Jornal de Opinião

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07/05/12

Por aí Timor continuará a dizer: não vou por aí?

A história, para simplificar, pode resumir-se a uma série de aliciamentos político-religiosos a que os Timorenses foram respondendo desde o século XIV: não vou por aí, aos quais se refere o livro do autor “40 dias em Timor-Leste”. Nesta visita a Timor em vésperas de eleições presidenciais e em breve das legislativas, ao ouvir alguns comentários sobre problemas que Timor enfrenta a questão do título é atual. Fala-se com insistência da ameaça da corrupção crescente a dar sinais. O dinheiro do petróleo desaparece e as obras não aparecem feitas nem a pobreza deduzida. Uns levam a parte maior mediante truques de corrupção; outros mostram-se desmotivados nas suas obrigações e iniciativas em favor do bem comum, a começar por autoridades e cidadãos comuns. Surgem reações dirigidas contra altos funcionários e contra as agências com estrageiros que vão recebendo salários chorudos. Os missionários começam a recear que também as suas obras sejam alvo de descontentamento. E a isto soma-se noutros o receio de perderem as vantagens devido à anunciada próxima saída dos organismos da ONU. Timor irá agora dizer: não vou por aí! Não vou pela corrupção globalizada que ameaça instalar-se em Timor? Outras vozes insistentes comentam e criticam a polémica decisão sobre o ensino do tétum e do português nas escolas. Tem avançado com algumas deficiências mas também com alguns progressos que vão corrigindo os efeitos da imposição da língua indonésia durante mais de vinte anos em vez do tétum e a proibição do português na escolas que o ensinava antes da invasão. O governo revolucionário logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e o governo legítimo pós a independência optaram pelo português como língua oficial. Agora que tudo começava a progredir aparece alguém a criar problema. Ao perguntarem-me em entrevista na TV o que pensava do ensino das línguas maternas antes do tétum e do português pensei nas 15 línguas locais mas disseram-me que eram outras tantas, trinta! Ensinar 30 línguas num país tão pequeno? Pensei e reagi: o país está a iniciar um processo novo na sua unificação, após séculos de reinos independentes a guerrearam-se continuamente (ver: Os Antigos Reinos de Timor de D. Carlos Ximenes Belo, 2012) e vão de novo criar divisões e confusão com trinta “línguas” e impedir que se entendam com duas? Surgiram reações contra a ideia aqui e ali. A catequese é em tétum, nas escolas usa-se o português; o ensino de 30 línguas maternas no território só pode trazer complicações para professores que não as sabem, para os estudantes e para a cidadania pelas fragmentações e desigualdades que se vão criar no país. Contra a ideia comenta-se que haverá ali mão australiana a “empatar” o ensino do português para criar espaço ao inglês. E há vozes de que se trata de intriga de pessoa da espionagem a manipular pessoa do governo a favor de interesses misteriosos. Nem faltaria a deslealdade em tudo isso. Só conspiração? Esperemos que Timor também desta vez saiba dizer: não vou por aí! Timor precisa de identidade e unidade. A primeira é-lhe dada em primeiro lugar pela adesão da maioria à Igreja Católica e pela ligação de sangue e de afetos aos portugueses; e a segunda pela independência e um governo único. O que Timor precisa agora mais para consolidar uma e outra é que todos os seus cidadãos se venham a entender com facilidade no essencial quando se encontram em qualquer parte do território e nos relacionamentos quotidianos. Fevereiro, 2012 Aires Gameiro

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