Jornal de Opinião

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19/04/10

Os casos de pedofilia na Igreja... A minha reflexão

Os meus queridos leitores conhecem muitos sacerdotes. Conhecem algum pedófilo? Sabem de algum que seja abusador de crianças?

A pergunta vem a propósito desta cachoeira de notícias que os canais de televisão, as revistas semanais e os jornais diários, portugueses e estrangeiros, têm vindo a enviar-nos... repetidas e exploradas de um modo insistente, às vezes doentio, uma e outra vez.
Quem lê e ouve essas notícias, se não estiver bem avisado e prevenido, até conclui que a pedofilia entre os membros do clero é um mal generalizado e sem remédio. Nem me admira até que os pais católicos, com receio de que os seus filhos sejam abusados pelos seus párocos, pensem, uma e outra vez, se poderão ou deverão deixar as suas crianças e os seus adolescentes à igreja e a catequese! A dar-se crédito aos jornalistas e a alguns comentadores, o caso não é para menos!
Segundo consta, é verdade que existiram abusos sexuais de crianças e adolescentes por parte de alguns padres em alguns países e, pelo que se diz, não foram poucos e duraram tempo de mais. As últimas notícias falam-nos de 130 padres pedófilos conhecidos no mundo, só nos últimos 10 anos. Não há dúvida nenhuma que isto é uma vergonha! O comportamento destes padres é uma enormíssima mancha na Igreja de Jesus: a nossa querida Igreja!
Mas, generalizar a culpa e estender o labéu aos ministros da Igreja toda, como parecem fazer alguns jornalistas da nossa praça e muitos comentaristas de blogs e de face books…é um grave e indesculpável abuso que eu quero repudiar vivamente.
Que percentagem de sacerdotes no mundo cometeram ou cometem o crime e são abusadores de crianças?
Porque se fala tanto e com um especial acinte dos “pecados da Igreja” e das “culpas do Papa”? Por detrás deste acinte, não estará uma tentativa de denegrir a igreja e descredibilizar o papa, por parte de um “laicismo vesgo” que pretende eliminar a Fé e a Religião das nossas sociedades europeias e impor um “relativismo” sem peias e sem razão?
Uma Igreja que se declara corajosamente a favor da Vida e da Família é uma forte obstáculo a quem defende o aborto, a eutanásia, o casamento de pessoas homossexuais e pretende instaurar no mundo uma sociedade sem princípios e sem valores. Há que descredibilizá-la. Há que tirá-la do combate. E esta é uma oportunidade a não perder!
Não ponho em causa as denúncias e as notícias verdadeiras. Quando os jornalistas são honestos, correctos e verdadeiros, prestam um grande serviço ao mundo e também à Igreja. Coisas destas não podem ficar encobertas. Mas, da parte dos senhores jornalistas e dos muitos “comentadores de lareira”, gostaria de ver também igual preocupação com os milhões de bebés que, ainda mais indefesos, são todos os dias trucidados antes de abrirem os olhos e lançados aos baldes do lixo, nas clínicas dos nosso e dos outros países “evoluídos” deste nosso mundo. Em relação a esses, infelizmente, calam-se como se de coisa normal e virtuosa se tratasse.

O facto e as notícias relacionadas com o tema sugerem-me entretanto mais algumas observações que gostaria de partilhar com os meus leitores.

1.—Ninguém tem dúvida de que actos de pedofilia, cometidos seja por quem for, são pecados gravíssimos perante Deus e crimes indesculpáveis perante o mundo. São vergonhosas aberrações da natureza humana. Merecem todo o nosso repúdio e toda a nossa condenação.

2.—Quanto às acusações de que a igreja tem vindo a ser alvo, direi que ninguém está, nem pode estar, imune a críticas e a denúncias, sobretudo quando estão em causa a dignidade e o pudor de pessoas inocentes, frágeis e indefesas. A Igreja Católica também não. De modo algum. A Igreja não pode nem deve armar-se em vítima. Se alguém claudica, e desta maneira, pode e deve ser posto em causa. Seja padre, seja bispo ou seja papa. A Igreja e os seus ministros têm a obrigação de ser as primeiras e as maiores referências morais da sociedade. Tal exigência ajuda-me a compreender de certo modo a virulência dos ataques que têm sido feitos pela nossa comunicação social.

3.—As denúncias e as críticas, estas e todas as outras, se são verdadeiras e justas, devem ser aceites com humildade por todos, inclusivamente pelos líderes da Igreja e por todos os membros da hierarquia. Até se devem agradecer, para que os problemas se resolvam o mais depressa possível.

4.---Penso que os senhores bispos da América, da Holanda, da Alemanha e de outros os países onde tal aconteceu, ressalvando na medida do possível o bom nome das pessoas (a caridade deve estar sempre presente, aconteça o que acontecer… e muitos jornalistas não sabem disso), logo que tiveram conhecimento de tal situação por parte de um dos seus padres, deviam tê-los afastado de imediato do contacto com crianças e mesmo destituí-los dos seus cargos eclesiásticos. Se o não fizeram, têm certamente grande culpa.

5.—Considero que o Papa e os Bispos não são nem podem ser directamente responsabilizados pelos actos dos seus padres ou dos seus fiéis. Obrigá-los a pedir perdão ao mundo pelos pecados de outros membros da Igreja é exigência estúpida e arrogância despropositada.
Acompanho, com muita mágoa, o sofrimento injusto por que está a passar o Papa Bento XVI.

6.—Não estou de acordo com o crime que se atribui aos bispos das dioceses onde havia padres desses, por não os denunciarem de imediato. É verdade que os direitos das crianças são sagrados e estavam certamente acima de tudo, mas também compreendo que nenhum bispo acharia correcto expor na praça pública os pecados dos seus padres e causar um enorme escândalo entre os fiéis. O que certamente procuraram fazer (e eu faria o mesmo), foi tentar a conversão ou a cura dos pecadores e reparar o melhor possível os seus estragos junto das crianças e das famílias lesadas e abusadas. Parece que foi o que fizeram. Ninguém de bom senso esperaria que esses bispos corressem logo à polícia ou ao tribunal civil a fazer a denúncia do crime ou se dirigissem às agências de notícias a publicitar o facto. Um pai não fazia isso a um filho. Um bispo não devia fazer isso a um dos seus padres.

7.—Há quem agora se apresse a ligar a pedofilia ao celibato sacerdotal. Penso que tal ligação é ilegítima. Pergunto: e a pedofilia dos que são casados? Pior ainda, e a dos próprios progenitores das crianças e dos jovens que, pelos vistos, é a mais generalizada? A culpa não estará no celibato!

8.---O que está a passar-se é um verdadeiro tsunami na Igreja Católica. Porém, longe de ser o fim da mesma Igreja, é ocasião para uma grande purificação e uma profunda renovação. Estes choques são precisos, de longe a longe. Sempre foi assim. As grandes crises da Igreja e as históricas revoluções nas sociedades trouxeram sempre muito sofrimento ao povo e à Igreja, mas foram sempre o princípio e o dealbar de uma Igreja Nova, mais humilde, mais pura e mais feliz.

9.—Com o número reduzido de vocações que temos, há cada vez mais o perigo de se aproveitar tudo o que aparece. Considero que os maiores responsáveis da Igreja, a partir do que agora sabemos, têm de estar muito mais atentos e ser muito mais rigorosos na escolha dos seus padres e dos seus diáconos. O processo de consulta que decorre antes das ordenações, se tem sido um pró-forma, não pode continuar a sê-lo. Os novos sacerdotes não podem continuar a marcar as Missas Novas, sem antes receberem o sim definitivo do seu bispo. Os bispos ou os reitores do seminário, por mais atentos que estejam, não conhecem tudo nem sabem de tudo.

10.—Se os padres forem poucos, insuficientes, não será a altura propícia para se começarem a ordenar homens casados, com uma família estável e com uma vida exemplar?
Algumas das minhas considerações podem não estar certas. Muitos dos leitores podem não estar de acordo comigo.
Porém, é assim que eu penso.

Resende, 7 de Abril de 2010

J. CORREIA DUARTE


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