Visita ao navio Escola Sagres
Numa visita que há dias, capelães e eu próprio, fizemos ao Navio Escola Sagres, ouvimos da boca do Jovem Comandante a narrativa da sua viagem “à volta do mundo” no decurso de 2010 (saída da Base do Alfeite em Janeiro e regresso uns dias antes do Natal).
As emoções das comunidades portuguesas, o acolhimento de rara estima pelas populações locais, (a Sagres, sem desprimor para as outras não flutuantes… é a nossa melhor “embaixada”), a visita a Timor-Leste, etc., foram condimentos de grande conversação.
E, entretanto, surpreende-nos com este acontecimento: chegados a 12 de Maio, membros da tripulação pedem-lhe uma imagem de Nossa Senhora de Fátima para organizarem uma procissão. Não havia capelão na viagem (os padres não são elásticos na hora que passa). Mas o Comandante era crente. (E que o não fosse, teria prestado a mais honesta atenção à vontade daquela “sua família”).
E respondeu-lhes: “Por sinal tenho uma imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, que foi oferecida em Porto Rico”. E, dessa forma, tudo foi cumprido em conformidade, tendo a tripulação conduzido “aquela” Nossa - Senhora, numa espécie de andor, “passeando-a” por todos os cantos e recantos, e entronizando-a em lugar cimeiro. Lá vimos a Senhora, com o seu vestido azul.
Vim a pensar nestas fundas convicções de um povo, que sem directivas do clero nem motivações de nenhuma outra ordem, achou que, em noite tão especial, era preciso honrar a Mãe, como na terra pátria tantos assim procediam.
Eram (e foram) apelos de viandantes de todos os mares, de marinheiros (pais, filhos, noivos, maridos), que longe da família, sentiram que naqueles instantes, tinha de estar ali Alguém!
Foram razões, sentimentos doídos, fé verdadeira, mistura de piedade, família e pátria, fitando águas repousadas e, das mesmas, a agressividade de outras alturas.
A religiosidade não se reduz a estes sinais. Mas atitudes destas são acenos do Evangelho. E a luz acesa desta fé suplica que haja apoios e seu fortalecimento. São precisos irmãos da mesma certeza, a ajudar ao crescimento em direcção a uma vida adulta da crença, a uma cultura do viver, a uma transformação do pântano.
Não é preciso quem mantenha a candeia acesa, no alto do mar da vida? Não é necessário quem nos explique tantas coisas desconhecidas? E nos confirme no pouco ou muito que outros alumiaram em nós? Há gente que solicita e nos solicita.
São os simples e verdadeiros que se encarregam de organizar a marcha da fé. Dá que pensar.
11 de Fevereiro de 2011
Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança
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