O canto de certos pássaros... na política à portuguesa
Por estes dias – sobretudo por ocasião dos discursos do ’25 de Abril’ e numa entrevista do primeiro ministro – fomos escutando como vozes de fundo alguns pássaros a manifestarem a sua presença. Se o melro em Belém era um tanto difuso e até melodioso, o grasnar do ganso em São Bento parecia de mau agouro.
Será que agora as aves vieram dar voz – concordante ou dissonante – aos discursos e entrevistas dos nossos políticos? Será que os animais também manifestam o seu desagrado aos criadores e alimentadores da crise no nosso país? Será que teremos de encontrar quem tente descodificar estas preocupações do ‘nosso’ mundo animal?
= Quem (nos) fala (ainda) verdade?
Caminhamos a passos rápidos para a resfrega eleitoral, surgindo já os baixos ataques... mesmo às condições de carácter, as insinuações... sobre o feito ou mal-feito, as provocações (pretensamente) ideológicas... mas que disfarçam as pretensões de uns, de outros, de tantos e da maioria...
Num país onde quem mais mente mais ganha, começa a ser enfadonho que tente legitimar-se no poder – antes, durante ou depois – quem pouco fez ou tem feito para o merecer. O quadro partidário sofre todo ele de miopia social, pois, uma grande parte, talvez nem saiba quanto custa uma carcaça de pão ou um litro de leite... embora reclame a continuidade do ‘estado social’... endividado, subsidio-dependente e falido.
Num país onde todos tentam viver do Estado... embora fugindo o mais possível ao pagamento de impostos, torna-se irrisório ver como certas figuras se apresentam (quase) impolutas, quando foram elas quem nos levaram à ruína... alegremente, isto é, com festas e comícios, discursos e promessas ocas e irrealizáveis.
- Quem foi que criou mais desemprego, despesismo e falência de empresas? Ainda merecerá legitimamente o nosso voto?
- Quem nos tentou dizer que tudo corria bem (económica e financeiramente) e escondeu as (verdadeiras) contas à fiscalização europeia e aos seus concidadãos? Ainda poderá honestamente pretender governar-nos?
- Quem afundou o país no descrédito perante as instituições financeiras, não terá vergonha de continuar a arremeter contra o povo indefeso e esfomeado?
Bem razão têm os pássaros para nos irem dando música – suave ou arrepiante – pois os homens da política infernizam a nossa vida com tantos arremedos de mal-crença.
= Tomar posição: votar, escolhendo
Foi com alguma perplexidade que ouvimos um tal senhor sabido em leis e prolixo de palavras, vir dizer que tínhamos de fazer ‘greve à cidadania’, não votando nas próximas eleições. Outros alvitraram que seria melhor ‘votar em branco’, tentando com isso dizer da discordância para com os intérpretes actuais da política portuguesa. Também aqui nos parece haver um certo oportunismo hipócrita, pois o voto, sendo arma do povo, tem de definir opções e não meras achegas de quase cobardia... em jeito de ‘nim’, isto é, nem sim nem não... talvez, nada!
Desculpem a ousadia: não quero ser governado por pessoas que mentem, que não assumem os seus erros e que tentam assobiar para o lado quando as coisas correm mal, não assumindo, efectivamente, as responsabilidades sobre o estado do país e da sua economia, da sua cultura e mesmo da dimensão sócio-espiritual... mais sublime dos nossos antepassados. Temos heróis e santos que merecem respeito e veneração!
Mais do que continuar a idolatar o ‘velho do Restelo’ ou a carpir sobre enfermos em decomposição, é chegada a hora de sabermos discernir quem pode recuperar este país, dar espaço à valorização da pessoa humana e reduzir ao mínimo o peso do Estado na economia, pois já basta de tanta mentira... e cumplicidade na desgraça.
De pouco adiantará tentar enganar o povo com pios – são das aves e não das fés – agoirentos, pois a verdade liberta e faz-nos ser e viver livres. Podem contar connosco!
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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