Jornal de Opinião

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10/11/11

Uma desmotivação perigosa

Refiro-me à educação e à escola. Uma desmotivação que pode afectar alunos, pais, professores, governantes e a própria sociedade.

A escola, espaço-tempo cada vez mais indispensável, no presente e no futuro, necessita do amor, da paixão e da competência de todos os que a ela estão ligados e, muito justamente, integram uma desejável comunidade educativa. É uma instituição diferente de uma máquina de produzir coisas. A máquina só precisa de ser alimentada e orientada em função do que produz. A escola é, por sua vez, um espaço humano de relações pessoais e institucionais, com objectivos definidos. Se estas relações perdem o equilíbrio ou deixam empobrecer os laços comuns necessários, todo o processo se desvirtua e entra em perigosa derrapagem. Então, nem se ensina, nem se educa.
Um preocupante abandono da escola e o insucesso escolar, ainda verificado em grau elevado, as reacções violentas dos alunos e dos pais de “filhos sem defeitos”, para com os professores, a escola e quem a dirige, um desprezo alargado, por parte dos alunos, do esforço necessário e da disciplina indispensável, um número elevado de professores, com frequência enrodilhados nos seus problemas profissionais, a comunidade envolvente que só se queixa do que sopra dos lados da escola, o Estado, sempre distante das pessoas e dos problemas, a baralhada de ordens e contra ordens dos últimos anos, sem que se consiga ver o porquê, tudo isto são ingredientes perigosos, que podem fazer explodir um sistema, já de si frágil e melindroso.

Há escolas que funcionam bem, professores exemplares, alunos brilhantes e cumpridores, pais abertos e próximos, comunidades colaborantes, gente do governo, atenta, que sofre e não desiste. Porém, a escola será sempre o ponto de encontro e o eco inevitável das famílias desestruturadas, dos filhos não amados, das crises sociais, dos professores sem segurança, das metodologias de ocasião, de uma sociedade sem rumo, de acontecimentos inesperados. Todos os ventos borrascosos que se levantam na sociedade açoitam duramente as famílias e entram, na escola, por portas e janelas. Não os impedem os seguranças contratados, nem lhes muda o rumo a simples boa vontade de esforços isolados.

A educação e a escola são uma causa nacional premente, a pedir urgência de reflexão e decisão. De quando em quando, surgem por aí, vindos de longe e com prestígio garantido, sociólogos e filósofos, educadores e políticos, com reflexões sobre a escola, no contexto de um projecto educativo realista. Ainda há pouco, em Lisboa, um sociólogo americano trouxe ao Centro de Investigação e Estudos de Sociologia, propostas concretas e avaliadas para se ir ao encontro das dificuldades de comunicação entre a escola e a família, entre a escola e a sociedade local. Li, com interesse, o relato alargado dos jornais, e fiquei a pensar se o que se reflectiu parou nos que participaram, ou chegou a quem tem de experimentar, avaliar e decidir.
Família e escola não podem ser realidades em tensão permanente a acusarem-se mutuamente e a defenderem-se como indiferentes ou mesmo inimigas. Custe o que custar, têm de comunicar entre si, fazer rede, ir além dos preconceitos e das desconfianças. A escola, por meios adequados, pode educar a família, e a família pode, ao mesmo tempo, a ajudar a escola a ser melhor escola. Quem está em causa sãos os filhos, preocupação primeira e permanente, dos pais, e os alunos, razão de ser dos professores e da escola. Não há pais sem filhos, nem professores sem alunos.

A educação escolar, como a educação em geral, tornou-se uma actividade social cada vez mais complexa e difícil, qualquer que seja o espaço onde se realiza e os agentes que a assumem, como encargo ou tarefa de vida. Não pode, por isso, realizar-se no meio de escaramuças ou de indiferenças. Se o objectivo é formar pessoas para uma vida responsável, a colaboração vai mais longe que a procura de bons resultados escolares. Se fora apenas isto, os professores e a escola dirão que não recebem lições de quem não competência para as dar. Já se perdeu demasiado tempo com horizontes tão limitados. Pouco mais se tem procurado nos encontros com os pais, provocados pela escola, e com as reivindicações dos pais que raramente franqueiam as portas da mesma por outros motivos que não sejam as classificações escolares dos filhos.

Só rompendo um círculo tão pobre, se podem encontrar caminhos novos. Este só se romperá com pessoas motivadas, abertas a novos horizontes educativos e dispostas a colaborar. E tudo isto, só se faz, fazendo-se.

D. António Marcelino

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