Ao compasso do tempo - 22 de Junho de 2012
É perguntado ao futuro bispo, na sua ordenação, “se quer ser compassivo com os pobres, os deslocados e todos os que precisam”. A resposta, conforme o ritual, é: “Sim, quero”. Compassivo pode parecer equívoco pela sua sentimentalidade. O grande teólogo Metz tem o cuidado de afastar essas interpretações afectivas, para sublinhar que, na realidade, o conceito traduz a percepção do sofrimento dos outros, tomando parte nesses aspectos dolorosos e conferindo-lhes as devidas soluções (Igreja e Missão, n. 204-206, 2007, ps 437-439). É bem conhecida a afirmação do citado teólogo, nas suas últimas produções: mais que solícito pelos pecadores (indiscutível na Sua Missão), Jesus Cristo é, antes de mais, presença junto dos sofrimentos do mundo. Nesta perspectiva, mostra-se a força do Cristianismo, uma força que toca e penetra o mundo. Ele envia os cristãos para a frente dos conflitos fundamentais da história presente. Ele define “a mística da compaixão enquanto mística política” (cf. citação feita). No pão, arredio da mesa, no acolhimento aos refugiados e migrantes, na cura dos direitos, tão difíceis de se verem postos em prática, na cultura da cidadania fraterna e civilizada… reside um campo sem fim, onde o empenhamento solucionador é um programa de reflexão, de estudo e de acção. Os critérios evangélicos, que regem este “ver, julgar e agir”, são muito exigentes em ordem à mudança de situações. O Papa Bento XVI bem apontou estas metas aos bispos de Portugal, em Fátima, a 13 de 2010: “Continue bem vivo no país o vosso testemunho de profetas de justiça e da paz, defensores dos direitos inalienáveis da pessoa, juntando a vossa voz à dos mais débeis a quem tendes sabiamente motivado para ter voz própria, sem temer nunca levantar a voz em favor dos oprimidos, humilhados e molestados”. Levantar a voz? Terei lido bem? No diálogo da Igreja com o mundo, evocando os 50 anos do Concílio Vaticano II, estas direcções pastorais bem precisam de ser conhecidas e exercitadas, pondo de lado possíveis preconceitos ou ideias menos claras e menos distintas. Os conceitos bem urgem gozar de clareza, porque a realidade da sociedade de hoje oferece-nos, e de forma gradual crescente, um conjunto de sofrimentos e de mal estar, que o pensamento não pode viver sossegado. O “Livro do Desassossego” brotou destes estados de alma. Lisboa, 22 de Junho de 2012 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
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