Ao Compasso do Tempo - Crónica de 09 de Abril de 2010
Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja
Não esqueço as palavras que se seguem:
“Da minha parte, tenho plena consciência de ter lutado por que se instaurasse em Portugal um regime autenticamente democrático e que, por essa via, o Povo Português escolhesse livremente a sociedade em que desejaria viver. Lutei para que esse regime se implantasse em ambiente de reconciliação nacional, com base numa ampla abertura do leque político a todas as forças democráticas do País. Lutei para que a descolonização se realizasse com dignidade, com justiça e no respeito pelos direitos sagrados de todos os que viviam nos territórios ultramarinos. (…) Empenhei-me nessa luta até ao extremo dos poderes que me haviam sido conferidos e da minha dignidade”
Se fosse vivo, festejaria em 11 de Abril de 2010 cem anos o autor deste texto e que se chama António de Spínola, Marechal do Exército Português. (Cf. Ao Serviço de Portugal, Lisboa, Ática/Livraria Bertrand, 1976, ps. 22-23).
Volvidos longos anos, continuam a esvoaçar velhos demónios do atraso das gentes, da sua incultura e do desprezo pelos que a invocam, do pessimismo diante da celeridade que se impunha na mudança social, da possível conspiração contra o avanço e o progresso, da tristeza quase atávica… por não chegarmos ao que, para todos, seria justo, útil e bom!
Entendido por muitos (idolatrado até pelos seus mais próximos); proscrito e marginalizado por tantos; conveniente para dar cobertura hierárquica às forças revoltosas; desajeitado, enquanto discordante e insubmisso no âmbito de camaradas de armas; menos político na arte da governação; demasiadamente alinhado no capítulo do pensar e do decidir, face ao dispositivo pluralista que se constituiu no pós-ditadura… Muitos assim julgam o Marechal Spínola. Bem, mal? Fica uma certeza: ninguém lhe roubará o mérito de ter amado Portugal e de ter sido um dos seus soldados de mais alto valor e sentido!
Lisboa, 09 de Abril de 2010
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
http://castrense.ecclesia.pt
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