Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

27/02/10

Quem merece, verdadeiramente, a nossa confiança?

Num recente inquérito de um jornal católico diário sobre a questão: ‘Em quem confia mais’, com cerca de quinhentas respostas, foram apurados os seguintes resultados: 37% confiam nos jornalistas, enquanto 23% dão crédito aos padres, 18% aos polícias, 12% aos políticos e 10% aos tribunais.

Atendendo à relativa complexidade de quem é que merece a nossa confiança, talvez seja de questionar séria, serena e sinceramente o alcance sócio/profissional dos sectores atingidos, pois na sua maioria tem relevo o contacto com os outros e, por isso, cada qual é mais do que aquilo que representa e/ou significa.

Desde logo a confiança que os outros nos merecem advém das expectativas que neles colocamos, pois nós somos pessoas em relação: dando e recebendo, comunicando e entendendo... num quadro de linguagem onde fazemos e somos feitos pela cultura que nos envolve e, muitas vezes, nos molda sem nos darmos totalmente conta.

- Se atendermos ao contexto de este inquérito ter por pano de fundo a actividade de comunicação social, feita profissionalmente por jornalistas, poderemos como que vê-los como parte interessada e talvez até interesseira na boa cotação e receptividade social. Mas será que estes profissionais são anódinos e independentes? Não teremos de saber – mesmo à luz da mais recente polémica com os actores políticos e/ou governamentais – que o nosso quadro português de comunicação social se reduz a três ou quatro grupos (económicos, ideológicos e comerciais) transversais à versão escrita, à radiofónica, à televisionada, à virtual... tanto política, como artística ou desportiva? Não teremos de denunciar que, aureolados de bons, muitos dos nossos jornalistas nem sempre pensam (tão) desinteressadamente como se julga? Não será de ter em conta que esta profissão é das poucas que fala mais dos outros e que bastante pouco questiona o seu dogmatismo... informativo?

- Deixem, por isso, que tente interpretar a razoável desacreditação dos padres e até dos polícias, pois num entendimento de serviço aos outros, tanto os clérigos como os defensores da ordem (pública ou privada) terão perdido o respeito também em razão de algumas campanhas – bem urdidas e melhor difundidas – por certa comunicação social, que explora mais os escândalos do que as boas práticas, muito embora aqueles vendam e estas possam ser entendidas como normalidade dos comportamentos esperados. Sem qualquer ressentimento como que poderemos considerar que parece que o serviço altruísta vai degenerando ao sabor da desautorização moral, social e (até) intelectual de uns tantos por novas minorias de intocáveis... nas regalias adquiridas.

- Que dizer, por outro lado, da parca confiança que merecem os políticos e os tribunais? Não serão estes sectores os resultados da sociedade em que vivemos? Ou não será que estes dois sectores são reflexo da cultura de onde procedem? A qualidade do segundo (legislativo) e do terceiro poder (judiciário) estão sob o escrutínio de quem informa e – quantas vezes! – até manipula, deixando-lhes magro espaço de manobra e à mercê mais da reclamação e da correcção do dito, falado ou mostrado... do que da sintonia com o público e as populações. Efectivamente há muitos filtros entrepostos que condicionam a leitura de quem está na vida política e (mesmo) nas teias da Lei. Quantas vezes as ideologias e os lóbis fazem mais mal do que o deficiente exercício de certas tarefas e funções! Quantas vezes os códigos de conduta são vilipendiados à custa de interesses menos claros, senão mesmo obscuros e subterrâneos! Quantas vezes parece mais interessar a promoção dos medíocres do que dos mais capazes, pois outros se aproveitarão deles para se catapultarem à custa da ignorância dos incautos!

De facto, a confiança não se mede pelo resultado dos inquéritos – de opinião ou de sensacionalismo – mas antes se constrói na abertura às capacidades dos outros pelo serviço que lhes vamos prestando...desinteressadamente! A chave do sucesso não está na confiança que esperamos que os outros tenham em nós, mas na abertura à confiança que nós temos nos outros... humildemente!

A. Sílvio Couto

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22/02/10

A alegria na Bíblia

A alegria que encontramos na cena da Visitação de Maria a sua prima Isabel é extraordinária. É uma ambiente de enlevo espiritual com a presença do Precursor, de Jesus, de Maria e de pessoas que verdadeiramente amavam a Deus. Onde está Deus reina a alegria.


Alegria que não pode conter-se mas que irrompe em exultação, em júbilo, em acção de graças a Deus que olha para os pequeninos, os humildes, os pobres, os de alma aberta à acção do Espírito. É esta mesma exultação e júbilo que encontramos nos Salmos e noutros livros sagrados. Até o povo de Israel rejubila, canta e dança de alegria depois do sofrimento, do castigo que Deus lhe manda para o chamar à veradde da vida e à beleza do seu Deus. Isto porque é um Deus misericordioso, é um Pai querido e que nos ama.

Vamos citar alguma expressões de júbilo na Sagrada Escritura: Por que fugiste ocultamente, e te esquivaste de mim, e não me fizeste saber, para que eu te enviasse com alegria, e com cânticos, e com tamboril, e com harpa? (Gn 31, 27)

Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos. (Ps 126, 6)

Apegue-se-me a língua ao paladar se me não lembrar de ti, se não preferir Jerusalém à minha maior alegria. (Ps 137, 6)

E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhos neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho. (Ecl 2, 10)

Porque o SENHOR consolará Sião, e consolará a todos os seus lugares assolados, e fará o seu deserto como o Éden e a sua solidão, como o jardim do SENHOR; gozo e alegria se acharão nela, acções de graças e voz de melodia. (Is 51, 3)

Assim, voltarão os resgatados do Senhor e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão.(Is 51,11)

Servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a ele com cânticos. (Ps 100,2)

Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis que crio para Jerusalém alegria e para o seu povo, gozo (Is.65, 18); destilam sobre os pastos do deserto, e os outeiros cingem-se de alegria. (Ps 65, 12)

Achando as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome me chamo, ó SENHOR, Deus dos Exércitos. (Jr 15,16)

Formoso de sítio e alegria de toda a terra é o monte Sião sobre os lados do Norte, a cidade do grande Rei. (Ps 48, 2)

Quando me lembro disto, dentro de mim derramo a minha alma; pois eu havia ido com a multidão; fui com eles à Casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão em festa. (Ps 42, 4)

Do riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta? (Ecl 2, 2) porém o que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria. (Mt 13, 20)

E escrevi-vos isso mesmo para que, quando lá for, não tenha tristeza da parte dos que deveriam alegrar-me, confiando em vós todos de que a minha alegria é a de todos vós. (2 Cor 2, 3) Bíblia Sagrada Online

Um santo triste é um triste santo. A palavra da Bíblia é um apelo a vivermos a alegria, a felicidade de sermos cristãos, a testemunhar que a vida é bela e tem sentido. A combater a corrupção e o desespero. Nós cristãos, temos de ser profetas da alegria num mundo que se suja moralmente e vive na miséria de não saber que tem como destino uma pátria e Alguém que o espera com carinho e amor.

Armando Soares
p.asoares@clix.pt


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Casamento?

A questão do casamento dos homossexuais tem sido apresentada como um “direito” conquistado por uma longa luta pela liberdade de ser diferente. Curiosamente, o casamento entre pessoas de sexos diferentes nunca se considerou como “direito” mas antes uma opção de vida ancestralmente fundamentada na lei biológica de conservação das espécies, regulamentando direitos e deveres de quem decide iniciar um projecto comum de partilha e vida conjunta. Ao contrário, entre pessoas de sexos diferentes, mais difícil e socialmente menos respeitado até há pouco, era a opção de vida conjunta sem casar.

Antes do mais, acho que o Estado nada tem que ver com as questões do foro íntimo das pessoas, sobretudo no que toca à sua moral e à forma como vivem a sua sexualidade. Do mesmo modo nada tem que ver com as convicções e a maneira como as pessoas as sentem e expressam. A invasão do privado pelo Estado e a sua obsessão regulamentadora ancora-se na invocação da salvaguarda de direitos mas a verdade é que ao Estado pouco importa o respeito pela individualidade mostrando-se sempre mais empenhado em garantir uma tributação que o favoreça enquanto vai espalhando os seus tiques uniformizadores.

Dois amigos, um grupo de amigos não unidos por nada de sexual, podem decidir ter um projecto de vida comum e partilhar o mesmo espaço. Aconteceu e acontece com certas comunidades de cariz religioso ou sociológico. É aceitável que, assim sendo, mereçam ter um enquadramento fiscal e jurídico adequado a essa realidade e se partilharem bens comuns deve existir a salvaguarda legal dos direitos respectivos.

Dois seres humanos do mesmo sexo podem amar-se, decidir ter um projecto de vida comum e devem ser respeitados pelo estado e pela sociedade, merecendo tolerância e enquadramento no plano dos direitos e benefícios. Mas dessa relação pode resultar um casamento? O que entendemos então por casamento? Apenas um contrato regulador do relacionamento entre duas pessoas que partilham o mesmo lar?

Na maneira como o vejo, o casamento é mais que uma relação sexual, é mais que uma relação afectiva, é até mais que um projecto de vida comum em partilha. Tudo isso, com diferentes modalidades e sem necessitar envolver sequer o plano dos afectos, pode ser enquadrado na figura da coabitação .

Tal como o vejo, o casamento é uma relação que supõe complementaridade biológica, ontológica e antropológica tendo como fim último a criação duma família. Esta é a única definição de casamento que a humanidade adoptou ao longo de milénios, apesar de épocas em que, como agora, a prática da homossexualidade era tolerada.

O casamento é feito por dois seres diferentes que se complementam biologicamente (não é preciso definir o óbvio...) mas que se complementam também ontologicamente já que a sua natureza é diversa sendo da fusão desses cambiantes que nasce algo de diferente e novo. O casamento implica ainda uma complementaridade antropológica uma vez que homem e mulher transportam um património diverso, com diferentes formas de agir e sentir o mundo e as coisas. Partilha e dádiva de amor, que nasce da intimidade entre um homem e uma mulher, o casamento é criativo pois da complementaridade nasce um homem e outra mulher diferentes e dos dois pode florir o nascimento duma família e frutificar no nascimento de um novo Ser Humano. É isto o casamento, partilha e complemento de um homem e uma mulher tendo como fim ultimo a criação duma família. A família é uma escola de valores, uma âncora e um abrigo essenciais ao desenvolvimento integral do Ser Humano para a felicidade. A complementaridade homem-mulher é o pilar essencial dos equilíbrios que estão na base da família. Sabemos que existem muitos modelos de famílias resultantes dos vários encontros e desencontros entre os seres humanos. Não obstante, o modelo nuclear pai-mãe-filhos continua a ser o modelo inspirador e gerador de equilíbrios.

É para todos evidente que o casamento está em crise e é interessante tentar compreender porquê. Na sociedade individualista e hedonista em que vivemos, o espaço para a partilha e a dádiva sem contrapartida, o espaço para o exercício da compreensão e da tolerância está cada vez mais limitado. A ruína destes valores aproxima-nos da derrocada do modelo civilizacional em que vivemos mas os princípios fundadores ainda existem e uma nova sociedade solidária, tolerante e compassiva pode emergir se assim quisermos. A crise do casamento não é mais que a crise da sociedade. A formalização do casamento dos homossexuais adquire neste contexto ainda maior estranheza e suscita ainda maior incompreensão. Nada acrescenta à reflexão da crise de valores e ao contrário aprofunda a sua decadência.

Qualquer tipo de relação deve ser tolerada, mas em minha opinião não tem que ser casamento. Qualquer tipo de coabitação, pode ser enquadrada no plano jurídico e financeiro mas não tem que ser casamento. O Estado tem o dever de respeitar a diferença mas respeitar a diferença não é torná-la oficial, fazendo dos diferentes iguais; respeitar a diferença, é manter diferente mas aceitá-la como tal, sem qualquer perseguição ou discriminação. Aceitar a diferença é exercitar a tolerância e não regulamentá-la.

Tenho pelos homossexuais o mesmo respeito que tenho por qualquer outro ser humano. Nem menos, nem mais. Defendo para eles, como para todos os homens, o acesso à felicidade sem constrangimentos. Por isso, estou convicto que esta medida legislativa na aparência “libertadora”, ao institucionalizar o que apenas devia ser respeitado no exercício da liberdade intima de cada um ignora o verdadeiro direito à diferença e promove a caricatura de uma instituição milenar que nem por se encontrar em crise perdeu já a sua importância fundadora do modelo de civilização que é ainda a nossa.

No que devia ter sido um confronto de ideias sobre esta temática, prevaleceu o silêncio. Onde devia ter havido a contribuição criadora de diferentes formas de pensamento, prevaleceu o vazio. A incapacidade para definir o casamento, distingui-lo da coabitação mesmo que entre pessoas que partilhem a intimidade, varreu políticos de pacotilha, tardo-revolucionários e putativos pensadores. A mediocridade dos
argumentos foi a regra e a pressa arrogante com que os que deveriam representar a nação decidiram sobre uma temática tão fracturante é um muito preocupante sinal de como alguns interpretam hodiernamente a democracia.

Uma sociedade que não consegue sequer conhecer a sua identidade, descobrir as raízes e reconhecer princípios e valores dificilmente conseguirá traçar rumos e encontrar os caminhos do futuro. Em nome da liberdade, promovem-se caricaturas da liberdade. Provavelmente não é por mal e é isso o mais preocupante: provavelmente é por não entender.

Victor M. Gil, Médico, Professor Universitário


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Não apenas para os pobres, mas sobretudo com os pobres

1. Para nós, cristãos, os pobres não são apenas destinatários da pastoral. Eles estão, desde logo e antes de mais, no centro da Igreja.

Não fazemos parte somente de uma Igreja para os pobres, mas de uma Igreja de pobres e com os pobres.

Importa não esquecer que, como recorda Louis Châtellier, o Cristianismo é, verdadeiramente, uma «religião dos pobres».

Pobre foi o seu fundador. Com efeito, Jesus, que nasceu num estábulo, não tinha, muitas vezes, «onde reclinar a cabeça» (Mt 8, 20).

O seu Evangelho — recorda o cardeal Schönborn — «foi feito sobretudo para os pequenos e para os pobres».

E, no seu código de felicidade, começou por declarar felizes os pobres que o são no seu íntimo (cf. Mt 5, 3).

Os pobres estiveram sempre entre os predilectos de Jesus. A Igreja, enquanto novo corpo de Cristo, era constituída, nos seus inícios, por pobres de facto (cf. Tgo 2, 5) ou por pessoas que se faziam voluntariamente pobres (cf. Act 4, 32-5, 11).
Joseph Ratzinger percebeu muito bem esta identificação de Deus com a pobreza quando escreveu: «A pobreza é a autêntica aparição divina da verdade».

Jesus, na pauta que nos dá para o juízo final, assevera: «Tudo o que fizerdes ao mais pequenino dos Meus irmãos, é a Mim que o fazeis» (Mt 25, 40).

Não admira, portanto, que S. Francisco tratasse a pobreza por senhora e Bossuet chamasse aos pobres senhores.

2. A Igreja tem uma obra assistencial muito difundida.
Não basta, porém, tal obra assistencial, por muito meritória que seja. É fundamental que, no espírito de Jesus, porfie, em todos os seus gestos, por uma opção preferencial pelos pobres.

Essa opção levá-la-á a pugnar pela erradicação da injustiça que, arbitrariamente, atribui tudo a alguns e condena outros a pouco ou quase nada.

Erguer a voz é determinante. Tomar partido é decisivo, embora traga custos. É que o poder, que gosta de distribuir sobras, não admite ser interpelado.

É missão da Igreja ser a voz dos sem voz, urgindo uma mais equânime repartição dos recursos.

De facto, não há volta a dar: para que os pobres fiquem menos pobres é preciso que os ricos fiquem menos ricos.

3. Acresce, por outro lado, ter presente a importância do gesto e a dinâmica do sinal.
Os preferidos de Jesus têm de ser os preferidos da Igreja de Jesus. Cristo era para todos, mas privilegiava a companhia dos pobres, dos simples e dos pequenos.
Foi, aliás, em conformidade com este espírito que S. Gregório Magno revelou, no século VI, uma preocupação social que atingia o escrúpulo.

Fazia questão de ter uma lista dos pobres de Roma, enviando-lhes alimento e outras provisões.

Mas o mais tocante é, sem dúvida, saber que, todos os dias, doze pobres da cidade comiam à sua mesa, à mesa do Papa!

Um século mais tarde, um bispo de Alexandria espantou toda a gente com uma pergunta que fez à chegada: «Quantos são aqui os meus senhores?»
Como ninguém percebera o alcance, ele descodificou: «Quero saber quantos pobres temos. Eles são os meus senhores, pois representam na terra Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt 25, 34-46). Dependerá deles que eu venha a entrar no Seu reino».
Fizeram o apuramento. Havia 7500 pobres, que ficaram a receber, todos os dias, uma boa esmola!

Toda a razão tem, assim, S. Gregório: «Quanto mais se desce ao encontro das fragilidades dos pobres, mais se sobe ao cume das virtudes».

4. Não esqueçamos jamais o pobre. É imperioso estar com ele para estar em Cristo. Se Ele nos enriqueceu com a Sua pobreza (cf. 2Cor 8, 9), amemos o Senhor no Sacramento do Pobre (sacramentum Pauperis).

Deus está vivo nos pobres, nos esquecidos, nos explorados, nas vítimas da injustiça.
É preciso descer as escadas. É urgente viver a vida das pessoas. É imperioso estar onde está Deus. E alguém pode negar que Deus (também) está na rua?
Deus emerge dos escombros desta sociedade que clama por justiça. É aí que, como observou Fernando Urbina, podemos acolher «a grande voz silenciosa de Deus, esse rumor imenso de que fala S. João da Cruz».

Muitas vezes, é preciso sujar as mãos para manter limpo o coração.

João António Pinheiro Teixeira
padre


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Idosos, mais velhos e auto-cuidados

No espaço de duas semanas escutei dezenas de comunicações e li uns artigos sobre idosos ou mais velhos, como alguns acham que se deve dizer agora. Outros ainda pensam que se deve dizer os de mais idade.

Tanto na semana de estudo da vida consagrada, Fátima, como num congresso sobre pessoas com Altzheimer, saúde mental e idosos, em Barcelos, não faltaram eufemismos, afirmação técnica e alguma, pouca, sobre o lugar dos mais velhos na sociedade, mas menos sobre o respeito das suas competências, iniciativas e direito de gerir o seu tempo e bens até ao limite das suas capacidades. Importa promover o envelhecimento activo, diz-se, mas 80% do discurso vai no sentido de tornar “os mais velhos” sempre mais dóceis, passivos e dependentes com um cortejo de técnicos a monitorizar e travar todos os seus movimentos e iniciativas. Afirma-se continuamente a competência dos técnicos; e as doenças e incompetências das pessoas cuidadas. A cultura tem persistido em elevar as crianças e adolescentes à categoria de ídolos e os idosos à categoria de “crianças”.

Nas exposições houve algumas posições que contrariam esta tendência avassaladora, mas foram qual gota de água no oceano. Claro, há mesmo idosos que precisam de cuidados como os que se prestam a um bebé, mas isso não justifica infantilizar a maioria deles como por vezes transparecia dos discursos e foi criticado por outros colegas. Até se afirmou que se o idoso tentasse narrar as experiências da sua vida se devia contrariar. Pelos vistos, justificava-se, para o treinar naquilo que o técnico pensa que sabe sempre melhor que o idosos o que lhe convém.

Nos corredores deixei a minha proposta com alguns médicos e outros participantes, mesmo um alto dignitário da pastoral da saúde do Vaticano, meu amigo. Esta centra-se na necessidade de congressos e encontros sobre o empowerment dos cidadãos nos cuidados da própria saúde, isto é, na formação e treino de auto-cuidados de prevenção, promoção, e de “cuidados continuados” de si mesmo. Então os cidadão têm que ser treinados em tanta coisa da vida, menos em cuidar de si? Lembram-se de quando diziam que era perigoso os cidadãos usarem eles mesmos para si e para os outros o termómetro, verificar a pulsação, usar o aparelho de tensão arterial, verificar a glicemia, auto-administrar a insulina…e agora o desfibrilhador depois de treinados. Tudo era perigosos mesmo que os utilizadores tivessem formação elevada noutras áreas. Treinar em auto-cuidados vai sendo a única maneira de responder a muitas situações de saúde, deixando para os técnicos , médicos ou outros, os 50% de tratamentos e cuidados mais especializados e (ainda) menos acessíveis aos auto-cuidados do cidadão comum.

Não concordo totalmente, mas penso que foi ponto pertinente para obrigar a reflectir, a questão que um médico deixou no congresso do norte. Cito de memória. A quem interessam mais tantos cuidados e tratamentos [especializadíssimos, diria eu ]: a pessoas idosas e já muito diminuídas e muito demenciadas? Aos próprios, nem sempre. A S. João de Deus, também não [eu diria: se a pessoa já estiver pronta como João Paulo II quando disse: deixem-me partir].Então a quem interessam mais? Aos que vão investindo à grande em novos hospitais e estruturas para eles. Também interessam ao Instituto S. João de Deus e mais ainda aos que nelas conseguem emprego, e por isso, interessam-me também a mim, arrematou o médico.

Deixou um amargo de boca a verificação que uma assistente social referiu sobre o terreno em que se move: grande parte, senão a maioria, dos idosos e muito idosos nem sequer têm uma reforma ou pensão que lhes permita comer e muito menos ser acolhido num lar dos mais simples e menos caros, às vezes sem as condições mínimas. E muitos desses também não têm família para eles.

Ao leitor deixo esta dica amiga: cuide da sua saúde desde os vinte ou trinta anos, ou dos sessenta ou setenta, se já não puder ser antes. Faça tudo ao seu alcance para evitar as doenças evitáveis para gozar de uma velhice o mais saudável possível; tudo menos morrer por sua vontade. Evitar a ganância, o orgulho do poder e a adição aos prazeres poupa a saúde e está de acordo com o tempo de quaresma. E, entretanto, treine-se em tudo o que são auto-cuidados porque no futuro dificilmente haverá dinheiro para pagar salários a técnicos suficientes para a prestação de todos os cuidados aos mais novos e aos mais velhos.
Fátima, 1º domingo da quaresma, 20.02.10
Aires Gameiro

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21/02/10

No rescaldo de Taizé-Porto: atenção ao mundo e à Igreja

«Durante a minha infância e juventude, ser cristã e ir à Igreja, ao Domingo e mesmo durante a semana, rezar e ter reuniões de jovens era a regra e não a excepção. Agora vivo na Inglaterra e sucede o contrário. As pessoas perguntam-me porquê faço o que faço e continuam na sua vida, indiferentes»
(uma jovem polaca no grupo de reflexão)
Além de toda a evidente mobilização de jovens e comunidades cristãs do Porto, de Portugal inteiro e doutros vinte e quatro países de quatro continentes, o encontro de Taizé irá permanecer pelos seus frutos na sociedade e na Igreja. Gosto de dizer que Taizé é uma «avalanche» e não apenas uma «peregrinação da confiança» porque provoca um efeito contagiante e por arrastamento: uns acolhem sem conhecer, outros deixam-se acolher sem hesitar, todos juntos porque confiam em Alguém comum que os faz confiar uns nos outros. Este é o primeiro fruto: renovar a esperança e o optimismo sobre a bondade possível de cada ser humano. Pode ler-se na Carta da China escrita pelo irmão Alois: «permaneçamos atentos para não nos deixarmos invadir por uma visão pessimista do futuro».
Surge, em segundo lugar, a referência constante de Taizé ao Deus que nos procura e por Quem podemos deixar-nos amar. Esta palavra libertadora sobre o amor de Deus nunca falta nos encontros e meditações de Taizé. Certamente bem precisamos de a ouvir e tanto mais os jovens hoje tão agredidos pelas mesmas instituições que a eles devem dedicar-se. E, nestes dias, foi possível não apenas dizê-lo mas vivê-lo no cuidado e preocupação que as comunidades e os jovens empregaram no acolhimento aos outros: Deus ama-nos e revelou-Se no calor humano e cristão dos outros. Como deverá ainda continuar a revelar-Se na oração e na prática solidária para com o povo haitiano, bem recordado neste encontro.
Por fim, como bons estafetas, foram entregues dois testemunhos ou missões aos jovens: a evangelização activa e a formação cristã. O diagnóstico do Irmão Alois não esconde muito realismo (enganam-se os que pensam que Taizé é como um comprimido efervescente e dissociado das circunstâncias concretas) e alguma preocupação: «a fé parece desaparecer em muitas sociedades». O testemunho da jovem polaca que abre esta partilha é eloquente. E talvez possa ser o mesmo o de tantos jovens portugueses… Mas a constatação do Prior de Taizé vem acompanhada de um encargo: «precisamos encontrar as palavras adequadas e simples para tornar acessíveis aos outros a fé que nos faz viver». Apesar desse cenário duro da dissolução da fé, os (jovens) crentes não devem resignar-se mas antes estar disponíveis e preparados para dar razões da esperança que os anima (1 Pe 3,15). E, diante do facto de que «muitas crianças crescem sem nunca ninguém lhes ter dito que Deus as ama», ele pergunta e desafia «quem serão os jovens disponíveis a acompanhar uma ou várias crianças no caminho da fé?»
Não era preciso pensar muito… bastava levantar um pouco o olhar sobre os jovens presentes no Dragão Caixa ou na Igreja da Trindade e perceber que a maioria estão em idade escolar ou universitária e outros já (ou a entrar) no mundo do trabalho. Foi acertadíssimo e muito feliz referir que «muitos de vós, nos próximos anos, ireis adquirir uma competência intelectual e/ou laboral elevada. Também a vossa fé não deve ficar ao nível de expressões infantis». Porque é certamente esta uma das razões do eclipse da fé em muitos cristãos: são crentes e até em profundidade, mas tão poucos esclarecidos e informados que são incapazes de suportar as adversidades e provocações do tempo presente. O Irmão Alois não quer que tal aconteça aos jovens.
Foi dado o pontapé de saída… não fosse o Dragão Caixa o ponto de referência do encontro! Toca a entrar no jogo.
P. Pablo Lima, Director do DNPJ

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19/02/10

Verdade e interesses, próprios e de grupos

Diz a sabedoria popular que a garantia de o edifício resistir às tempestades é estar construído sobre rocha firme. Até as crianças sabem isto, de tal maneira é claro, e aprendido, praticamente, por intuição normal.

Porém, o que para crianças é claro, nem sempre o é para pessoas crescidas que se gastam a construir coisas que dão nas vistas, esquecendo que, mais tarde ou mais cedo, virá ao de cima a pobreza de não se ter sabido cuidar do essencial.

É assim em muitos sectores da vida: da política ao desporto, da gestão empresarial à economia do Estado, do privado ao público. Por vezes não ficam de fora nem sequer projectos de cariz religioso.

Temos assistido, ao longo dos últimos anos, à derrocada de bancos, clubes desportivos, partidos políticos, empresas e instituições. Tudo isto, porque parece que contaram mais os interesses imediatos ou só de alguns, em vez da verdade e do compromisso com o bem social e de todos, único alicerce firme que não pressagia desmoronamentos nem ruínas do edifício social.

Quando se pretende ou se deve recomeçar, nem sempre a lição anterior foi aprendida e considerada como aviso, para não se cair num logro repetido.

Há erros irrecuperáveis que deixam vítimas sem conta como, perda de bens, projectos incompletos, desistências forçadas, aproveitamentos desonestos, malabarismos políticos, cegueiras incómodas, inimizades de estimação, truques vergonhosos, relações encrespadas. Tudo isto e mais ainda, são destroços que cobrem o campo aberto das batalhas perdidas e dos esforços malbaratados e sem futuro, sempre que falta a verdade que gera honestidade e compromisso.

A ausência de verdade na decisão das acções, concretização dos projectos e avaliação dos meios que levaram à derrocada, não admite críticas, dirigidas àqueles que a não respeitaram. Os culpados são sempre os outros, o ambiente, os ventos de fora, a famosa crise exterior. Assim, até que tudo fique claro e se veja que afinal, a mentira do orgulho que nega e não aceita a culpa, atraiu outras mentiras, vergonhosas e prejudiciais.

A vida social de hoje permite esta lamentável inversão de valores objectivos, com muita gente a calar-se por ter medo das pedras que possam cair no seu telhado. Quando alguém tem a coragem da verdade, tem logo, pela frente, a certeza de críticas destrutivas, ameaças eminentes, vinganças sofisticadas.

Quem luta na verdade e pela verdade não teme. A seu tempo, esta protege e defende aqueles que a respeitaram e serviram.

Neste momento, parece que toda a gente teme pelo futuro do país. Por motivo não das dificuldades, que sempre as ouve e se foram superando, mas da má construção do edifício social que, por via dos interesses, pessoais, de grupos e de partidos políticos, se apresenta cada vez mais débil, desconjuntado e inseguro.

O exercício aberto e correcto da democracia não devia permitir que as coisas chegassem a este ponto lamentável, de retrocesso difícil, senão mesmo impossível. Acontece, porém, que a democracia já muitos a meteram na gaveta, como em tempos se fez ao socialismo político, por se tornar incapaz de entender a realidade e agir segundo as suas exigências. É mais fácil e mais rápido olhar para o umbigo e para o bolso da carteira, que para as pessoas, com seus direitos, e para situações por resolver a pedir atenção.

Quando a politica não funciona numa base de verdade e de uma democracia a sério, tudo se complica mais. Caminhos mais obstruídos, problemas que se arrastam, pessoas que desistem, outras, sem escrúpulos, que se aproveitam da confusão.

A Europa e vários países da América Latina e da África, mais próximos da nossa compreensão, mostram o descalabro da sobreposição dos interesses à verdade objectiva. E os tribunais, mesmo os internacionais, não resolvem tudo.

António Marcelino


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Gestos que traduzem vida e fazem a história

No meio da mediocridade e da luta acirrada pelo seu prestígio, surgem pessoas, humildes e discretas, grandes de seu tamanho interior, com gestos lindos que são sinal de uma vida e de um humanismo que redime misérias. A história não grava todos os nomes, muitos heróis anónimos, mas constrói-se com o contributo de todos eles.

Nelson Mandela foi, durante anos, cidadão de segunda no seu país. A mais não lhe permitia a cor da pele. Empenhou-se numa luta difícil e perigosa contra a discriminação racial, que era a lei anti-humana da sua terra. Foi preso. Esteve vinte e sete anos numa prisão, onde ele e os seus companheiros eram, diariamente, humilhados e maltratados.

Com as voltas que o mundo dá, a sua luta deu frutos. E ele regressou à liberdade. Sem ódios, sem rancores, sem propósitos de vingança. O que desejava e pelo que sempre lutara, estava alcançado.

Fundou um partido político. Elegeram-no Presidente da República. Deram-lhe o Nobel da Paz. Nada disso o inebriou. Manteve o seu sorriso pacificador, avançou com leis de igualdade para negros e brancos, lutou pela reconciliação entre todos, que é sempre esse o caminho para a paz e para o progresso.

A prisão, com os tormentos a que o submetera, ensinou-lhe ainda mais a certeza que do ódio só nasce ódio. Só o amor que perdoa e acolhe pode gerar o clima que leva ao respeito mútuo e à colaboração. Era este o seu caminho. Sem perder tempo, sem grandes discursos, mas com gestos convincentes, passou a mensagem ao seu país.

Celebrou há dias vinte anos de libertação e saída da prisão. Quis ter à sua mesa, como convidado especial, um dos guardas prisionais que, ao longo de anos, com outros seus colegas, tinha sido um dos seus duros e impiedosos algozes. Só homens grandes são capazes destes gestos que ficam na história e fazem a história.

Foi também assim João Paulo II. Não se limitou a dizer que perdoava a quem o quis matar. Foi à prisão, conversar com ele, ouvir as suas confidências, transmitir-lhe amor e coragem. Não podia libertá-lo das grades, mas podia ajudar a ser interiormente livre.

Barack Obama, recordando Luther King, faz do discurso de vitória, um apelo ao perdão mútuo, dado e recebido, e à colaboração, sem excepção, de todos os que haviam lutado pelo mesmo objectivo.

Teresa de Calcutá viveu até ao extremo, um amor, sem fronteiras, em favor dos mais excluídos da sociedade. Não quis outra recompensa, nem sequer a da satisfação do bem realizado. Somente a que lhe vinha da sua fé e da sua entrega à gente sem nome.
A sociedade precisa destes gestos e tem de os estimular. No coração de cada pessoa, homem ou mulher, existe uma capacidade sem medida para o bem. Mais do que para o mal. Somos pessoas, não somos feras. Nascemos solidários, não egoístas. Acompanha-nos, do berço ao final do tempo que nos é dado, a necessidade mútua e a dependência enriquecedora que o amor torna liberdade e não submissão.

Os medíocres, orgulhosos e egoístas não vão além de heróis passageiros da historieta. Só os capazes de gestos solidários, os pacificados e pacificadoras, os que denunciam o mal com a força geradora do bem, são construtores de história.

Não escapam a perseguições e invejas, a calúnias e leituras tendenciosas. Mas resistem. A sua têmpera é mais determinante que a força do tempo, malsinado e pobre, que os cerca.

O sorriso pacificador de Mandela não é uma expressão de fraqueza. È a manifestação da sua grandeza interior. Foi assim, será assim com todos os verdadeiramente grandes. Os únicos que a História guarda e liberta da poeira do tempo.

António Marcelino


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18/02/10

A publicidade do amor

Atónito e comovido, o mundo inteiro tomou conhecimento das notícias relativas à situação, recentemente criada no Haiti, pelo sismo que abalou o país. Para além do incrível sofrimento de toda uma população, já por si bastante atacada pela pobreza, uma nota positiva, no entanto, merece ser destacada: a da solidariedade que este acontecimento gerou e a doação de inúmeros voluntários que souberam actuar de forma generosa, face a tão grande e ampla catástrofe.

Num mundo que vai perdendo a sua face humana e negando os valores cristãos, devem ser reconhecidas e publicadas as acções desinteressadas de quantos são ainda capazes de actuar em favor do próximo; e sobretudo, em favor daqueles que mais sofrem. É neste sentido que essas acções devem ser reconhecidas, com pleno direito de cidadania, na cidade dos homens. Embora sujeitando-se à difícil dialéctica que resulta da complexidade humana, o voluntariado generoso que vimos actuar nesta circunstância, realizou a sua vocação de semente – mistério de amor, de morte e de vida – continuando a interpretar, com o seu exemplo, os espíritos mais cépticos e mais passivos...

Embora geralmente vocacionado para valores perenes e transcendentes, o voluntariado autêntico privilegia o que é humilde e insignificante, o que não é “rentável” aos olhos dos nossos contemporâneos. E a sua opção de amar e servir a todo o custo aqueles que ninguém ama nem serve, transformam-no, de facto, em fiel de uma balança em que o menos vale mais e o mais vale menos.

A sua lógica é oposta à lógica do nosso mundo: os pobres e os pequeninos, com quem Deus se quis identificar, são os primeiros a serem amados e servidos. A verdadeira grandeza humana está precisamente nesta coragem de ser diferente, de ser menor, de procurar a própria grandeza no serviço e na doação; e de se inclinar, sem interesses próprios nem pretensões económicas, sobre todas as misérias humanas.

Não é por isso destituído de sentido concluir esta breve reflexão com a frase ingénua de uma criança que, encantada, contemplava um dia, no céu, o sinal que após A tempestade anuncia a bonança: “O arco-íris é a publicidade de Deus!”

A beleza policromada dos vários estilos e motivações de generosidade humana, a exemplo do que se passou no Haiti, forma um autêntico arco-íris de paz; e bem pode ser considerada uma sempre actual publicidade de Deus, assumida por corações generosos, que remando contra ventos e marés, são ainda a luz do mundo e a de um amor generoso e vivificante, junto de tantas pessoas atingidas pelo sofrimento.

Ir. Mª Isabel A. Coutinho, FMA


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A justiça dom de Deus para todos

A justiça de Deus está manifestada mediante a fé em Jesus Cristo (3, 21-22)
Este ano o Papa acentuou sua mensagem sobre o tema da justiça partindo
da afirmação Paulina.
A justiça implica em primeiro lugar «dar a cada um o que é seu», segundo a expressão de Ulpiano, jurista romano do século III. Que é que o homem mais precisa para que possa chamar seu? O homem vive daquele amor que só a fá pode comunicar pois foi criado à sua imagem e semelhança.

Segundo o Evangelista São Marcos referindo palavras de Jesus o que sai do homem é que o torna impuro como o interior do seu coração é que saem os maus pensamentos. Para alguns podemos entrever reacções relativamente ao alimento, individuando a origem do mal numa causa exterior ao homem (o alimento) Visto que a justiça vem de fora, para
que haja justiça é suficiente remover as causas exteriores que impedem a sua actuação: Esta maneira de pensar é ingénua e míope. Diz Bento XVI: «injustiça fruto do mal não tem raízes exclusivamente externas; mas tem origem no coração do homem onde devemos encontrar os germes de uma misteriosa convivência com o mal.» O homem torna-se por um impulso profundo por uma força de gravidade que o mortifica na capacidade de entrar em comunhão com o outro, por causa do egoísmo.

"No coração da sabedoria de Israel, encontramos u laço profundo entre a fé em Deus que "levanta do pó o indigente" e fez justiça ao pobre, e de maneira especial ao pobre, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva". Ex.29, 12-27) Dar ao pobre, para um israelita é nada mais nada menos a retribuição que se deve a Deus, que teve piedade pela miséria do seu povo.

O anúncio cristão responde positivamente à sede de justiça do homem, (Paulo aos Rom) "Converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, significa precisamente isto: sair da ilusão da auto-suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência - indigência dos outros e de Deus, indigência do seu perdão e da sua amizade".

De Jesus Cristo Redentor recebemos muito mais do que aquilo que poderíamos esperar receber. Fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas onde todos recebam o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor.

Quaresma, conversão, enfrentar o pecado, fazer justiça ao pobre a marginalizado, são modos de anúncio e meio de transmitir a fé. Assim nos ensina o nosso querido Papa Bento XVI neste Quaresma 2010.

por Armando Soares, da smbn

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10/02/10

Terreno sagrado

Fui dos poucos privilegiados que participaram na inauguração de um Gabinete de Apoio a Mulheres Prostituídas e em Risco. Fiquei muito grato pelo convite, porque tenho uma especial admiração por aquelas pessoas, Religiosas, Técnicos e Voluntários, que dedicam a sua vida a mulheres, que consideramos indignas de se sentarem ao nosso lado nos bancos da igreja e muito mais indignas de comungarem o corpo imaculado do Cristo libertador.

Admiro estas e estes “samaritanos” que, por amor, passam a vida a “cuidar do outro” a exemplo do Bom Pastor que vai amorosamente procurar a ovelha tresmalhada. “Ovelha tresmalhada”, digo eu (por)que me classifico no grupo dos bem-comportados, esquecendo a lição do fariseu e do publicano.

Admiro estas pessoas, que, animadas umas pela fé num Deus que é Pai de todos, outras pela consciência de que todos somos irmãos, passam, os dias, calcorreando estradas e matas, e, as noites, percorrendo as ruas da Baixa, batendo às casas de alterne e, resistindo a insinuações e equívocos, vão escutar e acolher mulheres cujas trajectórias de vida foram, de um modo geral, via-sacras sem Cireneus. Não vão para converter ninguém, até porque ninguém converte ninguém: cada um só pode converter-se a si próprio. A sua única regra é, nesta “Luta contra a Pobreza e a Exclusão”, o Amor ao “outro”, a qualquer “outro”, especialmente ao que está em maiores dificuldades. Vão dizer-lhes que são amadas, quanto mais não seja pelo Deus que as criou à sua imagem, mesmo que não o conheçam ou não o queiram conhecer.

Um parêntese para dizer que, nesta homenagem, quero envolver tantos samaritanos de outros “tresmalhados”, igualmente ignorados pela sociedade e pela comunidade cristã.
Mas, como lá foi dito, os protagonistas são aquelas mulheres ditas “perdidas”. Delas é que eu devia falar. O problema é que eu não sei falar da sua vida difícil, do sofrimento disfarçado, do prazer simulado, da violência escondida. Só sei que nunca tive a coragem de as procurar para lhes falar de uma esperança possível, de lhes anunciar que a vida não acaba na agonia da sexta-feira santa nem com a crucifixão em tantas cruzes que a humanidade foi inventando. O que me dói é que, considerando-me cristão e crendo que amo seriamente a Jesus Cristo, afinal só O amo na Sua Pessoa, mas não na Pessoa a que Ele se une intimamente; na alegria da hóstia comungada, mas não no irmão esfarrapado à porta da igreja, que olho de lado e com medo de lhe dirigir a palavra ou apertar a mão como os judeus faziam aos leprosos. E ponho-me a pensar que cristão sou eu, que fé é a minha, que caridade é que pratico. Pergunto-me se amo realmente Jesus Cristo ou se não se trata apenas de um amor platónico, um amor fácil que logo esqueço quando Ele me aparece escondido numa prostituta, num sem-abrigo, num cigano ou num drogado. E, cheio de angústia, interrogo-me se não serei um amante infiel que apenas O recordo quando me sinto em dificuldade ou Ele me aparece no aconchego da celebração litúrgica, no quentinho da meditação da sua Palavra, nalgum alienante “monte Tabor” onde “é tão bom ficarmos aqui” longe de todas as dores e sofrimentos do mundo, ou na partilha de algumas palavras escritas ou afirmadas num qualquer colóquio em que participo.

Mas basta de lamentações catárticas, porque o arrependimento sem conversão nada vale. Por isso, vou dar um pouquinho de atenção às verdadeiras protagonistas voltando àquela cerimónia tão simples e rica como profunda e amorosa. O que mais me marcou foi a Palavra de abertura, que descreve o encontro de Moisés com Deus que, do meio da sarça ardente, lhe ordena: “Tira as sandálias, porque o terreno que pisas é sagrado” (Ex 3,5). Este texto quis “apenas” lembrar que aquelas mulheres, ludibriadas por gente sem escrúpulos, violentadas na sua alma, exploradas no seu corpo, profanadas na sua dignidade de pessoa, ignoradas por todos mesmo por aqueles que as usam, são “terreno sagrado”, porque são uma das mais dramáticas versões da sarça ardente. E, se são “terreno sagrado”, devem ser tratadas verdadeiramente com “pés descalços”, com “mãos delicadas”, com a reverência e o cuidado de quem é imagem visível de Jesus pregado na cruz. Só podemos identificar estas mulheres como “terreno sagrado” se as virmos com os olhos da fé, de uma fé radical que nasce do encontro íntimo com Jesus, e se estivermos profundamente convictos de que “no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (DCE 1).
Gostaria de terminar com duas curtas notas.

A apresentação do projecto à Segurança Social deparou-se com um obstáculo sério: as prostitutas não existem oficialmente e, portanto, não constam de nenhuma das suas várias alíneas. O que valeu para a sua aprovação foi a insistência de quem está no terreno e a compreensão, depois de um longo processo negocial, de que se tratava de um fenómeno de tal dimensão que não podia ser ignorado, mesmo utilizando uma palavra tão “inconveniente” na justificação do projecto. Tão pudicos que nós somos… mas em tão poucas coisas!

Para as comunidades eclesiais, não há pastoral mais marginalizada que a pastoral dos marginalizados. Somos comunidades que lemos e ouvimos ler a Palavra de vida eterna, celebramos com alguma dignidade a nossa fé, praticamos exercícios de caridade, sobretudo com algumas migalhas do nosso supérfluo, mas ignoramos ou desprezamos os mal-comportados, os que “não respeitam a lei de Deus”. Tão puros que nós somos… mas em tão poucas coisas!

E tudo ficaria bem e em paz não fora aquela solene advertência de Jesus: “Em verdade em verdade vos digo: os publicanos e as prostitutas preceder-vos-ão no Reino de Deus” (Mt 21,31). Será que Jesus disse mesmo tal barbaridade!?

José Dias da Silva


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04/02/10

Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social, analogia curiosa

O Ano Europeu de Combate à Pobreza e Exclusão Social, proposto para o corrente ano pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia com o grande objectivo de reforçar o empenho da União e de cada Estado-Membro na solidariedade, na justiça social e no aumento da coesão social, exercendo um impacto decisivo na erradicação da pobreza que se faz sentir por toda a Europa, já viu decorrer o seu primeiro mês.

Pese embora toda a esperança que se deseja implementar no início de qualquer projecto humano, a temática deste Ano ainda mal se fez sentir, pelo menos a nível nacional. Sabe-se que o Instituto de Segurança Social é a entidade nacional responsável pela organização e coordenação das actividades deste Ano sendo o seu presidente, Dr. Edmundo Martinho, o representante de Portugal no Comité Consultivo do mesmo e também o Coordenador Nacional. Por sua vez, o coordenador tem o apoio de uma equipa técnica que acompanha as actividades desenvolvidas e auxilia nas actividades de coordenação. Além disso, foi criada uma Comissão Nacional de Acompanhamento, constituída por delegados dos diversos ministérios e das regiões autónomas, os parceiros sociais, as organizações não governamentais, a coordenação nacional do Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) e o Fórum Não Governamental para a Inclusão Social (FNGIS), entidades apresentadas com a capacidade de defender e promover os direitos e interesses das pessoas que estão em situação de pobreza e exclusão social. O programa nacional, que preconiza os seguintes quatro grandes objectivos: 1) contribuir para a redução da pobreza e prevenir os riscos de exclusão através de acções concretas que tenham impacto real na vida das pessoas; 2) contribuir para a compreensão e visibilidade que a pobreza é um fenómeno multidimensional; 3) capacitar e mobilizar toda a sociedade num esforço de erradicar a pobreza e situações de exclusão; e 4) assumir que a pobreza é um fenómeno de todos os países e que não conhece fronteiras, ainda mal se notou. De referir que, para todas as actividades a realizar, o orçamento provisional é de cerca de dois (2) milhões e euros, distribuído, sobretudo, por duas grandes rubricas: comunicação, seminários e eventos (cerca de um milhão e quatrocentos mil euros) e financiamento de projectos (seiscentos mil euros), orçamento do qual cerca de trezentos e sete mil euros são verbas comunitárias de um total de dezassete milhões de euros que é disponibilizado para todas as actividades a realizar nos países membros da União Europeia.

Este cenário das comemorações do Ano Europeu do Combate à Pobreza e Exclusão Social entre nós, bem como o seu financiamento, se comparado com outra efeméride que se vive, no corrente ano, em Portugal, ou seja, o centenário da República, apresenta-se, no mínimo, como uma analogia curiosa. Senão, atente-se nos seguintes dados: uma Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República Portuguesa (1910-2010), já devidamente publicitada; mais de 500 propostas de âmbito cultural e artístico a levar a cabo e já apresentadas; um orçamento de dez (10) milhões de euros disponibilizado; múltiplas comissões distritais e concelhias de celebração do Centenário, com programas próprios, muitas delas já devidamente organizadas; uma forte estratégia de comunicação, a vários níveis, já visível; múltiplas iniciativas já programadas e divulgadas para escolas, universidades, poder local, regiões autónomas, etc; uma cerimónia pública de lançamento do Centenário, com pompa e circunstância (Porto, 31 de Janeiro); um site já devidamente organizado; entre outros.

Sem querer questionar a relevância da celebração de tal Centenário, registo que Portugal, apesar dos seus milhões de republicanos, é um dos países mais pobres da Europa, com cerca de dois milhões de pessoas em situação de pobreza, afectando, sobretudo, crianças e idosos. Além disso, Portugal apresenta um dos maiores fossos entre ricos e pobres no que diz respeito aos respectivos rendimentos. Perante esta realidade e perante os objectivos deste Ano Europeu, associados aos interesses nacionais, alerto e desejo que, apesar de todas as diferenças entre as duas grandes iniciativas comparadas, este Ano de Combate à Pobreza e Exclusão Social não seja uma oportunidade perdida e abafada por quaisquer outras celebrações.

A este propósito, quero referir uma feliz iniciativa na qual tive o privilégio de participar no passado dia 27 de Janeiro, em Bruxelas, no Parlamento Europeu: o lançamento da Campanha Europeia “Zero Poverty” por parte da Cáritas Europa, testemunhada por cerca de uma centena de pessoas de representantes das Cáritas de quase todos os países da Europa, entre outros parceiros, e por uma dezena de eurodeputados da Comissão de Emprego e Assuntos Sociais do Parlamento Europeu, liderados pela respectiva Vice-Presidente, Elisabeth Schroedter. Este evento serviu também para dar a conhecer o documento “A Pobreza entre nós” que reflecte a visão da Cáritas sobre a multidimensionalidade da pobreza, pretendendo ser um instrumento de trabalho ao serviço das 48 Cáritas que constituem a rede na Europa, bem como de outros actores.

A campanha “Zero Poverty” pretende assinalar este Ano Europeu através de múltiplas iniciativas encabeçadas pela Cáritas, tanto a nível local, como nacional e ainda internacional, consciencializando os europeus para o facto de que a pobreza diz respeito a todos e todos podem fazer algo para a erradicar. Uma dessas possíveis acções é a proposta de uma petição on-line (www.zeropoverty.org), a qual pretende influenciar os organismos nacionais e europeus a adoptarem medidas que contrariem os sinais crescentes de pobreza que se fazem sentir na Europa. A meta a alcançar será um milhão de assinaturas a entregar, no final do ano, às instituições europeias.

Em Portugal, esta campanha tem a denominação de ACABAR COM A POBREZA JÁ! e conta(rá) com o envolvimento activo da rede Cáritas em Portugal, tanto a nível nacional, como diocesano e paroquial. De acordo com Erny Gillen, Presidente da Cáritas Europa, na sua intervenção na sessão de lançamento desta Campanha, queremos reforçar que “a pobreza é um escândalo. Zero é o número que queremos alcançar. Não queremos 0,5 ou 0,8. Queremos que todas as pessoas tenham a possibilidade de viver a sua vida com dignidade.” E eu acrescento: Todas as pessoas, sejam republicanas ou não.

Paulo Neves
paulo.neves@caritas.pt


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É a nossa pobreza que (mais) empobrece os pobres

1. O poder diz que faz muito pelos pobres e estará a falar verdade.
Mas os pobres replicam que o poder faz pouco por eles e alguém acha que estarão a mentir?

É que o muito que o poder diz que faz é sempre pouco para quem precisa, para quem sofre, para quem sobrevive com dificuldades de toda a espécie e obstáculos de toda a ordem.
Daí que se instale a dúvida: será que o poder está mesmo interessado em acabar com a pobreza?
É, de facto, a nossa pobreza (pobreza de horizontes e pobreza de generosidade) que mais empobrece os pobres!

2. Há palavras que servem sobretudo de ornamento. Uma delas é pobreza.
Falar de pobreza — e dos pobres — fica sempre bem. O que problema é, muitas vezes, não se passa disso.
O Ano Europeu contra a Pobreza e a Exclusão Social, que estamos a viver, pode padecer desta enfermidade, endémica e atávica.
Uma vez mais, falar-se-á muito de pobreza e, uma vez mais também, nada — ou pouco — se alcançará.
Às vezes, no nosso íntimo paira até a dúvida se estamos perante programas contra a pobreza ou se não estaremos, antes, perante programas contra os pobres.
De facto, fala-se muito em lutar contra a pobreza. Mas, infelizmente, o que mais se vê é lutar contra os pobres.
É que quando nada (ou pouco) se faz pelos pobres é como se contra eles estivéssemos.
Também aqui não são as palavras que valem. São os gestos. É a vida.
Como sempre, a realidade é muito mais eloquente que o mais eloquente dos discursos. Seja qual for o sistema económico, as vítimas são sempre as mesmas: os pobres.
Razão assistia, pois, a George Orwell quando verteu a célebre máxima: «Todos os homens são iguais, mas uns parecem mais iguais que outros»!

3. Por muito que se diga e até por muito que se faça (valha a verdade que alguma coisa se tem feito), o combate à pobreza está muito longe de ser uma prioridade.
Ainda recentemente, o jornalista Manuel António Pinto nos desassossegava com este dado: «A União Europeia vai investir 17 milhões de euros na luta contra a pobreza, tanto quanto gastaram, em Dezembro, Sporting e Benfica em novas contratações»!
É por isso, talvez, que somos pobres: porque não canalizamos os recursos para o essencial; porque preferimos enterrá-los no secundário.
Por outro lado, isto mostra que o alastramento da pobreza não é somente uma questão política. É também — e bastante — uma momentosa questão cívica.
Trata-se de uma questão que nos aparece sob a forma de carência e que tarda em assumir a feição de uma urgência.
Vamos acordando e vamo-nos mobilizando para a pobreza ao sabor das circunstâncias e ao ritmo das tragédias.
Sempre que ocorre uma situação como a do Haiti, somos capazes de nos movimentar e de modo avassalador.
E, como sucede quase sempre, são os pobres os que mais se apressam a ajudar os pobres.
Falta, porém, fazer deste desígnio uma constante. No fundo, falta que a pessoa esteja no centro: no centro da acção política, no centro da vida.

4. O desnível entre países ricos e países pobres é aflitivo. Acresce que a maioria das pessoas vive em países com poucos recursos.
Não esqueçamos, com efeito, que oitenta por cento da riqueza está concentrada em vinte por cento da população. Ou seja, são poucos os que têm muito. E são muitos os que têm pouco ou quase nada.
Na União Europeia, Portugal é um dos nove mais pobres, existindo quase dois milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza.
A região norte, mergulhada na falência das fábricas, lidera a pobreza com um rendimento per capita expresso em poder de compra idêntico ao dos países de Leste.

5. Que lugar tem Cristo num mundo que consente que 14 milhões de crianças morram antes de completarem…cinco dias de vida?
Que lugar tem Cristo num mundo que admite que 800 milhões dos seus habitantes passem fome?
Um grito, por isso, urge lançar na direcção de quem aparenta conceber a existência (apenas) como uma luta, vendo adversários em todo o tempo e inimigos em toda a parte: se querem lutar, lutem a fome!


João António Pinheiro Teixeira
padre



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