Em elogio do silêncio... sincero e verdadeiro
O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Este é um excerto da Mensagem do Papa Bento XVI para o dia mundial das comunicações sociais, que se celebra no domingo da Ascensão, intitulado: ‘Silêncio e palavra: caminho de evangelização’. Embora o texto citado não tenha a disposição gráfica colocada, apresentamos, a partir destes ítens, breves propostas – partindo daquilo que diz o Papa, sendo ele mesmo um protótipo daquilo que partilha neste texto – em ordem a aprendermos a viver a comunicação do silêncio e a apreciar o silêncio na comunicação: * Silêncio na comunicação Num tempo em que se vive a inflação da palavra, urge dar oportunidade ao silêncio, que é muito mais do que estar calado. Quanta verborreia impede a comunicação. Quantas vezes temos de gritar, mesmo que o interlocutor possa estar ao pé de nós, e não nos fazemos ouvir. Quantas vezes o silêncio nos pode atraiçoar pelo vazio do que não dizemos. * No silêncio conhecemo-nos... melhor, dando lugar ao outro em escuta É preciso parar e dar conteúdo àquilo que dizemos, sendo muito mais exigentes connosco mesmos do que para com os outros. Por vezes falar é mais do que dizer palavras... ocas, desconexas ou, até, impensadas. Quem tem pouco a dizer corre o risco de falar muito... e não dizer nada, deixando, assim, a nu uma vacuidade! Com efeito, o diálogo gera-se entre, pelo menos, duas pessoas que se escutam reciprocamente. Na troca de palavras entre um e outro tem de haver momentos de silêncio, por forma a que não se atropelem os intervenientes. Poderíamos dizer que o silênico é mais do que o semáforo do diálogo; é, pelo contrário, o cimento de uma boa e frutuosa conversa... tenha o assunto que possa ter... no interesse entre os participantes. * Pelo silêncio atendemos aos sinais Sem qualquer visão negativa da não-palavra podemos inferir que o silêncio é como que um permanente desafio à descoberta dos sinais com que o nosso interlocutor nos fala sem dizer e se nos revela na sua mais profunda sensibilidade àquilo que somos muito para além do que dizemos... Quantas vezes uma expressão facial nos comunica – mesmo que de forma inconsciente – o que vai na mente e na psicologia daquele com quem estamos em conversa... e de nós mesmos aos outros! * Com o silêncio vivemos em intercomunicação Quantas vezes a nossa comunicação é feita muito para além das palavras expressas – ditas ou subentendidas – no trato uns para com os outros. Quantas vezes na fácies do nosso interlocutor captamos e também ele percebe em nós concordância ou desacordo com as palavras que dizemos. O silêncio fala por nós e fala de nós. O silêncio exprime o que somos e dá-nos capacidade de entender os outros. Quantas vezes nos entendemos pelo silêncio e pelas suas variadas interjeições. O silêncio exercita a nossa capacidade de escuta sincera, verdadeira e respeitosa... sobretudo daqueles que amámos. Efetiva e afetivamente o silêncio nos obriga e nos abriga! * Do silêncio aprendemos o discernimento A força do silêncio pode levar-nos a discernir o conteúdo e a forma daquilo que dizemos, do que queremos dizer e de tantas outras linguagens que, com alguma dificuldade, nos tentamos exprimir. Por isso, o silêncio é (ou pode ser) o fiel da balança da aferição do dito, do não dito e do desejável em dizer. Com efeito, quando acabam as palavras, como que resta o silêncio – não o vazio mas aquele que está prenhe de comunicação e ávido de se dar a conhecer – onde um simples olhar, as mãos dadas ou um trejeito de cumplicidade faz toda a diferença. Se tudo isto, quanto ao silêncio, é importante no trato das pessoas umas com as outras, quanto mais o deve ser na comunicação social, onde palavra e silêncio se complementam... na devida correlação ativa e passiva! António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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