Jornal de Opinião

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22/11/11

Certificado com 225 anos de 19 de Novembro de 1786 de Irmãos de S. João de Deus de Elvas em Colóquio(1) de História Militar

O terramoto de 1755 destruiu o Hospital Militar da Corte no Castelo de Lisboa e Convento da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus, que foi transferido para o Convento-Hospital da Ordem nas Janelas Verdes e aí se manteve até 1802, vésperas das Invasões Francesas.

Um aviso da Junta dos Três Estados, datado de Queluz de 28 de Janeiro de 1802, ordena que não se admitam mais enfermos militares no Hospital de S. João de Deus, de Lisboa, que era substituído pelo de Xabregas “por ter sido julgado mais próprio e útil para o seu tracto e curativo”. O Hospital de S. João Deus ficou ainda para depósito de provisões e continuou a ser hospital e sede da Ordem. Um Irmão, pelo menos, Fr. António de Santa Rita prestou serviço no Hospital de Xabregas.

Nesta data os Irmãos pediram ao Superior Geral da Itália para fazerem parte da Congregação italiana em vez da espanhola de que estiveram separados de facto desde o século XVII.

No dobrar do século XVIII-XIX, segundo documentos recentes, havia quatro Irmãos em Chaves, sendo um cirurgião; nove em Elvas; um em Castelo de Vide; em Faro sete; em Almeida quatro Irmãos; em Bragança outros quatro; dois em Miranda do Douro; em Valença do Minho, em 1790 três, e em 1800, cinco; e em Campo Maior por 1790-1803, seis. Os de Almeida, Bragança e Miranda do Douro iam ser dispensados em breve por 1808.

Os nove Irmãos da comunidade em Elvas assinaram um certificado com a data de 19 de Novembro de 1786, faz hoje 225 anos, de que naquele hospital se estava a usar a “quina branca americana sem mistura alguma para curar a malária nas suas formas “treçans simplex, e dobles, como também de quartans”. “E observamos que a mayor parte delles [doentes] lhes faltavão as sobreditas febres, e sem lhes cauzar emcomudo algum nem ainda na cabessa”. Outra documentação de 1803 atesta que naquele hospital se utilizava o leite de burra para tratar certas enfermidades; e o facto de não ter sido encontrado para um cabo foi alvo de censura do médico.

Antes da Terceira Invasão (1810) por Massena, há uma licença notarial de “compra e venda de umas propriedades de casas foreiras do Convento de São João de Deus [Lisboa], assinadas por Fr. Joaquim de São José, Comissário-Geral (12 de Maio) e recibo assinado por Fr. Bento de Nossa Senhora da Penha de França, Definidor e Procurador-geral (12 de Maio), com data de 16 de Maio de 1810. Sabe-se também que no Convento de Santo André de Montemor-o-Novo em 1812 o Superior e Administrador era Fr. José do Carmo e Sampaio

E o Convento-Hospital de S. João de Deus das Janelas Verdes? De 1804 em diante em actos notariais de compra e venda há cerca de uma dezena de nomes de Irmãos comissários gerais, procuradores gerais, etc. É de presumir que mais de três dezenas de Irmãos viveriam no Convento. Os dados seguintes não dão certeza mas apoiam esta suposição.

Em 1810 (altura da 3ª Invasão Francesa) o Provincial Fr. Álvaro de S. José Figueiredo sobre a situação dos Irmãos dizia: em 1645 os conventos cederam 25 religiosos para os hospitais de fronteira; em 1704 fora requisitados mais 30; e durante o reinado de D. Maria I e da Regência do seu filho D. Pedro III os nossos religiosos em hospitais militares ainda subiram para 95. E deplora que apesar dos louvores recebidos, a Ordem enfrentava problema muito sério da subsistência dos Irmãos e iminência do recurso à mendicidade, tanto mais que tinham acabado de ser despedidos os Irmãos dos hospitais de Almeida, Miranda e Bragança e havia o propósito de dispensar todos os outros. Pedia ao regente socorros vitalícios que salvassem os Irmãos da censura pública de ter que mendigar.

Em 1829, a meros cinco anos da supressão dos religiosos em 1834, no Convento de Montemor-o-Novo viviam nove religiosos já em economia de sobrevivência. E em 1834 o património do convento já não cobria sequer 2/3 dos encargos. Os tempos eram de grande crise.

Funchal, 19 de Novembro de 2011

Aires Gameiro


(1) Para mais ler: Comunicação no XX Colóquio de História Militar, 15,16, e 18 Nov. 2011, Palácio da Independência, Lisboa” por Aires Gameiro

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