O Papa da Amizade
Visita de Bento XVI a Portugal - 11 a 14 de Maio de 2010
Por ser cristão e compreender que a visita de um Papa ao nosso país se traduz num acontecimento extraordinário, tanto para a Igreja Portuguesa como para quase todos, resolvi colocar por escrito a importância da sua vinda até nós.
A ideia de muitas pessoas, inclusive a minha, era de que estava para vir um Papa a Portugal muito marcado pelos tempos de quando era Prefeito para a Doutrina da Fé. Portanto um grande teólogo, filósofo e músico mas também uma figura rígida, fria e austera.
Contudo a sua visita vem deitar por terra qualquer estereótipo que se poderia ter sobre o Papa Bento XVI.
E a sua mensagem começa em plena viagem de Roma-Lisboa, ao dizer com toda a verdade e clareza que a Igreja tem pecados e que quem os comete são pessoas ligadas a ela, necessitando por isso de uma purificação profunda.
Depois as suas primeiras palavras, já no aeroporto de Figo Maduro em Lisboa, começaram por desvendar a sua intelectualidade, mas, ao mesmo tempo, a sensibilidade que demonstrou quando disse que vinha para falar a todos (sem excepção, diga-se, cristãos e não cristãos)e também se referiu a Portugal como pátria amiga.
Como tal, considero Bento XVI o Papa da Amizade porque quase sempre em todos os seus discursos fez questão de fazer referência à amizade, ao amor que os cristãos jovens e adultos devem ter para com Cristo e a Igreja.
Em Lisboa, a celebração do Terreiro do Paço é marcada pelo seu belo discurso onde menciona a importância que Portugal e em especial a cidade de Lisboa tiveram na evangelização e dilatação da Palavra de Deus, pedindo que continuemos a espalhar essa mesma Palavra de Deus anunciada por tantos santos portugueses.
Bento XVI demonstrou igualmente um afecto muito grande pela juventude e o seu à-vontade no pequeno discurso que fez aos jovens nessa noite deixou-nos claramente a ideia de que o Papa se preocupa com a juventude; que o Papa nutre um enorme carinho pelos jovens; que o Papa quer estar com os jovens.
A sua simplicidade continuou quando rompeu com o protocolo de estado e se deslocou em direcção a umas crianças. Mais uma vez é-nos demonstrada a sua amizade pelos que o vêm ver, por aqueles que estiveram horas a fio à sua espera e com esperança de um pequeno gesto da sua parte, como um aceno, um olhar, um sorriso, um cumprimento,…
No encontro com o mundo da cultura, as suas palavras foram de uma beleza encantadora, referindo que a cultura foi ao longo dos tempos marcada pelo Cristianismo. De seguida admitiu que a Igreja necessita de se actualizar e de continuar a proclamar a verdade no mundo da cultura. Fez igualmente referência à alma portuguesa. E cito as palavras de Sua Santidade no discurso que proferiu neste mesmo encontro:
” Prezados amigos, há toda uma aprendizagem a fazer quanto à forma de a Igreja estar no mundo, levando a sociedade a perceber que, proclamando a verdade, é um serviço que a Igreja presta à sociedade, abrindo horizontes novos de futuro, de grandeza e dignidade.”
Fátima é, sem dúvida, o momento alto desta viagem de Bento XVI. Ele, ao ter afirmado que é um peregrino de Fátima, colocou diante de Nossa Senhora todos os problemas do mundo e o sofrimento em que a Igreja se encontra mergulhada. Foram momentos intensos de entrega pessoal a Nossa Senhora.
Mais tarde pede a todos os cristãos que não tenham medo de falarem de Deus, de se assumirem como crentes e de apresentarem sem qualquer vergonha os sinais da Fé.
Depois, já na recitação do Rosário, Bento XVI mostra uma vez mais um gesto belo e de profunda comunhão para com todos os cristão ali presentes. Fez questão de recitar o rosário por meio do terço que lhe fora oferecido pelo bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto.
Bento XVI na homilia do 13 de Maio mostra mais uma vez que a humanidade está em sofrimento e precisa da bênção de Nossa Senhora. Ele que se encontra ali aos seus pés como um simples peregrino juntamente com os demais.
O Papa veio a Fátima rezar por toda a humanidade e de certa forma rezar pela Igreja Católica face aos acontecimentos recentes.
É deste modo que refere que a missão de Fátima encontra-se por concluir. Ou seja, há muito sofrimento e miséria que só é ultrapassável com muito amor e fraternidade.
Relativamente ao encontro que teve com a pastoral Socio-Caritativa, Bento XVI relembra a necessidade de protegermos a Família contra os atentados como o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O Papa também quis fazer uma referência positiva do bom trabalho que a Igreja realiza nas diversas valências tais como as actividades educativas e caritativas, pedindo que as mesmas “sejam completadas com projectos de liberdade que promovam o ser humano, na busca da fraternidade universal”.
No encontro com os Bispos portugueses, o Papa Bento XVI lamenta os cristãos que se envergonham de testemunhar Cristo, nas várias áreas da sociedade, político, económico e da comunicação. Pede ainda que haja um laicado mais maduro capaz de enfrentar as dificuldades.
O Papa pediu ainda aos bispos portugueses que promovam “uma cultura e uma espiritualidade de caridade e de paz”.
Bento XVI agradeceu também a “determinação” com que os Bispos de Portugal o acompanham num momento em que “o Papa precisa de abrir-se ao mistério da Cruz, abraçando-a como única esperança”.
Na homilia feita pelo santo padre na cidade do Porto, reforça mais uma vez a necessidade dos cristãos serem missionários de Cristo neste mundo tão degradado.
Bento XVI diz ainda que “nestes últimos anos, alterou-se o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade; hoje a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos.”
Portanto é preciso rasgar com tempos antigos e debater novas questões de carácter tão profundo para a Igreja como para a sociedade em geral.
Finalizo o meu pensamento afirmando de modo muito honesto que a imagem que as pessoas tinham do Papa foi-se alterando ao longo desta visita de uma forma positiva e, diria de uma forma muito profunda.
Bento XVI conseguiu conquistar os corações dos fiéis.
Os cristãos começaram a entender Bento XVI como o Papa que está próximo, que sorri, que é amigo e gentil.
Professor Tito Romeu
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