Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

31/05/12

A Teologia que Queiruga quer

1. Não sou teólogo, antes fora tão só e adjectivamente teófilo ou, então, um justo, que era o que mais convinha ao que venho: alinhavar algo ajustado a propósito da polémica recente sobre a Ressurreição de Cristo a qual, só polemiza, porque parte de dentro da Igreja, ou melhor, porque levantada por alguns teólogos católicos sujeitos à cultura moderna vigente. Sendo polémica não deve descer a guerra mas precisa ser combate, o qual começa na obra do padre galego Andrés Torres Queiruga, agora clarificada e rejeitada através de uma nota da Conferência Episcopal Espanhola datada de 29 de Fevereiro de 2012.(1) Entretanto, e à liça por Queiroga vieram, entre nós e entre outros, alguns dos que o nosso jornalismo dominante dá voz repetida, os padres teólogos Anselmo Borges e Carreira das Neves. Antes de mais Andrés Torres Queiruga pretende, julgo que honesta e seriamente, que o cristianismo se integre na modernidade, diria eu de forma absolutamente total e aqui começa o que se rejeita pois sempre os cristãos perceberam este mundo, profano e humano, distinto do Criador ainda que o sagrado, em última instância, tudo sustente. Queiruga não quer ver-se excluído culturalmente como cristão, propõe mover-se em expressão de um Deus "todo amor", ao invés desse outro que, no passado próximo, parecia suscitar medo. Sendo o propósito em aparência louvável logo se adivinha que, tais vias interpretativas do teólogo galego, possam decair a jusante na mais óbvia falácia moderna, precisamente aquela que conduz a negar o Absoluto como transcendente, absolutizando o relativismo, levando a fé cristã a ceder «às categorias da cultura dominante», assim refere o documento dos bispos espanhóis. Acresce que, da obra de Queiruga, se pode deduzir incompreensão quanto ao bíblico "temor a Deus", traço que o irmana com vastos sectores religiosos da modernidade. O "Deus é amor" joanino não tem que coincidir na demagogia temerária dos que não temem Deus, excluindo-se, claro está, o sentido justiceiro do divino, antes porém propõe, justamente, que se tema e anule a auto-suficiência dos que tudo sabem, permitem e decidem em mero sentimentalismo humanizado de Deus, o metem no bolso, o apreendem e analisam como objecto teológico, sem que o vivificante conceito de Mistério lhes inquiete a alma perante a magnitude insondável da transcendência. Ficam, pois, a um passo de negarem a menor intuição e abertura ao sobrenatural. Ora, o Deus Revelatus (o Filho) não tem que anular o Deus Absconditus (o Pai) e, sempre o "temor a Deus" há-de permanecer como fonte da Sabedoria e dom do Espírito Santo ensino, aliás, que o Livro de Isaías cedo comunicou aos que aprenderam a não julgar pelas aparências. (2) É, por tais interstícios de silêncio, aberto e temente porque anulante da vã subjectividade, que a intuição sonda o Mistério pelo qual tudo o que foi, é e será possa caber na asserção definitiva de que "Deus é amor". 2.Se nos dispusermos a ler o documento emitido pelos bispos espanhóis veremos, sucessivamente aclaradas e dirimidas através dos fundamentos doutrinais da tradição da Igreja Católica, cinco das teses de Queiruga susceptíveis de obscurecerem o crente mais distraído: o seu novo paradigma da Criação, os seus conceitos de Revelação e de pluralismo teológico assimétrico, a Ressurreição de Cristo e o problema da Escatologia. Não cabe aqui a sobreposição ao referido documento episcopal mas, convém, afirmar similar combate face a posições interpretativas que notoriamente colidem não só com a tradição e a essência de Igreja, como até com uma filosofia religiosa que mantenha coerência com o conceito de Verdade Revelada, sem a qual, deixa de se entender o que venha a ser a teologia. Diga-se, aliás, que a referida nota dos bispos é de uma frontal elegância a toda a prova, onde nem sequer cabe a palavra condenação, ao contrário do que afirma Anselmo Borges(3) e, muito menos, se vislumbra o mínimo ata-que de argumento ad hominem. Ainda assim, não farão mossa alguns alinhavos de um teófilo que, sem ser teólogo, apenas se propõe ajustar-se ao que deve. Queiruga, inapelavelmente, obriga o Criador a sujeitar-se à autonomia das leis da natureza, um pouco como se proibíssemos, por analogia, que Camões corrigisse as gralhas com que a edição debilitasse Os Lusíadas. Os milagres ficam portanto impedidos, facto agradabilíssimo a qualquer positivista ou ateu, preconceito que obsta o vislumbre do que venha a ser o sobrenatural perante o qual a modernidade se esvazia e ri, enquanto enfatiza o infranatural em vampiros de cinema ou em feitiçariazinhas de Harry Potter. Por cá, basta abrir os livros de Saramago para neles se perceber a mesma amputação da integridade humana quanto à relação com o transcendente, o qual, paradoxalmente, tanto se insiste em combater. Se não existe, porquê estar sempre a negá-lo? Não havendo milagre ou indício de sobrenatural, toda e qualquer bem-aventurança que remeta para a graça perde o sentido, a não ser se inclusa em potencialidade humana, falácia que tanto inebria a modernidade, pois por aqui se reduz o divino a imanente, se idolatra o humanismo e se nega o Espírito Santo como Paráclito na história dos homens. O divino é-nos sempre interior, asseguram. Esta tese recorrente em sua origem gnóstica, antes parece reduzir a alma a capacidades naturais susceptíveis de nela se exercitarem técnicas mediúnicas de meditação e, das quais, Deus e a oração podem e devem ser excluídos. Deus criou o mundo e ausentou-se para férias noutra galáxia. Dito isto, desaparece a oração propiciatória em seu exemplo sublime que é o abandono ou fiat de Maria em sua virgindade edénica perante o problema do mal manifestado pelo voluntarismo egoísta. Na alma que se entrega ao Espírito é que se vive a liberdade suprema dos que se realizam em Deus. Os sacramentos nisso colaboram como meios ininterruptos do milagre do Deus da relação pessoal e, se decaem em cerimónia humanizada, o protestantismo surge. Aí chegaremos pela teologia que Queiruga quer. 3. No que diz respeito à Revelação o teólogo galego prossegue a sua amizade com a infértil e inconsequente filosofia vigente: o conhecimento, entregue em absoluto à ciência, recolhe-se às migalhas que sobram desta perspectiva única em época de falaz pluralidade. Neste contexto, não é possível o espaço para a Revelação divina através da palavra sagrada, assim reduzida a cultura datada. O Mistério da Encarnação em Cristo, inteiramente homem e inteiramente divino, sendo só por si paradoxo poderosamente criador, decai na mais rasa vacuidade. Para Queiruga a revelação é um "dar-se conta" da centelha divina no íntimo de cada um, propósito louvável, diga-se, mas que uma vez mais, bem pode prescindir da fé como virtude teologal e dádiva de Deus. Por esta maiêutica perpassa um certo neoplatonismo mal adaptado pois nunca os inteligíveis deixaram de habitar no conceito de Deus transcendente a precisar revelar-se, amoroso, em sua imanência no mundo. A revelação cristã em Queiruga jamais ganha foro de Verdade, antes subjaz em subjectivismo onde todas as culturas participam em pé de igualdade e, deste igualitarismo, nascem todos os desajustes promotores do pluralismo assimétrico que este teólogo tanto enfatiza. Uma vez mais o relativismo volta a absolutizar. Para o autor não há pois plenitude na revelação cristã. Mas, então, que sentido terá a afirmação de Cristo: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por Mim?» (4) Esta religiosidade ecléctica que visa ser ecuménica na base do maior denominador comum impede o salutar diálogo inter-religioso, pela simples razão que nela se diluem os pólos necessários para conversar e convergir. 4. Outro decisivo aspecto prende-se com a Ressurreição de Cristo que em Queiruga se pode escrever com letra minúscula, pois não foi acontecimento único, tão só passagem espiritual e imediata à morte de Jesus, similar ao comum dos mortais. Para este Autor, sendo a ressurreição real ela é integralmente sustentada pela fé dos apóstolos, isto é, não aconteceu literalmente, num daqueles processos mentais em que a teologia coincide com a racionalidade mais rasa. Cristo ressuscitou "apenas" em espírito sem a necessidade primária do corpo, isto num assomo neodocetista que assim transforma o Corpo de Glória do ressuscitado em fantasma ou em superior metáfora que os apóstolos aceitaram experimentar. Tudo é meramente testemunhal como para aí acarreta o Padre Carreira das Neves, sem que haja correspondência com a ressurreição do corpo. Todavia, recordemo-lo, os Evangelhos mostram a dificuldade dos apóstolos em crerem na ressurreição como que reagindo a algo fora dos limites da positividade física, culminando na exigência de Tomé até que este metesse a mão na ferida do lado do Senhor (não se percebe como pode haver ferida sem corpo !), ou de como os dois de Emaús só o tivessem reconhecido ao partir do pão ou, também, quando o corpo ressuscitado se veio impor às testemunhas comendo peixe nas margens do lago em Tiberíades. Eis pois um espírito que passa o tempo a querer provar que também é corpo, certamente que corpo de glória, incorruptível e eterno, mas corpo. Ora, tudo isto vem nas Escrituras e ninguém o briga, fora da fé, a que creia. O problema é como alguém, de dentro da fé, faz por artifício desaparecer o corpo do ressuscitado em passes de teologia cujo logos, tão fraco em conhecimento crente, nega a Palavra de Deus. Prefiro ser teófilo. Apetece ainda afirmar como São Paulo: «(. . .) se Cristo não ressuscitou (. . .) é vã a nossa fé». (5) Ou talvez, seguir o desafio de Miguel de Unamuno que, perante a proposta de se resgatar D. Quixote dos incréus como o foram o bacharel, o cura e o barbeiro na terra do cavaleiro da Mancha antes invectivou que «(. . .) deveríamos ir em demanda do sepulcro de Deus e resgatá-lo de crentes e incrédulos, de ateus e deístas que o ocupam, e esperarmos ali, dando voz ao supremo desespero, derretendo o coração em lágrimas até que Deus ressuscite e nos salve do nada».(6) Se a teologia de Queiruga tivesse ido por aqui, ainda iria eu com ele, reactualizando uma Ressurreição que para além da história é também meta-histórica em sua necessária vitória sobre como suicidamos em nós o divino nesta vida sanguessuga e insistente com que depositamos Deus no sepulcro sem que ressuscite. 5. Urge terminar. Os teófilos não têm que falar muito, antes deixam perguntas: - Se André Torres Queiruga pensa o que pensa e, nisso parece apontar a uma certa expressão plausível de protestantismo, porque não seguir por aí? - Todo o crente pode às vezes dizer: «E se Deus não existe?»; pode o ateu cismar: «E se afinal Deus existe?». É legítima a dúvida que é sinal de humanidade, a fé, também. Pode um católico interpretar teologicamente, mas poderá anular toda a tradição exegética da Igreja como se a teologia começasse em si próprio? - Como corolário da cultura vigente muitos jornais que dão voz aos teólogos do costume (Anselmo Borges, Carreira das Neves, etc.) têm veiculado as legítimas opiniões de quem neles escreve, mas nunca informaram em detalhe e cabalmente sobre o notável documento dos bispos espanhóis. Porquê? - Há um ponto nevrálgico em Queiruga que tomo por incompreensível: como é que a um Deus Criador, transcendente e "todo amor" lhe pode estar vedado intervir amorosamente na obra criada ainda que decaída, não obstante a passível "arbitrariedade" do ponto de vista humano quanto ao milagre e à graça? Outras perguntas ocorreriam. Entre o largo e suposto conhecimento humano, teológico ou científico, tanto nos falta! Como essa coisa simples que um dia Salomão pediu ao Senhor - «Dai (. . .) ao Vosso servo um coração sábio (. . .)» (7) - isto, em vez de um cérebro abstracto, uma carreira académica ou uma erudição inútil, facilmente suplantados pela sabedoria infusa de uns tais pequenos pastores de Fátima ou de uma qualquer e desconhecida veneranda mãe camponesa. Como ficaríamos angustiados, não fora a asserção do próprio Cristo perante a pedra sobre a qual fundou a sua Igreja confirmando que as portas do inferno, nada poderiam contra ela! (8) Ou, como responder em afirmação convicta à pergunta evangélica do Senhor Jesus Cristo: «Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará fé sobre a terra?»(9) Por fim, um auspício de alívio: ainda bem que a nota episcopal, assinada pelo bispo de Almeria, D. Adolfo Gonzalez Montes, traz a data de 29 de Fevereiro do ano presente, 2012 e bissexto. No ano próximo o aniversário deste documento nem sequer existirá e, com um pouco de sorte e melhor vontade, até poderemos supor que nada disto aconteceu. O Padre Andrés Torres Queiruga poderá teologar dialogando de novo, talvez um pouco mais teófilo e, quem sabe, na graça de que o Ressuscitado lhe faça o milagre de vir a crer no sobrenatural. Abril de 2012, Carlos Aurélio (10) ---- (1) Ver: www.forumlibertas.comde 3-04-2012 (2) 1 Is 11,1-3 (3) ANSELMO BORGES, Teólogo condenado: da criação à ressurreição, in Diário de Notícias, 7-Abril-2012. (4) Jo 14,6 (5) 1 Cor 15,14 (6) MIGUEL DE UNAMUNO, EI Sepulcro de Don Quijote in Vida de Don Quijote y Sancho, Catedra, Letras Hispânicas, 3º Edición, p.152. (7) 1 Rs 3,9 (8) Mt 16,18 (9) Lc 18,8 (10) Declaração: o autor deste texto nunca leu nenhum livro de André Torres Queiruga e, portanto, faz fé na honestidade intelectual de quem redigiu o documento dos bispos espanhóis, tal como crê na serie-dade de propósitos do teólogo galego. Temeridade? Nem por isso. Se não fosse assim, não nos sentirí-amos autorizados a abrir a boca sobre um milionésimo do que falamos.

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28/05/12

Ao Compasso do Tempo - 25 de Maio de 2012

Manter a altura e a urbanidade são marcas de estilos de Estado. Dizem-no-lo! O Evangelho, muito acima da cultura mundana, mas sempre amando-a, quando, entre brocardos, cintilam as artes do ser justo e digno, é um vade-mecum de outros critérios: ser o último, deixar tudo, manter-se de pé (“sou um cidadão romano”), não se deixar adormecer mesmo no Jardim das Oliveiras, dar tudo para O seguir, ser feliz e ladino, cantando nas praças, mesmo que o coro não corresponda, ser perseguido e tema de maldade, etc, etc! É uma ladainha esta de honrarias! É um cortejo de insígnias das maiores desventuras. E, neste circular de “maneiras de viver”, que poucos ousam adotar, e, nesta sociedade portuguesa, velha, cansada e sem saber para onde seguir, lá se levanta a poeira das conversas de café e de alguns meandros eclesiásticos e beatos! “E quem será o futuro Patriarca de Lisboa? E quem serão os próximos a “mandar”? E o do Porto fica lá ou muda? E quando teremos pessoas, naturais e livres, nos lugares de maior serviço, mostrando como se serve, sem as receitas costumadas de como se devem comportar?” E, convenhamos que há alturas, em que nos parece haver as eclosões do cair do mundo: são os bombeiros; os comboios a parar; o Relvas a calar…; o Dr. Bagão Félix a afirmar que o governo estendeu as mãos e confiscou, nos reformados, o que só lhes pertencia (a eles reformados) e a mais ninguém; o endividamento das famílias; as menos receitas e o aumento orçamental, nascentes daqui, as previsões mais perturbadoras… e tantos acontecimentos e situações, espelhando a confusão. Mas, no tumulto destes desassossegos, há quem durma na rua; aguarde um filho, sem ter nada para o vestir; quem se deslumbre com um diploma, sem conseguir um lugar ao sol do emprego; quem deseje um pequenino espaço onde, mesmo iludido(a), sempre é para lá que todas as manhãs dirige os passos, para trás deixando os fantasmas do exílio da casa. E desculpem-me: e os amigos dos amigos? E os negócios do Brasil ou de Angola!? E as seitas ou espécies de seitas, onde, ao menos, alguns se refugiam, sem que os mirones o(s) surpreendam?; e a tristeza que não se transfigura em alegria…? E a inveja e a má vontade? Sopra um ambiente estranho. Parece o clima variável de humidade, chuva, calor. E como mudar?! MDN – Capelania Mor, 25 de Maio de 2012 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

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18/05/12

Compasso do tempo de 17 maio 2012

“Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra. Para que servirá ter as mãos limpas, se as temos nos bolsos?”, exclamou em Fátima, em 13 de Maio, o Cardeal Gianfranco Ravasi, Presidente do Conselho Pontifício da Cultura. A higiene das mãos parece perder-se quando abraçamos “o coração das massas”, onde a multidão dos pobres nos suplica a Boa Nova e nos pede pão, água, saúde, emprego e a defesa das crianças. Tocar nestas questões é ser cúmplice de leprosos. As mãos sujam-se. Mas, em estado mais lastimável, ficam as línguas que caluniam e inventam. Tem-se medo. Certos temas são campos semeados de bombas, dinamitando pessoas, intenções, percursos… Sujar as mãos… É melhor – dizem-nos - não cumprimentar pessoas, não emitir opiniões, não frequentar “más companhias”. As mãos sem calos eram prova de mandrianice. As mãos limpas são equipamentos de jogadores que, em qualquer desporto, preferem entregá-los sem mácula, a esforçarem-se, desorganizando o uniforme. Há tanto “jogador” por aí! Lembram-se? Sartre, no Natal de 1941, escreveu no seu campo de prisioneiro, a peça Barjona, nome do chefe de um bando, que, apesar de descrente, defende a criança levada para o Egipto por Maria e José, sendo ele morto pelas forças de Herodes. E assim teatraliza Sartre a urgência de se tomar posições. Devemos, como cristãos, estar do lado da não violência e possivelmente cúmplices da injustiça ou, do lado da violência e portanto eventualmente atores da destruição e da morte? (A. Dumas e outros, para uma moral da violência, trad., Lisboa, Moraes Editores, 1971). Refletir em certos problemas equivale a cair-nos o teto e a casa. Até não se trata de inventar soluções novas, mas de entender com razões o que, até aí, era apenas som de uma voz de comando. O “ousa pensar” Kantiano deve ganhar também este sentido. Há comandos sem razoes. Há autoridades bem acompanhadas pela retidão do conceito. Um cristão terá de sujar as mãos ao participar na promoção da humanidade? pergunta o fundador de Taizé, Roger Schutz (Violence des pacifiques, Taizé, 1968, ps. 195-198). O desemprego aumenta. Os cuidados em não dar nas vistas, também. Mãos delicadas. Sem calos nem agressões. Jogar bem é ser “jogador”? Pobres sempre seremos. Mas asseados e limpos! É o fatalismo a corroer-nos as entranhas? Lisboa, 17 de Maio de 2012 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

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13/05/12

Ao Compasso do tempo - 11 de Maio de 2012

A “doce França”, mais uma vez, é um eixo de equilíbrio. Muito mais: é um paredão contra o sistema especulativo e menos racional, por mais ajustamentos que se preguem. Descartes bem cogitou a clareza e o brilho das ideias. Pelo pensamento, que se soergue no declinar da própria dúvida, conquista-se o galardão da existência. Nesse sentido, já S. Agostinho tinha aportada a tal clareza, como, de igual modo, nos convidou a mergulhar nas profundidades de qualquer texto, pondo de lado as aparências da superfície e captando o invisível da mesma linguagem. A arte de questionar o dizer, por escafrando, convida-nos a lobrigar o dito. E tudo isto pela questão da França e dos seus filhos. Não escondo o afecto, para além do respeito, no que, algumas vezes, não sou acompanhado por tantos de amigos meus, que conheceram e conhecem esse país. A racionalidade rigorosa e o mundanismo medíocre são trilhos da sua identidade. A maior exigência de maneiras e o ar mais deslavado são aliados. A tolerância e o despojamento e a intolerância mais assanhada, até no mundo da Igreja, são dedos da mesma mão. O sentido da depurada liturgia, o desprendimento do dinheiro e das sumptuosidades, a simplicidade do viver normal, a coragem de abater muros e a fixidez de doutrinas encontram-se, no mesmo país, com a intolerância, com o azedo de concepções, com a laicidade “à francesa” (que é, ao invés da laicidade, o laicismo), de forma inimaginável. Onde é que, em Portugal, poderia residir um aparato ideológico, capaz da “ocupação selvagem” dum templo católico, como ocorreu, no coração de Paris, com a igreja de “S. Nicolas de Chardonet?” E, no país da tal mal interpretada laicidade, como é possível que descrentes contrariem os seus princípios ao empunharem o hissope, ao fim da celebração exequial, aspergindo o caixão, em rito de religiosidade católica?! Os hábitos (mesmo os uniformes) nem sempre expressam a razão! A França tem destes estilos, destas tradições, destes contraditórios. Vão prosseguir. Mas, para o meu gosto e convicção, como deveria aprofundar-se o diálogo e silenciarem-se tão numerosas tensões, até no campo da religiosidade. Tenho de saber compreender a existência de radicalismos e o pavor que eles espalham. Nos últimos tempos, a truculência de homicídios aumentou os medos e convidou à desconfiança e aos cuidados com a segurança. As pessoas extremam-se porque há extremismos. As eleições do último domingo arrastaram para a primeira linha a esperança de que sistemas especulativos e as suas perversas medidas de austeridade, entrem em período de serenidade justa. A racionalidade e os valores sociais de um mundo verdadeiro são um adquirido a ter em conta! E, já agora, vou a França, ao Santuário de Lourdes, neste fim de semana, por motivo da Peregrinação Militar Internacional. Lisboa, 11 de Maio de 2012 D. Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança

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Em elogio do silêncio... sincero e verdadeiro

O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Este é um excerto da Mensagem do Papa Bento XVI para o dia mundial das comunicações sociais, que se celebra no domingo da Ascensão, intitulado: ‘Silêncio e palavra: caminho de evangelização’. Embora o texto citado não tenha a disposição gráfica colocada, apresentamos, a partir destes ítens, breves propostas – partindo daquilo que diz o Papa, sendo ele mesmo um protótipo daquilo que partilha neste texto – em ordem a aprendermos a viver a comunicação do silêncio e a apreciar o silêncio na comunicação: * Silêncio na comunicação Num tempo em que se vive a inflação da palavra, urge dar oportunidade ao silêncio, que é muito mais do que estar calado. Quanta verborreia impede a comunicação. Quantas vezes temos de gritar, mesmo que o interlocutor possa estar ao pé de nós, e não nos fazemos ouvir. Quantas vezes o silêncio nos pode atraiçoar pelo vazio do que não dizemos. * No silêncio conhecemo-nos... melhor, dando lugar ao outro em escuta É preciso parar e dar conteúdo àquilo que dizemos, sendo muito mais exigentes connosco mesmos do que para com os outros. Por vezes falar é mais do que dizer palavras... ocas, desconexas ou, até, impensadas. Quem tem pouco a dizer corre o risco de falar muito... e não dizer nada, deixando, assim, a nu uma vacuidade! Com efeito, o diálogo gera-se entre, pelo menos, duas pessoas que se escutam reciprocamente. Na troca de palavras entre um e outro tem de haver momentos de silêncio, por forma a que não se atropelem os intervenientes. Poderíamos dizer que o silênico é mais do que o semáforo do diálogo; é, pelo contrário, o cimento de uma boa e frutuosa conversa... tenha o assunto que possa ter... no interesse entre os participantes. * Pelo silêncio atendemos aos sinais Sem qualquer visão negativa da não-palavra podemos inferir que o silêncio é como que um permanente desafio à descoberta dos sinais com que o nosso interlocutor nos fala sem dizer e se nos revela na sua mais profunda sensibilidade àquilo que somos muito para além do que dizemos... Quantas vezes uma expressão facial nos comunica – mesmo que de forma inconsciente – o que vai na mente e na psicologia daquele com quem estamos em conversa... e de nós mesmos aos outros! * Com o silêncio vivemos em intercomunicação Quantas vezes a nossa comunicação é feita muito para além das palavras expressas – ditas ou subentendidas – no trato uns para com os outros. Quantas vezes na fácies do nosso interlocutor captamos e também ele percebe em nós concordância ou desacordo com as palavras que dizemos. O silêncio fala por nós e fala de nós. O silêncio exprime o que somos e dá-nos capacidade de entender os outros. Quantas vezes nos entendemos pelo silêncio e pelas suas variadas interjeições. O silêncio exercita a nossa capacidade de escuta sincera, verdadeira e respeitosa... sobretudo daqueles que amámos. Efetiva e afetivamente o silêncio nos obriga e nos abriga! * Do silêncio aprendemos o discernimento A força do silêncio pode levar-nos a discernir o conteúdo e a forma daquilo que dizemos, do que queremos dizer e de tantas outras linguagens que, com alguma dificuldade, nos tentamos exprimir. Por isso, o silêncio é (ou pode ser) o fiel da balança da aferição do dito, do não dito e do desejável em dizer. Com efeito, quando acabam as palavras, como que resta o silêncio – não o vazio mas aquele que está prenhe de comunicação e ávido de se dar a conhecer – onde um simples olhar, as mãos dadas ou um trejeito de cumplicidade faz toda a diferença. Se tudo isto, quanto ao silêncio, é importante no trato das pessoas umas com as outras, quanto mais o deve ser na comunicação social, onde palavra e silêncio se complementam... na devida correlação ativa e passiva! António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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07/05/12

Afecto por Cristo, desafecto pela Igreja?

1. Há estudos que revelam o que ainda poucos sabem. E há estudos que mostram o que toda a gente já conhece. A sondagem realizada pela Universidade Católica documenta o que temos sido capazes de ver mas incapazes de inverter. Ou seja, o número de católicos, apesar de continuar elevado, está a cair. Ainda são muitos (79,5%), mas são cada vez menos (há doze anos, eram 86,9%). Acresce que — aspecto importante — os portugueses não estão a ficar descrentes (estes não chegam a 10%). Estão, sim, a optar por outras confissões cristãs, por outras religiões ou, então, por cultivar a fé longe de qualquer enquadramento institucional. Tudo somado, temos vastas matéria para reflexão e muitas pistas para a missão. Desde logo, importa retomar a interpelação deixada por Joseph Ratzinger nos anos 70: estará a ser a Igreja uma via ou um obstáculo para a busca de Deus e o anúncio de Cristo? 2. Para se aferir a pujança de uma igreja, a multidão é pouco e o culto não é tudo. Estes indicadores, embora relevantes, são insuficientes para conferir a totalidade do que está em causa. Eles tipificam o que se refere ao ocasional, isto é, ao que se passa durante certos momentos do ano, do mês ou da semana. Mas não permitem colher o que ocorre de forma constante. Os estudos avaliam o mensurável, designadamente o envolvimento com a instituição Igreja. Mas a fé tem muito que não é mensurável: a relação com Deus e com as pessoas a partir de Deus. 3. Estes trabalhos quantificam, habitualmente, o que se refere ao «vir». O que se apresenta são números e percentagens sobre aqueles que «vêm» à Igreja. Sucede que, sendo a Igreja por natureza missionária (como recordou Paulo VI), o primeiro movimento é «ir». E este «ir» há-de visar não apenas «atrair», mas também (e acima de tudo) «repartir». Num tempo em que muitos chamam seu ao que é comum, é determinante que cada um se disponha a chamar comum ao que é seu. Trata-se daquele «comunalismo» desenhado nos Actos dos Apóstolos e que tanto impressionava os contemporâneos dos cristãos da primeira hora (cf. Act 4, 32). 4. Nos tempos que correm, a fenomenologia da descrença mantém-se residual. Ora, isto contradiz, uma vez mais, a ideia, difundida por alguns, do «eclipse de Deus» na sociedade. O encanto por Deus mantém-se. O desencanto pela Igreja é que se acentua. Como inverter esta última tendência? Propostas haverá muitas, mas todos os caminhos terão de passar por um duplo eixo: espiritualidade e solidariedade. As pessoas valorizam, cada vez mais, a vivência de Deus no seu interior e anseiam por um testemunho de Deus no exterior. Trata-se, em suma, de uma «sócio-espiritualidade». A Igreja cai sempre que se aquieta e cresce sempre que se inquieta. A Igreja tem de se «des-centrar» para se «re-centrar». Tem de se «des-centrar» de si para se «re-centrar» naquele que era o duplo centro para Jesus. Deus e o Homem. Tal como para Jesus, também na Igreja Deus tem de ser a prioridade e o Homem o caminho. Já dizia o apóstolo João: «Quem ama a Deus, ame também a seu irmão»(1Jo 4, 21)! João António Pinheiro Teixeira teólogo

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Colaboração... Aproveitamento... ou promiscuidade?

Contam-nos os Evangelhos Santos que um certo dia, em hora esquiva e no meio de uma praça, uns maldosos fariseus perguntaram ao bom Jesus se pagar impostos ao divino imperador estava certo ou era errado e que Ele, pedindo uma moeda e lendo a inscrição, lhes respondeu sem rodeios: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Esta resposta do Senhor sempre foi entendida como indicação de que o poder político e o poder religioso se não deviam misturar, sobrepor ou confundir. Apesar desta sapientíssima afirmação e desta notável e definitiva sentença, que sempre deviam ser respeitadas e postas em prática, houve tempos em que a Igreja influenciou abusivamente a Política do país, e épocas em que a Política se imiscuiu na Religião, inspeccionando-a, dominando-a, e controlando-a como se fosse coisa sua. Quem não recorda, entre muitas outras situações, o “beneplácito régio” inaugurado logo por D. Pedro I, a nomeação abusiva dos líderes religiosos feita pelos governos liberais de acordo com as suas cores e conveniências, a apropriação dos bens da Igreja pelos governos republicanos, e a subserviência da Igreja ao Governo durante o regime do Estado Novo, para não falar de outras situações? Acontecido o “25 de Abril”, desabrochados os cravos da liberdade e floridas as rosas da democracia, supostamente com maior independência para a Igreja, tem vindo o Estado e as Autarquias a comparticipar e a subsidiar algumas das suas obras, colaborando assim com quem serve o povo generosa e desinteressadamente, nada mais tendo ao seu dispor que as esmolas e as ofertas desse povo, sempre exíguas. Por seu lado, a Igreja, através das Misericórdias e das Paróquias, além de cuidar da pobreza, da velhice e da doença, poupando imensos custos ao Estado e servindo quiçá com mais amor, cede espaços aos autarcas quando os pedem e deles têm necessidade, e até disponibiliza os seus bons ofícios para levar ao povo as informações e os avisos que pelos mesmos autarcas lhe são solicitados. E bem. A colaboração, quando leal, sincera e desinteressada, de parte a parte, é para se louvar, admirar e bendizer. Infelizmente, porém, não é assim. Há situações que julgo impróprias, abusivas, inconvenientes, diria até escandalosas. A procura de dividendos políticos em cada apoio que se concede às igrejas, intuitivo e evidente algumas vezes, apesar de encapotado quase sempre, não é inocente, nem belo, nem digno, nem honesto. Não é a primeira vez que, em inaugurações de obras da Igreja, políticos de famílias opostas se põem até em bicos de pés para verem quem leva mais dividendos. Apenas a título de exemplo, e com a humildade de quem não é perfeito e também falha muitas vezes, tenho de dizer que não acho bem que seja um autarca a redigir o Programa de celebrações religiosas numa cidade ou numa vila e a assinar o Convite para as cerimónias que do programa fazem parte, ou que sejam Juntas de Freguesia a tomar a iniciativa de promover e realizar obras nas igrejas das paróquias, dirigindo-as, pagando-as e inaugurando-as. A Igreja, as suas Obras e as suas Celebrações não podem nem devem ser nunca trampolim para políticos ou lugar de campanhas eleitorais. Não reputo também correcto que os membros da Comissões Fabriqueiras das Igrejas sejam também os membros da Junta de Freguesia e que os espaços e instalações duma Paróquia se confundam com os da correspondente Autarquia. Tais promiscuidades, que não são assim tão raras, poderão funcionar mais ou menos bem por algum tempo, mas, mais cedo ou mais tarde, vão causar problemas de toda a ordem e, em alguns casos, já causaram. Penso que é urgente e necessário promover e defender a independência das instituições religiosas em relação ao poder político. Que os políticos nos ajudem a servir melhor o povo, é uma coisa bonita, que nós agradecemos. Mas que desejem ou procurem controlar-nos, aproveitar-se de nós e das nossas obras, ou politizar as nossas instituições, é coisa que repudiamos vivamente. Colaboração, sim. Promiscuidade, nunca. O Mestre tinha razão antes do tempo. "A César o que é de César…a Deus o que é de Deus"! Resende, 02.05. 2012 J. Correia Duarte

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Por aí Timor continuará a dizer: não vou por aí?

A história, para simplificar, pode resumir-se a uma série de aliciamentos político-religiosos a que os Timorenses foram respondendo desde o século XIV: não vou por aí, aos quais se refere o livro do autor “40 dias em Timor-Leste”. Nesta visita a Timor em vésperas de eleições presidenciais e em breve das legislativas, ao ouvir alguns comentários sobre problemas que Timor enfrenta a questão do título é atual. Fala-se com insistência da ameaça da corrupção crescente a dar sinais. O dinheiro do petróleo desaparece e as obras não aparecem feitas nem a pobreza deduzida. Uns levam a parte maior mediante truques de corrupção; outros mostram-se desmotivados nas suas obrigações e iniciativas em favor do bem comum, a começar por autoridades e cidadãos comuns. Surgem reações dirigidas contra altos funcionários e contra as agências com estrageiros que vão recebendo salários chorudos. Os missionários começam a recear que também as suas obras sejam alvo de descontentamento. E a isto soma-se noutros o receio de perderem as vantagens devido à anunciada próxima saída dos organismos da ONU. Timor irá agora dizer: não vou por aí! Não vou pela corrupção globalizada que ameaça instalar-se em Timor? Outras vozes insistentes comentam e criticam a polémica decisão sobre o ensino do tétum e do português nas escolas. Tem avançado com algumas deficiências mas também com alguns progressos que vão corrigindo os efeitos da imposição da língua indonésia durante mais de vinte anos em vez do tétum e a proibição do português na escolas que o ensinava antes da invasão. O governo revolucionário logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e o governo legítimo pós a independência optaram pelo português como língua oficial. Agora que tudo começava a progredir aparece alguém a criar problema. Ao perguntarem-me em entrevista na TV o que pensava do ensino das línguas maternas antes do tétum e do português pensei nas 15 línguas locais mas disseram-me que eram outras tantas, trinta! Ensinar 30 línguas num país tão pequeno? Pensei e reagi: o país está a iniciar um processo novo na sua unificação, após séculos de reinos independentes a guerrearam-se continuamente (ver: Os Antigos Reinos de Timor de D. Carlos Ximenes Belo, 2012) e vão de novo criar divisões e confusão com trinta “línguas” e impedir que se entendam com duas? Surgiram reações contra a ideia aqui e ali. A catequese é em tétum, nas escolas usa-se o português; o ensino de 30 línguas maternas no território só pode trazer complicações para professores que não as sabem, para os estudantes e para a cidadania pelas fragmentações e desigualdades que se vão criar no país. Contra a ideia comenta-se que haverá ali mão australiana a “empatar” o ensino do português para criar espaço ao inglês. E há vozes de que se trata de intriga de pessoa da espionagem a manipular pessoa do governo a favor de interesses misteriosos. Nem faltaria a deslealdade em tudo isso. Só conspiração? Esperemos que Timor também desta vez saiba dizer: não vou por aí! Timor precisa de identidade e unidade. A primeira é-lhe dada em primeiro lugar pela adesão da maioria à Igreja Católica e pela ligação de sangue e de afetos aos portugueses; e a segunda pela independência e um governo único. O que Timor precisa agora mais para consolidar uma e outra é que todos os seus cidadãos se venham a entender com facilidade no essencial quando se encontram em qualquer parte do território e nos relacionamentos quotidianos. Fevereiro, 2012 Aires Gameiro

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04/05/12

Engrandecimento da mãe

Na proximidade ao ‘dia da mãe’ gostaria de envolver num grande preito de agradecimento e de engrandecimento todas as mães pelo muito que fizeram pelo mundo... seja no seu espaço mais próximo, seja pelas implicações mais abrangentes em maternidade: Dom de Deus, vós sois o que há-de mais terno e que nos fala do divino, Indicando a fonte da vida, sois o receptáculo do amor, feito pessoa em cada filho/a, Apontais para a meta onde Deus vive e reina... eternamente. De cada momento de entrega, recebemos maior ternura, Ao longo do nosso existir somos aquilo que foi gerado em vosso seio... Mulher, filha, amiga, esposa... é, sobretudo, como mãe que a vossa tarefa é sublime: Amparai-nos em vosso regaço, nas horas de tristeza, de dúvida ou de alegria, Envolvendo-nos na confiança da maternidade ... sempre nova e em esperança! Obrigado a todas as mães que o foram e o são e perdão para todas as que ofenderam este dom de Deus. Com Maria, mãe de Jesus e nossa mãe, engrandecemos as que hão-de sê-lo com consciência e em serviço à vida. António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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Aborto repetido cresceu... em cinco anos

Segundo dados disponíveis da Direção geral de saúde e do Instituto nacional de estatística, desde a entrada da nova lei do aborto, de 2007, com cobertura (ou discriminalização) até às dez semanas, podemos encontrar que: - Desde 2005, terá havido – nos números de uma associação pró-vida – 80 mil ‘interrupções da gravidez’ em espaços legalizados, sendo 13.500 repetições; - No entanto, outros números ‘oficiais’ apontam para estoutros dados: em 2008 verificaram-se 15 mil casos; em 2009 são reportados 34 mil situações; em 2010 houve 54 mil ‘interrupções’, sendo 4651 repetições, das quais 978 são dois ou mais abortos. - Embora se tenha verificado – ou assim se diz, mas porque não há dados oficiais credíveis, tudo poderá não passar de conjetura! – uma diminuição do (dito) aborto clandestinado, estes números teem de nos fazer refletir, bem como àqueles que tanto lutaram pela salvaguarda da vida e da (pretensa) saúde da mulher... Se olharmos esta questão pelo lado económico, quanto pode custar uma (dita) ‘interrupção voluntária da gravidez’ de forma legal e num espaço legalizado? Segundo dados, que fomos recolhendo, pode custar, em média, mil euros cada ato... Agora é só fazer as contas sobre os gastos suportados – normalmente – pelo erário público, nestes anos, por esta (pretensa) descriminalização do aborto! *** Tendo na devida conta estas informações podemos/devemos – sem qualquer intuito fundamentalista nem sequer acusatório – questionar quem defende tanto a vida e a sua qualidade, quem diz defender a mulher e a sua promoção, quem, de forma capciosa, se diz progressista (só) porque defende a morte... mesmo que com ‘qualidade’. = O aborto não terá passado a ser uma espécie de controle da natalidade em vez de ser um processo de educação para a responsabilidade dos mais novos e, sobretudo, dos mais velhos? = Para onde caminha este país que mata mais do que defende os indefesos? = Como poderemos ter uma segurança social sustentável se gastamos milhares de euros em espaços de não-vida em vez de incentivarmos a correta sexualidade e a sua sustentação? = Mesmo sem decreto não estaremos já sob a ditadura do filho único, que muitas vezes, não passa de um problema intolerável? = Com certos projetos de ‘família’ – sobretudo no (pretenso) aparelhamento de pessoas do mesmo género – não estaremos a engrossar ainda mais os números abortivos? *** Pelo que conhecemos dalgumas situações, parece que, nesta questão do aborto, se tem falado em excesso a partir da perspetiva da mulher, relegando o homem para uma instância de somenos importância. Por isso, seria útil que fossem trazidos à luz da memória – com todos os confrontos psicológicos atinentes – os traumas de homens que foram usados – direta ou inconscientemente – em situações abortivas. Conhecemos, pelo menos dois casos, já falecidos, em que a vida desses homens se tornou insuportável depois de as (ditas) namoradas terem abortados sem o seu consentimento. Quer num quer noutro dos casos, esses homens deixaram degradar a sua personalidade... até ao ponto da morte precoce. Torna-se, por isso, urgente exorcizar uns tantos fantasmas feministas ou até de outros falsos defensores da mulher, quando não a escutam por referência à dor da perda e da mágoa... para consigo mesma e para sempre. Afinal, abortar ainda é matar... mesmo que tenha sido discriminalizado! António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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