Jornal de Opinião

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31/01/11

Uma questão de nível ou plano de entendimento

Por estes dias aprendi algo de muito simples, embora seja – paradoxalmente – complexo: ‘é tudo uma questão de nível ou de plano em que nos encontramos’.
Sem querer dar lições seja a quem quer que possa ser, partilho uma breve constatação um tanto pessoal: se não estivermos no mesmo nível ou plano – de linguagem e/ou de compreensão – tudo se pode confundir.

De facto, quando estamos no mesmo plano ou nível quase tudo faz sentido e (até) é compreensível. Novamente reportando-me a vivências pessoais recentes, ouso referir: quando vemos as pessoas e/ou os acontecimentos ao nível cristão – segundo os valores do Evangelho, que é muito mais do que uma mera visão religiosa! – corremos o risco de não percebermos outros entendimentos, perspectivas, comportamentos... ou comprimentos de onda. Mas se, por momentos, nos colocamos ao nível ou no plano mundano até aquilo que era sincero, sem malícia ou mesmo ingénuo pode ganhar uma outra leitura... talvez a mais desonesta, indecente ou mesmo maliciosa. Com efeito, quando estamos (ou estivermos) no plano divino – isto é, tendo o nível psicológico ou espiritual cristão por plano de vida, de pensamento ou de vivência – entendemo-nos, podemos falar e não haverá (talvez) intenções ou julgamentos. Por isso, pela minha experiência mais recente digo: se não estivermos no mesmo nível ou plano... com o/a nosso/a interlocutor/a não adianta continuarmos a querer falar, a dizer seja o que for... pois iremos – talvez inconscientemente – magoar-nos, ofendendo-nos e desiludindo-nos uns aos outros.

= Subir ou descer o nível?
Por vezes, sobretudo entre pessoas que se conhecem bem, é habitual ouvir a expressão: ‘não desçam o nível’, querendo com isso manter a conversa numa linguagem adequada aos intervenientes. Com efeito, há pessoas que recorrem à brejeirice, à insinuação e à ambiguidade por forma a tentarem criar ambiente de à-vontade, que, na maior parte das vezes, não é mais do que uma certa frivolidade... usando anedotas, piadas ou até ditos de natureza codificada... segundo o seu ambiente – note-se o recurso ao calão em certos sectores – normalmente excluindo quem não compreende ou quem está (ou possa estar) noutro nível cultural, de instrução e, sobretudo, de compreensão.
Deixem que apresente um exemplo do nosso colectivo nacional: certos candidatos – sobretudo os derrotados – à Presidência da República fizeram descer o nível tanto das ideias como da comunicação, podendo ser os culpados da taxa de abstenção de dois em cada três inscritos nos cadernos eleitorais... O nível desceu muito (a)baixo da instrução e roça já o quadro da tumba da nossa capacidade de mobilização cívica.

= Acertar planos para compreender níveis... culturais
Por outro lado, é confrangedor ver o rápido afastamento de tantas pessoas – homens, mulheres (mães e avós), jovens e crianças – da vivência (é muito mais do que a (dita) prática) da fé cristã católica. Famílias inteiras desmobilizam-se, invocando múltiplas razões. Parece que uma das principais razões é o desfazamento entre os níveis de evangelização e o recurso aos ritos. Muitas vezes estes têm mais um colorido tradicional do que um esclarecimento amadurecido. Por vezes, certas festas sociais têm (até) a cobertura religiosa, ficando-se por um certo verniz sobre caruncho, isto é, tira-se todo o proveito da exibição no palco da Igreja mas esquecem os fundamentos de tal celebração. Poderemos declarar ‘novos’ sacramentos: os sociais... sem fé, sem razão mínima para serem celebrados e com muita festa à guiza de promoção da ignorância... de maior parte dos agentes e actores. Não pensem que são só os casamentos e até os baptizados. Há muitos outros rituais que enfermam de desnível cristão... em Igreja católica.
É um facto que a cristandade profana se desenrola no nível mundano, usando conceitos e tiques religiosos de conveniência, embora o nível da fé seja subvertido por boas intenções mal enquadradas... neste Portugal em maré de neo-paganização e de privatização da fé.
Pelo muito que devemos aos nossos antepassados – heróis e santos – com fé e determinação em darem novos mundos ao mundo, temos de reflectir sobre a desadequação entre o que dizemos e aquilo que fazemos... elevando o nível e a compreensão.
Numa palavra: coerência e acerto no nível precisam-se!

A. Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)

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