Jornal de Opinião

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17/11/11

Mais gastadores em maré de Natal?

Segundo um estudo, recentemente, publicado, os portugueses dizem que vão gastar quinhentos e setenta e cinco euros em compras na maré de Natal, distribuídos da seguinte forma: prendas (375 €), comida (150 €) e convívio social (50 €). A tão falada crise parece, afinal, que não é vivida (tão) a sério... ao menos por alguns, embora se possa, comparativamente, verificar uma quebra de 6,3% em relação às despesas natalícias, que ocorreram em 2009.

Tendo em conta as medidas de austeridade do governo e as dificuldades financeiras em geral seria de esperar os portugueses se contivessem nos gastos. Se colocarmos os mesmos dados de referência podemos ver que os alemães pensam gastar 430 euros e os holandeses 410 euros... em compras por ocasião da Natal deste ano.
Colocando ainda como referência aquele estudo podemos concluir que as consequências das medidas de austeridade entre os portugueses sentir-se-ão mais na forma de gastar do que no valor a dispender... recorrendo menos ao crédito, antecipando as compras – sobretudo aproveitando as promoções e os saldos – e oferecendo prendas úteis e mais baratas.

= Que futuro estamos a construir?
Apesar das preocupações quanto ao emprego e aos cortes na percentagem do subsídio de Natal, os portugueses vão sendo dos europeus mais gastadores. Será que esta atitude revela inconsciência pessoal, familiar e coletiva para entendermos as coisas? Até onde vai o real diagnóstico sobre as dificuldades que são difundidas? Não haverá uma economia subterrânea, que permite viver acima das contas submetidas às finanças? Os (ditos) sinais exteriores de riqueza como é que não são detetados e taxados correta e urgentemente?
Com efeito, estas e outras questões podem assumar à nossa inquietação ao sermos confrontados com aqueles dados supra citados. De fato nem toda a gente poderá afirmar que vai fazer tais gastos na éposa natalícia em curso. Nem os cerca de vinte mil inquiridos, que serviram de critério para gerar aqueles dados de gastadores, podem esconder que há muita gente sanguessuga no sistema económico-financeiro, que tentará subverter as medidas preconizadas pelo governo.
Efetivamente que se poderá dizer dos registos em cafés e restaurantes que nos fazem pagar – sobretudo esses que nós conhecemos e que até nos conhecem – a conta pedida, mas que se furtam a dar-nos o talão de pagamento? Como se poderá viver numa atitude de transparência de impostos, quando nos apercebemos que, na máquina registadora, se escreve uma parcela que não corresponde àquilo que temos de pagar?
Somos, de verdade, um povo de chico-espertos, que se enconcha na sua autofagia e que vive tentando enganar o Estado, pois deste tenta difundir a noção de que ainda nos rouba mais do que as nossas espertezas inventam!

= Haverá, ainda, solução?
Diante de tantas desconfianças como que surge a tentação de desistir. Perante tantos fatos de incoerência como que somos levados a entrar na onda do ‘vale-tudo’. Castigados pela inoperância da justiça podemos entrar na lógica do ‘faz-de-conta’. Acrisolados pelo torniquete dos impostos podemos tentar fugir, aliviando a carga para os vindouros...
No entanto, temos, urgentemente, de assumir a nossa tarefa de:
- Viver na verdade, segundo critérios de autêntica pobreza... à luz das fontes do Evangelho;
- Criar condições de pacificação, assumindo cada um o seu papel de construtor do bem comum;
- Gerar amor ao trabalho mais do que à preguiça e à ditadura da subsidio-dependência;
- Gerir as economias e a poupança mais do que os créditos e as dívidas não-pagas;
- Insuflar nova esperança mais do que entrar num certo desespero e na tristeza em nós e à nossa volta.
Cristamente temos responsabilidades acrescidas. Assim as saibamos assumir e compartilhar!

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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