Ao Compasso do Tempo - Crónica de 29 de Setembro de 2011
Em tantos comentários oficiais (de sistemas de toda a ordem) tenho dificuldade em vislumbrar uma linha de cultura humanista ou humanizadora.
Nunca ouvi gratidão e saudade por Adérito Sedas Nunes, Abel Varzim, Joaquim Alves Correia, Manuel Rocha, Narciso Rodrigues, etc, etc, (com excepção dos domínios notáveis da Acção Católica e de organizações exemplarmente ligadas aos valores destes servidores da Humanidade).
Sou mais culpado que os silenciosos. Como cito de coração, muitos escaparam-me à memória.
Sinto-me espantado com a frieza e a oficialidade. Já tenho tempo de vida e de experiência suficiente para conhecer esses “estados de alma”. Quando responsáveis e empenhados (leigos/leigas/padres/religiosos/religiosas), desde há tantos e longos anos, batalharam ao serviço da justiça social, optando pelos meios mais pobres e ofendidos, sempre tiveram como resposta de “salão”, o menos interesse e entusiasmo evangélico.
Não nego uma multidão de casos particulares, onde residiram o fervor, a comunhão e a solidariedade com “os isolados” de posições. Pessoas e organismos (sobretudo, os da Acção Católica Operária) foram amados e venerados por contactos diocesanos, e por via disso, particulares. Com certeza que houve documentos hierárquicos a avaliar e a sublinhar a rectidão de comportamentos. Houve documentos oficiais a chamar à atenção a compromissos e empenhamentos laicais, os quais, sendo da Igreja, também, logicamente, eram de hierarquia.
Mas tomar posição, preto no branco, repetidas vezes, e nas horas de maior perplexidade, e até de calúnia persecutória (posições de movimentos católicos operários, no após 1974; Comissão Justiça e Paz; movimento “Pax Cbristi”, na altura de Guerra do Iraque; questões atinentes à “Metanóia” ou a movimentos de acções católicas referentes ao mundo estudantil secundário e universitário, etc, etc, etc.) tem sido muito raro.
Transpirou sempre a ideologia da conspiração.
Também os receios pelos que andavam sempre rápido e em frente. E, sobretudo, por aqueles que, em nome do “perfume” do poder, os acusavam. E dizer ao perfume que este era “água-de-colónia”, era oferecer os braços à crucifixão.
Porventura, estou a exagerar. Mas prefiro um passo em frente, do que o mesmo para trás.
Falta uma palavra de justiça, de candura familiar, de jovialidade fraterna, de sofrimento por quem não conta.
Patriotas no pagamento da dívida! Com certeza. E patriotas por aqueles de quem ninguém fala?
E há figuras de primeiro plano que nos aparecem na T.V. ou em outras expressões da comunicação social! Falem de quem fabricou “buracos”. E estendam as mãos a quem está a pagar as consequências!
MDN – Capelania-Mor, 29 de Setembro de 2011
D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança
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