Jornal de Opinião

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16/04/10

Secos e pecadores... na Igreja e para o mundo?

Ocorre, no próximo dia 19 de Abril, o quinto aniversário da eleição do Papa Bento XVI. Estes últimos anos foram para a Igreja católica e para o Papa em particular de grande sofrimento, de contínuos ataques, de campanhas sórdidas... escarafunchando males, esventrando memórias, rasgando consciências... atingindo tudo e todos.
Foi neste espaço de tempo que vieram à luz do dia situações vergonhosas humana, social e cristãmente. Qual puzzle labiríntico foi posto a descoberto muito daquilo que andava capciosamente escondido, de tão lamentável que era, que é e que sempre será!

Referimo-nos às notícias sobre a pedofilia. Esta chaga humana, social, psicológica e moral tem perseguido o magistério do Papa Bento XVI. Por ocasião da sua próxima visita a Portugal temos estado a ser bombardeados, diariamente, com notícias, comentários, insinuações, acusações, dislates, provocações da mais dispare índole.
Na abertura, no passado dia 12, da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga referiu-se à matéria nestes termos: «Perante a grave lesão da dignidade pessoal das vítimas dos casos de pedofilia, importa restabelecer a justiça, purificar a memória e reafirmar, humildemente, o compromisso da Igreja de fidelidade a Deus e de serviço aos homens».
Antes de tentarmos abordar este assunto talvez não seja (in)oportuno lançar algumas perguntas:
- Por que será que os judeus – pelo menos certos meios mais ideológicos (*) – estão tão assanhados contra o Papa – será por ele ter aberto o processo de Pio XII sem se intimidar com as acusações de anti-semitismo com que o têm rotulado?
- Por que têm tanto receio certos lóbis gays dos estudos – americanos de há décadas e dos mais recentes – de que possa insinuar-se alguma ligação entre a pedofilia e a homossexualidade?
- Será mera coincidência em que os jornais que mais falam do assunto da pedofilia – tanto americanos como alemães ou britânicos – sempre têm o Vaticano e o Papa em mau conceito ou melhor sob preconceito?
- Até onde irá a resistência à verdade em que os prevaricadores sejam julgados e/ou afastados do contacto com crianças, sejam padres ou professores, pais ou educadores, sejam médicos ou treinadores... homens ou mulheres?
- Não estaremos a pagar – na própria carne – já as consequências de alguma promiscuidade e idolatria do corpo sem regras nem moral?

* Afectivos ou afectados?
Num tempo tão ávido de escândalos, a pedofilia – com outras questões adjacentes, tais como: a promoção do naturalismo, do aborto, das prostituições, da pornografia, etc. – tem sido aproveitada mais para lançar distracção do que para reflectir sobre as verdadeiras causas. Tal como noutras matérias temos estado a olhar mais para as consequências do que a procurarmos as verdadeiras causas. De facto, o aproveitamento dos mais frágeis – crianças na sua maioria, rapazes ou raparigas – para actos de baixeza moral, denota que algo vai mal no interior de muitas pessoas... Dizemo-lo de qualquer vocação ou profissão, atinja quem prevaricar... comprovadamente. Tudo será mais grave se, de quem se esperava respeito e seriedade (como são os casos de padres, há mais ou menos tempo), vemos exactamente o contrário.
Está na hora de, pondo-nos cristãmente em questão, perguntarmos se a dimensão afectiva de tantos ministros da Igreja foi, de verdade, evangelizada ou não terá sido, antes, recalcada? Até que ponto Jesus terá atingido o coração desses homens e mulheres? Não terá sido mais defendida a dimensão da sisudez de fachada do que a serenidade da entrega a Deus por amor do Reino dos Céus?

* De secos a pecadores?
Para quem tenha estudado, minimamente, a influência das doutrinas contemporâneas ao surgimento do cristianismo, saberá que o estoicismo teve maior repercussão na doutrina da Igreja do que, por exemplo o epicurismo e o hedonismo. Foi mais fácil aceitar – na medida em que trazia exigência à moral – as regras do sacrifício do que as propostas do prazer. De alguma forma o prazer como que simbolizava mais uma falta de auto-domínio do que a procura da contrariedade. Repare-se como, na religiosidade latino-romana, parece mais fácil atrair pessoas à via-sacra e à quaresma do que à ‘via lucis’ ou às alegrias do tempo pascal!...
Fomos, de algum modo, formatados para uma certa religião macambúzia e sem aspectos de prazer e contentamento. Se isto foi mais ou menos tolerado em certos meios, noutros, mesmo que à socapa e roçando as franjas do imoral e/ou do pecado foi sendo vivido numa linguagem de fora da norma ou contra a dignidade de outrem.
Talvez esta argumentação não justifique nada – e nem sequer ajude a entender os erros, os abusos e os crimes – nem desculpe ninguém... muito menos se for clérigo. No entanto, destapado o condicionamento religioso – estes será tanto mais procurado, quanto menor for a adesão à pessoa de Jesus Cristo e à mensagem do seu Evangelho – muito mal foi posto à solta, deixando a descoberto muitas feridas, bastantes erros e piores praticantes da falta de conversão.
O equilíbrio emocional e afectivo tem um percurso de maturidade em cada pessoa humana. Nada está acabado. Estamos em vias de crescimento até à estatura de Cristo, o homem perfeito!

(*) Bastará ver a animosidade com que alguns influentes judeus (da ala mais maçónica e integrista) vieram a terreiro contestar as palavras do Padre Raniero Cantalamessa – que por estes dias está em Portugal – usando das maiores diatribes contra a Igreja católica. De facto, tal como em Ratisbona, com o Papa Bento XVI, também na 6.ª feira santa, com o Padre Cantalamessa, houve uma citação de escritos alheios, que desenquadrados do contexto, permitiram interpretar o que não foi dito revertendo, normalmente, em desfavor da Igreja católica.

A. Sílvio Couto

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