Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

27/12/11

VIVA A CRISE

Isso mesmo, assim…, sem pontuação, sem sublinhados e sem sinais, sem acordos, por mais ortográficos que sejam.


VIVA A CRISE

Só assim mesmo, um imperativo. Um imperativo de consciência.


VIVA A CRISE

Só assim mesmo, uma interrogação. Uma interrogação, de dignidade.

VIVA A CRISE

Assim sem mais, sem glosas nem variações do politicamente correcto.


VIVA A CRISE

Neste novo ano que agora se inicia. Neste 2012 com tudo por inventar. Neste 2012, ANO NACIONAL E INTERNACIONAL DA SOLIDARIEDADE.


VIVA A CRISE

Isso mesmo, ANO NACIONAL E INTERNACIONAL DA SOLIDARIEDADE, assim…, sem pontuação, sem sublinhados e sem sinais, sem acordos, por mais ortográficos que sejam.

VIVA A CRISE

Neste 2012, o ano de recriar a aritmética do tempo novo e do Novo Tempo. Tempo de DIVIDIR para MULTIRPLICAR e de ADICIONAR sem SUBTRAIR nada a ninguém.

Se assim for,

VIVA A CRISE, vivamos a CRISE, neste imperativo de consciência, que mudará a história na medida em que as nossas consciências se mudarem, na medida em que formos capazes de entender que se não vivermos a vida, seremos vividos por ela e eu, não quero, não tenho tempo, tenho mais que fazer…

Há mais apressados por aí?

Então vamos a isso, vamos juntos, vamos todos, vamos pegar nisto, vamos pegar em nós e fazer a revolução. Pode ser?

Vamos mandar os senhores do tempo, os senhores da política do partidarismo bacoco, da economia que faz de nós carne para canhão, da finança que só sabe entender a linguagem da especulação criminosa, vamos mandá-los à mera… isso mesmo, à mera consideração das suas ideias.

Este tempo é o nosso de inventar a matemática da SOLIDARIEDADE. Este tempo é o nosso de dar a volta a isto. Não podemos parar os comboios, não podemos parar os aviões, não temos sucatas para negociar, nem robalos, nem alheiras, nem títulos de participação, nem sub-primes, nem primos nem primas… a que nos agarrar… mas temo-nos a nós, inteiros, vivos, com esta raiva que nos corre nas veias e que ninguém tem o direito de manipular ou de se “assenhorar”.

Não temos nada, mas temo-nos a nós! Por isso, senhores, temam-nos a nós!

Somos mais que números a contar no final das vossas manifestações.

Somos mais do que gente para mandar gritar na rua, mas depois de enrolarmos as bandeiras… não temos onde as meter…

Somos mais do que pagadores das asneiras que nos fizeram e que nos fizeram fazer.

Somos mais do que exercícios contabilísticos de ignomínia e discórdia.

Somos MAIS, muito mais… somos muitos mais, por isso temam-nos a nós que nos temos a nós.

E não estamos de férias como os nossos parlamentares, de todos os partidos, que foram para casa mais cedo. Não estamos de férias, não temos férias nem subsídios, nem feriados, nem dinheiro, mas temo-nos a nós; por isso temam-nos a nós.

Nós, sem vós e sem voz daremos a volta a isto. A revolução está na rua! Em tantas iniciativas que um pouco por todo o lado estar a ver gente a dar a mão a gente para que cada vez mais gente seja gente e para que nunca ninguém perca a dignidade de ser pessoa.

Nós estamos aqui. Não estamos de férias. Estamos na luta, na exclamação e na interrogação. Na indignação pelo direito à dignidade.

VIVA A CRISE, VIVAMOS A CRISE
Bom Ano 2012

Frei Fernando Ventura



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‘Boas festas’!...

Um destes dias cruzei-me na rua com uma figura política conhecida no espaço onde agora vivo. Depois de breves frases de circunstância, o senhor rematou: ‘boas festas!’


Fiquei a pensar no que podia significar tal desejo, visto que – tanto quanto se sabe – o senhor que tal expressão manifestou não é crente em Deus, embora ocupe um lugar de destaque na sociedade politico-autárquica... e pretenda ser bom cidadão.
- Embora este desejo de ‘boas festas’ ande no andar: que poderá significar tal pretensão, à luz do (não) Festejado no Natal?
- Se bem que este desejo de ‘boas festas’ possa resumir uma espécie de anseio: que alcance poderá ter para quem não reconhece que o (tal) Aniversariante nos faz irmãos?
- Atendendo a que o desejo de ‘boas festas’ pode incluir um (quase) ritual social: que significado poderá envolver, se fazemos festa a nós mesmos, desconhecendo Quem motiva a pretensa festança?

= ‘Boas festas’ de quem?
Na medida em que a sociedade se foi descristianizando, urge recolocar as referências do Natal nas palavras e no comportamento pessoal, familiar e coletivo: este é o aniversário do nascimento de Jesus, acontecido em Belém da Judeia... com o qual se fez a divisão da era histórica e social – antes de Cristo e depois de Cristo – Ele é a marca divisória inclusiva e universal. Com efeito, por muito que se enfadem certas correntes filosóficas, culturais e/ou exotéricas, ninguém divide o tempo da História entre antes ou depois de Marx, de Freud ou de Nitzeche, de Sócrates ou de César... Nem certas correntes agnósticas e (pseudo)-ateias conseguirão excluir da mentalidade as referências a Jesus Cristo, pois, muitas vezes, fazem-no por oposição a Ele, tendo de reconhecer a Sua existência e a sua influência na cultura... desde há mais de vinte séculos.
Nem a bizarra figura do ‘pai natal’ conseguirá interferir na prossecução do advento de Cristo, pois quem está subjacente àquela figura é – nem mais nem menos – um bispo católico (São Nicolau), embora explorado, no início da década de trinta do século vinte por uma marca de refrigerantes americana. Não deixa de ser sintomático que possamos refletir – neste nosso tempo dito de ‘crise’ – sobre essa ‘grande depressão’, que se abateu sobre o mundo entre as duas grandes guerras. Pode(re)mos agora exorcizar esse símbolo do consumismo, dando espaço e oportunidade ao verdadeiro sinal que celebramos no Natal.

= ‘Boas festas’, porquê?
Quando tantos e muitos dos nossos concidadãos passam dificuldades de vária ordem – económica e financeira, familiar e de emprego, alimentar e sobre as rendas de casa, etc. – porque havemos de desejar ‘boas festas’, se estas são mais alienação do que motivo de celebração. De fato, quando a ‘crise’ faz encolher os gastos e turvar o semblante das pessoas, será sinal de que as ‘boas festas’ estavam, sobretudo, centradas em coisas e não ideais ou sob objetivos de vida consentâneos com a fé.
Efetivamente, as luzes eram mais para nos seduzir e enganar e não para nos alumiar a partir de Cristo, luz do mundo e centro da nossa fé cristã.
Eis chegada, então, a oportunidade de viver o espírito do presépio – esse espaço de pobreza e de desafio à complexidade do nosso mundo – numa atitude de simplicidade, vivendo centrados no essencial, sem enfeites ou papel luzidio... onde muito se vende e tão pouco se vivencia.
Queira Deus que saibamos aproveitar este momento histórico e espiritual de entrarmos no novo ano com nova energia – 2012 é o ‘ano internacional da energia’ – dando nova condição à paz, educando – como diz o tema da mensagem do Papa Bento XVI para a celebração do dia mundial – os jovens para a justiça e para a paz.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)


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23/12/11

Mini-história do Natal

Tinha sido acolhido numa casa de S. João de Deus. Cara queimada da aragem fria, seco de carnes, meia idade. Preocupado. Estava um pouco estranho mas falava com facilidade. Queixava-se que não tinha dinheiro nenhum.

Onde vivia? Na rua. Não tinha para onde ir. E acrescentou triste: tenho que dormir na rua outra vez pois não posso pagar a dormida. Quando soube que não tinha que dormir na rua porque estava numa casa de S. João de Deus ficou aliviado. Era Natal e estava numa casa do Santo transformado por Cristo, que recolhia pobres e doentes da rua para o seu abrigo-hospital. Desde há 2000 anos Jesus, o Filho de Deus feito Homem, transformou milhões de pessoas para melhor. Com a sua divindade continua a dar humanidade humanizada ao mundo. Por isso revoltou-me aquele cartão de boas festas recebido com os dizeres “greetings of the season” como a querer apagar Jesus da terra. Qual season!? Que descaramento tonto: querer apagar o Sol. Em nome de uma ideologia arracional querer negar a realidade! Grande cegueira de querer tapar o Sol dos homens com a peneira e no Natal de Jesus Cristo de 2011!

Aires Gameiro
(pode ser publicado livremente)


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21/12/11

Ao Compasso do tempo - 16 de Dezembro de 2011

Nesta época de cartões e de votos festivos, trago à liça duas cartas de comunhão efervescente de há tão longos anos! Mas, os conteúdos e os motivos são de sempre.

A primeira, é a de um sacerdote a seu bispo:
“Talvez não sejam fáceis os meus caminhos (ou os nossos caminhos (…) e nem sejam precisamente aqueles por onde (…) anda; é que eu não posso deixar de dar voltas por carreiros onde sei que andam homens meus irmãos; sei que procuro no deserto, onde há muita ovelha desgarrada; sei que há por lá colegas meus, e não sou capaz de pensar, sequer, que seguirei tranquilo a estrada larga e livre, enquanto eles se afadigam e procuram encontrar os seus caminhos, que são aqueles de tanta gente. (…) Quando o rebanho é grande, tem um pastor e um ou mais moços que o ajudam; o pastor muitas vezes é de idade, segue estrada direita ou está parado. Quem anda ao largo são os moços; muitas vezes perdem-se de vista, têm de sair do caminho, por causa de acudir às ovelhas.
Ora, mal seria que o pastor quisesse sempre os moços junto de si, a fazer caminho passo a passo. Às vezes parece-me que é isso que V. Eminência deseja (…)” (António Marujo, O 25 Abril dos padres, fotocópia do Público, sem referência de data).
A segunda, aqui segue:
“Quando aqui chegaste pensei que, graças aos teus dotes pessoais e às tuas qualidades humanas, de inteligência, de vontade e juventude, seria uma grande oportunidade para que Deus, por intermédio da tua pessoa, tornasse cada dia mais possível esta aproximação do povo até Ele. (…) sentia-me cheio de uma grande esperança. Mas ela foi-se a pouco e pouco desfazendo (…).
Foste viver para um grande bairro residencial (…) Que alegria me teria dado (…) se tivesses vindo viver para (uma) casa normal (…).
Ter-me-ia sentido outro se o meu bispo tivesse vindo ver-me a mim e aos outros trabalhadores aqui na prisão. A dizer-nos que (…) a Igreja nos conforta e nos ampara sempre que nos encontremos em semelhante situação”.
(Carta de um militante operário ao seu bispo – Da cadeia, em 10 de Março de 1967, in Vários, Requiem pelo Constantinismo – A Carta do Padre Arrupe, Lisboa, Moraes Editores, 1959, pp. 109 – 115).
E, nestes últimos dias, não sei onde li a carta de uma leitora a perguntar à Igreja, atento o actual contexto de desprendimento, se não haveria dentro dos seus muros tantas coisas em excesso (e em inconveniência), a serem vendidas para os mais pobres ou a serem dadas para os que nada têm.
Que tralha haverá por aí a ser depositada na vida de quem nada tem? Escrevam-me uma carta, do género das que citei. Ou para sermos mais directos, e sem ironia: e se a remetessem ao Menino Jesus?

MDN – Capelania Mor, 16 de Dezembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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Diante do presépio, hoje!

Eis-nos com toda a verdade e sincera humildade diante dos vários sinais, que são as figuras do presépio. Não são muitas as que iremos referir, mas cremos que são as essenciais... para descobrir novas lições de vida.

Tentamos, ao longo do Advento, viver e ajudar a viver esta dinâmica contemplativa diante destas figuras do presépio. Por isso, mais do que boas intenções para os outros quisemos vivê-las... por antecipação, deixando aos nossos leitores algumas sugestões diante do presépio... sem romantismo nem sabor idílico, consideradas como desafios à nossa pressa diária.

- As ‘ovelhas’ numa linguagem de simplicidade... para sabermos compreender as palavras de Deus nosso dia-a-dia.
De fato, as simples ovelhas podem-nos acalmar, por entre tanta azáfama e correria na vida do dia a dia. A sua pacatez faz-nos bem ao nervoso (quase) inconsequente para travarmos os nossos impulsos consumistas. Perante um certo vazio de vida e duma programação sem objetivos, podemos e devemos olhar aquelas simples ovelhas como sinais de humildade e de comunhão com a natureza.

- O ‘boi/vaca e o burro’ numa linguagem de afeição e quase ternura... para deixar-nos iluminar no relacionamento mais fraterno uns com os outros.
Apesar de serem animais de outro porte e com diferente figuração, vaca e burro podem servir de aconchego a Jesus na noite fria – tal é o ideário da nossa imaginação! – de Belém, criando um ambiente menos gelado em nós e à nossa volta. Nem a ruralidade daquele quadro pode-nos distrair da consciência de afago e proteção, que estes dois animais dão ao nosso presépio, tão simples e centrado no essencial.

- A figura de São José, como sinal e presença do pai em família.. para deixamos iluminar a nossa realidade familiar pela atitude de testemunho em proximidade para com aqueles que vivem connosco.
Normalmente a imagem de São José é-nos apresentada como alguém que está de pé e em vigia sobre a Mãe e o Filho: ele dá proteção e segurança, cuida e vela, resguarda e acompanha... Numa espécie de recordação tentamos ver o lugar do pai na família, com a devida presença e o necessário cuidado sobre todos aqueles que estão sob a sua proteção. José está. E os pais também estarão, hoje?

- Maria, como figura do presépio e presença de mãe, na Igreja e no mundo... para suplicarmos e expormo-nos ao olhar materno de Maria para connosco… rumo ao Natal.
Ela é a Mãe. Depois de muitas dificuldades, contempla o seu filho – como qualquer mãe – reclinando-se sobre ele, sem distrações nem outros afazeres, que não seja cuidar dele. Este Filho, no entanto, é Jesus, o Verbo encarnado em seu seio pelo poder do Espírito Santo. Este quadro é sublime e santo, é intenso e simples, é atual e lança sementes para o nosso futuro... O teu rosto Mãe é de esperança! O teu rosto Mãe dá confiança!

- A imagem de Jesus-Menino está ao centro do nosso presépio, chamando a nossa atenção, pois Ele é o festejado... de braços abertos para nos receber.
Com efeito, que sentido teria a festa se o festejado fosse esquecido? Por vezes, andamos tão atafulhados com tantas coisas e com tantos outros interesses, que O festejado corre o risco de nem ter lugar no nosso coração. Efetivamente foi por não haver lugar na hospedaria, lá em Belém, que Jesus teve de nascer num curral de animais. Será que Ele tem lugar no meu Natal ou vai continuar à espera?
Jesus (re)nasce em mim, neste Natal.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)


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12/12/11

Nossa Senhora, a Imaculada Conceição

Ao lado de Mãe de Deus o título de Imaculada Conceição dado a Nossa Senhora é também um dos mais antigos. Logo desde o Século II piedade cristã começou a intuir que Nossa Senhora teria tido uma conceição de excepção e privilégio em relação às outras criaturas humanas. A Ela se aplicava o que diz S. Paulo: “Deus escolheu-nos antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados” (Ef. 1,4). No século IV Santo Agostinho afirmou que a “piedade impõe que Maria seja reconhecida sem pecado” (De natura et gratia,42).

Logo a partir do século IX se começou a celebrar a festa da Imaculada Conceição, chamada Nossa Senhora da Conceição na Igreja Ortodoxa; e daí a festa passa à Itália e logo à Inglaterra, donde se difunde por toda a Europa. Houve polémicas entre os teólogos sobre este privilégio de Nossa Senhora mas a festa continuou a celebrar-se nos séculos XII e XIII.
Não haveria Imaculada Conceição sem o Redentor Filho de Deus a ter pré-redimido e enriquecido com graça plena de redenção. O teólogo Duns Scoto, falecido em 1308 defendeu primeiro a sua Imaculada Conceição como provável e depois como possível e conveniente. Este teólogo desfez dúvidas e fundamentou a isenção do pecado e a plenitude da graça de Maria Imaculada, “ a sempre inteira”, na expressão de S. João de Deus nas suas cartas, em razão da aplicação antecipada da redenção operada por Cristo. Portanto é Imaculada Conceição em virtude da redenção antecipada do Filho de Deus e Filho de Maria, a quem ela deu a carne Redentora. Jesus redimiu-a na cruz e fê-la em antecipação Imaculada cheia de graça desde o primeiro momento da sua Conceição, como o anjo a saudou, e não apenas isenta de pecado. Aquela em quem Deus fez maravilhas.
A partir do século XV, após polémicas acesas pro e contra a Conceição Imaculada de Maria, começou a haver mais consenso sobre este culto na Igreja e tanto casas reais como universidades, como a de Coimbra, começaram a fazer o juramento de defenderem a Imaculada Conceição.
Santa Beatriz da Silva a Santa portuguesa do século XV alinhou com a numerosa corrente imaculista de fiéis na Igreja e antecipou-se ao dogma ao fundar a Ordem da Imaculada Conceição. Em 1830 foi a própria Virgem Maria que na sua revelação a Santa Catarina Labouré em Paris para lhe mostrar o desenho da Medalha Milagrosa que confirmou esta verdade ao mostrar a oração da medalha: Oh Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós. Vinte e quatro anos depois, em 1854, o Papa da Imaculada Pio IX proclamou como dogma de fé na Igreja o privilégio da Imaculada Conceição, faz hoje 157 anos. E Nossa Senhora quatro anos depois, em 1858 em Lurdes, confirmou este privilégio a Santa Bernardette Soubirous ao dizer-lhe : “eu sou a Imaculada Conceição”. Desde há 150 anos para cá não tem cessado de se desenvolver o culto e as revelações sobre esta maravilha da Senhora Imaculada e cheia de graça. Basta pensar nas de Fátima, nas da Madre Virgínia da Madeira e noutras.
Funchal, 8 de Dezembro de 2011
Aires Gameiro



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Em defesa da paz social

Nesta época de globalização, vivemos uma espécie de intoxicação informativa onde de tudo se fala, se mostra em excesso e, sem qualquer contenção, se noticia tudo e mais alguma coisa... Pois, dentro de uam certa lógica, o que não se noticia não existe ou será, no mínimo, ignorado!

É recorrente vermos que, a partir de breves notícias, imagens ou mensagens, se faz grande alarido, se provocam convulsões sociais, se desencadeiam espirais de violência, se incendeiam multidões... sabendo mais ou menos como começa e dificilmente se percebe como acabam.
Se, como aconteceu recentemente, a ‘greve geral’ não tivesse sido (tão) noticiada, será que o impacto da dita teria a mesma proporção e interesse para os seus mentores, os fazedores ou os receptadores? Se é ‘greve geral’, então, porque é que essa tal não é para todos e só para quem pretensamente ganha com o acontecimento? Alguém parece estar a querer mentir a outrém!...
Sem pretendermos menosprezar certos fatos de alcance público, questionamos se o excesso de notícias – algumas delas feitas quase para servir os ‘donos’ (económicos, políticos e até ideológicos) das empresas que pagam aos noticiadores – não poderão reverter em desfavor da paz social. Já vimos este filme noutros países... e Portugal enferma da mesma doença destabilizadora, manipulada e manipuladora!
Sabemos que, nos regimes de ditadura – política, ideológica e cultural – a melhor forma de tentar vencer os opositores é calar quem não pensa da mesma forma que eles. Mas não será mais útil à sociedade criar critérios de bom senso do que meros servidores do sensacionalismo? Afinal, uma imagem ou uma frase podem ser manipulados, distorcidos ou tirados do contexto... ficando à mercê de quem se diz ‘independente’, segundo o critério... da sua intenção mais ou menos subtil e pretensamente isenta!

= Em respeito pela vida privada
Nesta promiscuidade de informação a que estamos submetidos, diariamente, vemos com bastante frequência ser devassada a vida de pessoas normais, tornando-as figuras (figurinhas, figuraças ou figurões) que são espremidas até à medula... criando com isso novas vítimas, atores e explorados.
Também, neste desrespeito contínuo pela vida alheia, vemos crescer uma vulgar calhandrice – termo de algumas regiões para designar esse gosto de falar dos outros, normalmente, dizendo mal – sem pejo ou sem vergonha, não olhando a meios para atingir fins e, sobretudo, vilipendiando o que há de mais sagrado em cada pessoa: a sua intimidade e o seu mistério.
Não nos venham, entretanto, insinuar que uma grande parte das pessoas gosta de espreitar pelo buraco da fechadura, na expetativa de saber ‘segredos’ da vida alheia e que essa tal fechadura como que se tornou agora num esquema bem urdido em televisão, na internet ou noutras formas de bisbilhotice tão do agrado de quem se manifesta pequenino nas suas pretensões e sem respeito até por si mesmo... por aquilo que faz ou pretende fazer.
Nem os mais populistas programas televisivos ou das redes sociais podem ser desculpa para que haja qualquer intrusão na vida dos outros, pois da correta conduta se pode avaliar quem se é e saber quem é o outro/a, respeitando todos/as com quem nos relacionamos.

= Quando o bem comum se impõe
Porque não acreditamos na absoluta isenção de muita cobertura jornalística – embora se diga que possa haver alguma independência – nalguns dos acontecimentos recentes, cremos que será de incentivar um processo de auto-regulação dos vários intervenientes em ordem a não serem fomentadas situações de guerrilha informativa nem a sermos levados a desconfiar de tudo o que se diz, o que se mostra ou daquilo que se apresenta, questionando sobre a sua procedência e quais os veículos de tal informação.
Estando nós sobre uma espécie de vulcão, cremos que os meios de comunicação só se credibilizarão se forem capazes de informar sem fazerem dos seus potenciais consumidores gente acrítica, mas participantes esclarecidos na ‘res publica’... sempre mais exigente, opinativa e esclarecida.
Porque não há senhores da verdade absoluta, precisamos de saber gerar leitores exigentes, ouvintes responsáveis, telespetadores adultos, internautas conscientes e cidadãos com capacidade de discernimento e de humildade na aprendizagem dos labirintos da informação para que possamos ter paz social... atual e futuramente.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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05/12/11

Crise, resgate, Natal e a Imaculada Conceição

Pode parecer uma profanação fazer a aproximação do resgate de dívidas impagáveis com o Natal, Incarnação e Nascimento do Deus-Homem, Jesus Cristo no meio de nós. Peço vénia por esta aproximação. Há certos conceitos e termos usados a vários níveis de realidade e significação. Nenhum nível esgota todo o sentido. São conceitos de grande polissemia, ricos de significado; e entre eles o termo resgate e crise.

Nesta crise económica resgate é um dos termos mais utilizado. Na história dos cativos e escravos o termo tinha o sentido de re-compra da liberdade a quem dela tinha sido privado. Também se usava o termo de re-denção dos cativos ou re-compra deles para a liberdade. Alguém o fazia por eles; eles não tinham meios para pagarem, como acontece agora com o resgate: outros pagam as dívidas de países à beira ou já no incumprimento.

Outro termo afim dos conceitos com re é reconciliação e reparação de algo em estado de dano ou ruína em que se perdeu a unidade do ser, a sua harmonia e relações. Reparam-se casas, situações, pessoas, relações entre pessoas e entre estas e Deus. A língua inglesa para a reparação cristã usa o termo atonement (latim ad-una-menttum) no sentido de repor o ser humano at one (onement=unidade), em unidade e harmonia do todo após se ter arruinado pelo pecado. Remédio é outro termo usado para repor a saúde e harmonia nos estados de doença, orgânicas, espirituais e cristãos.
Mais profunda é a noção de prevenir a necessidade de resgate com garantia ou fiança de imunidade a ficar refém das dívidas ou no cativeiro. A garantia é dada com um salvo-conduto mais ou menos abrangente. Este previne e salva a pessoa da possibilidade de insolvência, de cativeiro e de escravatura por antecipação. Lembra o objectivo que se procura com os eurobonds e o fundo de garantia e estabilidade para cobrir e previnir o risco de incumprimento em caso de dívidas futuras. Para isso exigem-se condições a respeitar aos países e às pessoas.

Nesta quadra do Natal estes sentidos são celebrados a um nível altíssimo da realidade humano-divina. A incarnação do Filho de Deus é uma garantia de resgate (recompra libertadora da escravatura maldita) do endividamento das ofensas dos pecados de todos os homens. Afinal pecadores endividados somos todos. Jesus com a sua incarnação, vida, morte e ressurreição anulou na cruz o título da nossa dívida, como diz S. Paulo (em Colossenses, 2: 8-15), garantiu um “depósito” gratuito (de graça porque somos insolventes) que garante solvência total da nossa dívida de pecado com seu perdão. Qualquer pessoa pode recorrer a essa garantia desde que se reconheça insolvente, incapaz de se resgatar (pagar) por incumprimento definitivo, e que aceite esse “fundo” e as suas condições. Se a pessoa aceita o resgate aceita as condições. Ninguém pode pagar por outro porque todos estão igualmente em incumprimento. No Natal celebramos na alegria e esperança este fundo supremo de esperança e estabilidade sustentável. Todos os outros “fundos” de esperança podem falhar. Este é o único rigorosamente estável e sustentado. É um fundo inesgotável e gratuito de esperança por ter a cobertura misericordiosa do amor divino.

O tempo do Advento traz-nos ainda o conceito e a realidade de pre-resgate e pré-redenção. Sem esperar que Virgem Maria ficasse em incumprimento de dívida, Deus, por Jesus, dotou-A em antecipação de todas as riquezas divinas, passíveis de serem dadas a uma criatura, que a tornaram imune a qualquer risco de incumprimento por dívida de pecado; e pré-salva de qualquer necessidade posterior de resgate. Celebramos na fé este pré-resgate no dia 8 de Dezembro. A Virgem Santa Maria, “a cheia de graça” desde a sua Imaculada Conceição é celebrada por toda a Igreja como Aquela a quem foi dado o privilégio único de ser a Pré-resgatada, a Pré-remida. O Natal é tempo de esperança garantida e sustentável. Votos deste Feliz Natal!
Funchal, 1 de Dezembro de 2011

Aires Gameiro


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02/12/11

Evangelizar, preferencialmente, os ricos

É muito comum ouvirmos, na linguagem habitual da Igreja e não só, uma espécie de preferência em evangelizarmos/atendermos, preferencialmente, os pobres... como que excluindo aqueles que não entram nesta categoria económica, sociológica, política, cultural e tudo o resto que se lhe queira apensar.

De fato, os pobres servem para tudo e mais aquilo que se desejar, desde que dê bom proveito a quem deles se aproveita, mesmo sob a roupagem de seus defensores, na praça pública, mas, minimamente, detratores, em privado.
Deixando, desde já uma espécie de declaração de intenções, dizemos: sou pobre, filho de gente pobre e sem qualquer aspirações a ser rico.... embora sinta que os ricos também podem e, muitos, até são boas pessoas.
No entanto, sabemos e conhecemos que há – mesmo no contexto da Igreja católica (hierarquia e setores laicais) mais ou menos assumidos, camuflados e com outras aspirações – quem defenda os pobres, mas se banqueteie nos melhores restaurantes... pagando favores; quem se diga paladino dos pobrezinhos mas só se vista com roupa de marca... à custo da qualidade de vida; quem pretenda ser associado aos (ditos) defensores da classe operária (se ainda existir!), mas que privilegie, no seu círculo de convivência, os donos do dinheiro, pois dão estatuto e promoção... à sombra de outras tantas boas intenções.
Tendo estes fatores em conta, consideramos que é importante não setorial as preferências no campo da evangelização. E, se tal tiver de ser feito, então que se faça uma opção preferencial pela evangelização dos ricos por duas razões: são eles que podem, tocados por Deus, atenuar ou até mesmo fazer desaparecer os pobres; são eles quem, pondo ao serviço dos outros a sua riqueza, numa consciência social e até espírito de serviço do seu poder de riqueza, podem gerar novos empregos e com isso tentar fazer diminuir a indigência dos desfavorecidos pela sorte e atribulados pela pobreza.

= Dos pobremente ricos aos ricamente pobres
Passado – assim cremos e esperamos – o contexto dialético-marxista da luta de classses, temos de recriar uma nova mentalidade: os fatores de produção são mais do que a força de trabalho, as mais-valias, o capital e (até mesmo) o desfavor de uns contra outros e de todos contra uma certa minoria: a capacidade de construir um mundo onde todos sejam mais fraternos é mais do que uma utopia romântica e azeda!
Vivemos num tempo onde os conceitos já não se guiam pela mera momenclatura coletivista nem o trabalho é uma idolatria adquirida sem tribulações e novos desafios.
Estamos em constante mudança e são-nos exigidos novos métodos até para continuar a ter uma oportunidade de trabalho, que é muito mais do que emprego. Sentindo o efeito da globalização, crescem os sinais de que os nossos benefícios são a desgraça dos outros e que as nossas desgraças – com a deslocalização dos postos de trabalho e outros efeitos adjacentes – podem ser os benefícios de outros.
Vivemos uma, cada vez mais acentuada, concorrência a todos os níveis e a nossa frágil sobrevivência está em constante risco.

= Insegurança a quanto obrigas!
Neste contexto temos de apostar sobretudo, na evangelização dos ricos, pois da sua adesão aos valores do Evangelho poderá surgir uma nova sociedade: mais justa, mais fraterna, mais solidária, de mais verdade, de mais lealdade e com maior caridade... uns para com os outros.
Com efeito, se os ricos – com dinheiro, com visão e com aposta no futuro – se interessarem pelo bem comum, que é muito mais do que os seus interesses particulares – de lucro legítimo, honesto e sincero – poderão ser bons criadores de riqueza em favor dos outros, tanto através de empresas, como de projetos que dêem trabalho e sustento às pessoas e às famílias. Precisamos, urgentemente, em Portugal, de que as pessoas saibam colocar a sua riqueza ao serviço dos outros.
Não será com certos combates anacrónicos de algumas forças político-partidárias que esses ‘trabalhadores’, em nome de quem pretensamente contestam, irão ter emprego nem futuro. Cheira a conversa requentada o discurso de alguns sindicalistas profissionais, que mais não sabem do que lutar com armas já do século passado, mas que, afinal, só prejudicam o país e o tecido produtivo... mais elementar. Será eles não são capazes de ver isto? Até onde irá a tacanhez de certos indivíduos ou a insensatez de seus seguidores?

Está na hora de mudar de rumo, podendo inverter as prioridades, mas salvaguardando os princípios, tendo em conta um dos essenciais que é: as pessoas em primeiro lugar.

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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