Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

21/12/11

Ao Compasso do tempo - 16 de Dezembro de 2011

Nesta época de cartões e de votos festivos, trago à liça duas cartas de comunhão efervescente de há tão longos anos! Mas, os conteúdos e os motivos são de sempre.

A primeira, é a de um sacerdote a seu bispo:
“Talvez não sejam fáceis os meus caminhos (ou os nossos caminhos (…) e nem sejam precisamente aqueles por onde (…) anda; é que eu não posso deixar de dar voltas por carreiros onde sei que andam homens meus irmãos; sei que procuro no deserto, onde há muita ovelha desgarrada; sei que há por lá colegas meus, e não sou capaz de pensar, sequer, que seguirei tranquilo a estrada larga e livre, enquanto eles se afadigam e procuram encontrar os seus caminhos, que são aqueles de tanta gente. (…) Quando o rebanho é grande, tem um pastor e um ou mais moços que o ajudam; o pastor muitas vezes é de idade, segue estrada direita ou está parado. Quem anda ao largo são os moços; muitas vezes perdem-se de vista, têm de sair do caminho, por causa de acudir às ovelhas.
Ora, mal seria que o pastor quisesse sempre os moços junto de si, a fazer caminho passo a passo. Às vezes parece-me que é isso que V. Eminência deseja (…)” (António Marujo, O 25 Abril dos padres, fotocópia do Público, sem referência de data).
A segunda, aqui segue:
“Quando aqui chegaste pensei que, graças aos teus dotes pessoais e às tuas qualidades humanas, de inteligência, de vontade e juventude, seria uma grande oportunidade para que Deus, por intermédio da tua pessoa, tornasse cada dia mais possível esta aproximação do povo até Ele. (…) sentia-me cheio de uma grande esperança. Mas ela foi-se a pouco e pouco desfazendo (…).
Foste viver para um grande bairro residencial (…) Que alegria me teria dado (…) se tivesses vindo viver para (uma) casa normal (…).
Ter-me-ia sentido outro se o meu bispo tivesse vindo ver-me a mim e aos outros trabalhadores aqui na prisão. A dizer-nos que (…) a Igreja nos conforta e nos ampara sempre que nos encontremos em semelhante situação”.
(Carta de um militante operário ao seu bispo – Da cadeia, em 10 de Março de 1967, in Vários, Requiem pelo Constantinismo – A Carta do Padre Arrupe, Lisboa, Moraes Editores, 1959, pp. 109 – 115).
E, nestes últimos dias, não sei onde li a carta de uma leitora a perguntar à Igreja, atento o actual contexto de desprendimento, se não haveria dentro dos seus muros tantas coisas em excesso (e em inconveniência), a serem vendidas para os mais pobres ou a serem dadas para os que nada têm.
Que tralha haverá por aí a ser depositada na vida de quem nada tem? Escrevam-me uma carta, do género das que citei. Ou para sermos mais directos, e sem ironia: e se a remetessem ao Menino Jesus?

MDN – Capelania Mor, 16 de Dezembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança


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