Ao Compasso do Tempo - Crónica de 28 de Janeiro 2011
Relendo “A arte da guerra” de Sun Tsu (capítulo “Manobras militares”, nº24) relembrei a recente campanha presidencial: “Gongos e tambores, estandartes e bandeiras, são os meios usados para centrar os olhos e os ouvidos da hoste num único ponto”.
Assim foi. Aguardemos outros figurinos e pedagogias: diálogo aberto, comunicações com comentários e sugestões, análises dos problemas locais, intervenções muito mais populares, dando voz a quem nunca é ouvido… “Tambores, estandartes e bandeiras” são meios coadjuvantes em torneios e batalhas. Também em romarias e comícios. Também nos “banhos de multidão”, conferindo som e cor e arrancando-nos à sonolência de rotinas.
Mas já demos tantos passos em frente, nesta coluna avançada da democracia, que era altura de um diferente estilo de avançar pelo mundo e escutar as vozes (várias e opostas) de mulheres e homens, sonhando um país outro, sendo-lhes ofertado a possibilidade rara de tocar na “camisola dos novos deuses, que, por um dia, se afastaram do “Olimpo” e se passearam no meio das turbas, acenando-lhes uma certeza, sossegando-os das tragédias, prometendo-lhes uma vida sem fim.
Há ar de “liturgia” e de festa campestre, de peregrinação e de devoções ao “orago, de opas de irmandade e de jantares pascais.
Só com esta diferença abissal: na laicidade não há o incenso da paz, a serenidade e a contemplação, a convicção como atitude grata, as dúvidas sempre à busca do indiscutível. A laicidade (esta) imita mas não consegue tributar-nos a humildade, a reconciliação, as vidas dos outros, a marcha pelo deserto e o vislumbrar da Terra Prometida.
Nem pelo “Cartão de Cidadão” houve o facilitar da nossa opinião… Era importante ouvir e responder. Quem entra em certas campanhas tem bombos e bandeiras. É muito vulgar. O mais difícil e desejável era juntar a voz à dos que sugerem, perguntam, discordam, se escandalizam. Era obrigação de primeira água deslindar soluções para as prioridades da República. Bem sei do círculo apertado do ministério presidencial. Mas como consegui a estabilidade se há a desconfiança? Como curar as dívidas e a derrocada financeira? Como fazer justiça aos jovens que não encontram um lugar ao sol?
Como explicar que os baixos salários não podem ser encurtados, sendo obrigação do mais primário dever do Estado que os gestores das suas empresas não sejam pagos com o que foi desviado dos salários mais reduzidos (os tais, que ainda têm de emagrecer).
Ouvi bombos. Vi bandeiras. Não ouvi o saber e as alturas de Estado, que bem queria! Urge semear confiança! De que forma? Em quê? Em quem?
28 de Janeiro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
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