Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

23/04/10

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 23 de Abril de 2010

Nos “pedaços de mau caminho”, expressão brasileira que traduz “pecados”, busco sensibilidades fora da Igreja, atentas a tais “descaminhos”. É da sabedoria mais primária ouvir quem estende o dedo, sem desejar para nós nem o degredo nem a forca, como o fizeram tantos em outras épocas.

Bem sei, jogando com a objectividade de passos em falso, alguns poder-nos-ão querer humilhar. Também, em seriedade do mundo, terão a intenção de clarificar os nossos discursos untuosos (alguns) e as auto-canonizações, antes do tempo…
Há dirigentes de toda a ordem a quem nada pode ser dito como reparo. Claro… que referencio chamadas de atenção com fundamento, em nome da clarividência e da recta ordem de construir. Mesmo que assim não seja, ao nosso comentário, brando ou inflamado, cabe-lhe a obrigação da verdade.

Cito-lhes dois breves textos, meditados no decurso destes dias. O primeiro, aqui vai: “ (…) o mais grave de tudo é ver altos responsáveis do clero a falarem como isto fosse um mal imanente a toda a sociedade, e à Igreja não coubesse ser diferente”( Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 de Abril de 2010).

Bem sei que há calúnias concretas (uma só em Portugal, até hoje) e fígados a doerem-se. E vamos perder o sono por quem, devido às nossas respostas, ganha publicidade gratuita?! Esses, não contam, dada a cultura do saber e da dignidade pessoal. Ainda há muita gente em Portugal que, em nome da tacanhez ou da maldade, está convencida de que tudo o que é “contado” nos “média”…tem o valor da “escritura”. E vá de citar, julgando e vituperando, quem surgir acusado, em letras gordas. Este é o primarismo mental, próprio até de quem julga que, por ser profissional (ou ter sido profissional) de uma instância universitária, está imune “ a pedaços de mau caminho”. Em todos os sectores, há disto. A Igreja não o está em pessoas que o servem. Mas não atribuam ao sistema pensante da Igreja a “lama dos sapatos” e as nódoas de crimes. Não somos mais nem menos.

Escolhemos a “ melhor parte” da diferença. Mas esta aí está em avaliação.
O outro texto é do Miguel Torga do “Diário” de 7 de Abril de 1968.
Li-o em Tourém, ao vir ao mais Norte de Portugal, ouvir e falar a militares:
“ Azoeirado diariamente pelos papagaios do amor acrisolado à Pátria, que açaimam, prendem ou liquidam os que duvidam da cantilena e erguem, ofendidos, a voz acusadora, é com inveja que olho os habitantes deste pequeno enclave barrosão, que a grandeza espanhola não conseguiu descobrir nem devorar”.
Próximo de mais um 25 de Abril aqui fica mais um recado patriótico!
MDN – Capelania Mor, 23 de Abril de 2010

Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Força Armadas e de Segurança


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