Jornal de Opinião

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17/11/11

Em prol de uma ecologia da pessoa humana

Os movimentos ecológicos acordaram, em comum, para a resposta à interpelação urgente de um sinal dos tempos, que se pode traduzir pelo grito de respeito e defesa da natureza criada, ameaçada e, em muitos casos, já destruída, pelos atropelos que contra ela muitas pessoas fazem. Justifica-se a preocupação, dado que se trata de um bem de todos e a todos necessário.

O que já se conseguiu neste campo, sobretudo com as crianças e a gente mais nova, é impressionante. Muito é o que se tem feito através da educação nas escolas, das campanhas publicitárias e da multiplicação dos meios adequados e acessíveis que ajudam a respeitar ambiente natural e a saber classificar e recolher resíduos e desperdícios. Se recordarmos o que entre nós se passava há trinta ou quarenta anos, vemos uma diferença abissal neste aspecto, hoje com proveito para toda a gente.

Acontece, porém, que natureza criada é, também, a natureza humana, a pessoa concreta e, no respeito por ela, há ainda muito caminho para andar. É verdade que a defesa da natureza criada e do que ela comporta e significa faz-se em razão das pessoas. Mas não podem parar aí os cuidados comuns. Há, segundo o que vemos e sentimos, a urgência de uma defesa clara da natureza humana, ou seja, das pessoas concretas, frente às agressões graves contra as leis que regem a sua vida. Pensemos, por exemplo, na distribuição, nos centros de saúde públicos, de anticonceptivos químicos que bloqueiam, interrompem e desviam o curso normal das leis da natureza, muitas vezes com consequências graves na saúde da mulher. Cientistas de grande valor internacional, defendem e provam que os métodos naturais, não por razões morais ou religiosas, mas por razões científicas provadas, são os únicos que respeitam a sequência normal das leis da natureza em relação à concepção de novas vidas.
Atento, desde há muitos anos, a este problema, nunca vi os movimentos de ecologistas preocupados com o que se faz em relação ao aborto e com a destruição das mulheres, protagonistas de primeira importância, humana e social, na procriação. Os raciocínios correntes são redutores e parece interessar mais a eficácia, o imediato sem esforço, que o respeito pela natureza humana e suas leis, em ordem à vida procurada e defendida. Dirão que a ciência tem, também, a sua palavra. Pois que a diga, ao serviço da vida, não da sua destruição. A educação sexual promovida e programada, que se dá a crianças e adolescentes nas escolas, onde leva ou pode levar esta gente indefesa?

Noutro campo em aberto, não parece haver especial cuidado educar no respeito pelos outros, em atitudes e gestos de concórdia e paz. A violência nas escolas cresce e ganha cada dia formas novas e requintadas. Assim o dizem os serviços do Estado, preocupados com o que se passa e com as consequências que daí derivam. Mas, já não é apenas o espaço escolar, mas, também se verifica no espaço familiar e no espaço público, que são bens e direitos de todos nós. Há desprezo pela vida, agressividade incontrolada, violência cheia de consequências. Matam-se pessoas como se fossem coelhos, dentro lar e com filhos menores por testemunhas. Muita gente anda armada com armas de morte, porque tem a violência a encher-lhe o coração. As pessoas valem menos que os gatos, os cães e os touros de lide. E porquê? Quantos são os que se preocupam, denunciam e clamam?

Medidas contra a pessoa humana são ainda as leis que banalizam o divórcio que não respeitam, antes destroem, impunemente, a instituição do casamento e os direitos da criança, traduzidos em cuidados que devem defender e garantir o seu equilíbrio afectivo e emotivo, propiciando uma vida tranquila, fomentada, diariamente, pelo amor insubstituível e simultâneo do pai e da mãe. Muitas crianças são forçadas a viver um presente sem futuro, sem que deixemos de reconhecer que há casais divorciados que olham para os filhos, em comum, como a grande riqueza da sua vida. Quantas crianças, porém, se tornam violentas, caminham cedo já para psicólogos e psiquiatras! É muito difícil a uma criança crescer e viver pacificada, se o clima em que é criada, e trocada nos fins de semana, não lhes propicia uma ambiente sereno e o amor efectivo e afectivo, a que tem direito. Que respeito existe por uma criança que tem direitos, mais do que os legais, mas nem sempre promovidos e defendidos eficazmente, num período fundamental do desenvolvimento das suas capacidades, sentimentos e integração social? Medidas e tutelas legais são, por vezes, farisaicas e fáceis de driblar.
As violações da pessoa humana são mais numerosas e graves que as violações da restante natureza. Delas passam ao lado muitos ecologistas, delas se ocupa o Estado com mezinhas jurídicas. A sociedade foi-se deixando anestesiar e para tudo encontra justificação? Kabril Gibran, um profeta dos tempos novos, escreveu: “Os homens não têm a felicidade nos lábios, nem a verdade nas suas entranhas, porque a felicidade é filha das lágrimas e a verdade é gerada pela dor”. Quando as pessoas não valem, todas as coisas sobram.

Uma ecologia a favor da pessoa humana não pode ser fruto de facilidades, de distracções, de prazeres imediatos. É uma luta diária. A natureza é para as pessoas e são as pessoas que lhe dão sentido e valor consistente.

D. António Marcelino

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