Jornal de Opinião

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31/03/10

Os cristãos perseguidos e a tragédia europeia

1. Vai primeiro um exemplo do que se sofre por Cristo e pela Igreja, na China. Dom Yao foi realmente um bom pastor que deu a vida por suas ovelhas. Em 30 de Dezembro 2009, faleceu com 86 anos, Dom Leo Yao Liang, bispo coadjutor da diocese de Siwantze (Chongli- Xiwanzi), na província de Hebei (China Continental).

Nasceu em 11 de abril de 1923 em Gonghui, Zhangbei. Ordenado sacerdote em 1 de Agosto de 1948, trabalhou em várias paróquias até ser impedido de exercer o ministério sacerdotal e foi obrigado a trabalhar para viver cultivando hortas e vendendo lenha. Em 1956 foi condenado a trabalhos forçados por ter recusado aderir ao movimento de
independência da Igreja Católica. Dois anos depois recebeu a pena de prisão perpétua sempre por causa do mesmo "crime", ou seja, o de permanecer fiel ao Sumo Pontífice e à Igreja Universal. Foi libertado em 1984 depois de trinta anos de prisão. Ordenado bispo em 19 de Fevereiro de 2002, em Julho de 2006 foi de novo sequestrado pela
polícia depois da consagração de uma nova igreja no território de Guyuan, e passou outros trinta meses na prisão. Um vez livre, mas sempre vigiado, pode empenhar-se nos assuntos da diocese não obstante todas as dificuldades. Na missa dominical por ele celebrada participavam toda a semana mais de mil fiéis.
Depois da morte de Yao, as autoridades civis proibiram a comunidade católica de honrá-lo com o título de bispo impondo que se usasse o de pastor clandestino. Na manhã de 6 de Janeiro passado, milhares de fiéis, provenientes de várias partes do país, participaram nas suas exéquias não obstante os controles da polícia e a abundante neve, demonstrando assim que Dom Yao foi realmente o bom pastor, que dá a
vida por suas ovelhas. Nele, como nos outros seis bispos chineses que morreram durante o ano de 2009, se realizaram as palavras do Livro da Sabedoria: "as almas dos justos estão nas mãos de Deus, nenhuma tribulação os atingirá. Aos olhos dos insensatos parece que morreram; o fim deles é considerado uma desgraça, a sua partida uma destruição, mas eles estão em paz, mesmo se aos olhos dos homens foram castigados, a sua esperança está repleta de imortalidade. Por uma breve pena
receberam grandes benefícios, porque Deus os provou e os considerou dignos de si: os conservou como ouro precioso e aceitou-os como perfeito holocausto".

2. Este testemunho é condensado duma noticia da Agência Fides. No entanto, a Igreja de Cristo continua a ser perseguida, e de uma maneira feroz. E presentemente são as próprias instituições que a atacam na Europa . E temos de incluir nesse continente o nosso país.
Já em muitos artigos dissemos com o Papa João Paulo II e com Bento XVI que a Europa está "caminhando para o abismo", porque rejeitou e rejeita Deus. Perdeu a sua identidade e o principal factor de unidade. Podemos mesmo afirmar que alguns governos desta UE são mesmo demoníacos. E, mais cedo ou mais tarde este modelo acabará por
definhar, e oxalá que não seja numa confusão babélica, em multiculturalismos ligados aos anteriores países. Seria o caos, que já é económico. O cristianismo deveria ser o natural factor de unidade. O que a Europa é, aprendeu-o à sombra da Igreja católica. Já no ano 2000, o teólogo Bruno Forte, em Conferências do Congresso Missionário
Internacional, em Roma, com a presença de representantes de 123 países do mundo, apelou, clamou para o grande problema do nosso mundo caminhando para o abismo "porque rejeitou Deus" e por isso tornou-se um mundo sem sentido. E a Igreja e muitos foram levados na onda e não compreenderam esta perseguição ao cristianismo que já se adivinhava por todos os lados. Igreja calada, responsáveis calados ou medrosos. E
agora, o italiano Marcello Pera, filósofo agnóstico e senador, e que
várias vezes debateu questões culturais e religiosas em Simpósios com o Cardeal Ratzinger, no dia 17 de Março pp. publicou um excelente artigo no conceituado diário "Corriere della Sera" que nos vai permitir desenvolver mais em pormenor a tragédia que estamos e vamos vivendo. "O último ataque ou questão dos padres pedófilos e
homossexuais que surgiu recentemente na Alemanha, tem como alvo o Papa. Cometer-se-ia, no entanto , um grave erro se pensássemos que o golpe não conseguiria atingir o alvo, dada a enormidade da iniciativa.
E seria um erro maior ainda se se considerasse que a questão será rapidamente ultrapassada, como tantas outras. Não é assim. Está em curso uma guerra. Não apenas contra a pessoa do Papa porque, nesse campo, a guerra é impossível; Bento XVI tornou inexpugnável a sua imagem, na sua serenidade, na sua limpidez, firmeza e doutrina. Basta o seu sorriso manso para derrotar um exército de adversários." Assim
começa o realista artigo de Marcello Pera. Queremos repetir esta imagem bonita de Bento XVI, que sempre me pareceu assim nas cinco vezes que o vi em Roma e bem perto de mim: a serenidade, a paz, a calma, a quietude de um rosto transmitindo o divino. Foi a imagem que eu cativei para mim, comentei com bispos portugueses e a que várias
vezes me referi, inclusivamente na revista "BOA NOVA actualidade missionária", ano 2008, número 949, páginas 8-9, com o título "Bento XVI Papa da serenidade", acrescentando o testemunho de Áura Miguel num comentário na RR: "O seu sorriso e a serenidade com que o Papa acolhe cada um (dos bispos portugueses) é surpreendente. Isto mesmo já o tinham os italianos, no dia em que Bento XVI celebrou 80 anos.
Aquele rosto tão tranquilo e cheio de certezas é o reflexo de algo maior do que ele, que vem de dentro, de alguém que, depois de velho, aceitou o vertiginoso desafio de conduzir a Igreja e confirmar os seus irmão na fé". É certo que "está aberta a guerra do laicismo contra o cristianismo" que já "é uma batalha campal", para citar Marcello Pera.
Mas o timoneiro acolhe, enfrenta e não desilude os que andam com os pés no chão e o coração em Deus.

Armando Soares

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