, pois ele é assaz complexo.

= Do sempre contactável... à sensação de desprezo
Hoje é normal as pessoas terem horror à solidão, ao silêncio e, sobretudo, ao abandono, seja consentido, seja tolerado ou mesmo imposto pelas circunstâncias da vida e do relacionamento entre as pessoas. Numa espécie de exposição frenética, as pessoas têm a tendência a falar de si mesmas sem o mínimo pejo de vulgarizarem ou de dizerem de si mesmas mais do que aquilo que seria desejável. Quantas vezes ouvimos conversas na rua – pois as fazem ao telemóvel enquanto caminham, sem resguardarem o que dizem – que seria preferível não saber. Por vezes, quase somos tentados a pensar que aquilo que é dito não terá interlocutor, pois se assim fosse algo de mal estaria nessa cultura de fachada...
Cresce, por outro lado, o número dos sós, dos isolados, daqueles/as que talvez tenham por companhia a televisão ou, se mais actualizados, a internet... com uma certa comunicação impessoal e, quantas vezes, suficientemente, anónima... para atrair a confiança, a partilha ou mesmo o convívio entre pessoas que se conhecem, que se estimam ou que se respeitam.
Parece que estamos prestes a bater nofundo da desumanidade, na medida em que entramos mudos e saímos calados, em que quase ninguém repara em nós nem nos vê como pessoas que têm rosto – alegre ou triste, amargurado ou contente, choroso ou perfumado – perdendo-se a noção de história e de memória, pessoal, familiar, social e colectiva.
De facto, somos, cada vez mais, um número – repare-se na mais recente lucubração do ‘cartão do cidadão’ – com algumas cambiantes (outros números utilitários), que interessam a quem nos governa, mas que, depressa se perceberá, que perdemos a capacidade de sermos para além da utilidade e com um cada vez mºenor prazo de validade, senão na duração, pelo menos na intenção.
Registe-se a preocupação de certas forças e instituições em denunciarem este abandono, mas com algumas dificuldade iremos inverter este processo, pois é galopante a descristianização... e, sem Deus, tudo será mais fácil reduzir(-se) à matéria orgânica... viva ou morta.
Urge, por isso, recriar a mentalidade de vizinhança. Urge implementar uma nova força de proximidade. Urge abrir os olhos e ver quem, afinal, pode precisar de nós, hoje.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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18/02/11

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 18 de Fevereiro 2011

Que a opinião em geral se agite diante de factos hediondos, assumindo, até, o papel de juiz sem contemplações, não o estranho. Não se resiste com facilidade a embates emocionais, por muito esforço se faça a favor do bem pensar. Mas parece que só o insólito sensibiliza e dá nas vistas. Morre-se todos os dias. Mas só chama a atenção o desaparecimento de alguém, quando aspectos especiais a rodeiam.
Sem ironia diante do efeito dominó: basta uma senhora ter sido notícia por o corpo ter sido descoberto nove anos após o seu desenlace, para, num instante, serem conhecidos casos idênticos. Até as ditaduras têm um rosto meigo. Foi preciso que o Egipto levantasse a cabeça para, dum sopro, vários países árabes entrarem em processo de ebulição. O sofrimento, físico e moral, corre o risco de doer menos pela força da rotina…
Nesta ordem legislativa da banalidade não me admirei do silêncio diante da morte do Coronel Vítor Alves. Não me refiro a pessoas que, até nos sentimentos, se regulam por catalogações de há longos anos e onde a política deixou de ser racionalidade para ser só emoção da tribo. Aludo a quem, na comunicação em geral, se rendeu à ponderação de maneiras e à recusa de extremismos, que o caracterizaram. Tantos que não gostando de “Abril” se surpreenderam com o grupo dos nove, e, apesar do seu clima doente, até vieram a coincidir com “Novembro”.
Não tive o gosto de conhecer pessoalmente o Senhor Coronel Vítor Alves. Nunca nos cruzamos. Já estava na situação da reserva, quando por este meio iniciei os primeiros passos.
Nesta questão de sentimentos também vigoram a formalidade e o institucional. As pessoas “dão-se” (e parecem estimar-se) porque têm que “se dar”. Vivem enquanto desempenham um cargo. Transitados à “vala comum” dos mortais, em vez de rejuvenescerem, tornam-se desconhecidos ou negligenciados. A minha homenagem a tantos iguais entre nós.

Nota: Para o Cónego Pio Alves de Sousa as minhas congratulações de grande estima. O Porto também é uma bela diocese!

MDN – Capelania Mor – 18 de Fevereiro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança



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Diplomatas e profetas que transmitem mensagens úteis

Como braço longo dos governos os diplomatas são sempre informadores prontos e cuidadosos, de tudo quanto pode interessar ao país que representam. Este é um modo de o servir. Nem todas as informações são secretas.

Por vezes, não se trata senão da informação de acontecimentos que têm a ver com todos, e que cada governo acolhe, consoante a sua fonte e o seu alcance e interesse. Os discursos que são proferidos no momento da aceitação das credenciais de um novo embaixador são mensagens para o país representado, mais do para os diplomatas que começam funções. O mesmo se diga, quando, em momentos solenes, um chefe de Estado recebe todos os embaixadores e lhes dirige uma mensagem adequada, pensada e actual, que não é apenas um discurso de cumprimentos ou de circunstância.
Vem isto a propósito da mensagem de Bento XVI ao Corpo Diplomático, no início do ano, em que o Papa se dirigiu aos governos ali representados, para fazer uma exortação, que é, ao mesmo tempo, um apelo justo, actual e oportuno. O Vaticano mantém relações diplomáticas com 177 países e com 33 organizações e organismos intergovernamentais, incluindo a ONU. O seu objectivo, para além da regulação das relações normais entre estados, é, também, poder servir, com os seus meios de diálogo e colaboração, os países e seus governantes, contribuir para o bem integral das pessoas e das comunidades e promover a liberdade religiosa, para que cada cidadão, possa procurar e encontrar, em liberdade, a fonte do bem e da vida.
Na referida mensagem disse o Papa estas palavras, que sendo para todos, quadram, pela sua actualidade, ao governo português: “Exorto todos os Governos a promoverem sistemas educativos, que respeitem o direito primordial das famílias a decidir a educação dos seus filhos, inspirando-se no princípio da subsidiariedade, essencial para organizar uma sociedade justa”. Tem em mente, como é obvio, países democráticos, preocupados em realizar o bem comum com a colaboração de todos e a favor de todos.
Já lá vão uns anos, mais de vinte, que um bispo corajoso e ponderado, D. António Ferreira Gomes, então muito ouvido pelos diversos quadrantes políticos, fez esta oportuna reflexão: “Uma das maiores desgraças da nossa Pátria, e poderíamos afoitamente dizer que a maior desgraça da nossa Pátria, é o Estado considerar função sua a instrução e a educação, bem como a assistência, e a nação deixar-se convencer. A coisa começou pela Universidade e vai avançar pelos diversos escalões, conforme tudo isto assegura o interesse político”. Um aviso profético que políticos, fascinados pelo poder absoluto e por um estado social de sonhadores irrealistas, continua a não ouvir.
Uma tentação frequente de quem governa é pensar que não precisa de conhecer a história, de respeitar a realidade, de deixar de se enrolar por interesses partidários, de cair em decisões imediatas dispensando-se de ponderar as suas consequências. É tudo isto que faz um país adiado, mesmo que, com a comunicação social em massa, se façam inaugurações de obras novas, se profiram discursos eloquentes, se proclamem com vivas e aplausos, os detentores do poder.

D. António Marcelino
16 de Fevereiro de 2011


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14/02/11

Da roupagem em disfarce à autenticidade no acolhimento

No início do retiro nacional do Apostolado do mar – que decorreu, por estes dias, em Fátima – foi distribuído a cada participante – cerca de quinhentos – um pequeno espelho, onde estava escrito no verso: ‘Deus faça resplandecer no teu rosto a Sua glória’.

Mais do que algo decorativo, aquele espelho pretendia provocar/interrogar os participantes em ordem a tentarem reflectir sobre a sua imagem – tanto a visível na reflexão do espelho como essoutra que possam ter de si mesmos – captando a significação mais profunda e abrangente.

Quantas vezes não teremos já sido confrontados com ‘figuras’ que tentam dar de si uma imagem que, de facto, não corresponde à verdade, seja pela roupa com que se enfeitam, seja pelo linguajar mais ou menos arrevesado ou até pela ostentação de pretensões ocas senão mesmo ridículas.

Quantas vezes certos ‘figurões’ deambulam por entre incautos para se fazerem passar por quem não são, enganando e iludindo-se... A crise mais recente tem sido prolixa neste capítulo, pois, sob a capa de bem-falantes, se encobrem lobos devoradores... mesmo ao nível político e social.

Há, no entanto, nos tempos que decorrem, aspectos que têm de ser atendidos – dentro de uma linguagem cristã – para que aqueles que nos procuram sejam bem atendidos, sabendo discernir as causas e avaliando as consequências. Sob a roupagem do disfarce temos de saber encontrar a autenticidade dos problemas, ajudando os nossos interlocutores – e nós mesmos, na medida em que aprendemos com eles/as – a sermos todos envolvidos numa nova cultura, com novos métodos e inovadoras soluções... sempre mais verdadeiramente cristãs.

= Desafios/propostas para uma cultura cristã do acolhimento =

Sabendo que, no rosto de um cristão, se reflecte ou resplandece a glória de Deus. Sabendo que é, através do rosto humano que, nós, cristãos, somos chamados a viver a missão de fazermos brilhar a efígie da glória divina, que é Jesus. Sabendo que Jesus se torna tornado presente em nós e através de nós neste mundo.

Sabendo e assumindo esta nossa missão divina, ousamos propor algumas sugestões para que o rosto glorioso de Jesus, vivo e ressuscitado, se manifeste em nós e através de nós, pessoal, familiar, comunitária e socialmente:
* Dar (maior) atenção aos rostos desfigurados: em casa, no trabalho, na rua, na Igreja, na sociedade.. de forma simples, continuada e comprometida. Por vezes, não reparamos nas pessoas que nos rodeiam, damos-lhes pouco tempo. Não damos atenção aos pormenores de infelicidade ou de amargura. Talvez, só de tempos a tempos, percebemos a falta de alguém, que já se pode ter tornado ‘mobília’ (in)decorosa ou indesejada.
* Incluir na nossa atenção os mais frágeis (fragilizados, marginalizados ou empobrecidos), desfavorecidos e carenciados (de amor, de ternura, de compaixão/simpatia)... a começar pelos endurecidos, rudes, ríspidos, rezingões, mal-amados e até que pretendem mostrar um rosto frio, mas que, afinal, precisam de carinho... de Deus e de nós, os cristãos.
* Fazer da família uma escola de acolhimento à vida, à confiança, à vulnerabilidade (doença), à presença... mais do que ao afã do trabalho, do consumismo, da pressa, da conveniência.
* Construir, nas nossas paróquias e grupos, uma cultura de acolhimento sincero, afectuoso, fraterno... em caridade, vendo Deus nos outros e os outros em Deus!

Temos de aprender a traduzir com gestos, sinais e palavras esta autenticidade, despindo a roupagem da falsidade, desnudando a linguagem da insensibilidade, colocando-nos ao espelho de Deus e aferindo a nossa consciência aos valores do Evangelho.

A. Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)


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11/02/11

Visita ao navio Escola Sagres

Numa visita que há dias, capelães e eu próprio, fizemos ao Navio Escola Sagres, ouvimos da boca do Jovem Comandante a narrativa da sua viagem “à volta do mundo” no decurso de 2010 (saída da Base do Alfeite em Janeiro e regresso uns dias antes do Natal).

As emoções das comunidades portuguesas, o acolhimento de rara estima pelas populações locais, (a Sagres, sem desprimor para as outras não flutuantes… é a nossa melhor “embaixada”), a visita a Timor-Leste, etc., foram condimentos de grande conversação.

E, entretanto, surpreende-nos com este acontecimento: chegados a 12 de Maio, membros da tripulação pedem-lhe uma imagem de Nossa Senhora de Fátima para organizarem uma procissão. Não havia capelão na viagem (os padres não são elásticos na hora que passa). Mas o Comandante era crente. (E que o não fosse, teria prestado a mais honesta atenção à vontade daquela “sua família”).

E respondeu-lhes: “Por sinal tenho uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, que foi oferecida em Porto Rico”. E, dessa forma, tudo foi cumprido em conformidade, tendo a tripulação conduzido “aquela” Nossa - Senhora, numa espécie de andor, “passeando-a” por todos os cantos e recantos, e entronizando-a em lugar cimeiro. Lá vimos a Senhora, com o seu vestido azul.

Vim a pensar nestas fundas convicções de um povo, que sem directivas do clero nem motivações de nenhuma outra ordem, achou que, em noite tão especial, era preciso honrar a Mãe, como na terra pátria tantos assim procediam.

Eram (e foram) apelos de viandantes de todos os mares, de marinheiros (pais, filhos, noivos, maridos), que longe da família, sentiram que naqueles instantes, tinha de estar ali Alguém!

Foram razões, sentimentos doídos, fé verdadeira, mistura de piedade, família e pátria, fitando águas repousadas e, das mesmas, a agressividade de outras alturas.
A religiosidade não se reduz a estes sinais. Mas atitudes destas são acenos do Evangelho. E a luz acesa desta fé suplica que haja apoios e seu fortalecimento. São precisos irmãos da mesma certeza, a ajudar ao crescimento em direcção a uma vida adulta da crença, a uma cultura do viver, a uma transformação do pântano.
Não é preciso quem mantenha a candeia acesa, no alto do mar da vida? Não é necessário quem nos explique tantas coisas desconhecidas? E nos confirme no pouco ou muito que outros alumiaram em nós? Há gente que solicita e nos solicita.
São os simples e verdadeiros que se encarregam de organizar a marcha da fé. Dá que pensar.

11 de Fevereiro de 2011
Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança


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07/02/11

Desafios na era do powerpoint e do copy-paste

Com todas as possibilidades destes dois artifícios com que a internet nos tem possibilitado, por estes dias, lemos e registamos algumas observações sobre o (ab)uso do powerpoint... podendo extrapolar essas referências à cultura ‘copy-paste’... com que certos estudantes/alunos se vão entretendo... embora, quase nunca aprendendo.
Por estes dias lemos, numa entrevista de um ex-jornalista francês que dizia sobre o powerpoint: «é muito prático, pois permite produzir facilmente um suporte (com texto, imagens e gráficos), que pode ser reproduzido até ao infinito, em todos os tipos de apresentações (...) Tornou-se uma linguagem quase universal. Criou, aliás, uma língua nova, cheia de automatismos, que tornam o discurso descarnado, neutro. Permite desresponsabilizar quem usa da palavra». Na visão deste – pretenso – crítico, o powerpoint «produz um tipo de discurso, de argumentação, de raciocínio simplista, esquemático, visual e espectacular que não pode aplicar-se sempre».
De facto, sob a aparência de um powerpoint pode esconder-se alguma incapacidade de comunicação com discurso consistente, pois os flashs de imagens ou de frases, embora sintetizando, podem não deixar perceber o que se sabe ou aquilo que pode ter sido colado à pressa... Cifrado na linguagem da sedução o powerpoint dá a entender, mas não faz – muitas vezes – compreender. Embora possa ser um (bom) suporte para quem sabe daquilo que fala (ou foi incumbido de falar), pode, no entanto, disfarçar a incapacidade de penetrar na sabedoria de quem quer dizer. Sem qualquer preconceito para com o powerpoint, poderemos considerar que este método de comunicar dificilmente poderá esconder uma certa ignorância, tanto das matérias como dos recursos para a sua aprendizagem. Talvez se possa considerar o powerpoint como uma razoável modalidade de comunicação nesta ‘nova era’ do fascínio pelo exotérico... mas onde as armas, se mal usadas, podem voltar-se contra que as tenta manusear... inadvertidamente.

= Da consulta barata... à colagem sem amadurecimento
Hoje é recorrente vermos mais novos ou mais velhos atarefados a consultar a internet para tudo ou quase nada, pesquisando as mais díspares áreas, em busca de informações rápidas – qual ‘fast food’ intelectual – numa ânsia de dar a entender que se sabe qualquer coisa... mesmo que seja de forma superficial.
Com efeito, o velho ‘corta e cola’ – tradução literal de copy-paste – teve uma breve evolução, deixou de ser feito com tesouras e cola para ser virtual, no écran do computador e sob o efeito da mais elementar subversão dos direitos de autor... desconhecido, anónimo ou também ele/a virtual como os dados surripiados na era do global particular.
Vemos, deste modo, crescer uma tendência para fazer-de-conta à custa de alguma superficialidade e, nalguns casos, até de uma outra desonestidade intelectual. Com efeito, aprender custa, obriga a gastar tempo e, sobretudo, a amadurecer os conhecimentos, fazendo-os digerir demoradamente, com racionalidade e até com razoabilidade.
Está na hora de termos pessoas que saibam o que dizem e o que escrevem e que digam aquilo (e só) o que sabem... conscientemente. Basta de sermos confrontados com frases feitas e/ou de citações sem conteúdo. Precisamos de pessoas que estudem e que não se pendurem em chavões nem que digam coisas de uma certa moda intelectual enrolada... mesmo sem compreenderem o (total) significado das coisas a que têm acesso... privilegiadamente.
Honestidade, a quanto obrigas!

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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Vida Religiosa observante, da segunda metade do século XIX ao século XX

Nesta semana da Vida Consagrada ocorreu-me a situação do século XIX para a qual um Irmão italiano me alertou há poucos anos e agora um outro confrade que está a fazer uma tese de doutoramento sobre o tema. Porquê estas aproximações? Porque elas trazem luz ao drama que Bento XVI tem enfrentado em relação à infidelidades dos consagrados, padres e religiosos. São “profecias” e factos. Baste referir dois ou três pontos relacionados.

A ideia da vida consagrada observante terá partido de Pio IX (1792-1878) quando em 17 de Junho de 1847 um ano após a sua eleição, com a encíclica Ubi Primum (não confundir com a do mesmo nome a todos os bispos sobre a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição 02 Fev 1849), ele pediu a todos os Institutos religiosos mais estrita observância da vida comum, e dos votos religiosos. Estimulou a refundar nesta observância algumas comunidades pois sabia que seria difícil consegui-lo com todas. Alguns institutos procuraram acatar as recomendações do Papa. Só um exemplo. Numa das sua cartas de 1907, S. Bento Menni, da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, descreve assim a incumbência que Pio IX lhe deu na presença do Geral da Ordem no dia 14 de Janeiro de 1867 dois dia antes de Bento Menni partir para a Espanha: «Filho meu, a vida religiosa que deves estabelecer [em Espanha e em Portugal] deve basear-se nestes princípios: vida perfeitamente comum, muito pobre, muito casta e muito obediente».
Ocorre perguntar por razões deste empenho do Papa com a vida consagrada observante. Há pelo menos a quase coincidência com as aparições de La Salette (1946) e o envio a Pio IX pelo Bispo de Grenoble do seu segredo/profecia em 1851 e uma segunda redacção mais completa em 1958, ambas terão chegado ao conhecimento e ambas “se perderam” no Vaticano, tendo o Padre Michel Corteville descoberto a primeira em 2000 ( cf La Découverte du secret de La salette, 2002) continuando a segunda perdida mas conhecem-se outras redacções posteriores e autênticas da vidente.
Nossa Senhora em La Salette (1846) após dizer, em tom de apreço, que os sacerdotes e os religiosos e os verdadeiros servidores do meu Filho serão perseguidos e vários morrerão por Cristo, diz mais abaixo (Nossa Senhora apareceu a chorar): “de entre os ministros de Deus e das esposas de Cristo haverá as que se entregam à desordem, e será o que haverá de mais terrível”. Nas versões posteriores mais completas há palavras do segredo mais duras: “sacerdotes que se tornam esgotos de impureza”, e “nos conventos as flores da Igreja putrefactas”, “o demónio usará a sua malícia para introduzir nas ordens religiosas pessoas dadas ao pecado” porque as desordens e o amor dos prazeres carnais serão espalhadas por toda a terra”.
Pio IX, na encíclica Ubi Primum (1847), depois de generosas expressões de apreço pelos Institutos de consagrados, diz que se for preciso “temos que revigorar as fraquezas, curar os males, ligar as fracturas, reencontrar algo que está perdido, reconstruir o arruinado” para revitalizar a integridade moral, a santidade a observância da disciplina regular…Posteriormente iria voltar ao tema como no referido caso acima.
E Bento XVI, no seu livro entrevista Luz do Mundo, reconhece: “de súbdito, tanta sujidade”; “ver subitamente o sacerdócio tão conspurcado, e com ele a própria Igreja Católica no seu íntimo, foi algo duro de suportar”. “ Tudo isto me chocou e abalou profundamente”. Cristo disse que “no meio do trigo haveria de existir o joio, mas que a semente, a sua semente, continuaria apesar de tudo a crescer. Nisso depositamos a nossa confiança”. São expressões de três origens com um padrão de semelhança impressionante.
Para os consagrados continuarem a ser sal da terra e luz do mundo. Há muita sujidade a limpar e muito estrago a reparar, há muito sabor do Espírito a readquirir e muitas trevas a limpar com a Luz de Cristo em cada um. E a oração, reparação e desagravo pedidas pelo S. Coração de Jesus e pelo Imaculado Coração de Maria terão de ir à frente.
Funchal, 6 de Fevereiro de 2011

Aires Gameiro



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50 anos da Paróquia da Graça: nova Capela da Casa de Saúde S. João de Deus (2)

Servindo-me das notas do Irmão Manuel Maria Gonçalves, fundador e primeiro superior (1922-1928) da comunidade e Casa de S. João de Deus (Hospitalidade,nº 106, Abr-Jun, 1962) e das Actas dos Capítulos deixo uma nota sobre a nova capela da Casa de Saúde até 1941.

«Nos primeiros tempos continuou-se a fazer o serviço religioso na primitiva capela, mas esta, em breve se tornou insuficiente». A Comunidade da Ordem Hospitaleira teve erecção canónica a 10.10.1922; e, após adaptações do solar da Quinta, entraram alguns doentes e em 14 de Maio de 1924, os 38 transferidos de «Câmara Pestana».A inauguração oficial foi feita a 10.08.1924 e após essa data os Irmãos pensaram construir uma capela maior, acabada pelo ano de 1935. Como os Irmãos não tinham possibilidades de a construir com recursos próprios e ela devia ser semi-pública, recorreram aos fiéis e de todas as partes da ilha começaram a fluir donativos.
A Acta da Reunião Conventual de 04 e 05 Dezembro 1931, presidida pelo Ir. Provincial, Irmão Júlio dos Santos «apresentou cópia da planta da Clausura e da Capela já aprovada». E na reunião de 5.02.1933 a Comunidade decidiu colocar um quadro de azulejo de S. João de Deus por cima da porta de entrada da Capela e comprar três capas de asperges: preta, verde e roxa; por ainda não haver destas cores. E ainda nesse ano na Reunião de 03.09.1933, sendo já superior da Casa o Irmão Cassiano Maria Natal, foi decidido construir um gradeamento entre o Caminho [do Trapiche] e a Capela e ajardinar o espaço intermédio.
Aos tempos difíceis respondeu a grande generosidade do povo da Madeira. «Graças à abundância de donativos e à boa orientação dos serviços de direcção, em breve se deu por concluída uma capela que, tanto pelas suas dimensões como pelo seu real valor, não é nada inferior a muitas igrejas paroquias. O seu estilo é bastante original, sobretudo por causa do formato do tecto, que dá a ideia de tabuleiro de xadrez, cujas linhas divisórias são formadas por grossas vigas de cimento em relevo». A superfície interior é de quase 300 m2 em forma de T, sendo a parte transversal de um lado reservada ao coro dos doentes e do outro ao coro comunidade. As capelas inseridas nos hospitais e Casas de Saúde sempre tiveram a nota característica de serem abertura para a comunidade. Isso era particularmente significativo num tempo em que havia grande medo dos doentes e o desejo dominante de os tratar em reclusão. Nas capelas/igrejas da Ordem contava-se sempre com o público. A Ordem, canonicamente isenta, conseguia dos bispos do lugar autorização para serem frequentadas pelos fiéis dos arredores. Por isso continua o Irmão Manuel Maria: «a parte central é reservada ao público e tem ao fundo, num plano superior, o coro para os cantores. A sacristia fica situada atrás do altar-mor e, ao lado da porta principal, junto do adro, fica uma alta e esbelta torre com dois sinos e um relógio de quatro quadrantes. Tem altar-mor e dois laterais, um dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e outro a Nossa Senhora de Fátima».
A cobertura da capela era em terraço, sem telhado e o tecto em forma «de tabuleiro de xadrez, cujas linhas divisórias são formadas por grossas vigas de cimento em relevo» para o interior. Na reunião de 07.01.1934 foi decidido alargar o estreito Caminho do Trapiche desde o portão à entrada da nova Capela; e em 01.06.1934, há uma proposta de cobrir a capela com telhas impermeáveis modernas [lusalite?]; e já no fim do ano na reunião de 04.11. 1934, é decidido comprar a imagem do Sagrado Coração de Jesus e a Nossa Senhora de Fátima, e um tapete para a capela. Em 1935 (7.04) é decidido tirar o púlpito do lado do altar de Nossa Senhora para ali expor o Santo Sacramento de 5ª para 6ª Feira-Santa. Por haver muita afluência e muitas comunhões de fiéis em 06.06. 1937 é decidido comprar mais um cibório igual ao existente. Nas actas refere-se ainda em 06.02.1939, fazer sacrário de ferro mais seguro, procurar um organista para as festas e por a capela ser muito concorrida de fiéis; fechar os ventiladores no tecto e abrir bandeiras nas janelas. A decisão de encomendar “um quadro em pintura a óleo para o tecto da capela-mor com a aparição do Menino Jesus ao nosso Santo Fundador” ao pintor António Gouvea é de 6.08.1940.
Em 1940 a Igreja, como também é chamada nas actas, leva retoques e arranjos do tecto e janelas, para fechar ventiladores e abrir bandeiras, acabamentos dos dourados das talhas e em 1941 a compra das imagens de S. José e S. João Grande.

Funchal 2.02.2011/Aires Gameiro

Próximas notas: Capelães/Párocos; e Compra da Imagem de Nossa Senhora das Graças


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03/02/11

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 04 de Fevereiro de 2011

Dois problemas emergem no âmbito nacional e internacional no decurso dos últimos tempos.

1. Na perspectiva mais próxima, o diferendo político entre escolas privadas e públicas não me deixa esquecer o adágio: “casa onde não há pão, todos discutem e ninguém tem razão”. Há razões indiscutíveis (o Governo tem bem a obrigação de cumprir o prometido, não alterando estratégias a meio do ano, do ponto de vista monetário) a favor de um lado (o privado), sem que até ao momento em que escrevo (4.ª feira, dia 2) tenham surgido explicações desejadas. Mas não nos precipitemos.
Só que estranho a ausência de uma comunicação mais pedagógica em ordem a dissipar o parecer preconceituoso: “ O que se pretende é ter facilidades e privilégios” (na privada). Porque há questões de tom naturalmente financeiro, legítimas nas condições da justiça que os rege, era indispensável pôr o acento primeiro no projecto educativo, na qualidade do saber transmitido, no tom activo da aprendizagem, nas expectativas de um mundo que forma, sem garantias dum futuro.
Gostava de, antes de mais, captar a mensagem mais essencial: dentro da liberdade constitucional, as privadas não auferem de privilégios de fidalguia, nem as públicas são construídas, em sectores onde está garantida a existência das citadas, e sempre excluídos excessos e acrescentos…
Mas parece-me que há mais uma “rabanada de vento” no mundo português por questões de economicismo… Exija-se rigor na gestão de meios iguais. E, em vez de gritos (clamores esses, noutras eras julgados desagradáveis, só porque eram objecções aos senhores (as) da administração política…), era exigível que fosse apresentado ao país um quadro completo de todas e de cada uma das escolas do país, públicas e privadas, do seu projecto educativo e das suas condições iguais de exercício (na linha do apresentado por peritos da Universidade de Coimbra). Porque se trata de escolas, esse gesto de investigação e de estudo, e da sua publicação, era muito mais aconselhado! Mas dá trabalho. Este, o problema!

2. Do ponto de vista internacional, um Egipto a sair da ditadura e a ingressar na democracia, sob a vigilância do radicalismo islâmico, aguardando a sua hora, é acontecimento político muito sério, no tocante à esperança e ao medo… Mas por que razão tantos estadistas se calaram, e por motivos de ganho económico, sempre alimentaram quase uma parceria com a terra dos faraós?!

3. Tendo estes, e tantos outros na minha mira, bem precisava de perceber o alcance do seguinte juízo de valor, emanado do movimento “Comunhão e Libertação”, a propósito das presidenciais e da crise vigente: “A família não educa; a escola não ensina; a Igreja retira-se. E tudo se espera e pede ao Estado” (Revista “Passos”, Janeiro de 2011, p. 11)
Felizmente que, no seu todo, a Igreja nunca “se retirou”. Mas só cada um sabe do que se passa na sua casa. E, nos dias em que estamos…

D. Januário Torgal
04 de Fevereiro de 2011


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