Ao Compasso do Tempo - Crónica de 21 de Outubro de 2011
Em que ficamos? Após uma entrevista minha ao canal televisivo nº 1, onde salientei mais uma vez (tinha lá estado em Julho último) as dificuldades/tragédias, nascidas do cumprimento dos objectivos da troika, conforme têm sido interpretados, dada a sua excessiva rigidez em ordem a concitar confiança junto dos “patrões”.
Não há dinheiro. Há que reparar erros cometidos. Estamos no fim da linha… Após isto, só o abismo. É a medida necessária (Vítor Bento). Há que prosseguir, após o infausto do estilo passado (João Salgueiro). O Orçamento de Estado para 2012 parece mau demais para ser verdade. O cenário económico que o suporta prefigura a pior recessão desde 1975 (…) Se (Portugal) suportar os sacrifícios e procurar novas soluções vencerá a crise (João César das Neves, Agência Ecclesia, 18 de Outubro de 2011, p. 16). As medidas do Orçamento são duras, corajosas, indispensáveis. Mas não resolvem nada (José César das Neves, Diário de Noticias, 17 de Outubro de 2011, p. 54). Acrescento que as declarações de Vítor Bento e de João Salgueiro as ouvi na “Sic Notícias”, em 19 desta semana.
Um conhecido meu, que viajou pelo Norte, nos últimos dias, relatou-me que, dos contactos com pessoas afins, ou seja, da Igreja que constituímos, concluiu que aquelas estavam zangadas comigo!
Muitas me contactaram. Chamaram-me a atenção notícias no Facebook. Telefonaram-me. Mau grado a delicadeza da questão, ninguém me corrigiu a análise feita. Trata-se de terreno escorregadio. Tenho intuições, vou empacotando conclusões e apoios que leio de revistas e livros da especialidade e ouso aprender para ajudar. Mas só me chegaram apoios.
E, nesta contemplação tão árdua, onde, prioritariamente, me continuo a perguntar: para nos salvarmos economicamente, pedimos dinheiro emprestado e jurámos pagá-lo. Só que este transe acarreta um naufrágio tão forte, que os “mais pequeninos” vão-se afogar…
Ou seja, em vez de morrermos cerca de 9/10 milhões de portugueses (as), que sucumbam só 2 milhões, número patético de pobres que há por aí. Salve-se a maioria. Os outros, que construam jangadas e se aproximem das margens… Mas é assim?
Hoje (19 de Outubro) ao fim da tarde, ao escutar as posições do Presidente da Republica, afirmando que os limites do sacrifício já foram ultrapassados, sendo desrespeitada a equidade fiscal, com os cortes dos subsídios , pergunto-me diante da ciência económica: mas onde está a verdade? E, pessoalmente: onde o meu erro? Pagam os funcionários públicos (sempre bombos de festa. Por exemplo: os trabalhadores da RTP e da RDP não receberão os subsídios citados. Mas aos da Sic, não se aplicará essa determinação…) e demais trabalhadores… E outros? Mas a “arraia miúda” desaparecerá …
Patrioticamente por que não se dialoga nas mais altas instâncias? Por que não temos a fome do saber, em ordem à justiça, longe de primarismos emocionais e de emblemas clubísticos?
Dou-me conta de espantosa confusão em sectores primordiais! E, por prudência e sensatez, vou-me convencendo de que, em questões de recursos financeiros, começa a ser dita a certeza de que não há dinheiro. E chegamos aqui: pobre de quem nunca teve nada! E não é a Igreja a “Igreja dos pobres”, conforme a meditaremos no próximo “Ano de Fé! (11 de Outubro de 2012 a 24 de Novembro a 2013)?
Lisboa, 21 de Outubro de 2011
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
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