Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

18/11/11

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 18 de Novembro de 2011

Acompanho o caso do Rui Pedro há tantos anos! Transporto comigo as palavras benditas daquela mãe, cicatrizada no olhar e na face, e, no fundo da sua psique, desolada.
Ouvia-a hoje (17 de Novembro): “O Rui Pedro era uma criança feliz. Mas tiraram-mo”.
Tirar, desviar, roubar, assaltar, violar, matar… tudo igual!

Tanto engenho no mal espalhado por adultos que assaltam uma criança (directa ou indirectamente), à semelhança dos desviantes dos nossos dias que fogem com o dinheiro dos postos de gasolina, com o cobre dos sinos da igreja ou da estátua, no coração da vila, com o ouro, comprado em todas as esquinas, como volfrâmio de antigos tempos.
Bem razão tinha aquela criança de oito anos, que bem conheço, quando se escapuliu de casa para ir comprar rebuçados e, a meio do caminho, se sentiu traída por um tio, que teve o cuidado de a seguir, à distância, em zelo tão amigo. Quando se deu conta de estar a ser espiada, desafiou o adulto familiar, nestes termos: “Mas o tio está a seguir-me porque não tem confiança em mim”.

Ainda hoje, esse mesmo tio, repete a sentença, com que a sossegou: “Em ti deposito a maior confiança, filha. Em quem não confio é nos outros”.

Foram outros os responsáveis pelo desaparecimento do Rui Pedro, há treze anos. Igualmente de demais e outros desvios, termos que, no nosso léxico, se tornaram repetitivas e ideológicos.

Todos conhecemos a tragédia de crianças transviadas e ofendidas, conforme ocorreu, e ocorre, de acordo com o julgamento do “caso Casa Pia”.

Foi bom escutar, à porta do tribunal, o veredicto do advogado: “Não se trata de arranjar um culpado à força. Trata-se de buscar a verdade. O mais importante é encontrar o Rui Pedro”.

Deixo aos Queridos Pais (e a tantos outros, que, por este e diferentes caminhos, se viram privados de um filho(a)) a certeza de estar com eles, não deixando de repetir a palavra do Evangelho, após a morte de Jesus:
“Tiraram-me O Meu Senhor e não sei onde o puseram”. E Ele estava ressuscitado!
Retiraram-nos os filhos, a honra, a esperança, a alegria de viver, a justiça e a paz, o trabalho e a justa paga, o à vontade feliz, a coragem, o sentido, a expectativa humanizadora…

Uma sociedade perde o tino e a dimensão quando se roubam crianças com o triste realismo da situação que aqui lembramos. Como é possível não se descobrir onde está o Rui Pedro?!

Falamos em humanidade e em sociedade nova (e original, conforme outro).
Mas foge-se com o Rui Pedro, sem deixar um ai! E, no decurso da noite, há neste civilizado mundo, centenas (milhares) de pessoas, que dormem nas ruas! Há o elementar a salvar. E em Portugal!

“Voltemo-nos para os bárbaros”, revivendo o grito de Ozanam e, mais tarde, de Teilhard de Chardin. “Eles” ainda andam por ai. Pelos vistos

MDN – Capelania Mor, 18 de Novembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança


0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial