Da roupagem em disfarce à autenticidade no acolhimento
No início do retiro nacional do Apostolado do mar – que decorreu, por estes dias, em Fátima – foi distribuído a cada participante – cerca de quinhentos – um pequeno espelho, onde estava escrito no verso: ‘Deus faça resplandecer no teu rosto a Sua glória’.
Mais do que algo decorativo, aquele espelho pretendia provocar/interrogar os participantes em ordem a tentarem reflectir sobre a sua imagem – tanto a visível na reflexão do espelho como essoutra que possam ter de si mesmos – captando a significação mais profunda e abrangente.
Quantas vezes não teremos já sido confrontados com ‘figuras’ que tentam dar de si uma imagem que, de facto, não corresponde à verdade, seja pela roupa com que se enfeitam, seja pelo linguajar mais ou menos arrevesado ou até pela ostentação de pretensões ocas senão mesmo ridículas.
Quantas vezes certos ‘figurões’ deambulam por entre incautos para se fazerem passar por quem não são, enganando e iludindo-se... A crise mais recente tem sido prolixa neste capítulo, pois, sob a capa de bem-falantes, se encobrem lobos devoradores... mesmo ao nível político e social.
Há, no entanto, nos tempos que decorrem, aspectos que têm de ser atendidos – dentro de uma linguagem cristã – para que aqueles que nos procuram sejam bem atendidos, sabendo discernir as causas e avaliando as consequências. Sob a roupagem do disfarce temos de saber encontrar a autenticidade dos problemas, ajudando os nossos interlocutores – e nós mesmos, na medida em que aprendemos com eles/as – a sermos todos envolvidos numa nova cultura, com novos métodos e inovadoras soluções... sempre mais verdadeiramente cristãs.
= Desafios/propostas para uma cultura cristã do acolhimento =
Sabendo que, no rosto de um cristão, se reflecte ou resplandece a glória de Deus. Sabendo que é, através do rosto humano que, nós, cristãos, somos chamados a viver a missão de fazermos brilhar a efígie da glória divina, que é Jesus. Sabendo que Jesus se torna tornado presente em nós e através de nós neste mundo.
Sabendo e assumindo esta nossa missão divina, ousamos propor algumas sugestões para que o rosto glorioso de Jesus, vivo e ressuscitado, se manifeste em nós e através de nós, pessoal, familiar, comunitária e socialmente:
* Dar (maior) atenção aos rostos desfigurados: em casa, no trabalho, na rua, na Igreja, na sociedade.. de forma simples, continuada e comprometida. Por vezes, não reparamos nas pessoas que nos rodeiam, damos-lhes pouco tempo. Não damos atenção aos pormenores de infelicidade ou de amargura. Talvez, só de tempos a tempos, percebemos a falta de alguém, que já se pode ter tornado ‘mobília’ (in)decorosa ou indesejada.
* Incluir na nossa atenção os mais frágeis (fragilizados, marginalizados ou empobrecidos), desfavorecidos e carenciados (de amor, de ternura, de compaixão/simpatia)... a começar pelos endurecidos, rudes, ríspidos, rezingões, mal-amados e até que pretendem mostrar um rosto frio, mas que, afinal, precisam de carinho... de Deus e de nós, os cristãos.
* Fazer da família uma escola de acolhimento à vida, à confiança, à vulnerabilidade (doença), à presença... mais do que ao afã do trabalho, do consumismo, da pressa, da conveniência.
* Construir, nas nossas paróquias e grupos, uma cultura de acolhimento sincero, afectuoso, fraterno... em caridade, vendo Deus nos outros e os outros em Deus!
Temos de aprender a traduzir com gestos, sinais e palavras esta autenticidade, despindo a roupagem da falsidade, desnudando a linguagem da insensibilidade, colocando-nos ao espelho de Deus e aferindo a nossa consciência aos valores do Evangelho.
A. Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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