Jornal de Opinião

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22/01/13

Acima do sucesso, o sentido

1. São múltiplas as catalogações das pessoas, quase todas elas arrumadas em dualismos de pendor maniqueísta. A mais usual é a distinção entre pessoas boas e más. A mais pertinente, porventura, será a diferenciação entre pessoas decentes e indecentes. 2. Viktor Frankl dizia que «há duas raças de homens neste mundo e só essas duas: a raça dos homens decentes e a raça dos homens indecentes». Mas, atenção, «nenhum desses grupos é composto inteiramente por pessoas decentes ou indecentes. Nenhum grupo é uma raça pura». A decência está ao alcance de todos como possibilidade. E a indecência está em cima de cada um como tentação! 3. Viktor Frankl achava que a vida é, acima de tudo, procura de sentido. Para ele, há três possíveis fontes de sentido: o trabalho, a dedicação pelos outros e a coragem em tempos difíceis. Os momentos difíceis não são para nos abater, mas para nos fortalecer. Já dizia Espinosa que «tudo o que é ilustre é tão difícil quanto raro». 4. Eis, por isso, uma bússola preciosa. Sofrer custa, mas compensa. É pelo sofrimento que o homem mais se revela. O sofrimento «é uma parte inextirpável da vida, tal como a morte. Sem o sofrimento e a morte, a vida não está completa». Por muito que nos doa, é mesmo assim. 5. O sentido é diferente do sucesso. O sentido é (muito) mais que o sucesso. O sucesso não visita, habitualmente, quem o procura. Já o sentido acompanha, constantemente, quem o busca. Viktor Frankl aconselhava: «Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transformarem num objectivo, mais probabilidades terão de falhar. O sucesso, tal como a felicidade, não pode ser procurado. Tem de ser algo que surge naturalmente e isso só acontece como resultado involuntário da nossa dedicação a uma causa superior a nós mesmos ou como consequência inesperada da nossa entrega a outras pessoas». 6. A experiência ensina que, muitas vezes, as melhores pessoas e as melhores acções não são tatuadas pelo sucesso. Às vezes, as melhores pessoas e as melhores acções são ungidas pelo fracasso. 7. Muita gente pergunta: como é possível haver quem aguente a hostilidade, a animosidade, a insinuação e a calúnia sem dizer uma palavra em sua defesa? Nietzsche (quem diria!) responde: «Quem tem uma razão para viver pode suportar quase tudo»! Essa razão para viver acaba por ser mais forte do que tudo o resto. 8. É por isso que Viktor Frankl, que passou pelo campo de extermínio de Auschwitz, confessa que se «morre menos por falta de comida e medicamentos do que por falta de esperança, do que por falta de alguma coisa pela qual viver»! Daí que a própria razão, sendo importante, não pode ser vista como um absoluto. Lessing afirmou, um dia, que «há coisas que nos levam forçosamente a perder a razão; caso contrário, é porque já a perderam». 9. É que, como garantiu Viktor Frankl, «uma reacção anormal a uma situação anormal é um comportamento normal»! A razão ajuda a perceber muita coisa, mas não ajuda a resolver tudo. Muitas vezes, é preciso saber perder a própria razão! João António Pinheiro Teixeira

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