Jornal de Opinião

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27/02/10

Quem merece, verdadeiramente, a nossa confiança?

Num recente inquérito de um jornal católico diário sobre a questão: ‘Em quem confia mais’, com cerca de quinhentas respostas, foram apurados os seguintes resultados: 37% confiam nos jornalistas, enquanto 23% dão crédito aos padres, 18% aos polícias, 12% aos políticos e 10% aos tribunais.

Atendendo à relativa complexidade de quem é que merece a nossa confiança, talvez seja de questionar séria, serena e sinceramente o alcance sócio/profissional dos sectores atingidos, pois na sua maioria tem relevo o contacto com os outros e, por isso, cada qual é mais do que aquilo que representa e/ou significa.

Desde logo a confiança que os outros nos merecem advém das expectativas que neles colocamos, pois nós somos pessoas em relação: dando e recebendo, comunicando e entendendo... num quadro de linguagem onde fazemos e somos feitos pela cultura que nos envolve e, muitas vezes, nos molda sem nos darmos totalmente conta.

- Se atendermos ao contexto de este inquérito ter por pano de fundo a actividade de comunicação social, feita profissionalmente por jornalistas, poderemos como que vê-los como parte interessada e talvez até interesseira na boa cotação e receptividade social. Mas será que estes profissionais são anódinos e independentes? Não teremos de saber – mesmo à luz da mais recente polémica com os actores políticos e/ou governamentais – que o nosso quadro português de comunicação social se reduz a três ou quatro grupos (económicos, ideológicos e comerciais) transversais à versão escrita, à radiofónica, à televisionada, à virtual... tanto política, como artística ou desportiva? Não teremos de denunciar que, aureolados de bons, muitos dos nossos jornalistas nem sempre pensam (tão) desinteressadamente como se julga? Não será de ter em conta que esta profissão é das poucas que fala mais dos outros e que bastante pouco questiona o seu dogmatismo... informativo?

- Deixem, por isso, que tente interpretar a razoável desacreditação dos padres e até dos polícias, pois num entendimento de serviço aos outros, tanto os clérigos como os defensores da ordem (pública ou privada) terão perdido o respeito também em razão de algumas campanhas – bem urdidas e melhor difundidas – por certa comunicação social, que explora mais os escândalos do que as boas práticas, muito embora aqueles vendam e estas possam ser entendidas como normalidade dos comportamentos esperados. Sem qualquer ressentimento como que poderemos considerar que parece que o serviço altruísta vai degenerando ao sabor da desautorização moral, social e (até) intelectual de uns tantos por novas minorias de intocáveis... nas regalias adquiridas.

- Que dizer, por outro lado, da parca confiança que merecem os políticos e os tribunais? Não serão estes sectores os resultados da sociedade em que vivemos? Ou não será que estes dois sectores são reflexo da cultura de onde procedem? A qualidade do segundo (legislativo) e do terceiro poder (judiciário) estão sob o escrutínio de quem informa e – quantas vezes! – até manipula, deixando-lhes magro espaço de manobra e à mercê mais da reclamação e da correcção do dito, falado ou mostrado... do que da sintonia com o público e as populações. Efectivamente há muitos filtros entrepostos que condicionam a leitura de quem está na vida política e (mesmo) nas teias da Lei. Quantas vezes as ideologias e os lóbis fazem mais mal do que o deficiente exercício de certas tarefas e funções! Quantas vezes os códigos de conduta são vilipendiados à custa de interesses menos claros, senão mesmo obscuros e subterrâneos! Quantas vezes parece mais interessar a promoção dos medíocres do que dos mais capazes, pois outros se aproveitarão deles para se catapultarem à custa da ignorância dos incautos!

De facto, a confiança não se mede pelo resultado dos inquéritos – de opinião ou de sensacionalismo – mas antes se constrói na abertura às capacidades dos outros pelo serviço que lhes vamos prestando...desinteressadamente! A chave do sucesso não está na confiança que esperamos que os outros tenham em nós, mas na abertura à confiança que nós temos nos outros... humildemente!

A. Sílvio Couto

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