Jornal de Opinião

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26/09/11

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 23 de Setembro de 2011

Já previa que tal sucedesse… A uma simples declaração, vinda da Conferência Episcopal, onde eram destacadas as razões do último recurso da greve, pus-me imediatamente o problema das consequências… Neste contexto sensível, em que o país está mergulhado, um comentário dessa índole (conforme foi publicado) é uma garrafa de gás, sob a pressão de um fósforo.

É como trazer à boca do palco a teoria da legítima defesa, no concernente a certas questões.
Em entrevista à TSF, há uma semana, declarei que, na ambiência dos nossos dias, o juízo citado iria gerar hostilidades. E foi o caso. No “Público” de 21 de Setembro, p. 35, pode ler-se: “ A Igreja, por exemplo, acaba de se juntar ao primeiro-ministro e parece querer interferir na liberdade da manifestação e no direito à indignação dos portugueses. O caminho indicado, pasme-se, foi tentar condicionar os sindicatos, dizendo-lhes que o direito à greve deve ser exercido com temperança”.

Não nego o último recurso… Nem creio que a afirmação, de modo frio, seja a relatada. Mas, seja o que for, do meu “cantinho” sinto-me na obrigação de clamar que esta não pode ser a posição da Igreja em Portugal. Por mim, nunca este será o pronunciamento oficial. Quem está ao lado do freio, vive deslocado do direito. Só que não acredito que fosse este o sentido do comentário proferido.

Estamos a atravessar um período em que, em nome do salvacionismo, tudo é patriótico e produtivo. Mesmo que as promessas sejam ao contrário, e, pior do que isso, se dê culto e devoção ao contraditório.

Bem sei que a pragmatismo derruba os melhores propósitos. Só que não posso advogar as soluções práticas que colidam com promessas e propósitos de mudança. A verdura da inexperiência dá destes frutos e tristezas.

É oportuno ouvir, ter confiança, unir e reconciliar, cultuar a lealdade, dominar com humildade a direcção do caminho, e, conforme se escreve, saber com tempo fazer “os trabalhos de casa”.

Tantas promessas a respeito de uma nova humanidade…! Mas, quando a pena de morte é a sacralizarão do assassínio, em alguns estados dos Estados Unidos, é de perguntar que diferença entre a barbárie e a civilização?!

Quando se luta pela inocência, e se vive o apocalipse, como poderei eu acreditar que a Humanidade nada quer com a abominação?

Como poderá a gente portuguesa ter a certeza de que, nos próximos tempos, não se lance mão de novos apoios financeiros, aos quais deverá corresponder o chamado “patriotismo” de quem deve pagar o que outros devem!
A moralidade é empresa muito complexa!


MDN – Capelania Mor, 23 de Setembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança


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