Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

23/04/10

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 23 de Abril de 2010

Nos “pedaços de mau caminho”, expressão brasileira que traduz “pecados”, busco sensibilidades fora da Igreja, atentas a tais “descaminhos”. É da sabedoria mais primária ouvir quem estende o dedo, sem desejar para nós nem o degredo nem a forca, como o fizeram tantos em outras épocas.

Bem sei, jogando com a objectividade de passos em falso, alguns poder-nos-ão querer humilhar. Também, em seriedade do mundo, terão a intenção de clarificar os nossos discursos untuosos (alguns) e as auto-canonizações, antes do tempo…
Há dirigentes de toda a ordem a quem nada pode ser dito como reparo. Claro… que referencio chamadas de atenção com fundamento, em nome da clarividência e da recta ordem de construir. Mesmo que assim não seja, ao nosso comentário, brando ou inflamado, cabe-lhe a obrigação da verdade.

Cito-lhes dois breves textos, meditados no decurso destes dias. O primeiro, aqui vai: “ (…) o mais grave de tudo é ver altos responsáveis do clero a falarem como isto fosse um mal imanente a toda a sociedade, e à Igreja não coubesse ser diferente”( Miguel Sousa Tavares, Expresso, 17 de Abril de 2010).

Bem sei que há calúnias concretas (uma só em Portugal, até hoje) e fígados a doerem-se. E vamos perder o sono por quem, devido às nossas respostas, ganha publicidade gratuita?! Esses, não contam, dada a cultura do saber e da dignidade pessoal. Ainda há muita gente em Portugal que, em nome da tacanhez ou da maldade, está convencida de que tudo o que é “contado” nos “média”…tem o valor da “escritura”. E vá de citar, julgando e vituperando, quem surgir acusado, em letras gordas. Este é o primarismo mental, próprio até de quem julga que, por ser profissional (ou ter sido profissional) de uma instância universitária, está imune “ a pedaços de mau caminho”. Em todos os sectores, há disto. A Igreja não o está em pessoas que o servem. Mas não atribuam ao sistema pensante da Igreja a “lama dos sapatos” e as nódoas de crimes. Não somos mais nem menos.

Escolhemos a “ melhor parte” da diferença. Mas esta aí está em avaliação.
O outro texto é do Miguel Torga do “Diário” de 7 de Abril de 1968.
Li-o em Tourém, ao vir ao mais Norte de Portugal, ouvir e falar a militares:
“ Azoeirado diariamente pelos papagaios do amor acrisolado à Pátria, que açaimam, prendem ou liquidam os que duvidam da cantilena e erguem, ofendidos, a voz acusadora, é com inveja que olho os habitantes deste pequeno enclave barrosão, que a grandeza espanhola não conseguiu descobrir nem devorar”.
Próximo de mais um 25 de Abril aqui fica mais um recado patriótico!
MDN – Capelania Mor, 23 de Abril de 2010

Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Força Armadas e de Segurança



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19/04/10

Os casos de pedofilia na Igreja... A minha reflexão

Os meus queridos leitores conhecem muitos sacerdotes. Conhecem algum pedófilo? Sabem de algum que seja abusador de crianças?

A pergunta vem a propósito desta cachoeira de notícias que os canais de televisão, as revistas semanais e os jornais diários, portugueses e estrangeiros, têm vindo a enviar-nos... repetidas e exploradas de um modo insistente, às vezes doentio, uma e outra vez.
Quem lê e ouve essas notícias, se não estiver bem avisado e prevenido, até conclui que a pedofilia entre os membros do clero é um mal generalizado e sem remédio. Nem me admira até que os pais católicos, com receio de que os seus filhos sejam abusados pelos seus párocos, pensem, uma e outra vez, se poderão ou deverão deixar as suas crianças e os seus adolescentes à igreja e a catequese! A dar-se crédito aos jornalistas e a alguns comentadores, o caso não é para menos!
Segundo consta, é verdade que existiram abusos sexuais de crianças e adolescentes por parte de alguns padres em alguns países e, pelo que se diz, não foram poucos e duraram tempo de mais. As últimas notícias falam-nos de 130 padres pedófilos conhecidos no mundo, só nos últimos 10 anos. Não há dúvida nenhuma que isto é uma vergonha! O comportamento destes padres é uma enormíssima mancha na Igreja de Jesus: a nossa querida Igreja!
Mas, generalizar a culpa e estender o labéu aos ministros da Igreja toda, como parecem fazer alguns jornalistas da nossa praça e muitos comentaristas de blogs e de face books…é um grave e indesculpável abuso que eu quero repudiar vivamente.
Que percentagem de sacerdotes no mundo cometeram ou cometem o crime e são abusadores de crianças?
Porque se fala tanto e com um especial acinte dos “pecados da Igreja” e das “culpas do Papa”? Por detrás deste acinte, não estará uma tentativa de denegrir a igreja e descredibilizar o papa, por parte de um “laicismo vesgo” que pretende eliminar a Fé e a Religião das nossas sociedades europeias e impor um “relativismo” sem peias e sem razão?
Uma Igreja que se declara corajosamente a favor da Vida e da Família é uma forte obstáculo a quem defende o aborto, a eutanásia, o casamento de pessoas homossexuais e pretende instaurar no mundo uma sociedade sem princípios e sem valores. Há que descredibilizá-la. Há que tirá-la do combate. E esta é uma oportunidade a não perder!
Não ponho em causa as denúncias e as notícias verdadeiras. Quando os jornalistas são honestos, correctos e verdadeiros, prestam um grande serviço ao mundo e também à Igreja. Coisas destas não podem ficar encobertas. Mas, da parte dos senhores jornalistas e dos muitos “comentadores de lareira”, gostaria de ver também igual preocupação com os milhões de bebés que, ainda mais indefesos, são todos os dias trucidados antes de abrirem os olhos e lançados aos baldes do lixo, nas clínicas dos nosso e dos outros países “evoluídos” deste nosso mundo. Em relação a esses, infelizmente, calam-se como se de coisa normal e virtuosa se tratasse.

O facto e as notícias relacionadas com o tema sugerem-me entretanto mais algumas observações que gostaria de partilhar com os meus leitores.

1.—Ninguém tem dúvida de que actos de pedofilia, cometidos seja por quem for, são pecados gravíssimos perante Deus e crimes indesculpáveis perante o mundo. São vergonhosas aberrações da natureza humana. Merecem todo o nosso repúdio e toda a nossa condenação.

2.—Quanto às acusações de que a igreja tem vindo a ser alvo, direi que ninguém está, nem pode estar, imune a críticas e a denúncias, sobretudo quando estão em causa a dignidade e o pudor de pessoas inocentes, frágeis e indefesas. A Igreja Católica também não. De modo algum. A Igreja não pode nem deve armar-se em vítima. Se alguém claudica, e desta maneira, pode e deve ser posto em causa. Seja padre, seja bispo ou seja papa. A Igreja e os seus ministros têm a obrigação de ser as primeiras e as maiores referências morais da sociedade. Tal exigência ajuda-me a compreender de certo modo a virulência dos ataques que têm sido feitos pela nossa comunicação social.

3.—As denúncias e as críticas, estas e todas as outras, se são verdadeiras e justas, devem ser aceites com humildade por todos, inclusivamente pelos líderes da Igreja e por todos os membros da hierarquia. Até se devem agradecer, para que os problemas se resolvam o mais depressa possível.

4.---Penso que os senhores bispos da América, da Holanda, da Alemanha e de outros os países onde tal aconteceu, ressalvando na medida do possível o bom nome das pessoas (a caridade deve estar sempre presente, aconteça o que acontecer… e muitos jornalistas não sabem disso), logo que tiveram conhecimento de tal situação por parte de um dos seus padres, deviam tê-los afastado de imediato do contacto com crianças e mesmo destituí-los dos seus cargos eclesiásticos. Se o não fizeram, têm certamente grande culpa.

5.—Considero que o Papa e os Bispos não são nem podem ser directamente responsabilizados pelos actos dos seus padres ou dos seus fiéis. Obrigá-los a pedir perdão ao mundo pelos pecados de outros membros da Igreja é exigência estúpida e arrogância despropositada.
Acompanho, com muita mágoa, o sofrimento injusto por que está a passar o Papa Bento XVI.

6.—Não estou de acordo com o crime que se atribui aos bispos das dioceses onde havia padres desses, por não os denunciarem de imediato. É verdade que os direitos das crianças são sagrados e estavam certamente acima de tudo, mas também compreendo que nenhum bispo acharia correcto expor na praça pública os pecados dos seus padres e causar um enorme escândalo entre os fiéis. O que certamente procuraram fazer (e eu faria o mesmo), foi tentar a conversão ou a cura dos pecadores e reparar o melhor possível os seus estragos junto das crianças e das famílias lesadas e abusadas. Parece que foi o que fizeram. Ninguém de bom senso esperaria que esses bispos corressem logo à polícia ou ao tribunal civil a fazer a denúncia do crime ou se dirigissem às agências de notícias a publicitar o facto. Um pai não fazia isso a um filho. Um bispo não devia fazer isso a um dos seus padres.

7.—Há quem agora se apresse a ligar a pedofilia ao celibato sacerdotal. Penso que tal ligação é ilegítima. Pergunto: e a pedofilia dos que são casados? Pior ainda, e a dos próprios progenitores das crianças e dos jovens que, pelos vistos, é a mais generalizada? A culpa não estará no celibato!

8.---O que está a passar-se é um verdadeiro tsunami na Igreja Católica. Porém, longe de ser o fim da mesma Igreja, é ocasião para uma grande purificação e uma profunda renovação. Estes choques são precisos, de longe a longe. Sempre foi assim. As grandes crises da Igreja e as históricas revoluções nas sociedades trouxeram sempre muito sofrimento ao povo e à Igreja, mas foram sempre o princípio e o dealbar de uma Igreja Nova, mais humilde, mais pura e mais feliz.

9.—Com o número reduzido de vocações que temos, há cada vez mais o perigo de se aproveitar tudo o que aparece. Considero que os maiores responsáveis da Igreja, a partir do que agora sabemos, têm de estar muito mais atentos e ser muito mais rigorosos na escolha dos seus padres e dos seus diáconos. O processo de consulta que decorre antes das ordenações, se tem sido um pró-forma, não pode continuar a sê-lo. Os novos sacerdotes não podem continuar a marcar as Missas Novas, sem antes receberem o sim definitivo do seu bispo. Os bispos ou os reitores do seminário, por mais atentos que estejam, não conhecem tudo nem sabem de tudo.

10.—Se os padres forem poucos, insuficientes, não será a altura propícia para se começarem a ordenar homens casados, com uma família estável e com uma vida exemplar?
Algumas das minhas considerações podem não estar certas. Muitos dos leitores podem não estar de acordo comigo.
Porém, é assim que eu penso.

Resende, 7 de Abril de 2010

J. CORREIA DUARTE



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16/04/10

Secos e pecadores... na Igreja e para o mundo?

Ocorre, no próximo dia 19 de Abril, o quinto aniversário da eleição do Papa Bento XVI. Estes últimos anos foram para a Igreja católica e para o Papa em particular de grande sofrimento, de contínuos ataques, de campanhas sórdidas... escarafunchando males, esventrando memórias, rasgando consciências... atingindo tudo e todos.
Foi neste espaço de tempo que vieram à luz do dia situações vergonhosas humana, social e cristãmente. Qual puzzle labiríntico foi posto a descoberto muito daquilo que andava capciosamente escondido, de tão lamentável que era, que é e que sempre será!

Referimo-nos às notícias sobre a pedofilia. Esta chaga humana, social, psicológica e moral tem perseguido o magistério do Papa Bento XVI. Por ocasião da sua próxima visita a Portugal temos estado a ser bombardeados, diariamente, com notícias, comentários, insinuações, acusações, dislates, provocações da mais dispare índole.
Na abertura, no passado dia 12, da assembleia plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Jorge Ortiga referiu-se à matéria nestes termos: «Perante a grave lesão da dignidade pessoal das vítimas dos casos de pedofilia, importa restabelecer a justiça, purificar a memória e reafirmar, humildemente, o compromisso da Igreja de fidelidade a Deus e de serviço aos homens».
Antes de tentarmos abordar este assunto talvez não seja (in)oportuno lançar algumas perguntas:
- Por que será que os judeus – pelo menos certos meios mais ideológicos (*) – estão tão assanhados contra o Papa – será por ele ter aberto o processo de Pio XII sem se intimidar com as acusações de anti-semitismo com que o têm rotulado?
- Por que têm tanto receio certos lóbis gays dos estudos – americanos de há décadas e dos mais recentes – de que possa insinuar-se alguma ligação entre a pedofilia e a homossexualidade?
- Será mera coincidência em que os jornais que mais falam do assunto da pedofilia – tanto americanos como alemães ou britânicos – sempre têm o Vaticano e o Papa em mau conceito ou melhor sob preconceito?
- Até onde irá a resistência à verdade em que os prevaricadores sejam julgados e/ou afastados do contacto com crianças, sejam padres ou professores, pais ou educadores, sejam médicos ou treinadores... homens ou mulheres?
- Não estaremos a pagar – na própria carne – já as consequências de alguma promiscuidade e idolatria do corpo sem regras nem moral?

* Afectivos ou afectados?
Num tempo tão ávido de escândalos, a pedofilia – com outras questões adjacentes, tais como: a promoção do naturalismo, do aborto, das prostituições, da pornografia, etc. – tem sido aproveitada mais para lançar distracção do que para reflectir sobre as verdadeiras causas. Tal como noutras matérias temos estado a olhar mais para as consequências do que a procurarmos as verdadeiras causas. De facto, o aproveitamento dos mais frágeis – crianças na sua maioria, rapazes ou raparigas – para actos de baixeza moral, denota que algo vai mal no interior de muitas pessoas... Dizemo-lo de qualquer vocação ou profissão, atinja quem prevaricar... comprovadamente. Tudo será mais grave se, de quem se esperava respeito e seriedade (como são os casos de padres, há mais ou menos tempo), vemos exactamente o contrário.
Está na hora de, pondo-nos cristãmente em questão, perguntarmos se a dimensão afectiva de tantos ministros da Igreja foi, de verdade, evangelizada ou não terá sido, antes, recalcada? Até que ponto Jesus terá atingido o coração desses homens e mulheres? Não terá sido mais defendida a dimensão da sisudez de fachada do que a serenidade da entrega a Deus por amor do Reino dos Céus?

* De secos a pecadores?
Para quem tenha estudado, minimamente, a influência das doutrinas contemporâneas ao surgimento do cristianismo, saberá que o estoicismo teve maior repercussão na doutrina da Igreja do que, por exemplo o epicurismo e o hedonismo. Foi mais fácil aceitar – na medida em que trazia exigência à moral – as regras do sacrifício do que as propostas do prazer. De alguma forma o prazer como que simbolizava mais uma falta de auto-domínio do que a procura da contrariedade. Repare-se como, na religiosidade latino-romana, parece mais fácil atrair pessoas à via-sacra e à quaresma do que à ‘via lucis’ ou às alegrias do tempo pascal!...
Fomos, de algum modo, formatados para uma certa religião macambúzia e sem aspectos de prazer e contentamento. Se isto foi mais ou menos tolerado em certos meios, noutros, mesmo que à socapa e roçando as franjas do imoral e/ou do pecado foi sendo vivido numa linguagem de fora da norma ou contra a dignidade de outrem.
Talvez esta argumentação não justifique nada – e nem sequer ajude a entender os erros, os abusos e os crimes – nem desculpe ninguém... muito menos se for clérigo. No entanto, destapado o condicionamento religioso – estes será tanto mais procurado, quanto menor for a adesão à pessoa de Jesus Cristo e à mensagem do seu Evangelho – muito mal foi posto à solta, deixando a descoberto muitas feridas, bastantes erros e piores praticantes da falta de conversão.
O equilíbrio emocional e afectivo tem um percurso de maturidade em cada pessoa humana. Nada está acabado. Estamos em vias de crescimento até à estatura de Cristo, o homem perfeito!

(*) Bastará ver a animosidade com que alguns influentes judeus (da ala mais maçónica e integrista) vieram a terreiro contestar as palavras do Padre Raniero Cantalamessa – que por estes dias está em Portugal – usando das maiores diatribes contra a Igreja católica. De facto, tal como em Ratisbona, com o Papa Bento XVI, também na 6.ª feira santa, com o Padre Cantalamessa, houve uma citação de escritos alheios, que desenquadrados do contexto, permitiram interpretar o que não foi dito revertendo, normalmente, em desfavor da Igreja católica.

A. Sílvio Couto


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09/04/10

Ao Compasso do Tempo - Crónica de 09 de Abril de 2010

Leitura semanal dos problemas do Mundo e da Igreja

Não esqueço as palavras que se seguem:
“Da minha parte, tenho plena consciência de ter lutado por que se instaurasse em Portugal um regime autenticamente democrático e que, por essa via, o Povo Português escolhesse livremente a sociedade em que desejaria viver. Lutei para que esse regime se implantasse em ambiente de reconciliação nacional, com base numa ampla abertura do leque político a todas as forças democráticas do País. Lutei para que a descolonização se realizasse com dignidade, com justiça e no respeito pelos direitos sagrados de todos os que viviam nos territórios ultramarinos. (…) Empenhei-me nessa luta até ao extremo dos poderes que me haviam sido conferidos e da minha dignidade”
Se fosse vivo, festejaria em 11 de Abril de 2010 cem anos o autor deste texto e que se chama António de Spínola, Marechal do Exército Português. (Cf. Ao Serviço de Portugal, Lisboa, Ática/Livraria Bertrand, 1976, ps. 22-23).
Volvidos longos anos, continuam a esvoaçar velhos demónios do atraso das gentes, da sua incultura e do desprezo pelos que a invocam, do pessimismo diante da celeridade que se impunha na mudança social, da possível conspiração contra o avanço e o progresso, da tristeza quase atávica… por não chegarmos ao que, para todos, seria justo, útil e bom!
Entendido por muitos (idolatrado até pelos seus mais próximos); proscrito e marginalizado por tantos; conveniente para dar cobertura hierárquica às forças revoltosas; desajeitado, enquanto discordante e insubmisso no âmbito de camaradas de armas; menos político na arte da governação; demasiadamente alinhado no capítulo do pensar e do decidir, face ao dispositivo pluralista que se constituiu no pós-ditadura… Muitos assim julgam o Marechal Spínola. Bem, mal? Fica uma certeza: ninguém lhe roubará o mérito de ter amado Portugal e de ter sido um dos seus soldados de mais alto valor e sentido!

Lisboa, 09 de Abril de 2010


D. Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança
http://castrense.ecclesia.pt



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Benditos Sacerdotes

São muitos os Sacerdotes Católicos que conheço e são vários que tenho a honra de poder ter como Amigos.

Nunca é demais agradecer a Deus pelas suas vidas, pela missão e serviço que aceitaram.

São estes e tantos outros Sacerdotes que quotidianamente se entregam a Deus e ao próximo. Que ministram os Sacramentos, que estão sempre disponíveis, que dão bom conselho, que rezam por nós, que dão bom exemplo.

Lembram-me Deus. Pelo Amor que têm ao Seu Povo. Pelo bom trabalho que fazem nas Almas. Com espírito humilde, caridoso, alegre. Os Sacerdotes que encontro são assim! Estão com os pobres, os aflitos, os doentes, os marginalizados, os agonizantes, os necessitados. Todos os dias. Admirável!

São estes os Sacerdotes que conheço. Não são perfeitos, mas caminham para a perfeição. São a alegria de Nossa Senhora, são os seus filhos predilectos: Nuno, João, Duarte, Pedro, Hugo, Gonçalo, Mário Rui, José, José Maria, Luís Miguel, Duarte, Duarte, António, João, Nuno, Gonçalo, José Manuel, Miguel, Manuel, Fernando, João Paulo, Nuno, António, Ricardo, João, Armando, Armindo, Álvaro, José, Miguel, José Manuel, João, Joaquim, Eladino, Paulo, Pedro, Francisco, Nuno, Alberto, Victor, Valentim, Jerónimo, Manuel, Diogo, João, José, Arsénio, Francisco, Nuno, Carlos, Luís Manuel, Giovanni, Stefano, José, Armin...

Obrigado pela presença, pela constância na procura do bem, pela fidelidade a Jesus Cristo e à Sua Igreja.

É por causa destes bons homens que o Mundo está melhor. É através deles que eu entendo a Igreja, a maneira de Cristo permanecer na Terra. São a contemporaneidade de Cristo.

2ª-FEIRA NA OITAVA DA PÁSCOA, 5 de Abril de 2010
Rodrigo Faria de Castro

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Tabu de batuta

Há cinquenta anos começou-se a apregoar que a alcoolismo era uma doença e não um vício.

Há quarenta anos os especialistas repetem o mesmo do consumo de droga. Os manuais descrevem a cleptomania, a dependência do jogo, a mitomania, as compulsões sexuais de repetição, etc. como perturbações do comportamento ou doenças. Descrevem os seus sintomas, o seu carácter obsessivo e compulsivo, o seu carácter repetitivo, dificilmente curável e a sua prática mais e menos imputável. Apontam factores e causas prováveis, hipotéticas, genéticas, congénitas, relacionais afectivas com a mãe, o pai e as sua ausências, sociais, etc. Oferecem-se para tratar essas perturbações.
Os abusos heterossexuais, homossexuais e bissexuais, seja com crianças com adolescentes ou adultos, homens ou mulheres, com características semelhantes àquelas perturbações também eram apresentadas como perturbações e por vezes doenças ou associadas a doenças psíquicas. E por isso deixaram em certa altura de ser só vícios, delitos ou crimes por estarem associadas e serem perturbações e doenças. E se os seus actos eram praticados com violência contra a vontade dos parceiros eram crimes mais e menos imputáveis.E poderiam até ser considerados inimputáveis se associados a patologias graves.
De repente; á medida que se descobriram mais escândalos, delitos, crimes ( vícios, pecados) de pedofilia, pederastia (com adolescentes) e abusos de violência sexual entre adultos veio o tabú. Agora nos media não se fala de perturbações ( e doenças doenças psíquicas ainda menos) associadas a estes comportamentos sexuais repetitivos e cometidos compulsivamente. Porquê? Foi declarado o tabú de batuta. O M(a)estre comanda e o exército de “especializados”, gente dos jornais, afinam pela batuta, e o “exército” obedece. Uma harmonia perfeita à volta do “empresário moral” em clima de “pânico moral”...Tudo muito conveniente. No meio de tanto ruído passará melhor como “banalidade” o aborto a pedido, o “casamento” gay, os lucros com os “embriocidas” humanos, os lucros com o tráfico de humanos, com a droga, o álcool, as armas. Grita-se para o lado…para distrair a malta para fazer passar tudo o que dá muito lucro mediante muita corrupção.

Vizu de Steps


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06/04/10

Autoridade com amor (a grande lição da manhã de Páscoa)

1. A Páscoa não é uma circunstância vaporosa de uma época distante.
Ela é a novidade perene oferecida ao homem e inscrita no tempo. Em cada tempo. Também no nosso tempo.

O Evangelho, até no mais ínfimo pormenor, tem a preocupação de realçar tal novidade.
A referência ao «primeiro dia da semana» (Jo 20, 1) surge em nítido contraste com o dia anterior, o último dia.
O último dia culmina na Cruz. O primeiro dia arranca do sepulcro.
Em causa não está tanto a introdução do novo como a transformação do antigo. É o antigo que se renova, que se transfigura.
Este dia começa cedo, ainda escuro. A escuridão mora em quem procura alguém que julga estar morto.
Maria de Magdala nem sequer se apercebe de que já se encontra num tempo novo.
Ela está persuadida de que a morte levou a melhor. As evidências parecem inultrapassáveis.

2. Mas eis que o sinal da morte está removido. A pedra no sepulcro seria como um ponto final num texto. Afinal, o texto iria continuar.
Sucede que, num primeiro momento, a reacção é de alarme. Não se trataria de uma vitória da vida, mas do furto de um cadáver (cf. Jo 20, 2).
Resolve então avisar dois dos discípulos de Jesus: Pedro e João, duas personalidades e dois sinais.
Aliás, o autor do quarto Evangelho insiste bastante na categoria sinal. Quando fala de milagres, emprega sempre a palavra sinais (semeia).
Pedro representa a autoridade, João iconiza o amor. Já na Última Ceia, Pedro está perto de Jesus, mas pede a João para Lhe perguntar acerca de quem O iria entregar (cf. Jo 13, 23-26).
Por aqui se vê como a autoridade, na Igreja emergente, não vale por si mesma. Ela só age através do amor, pela mediação do amor.

3. Depois da ressurreição, ocorre o mesmo. Pedro sai com João rumo ao sepulcro. Ou seja, a autoridade não dispensa o amor na procura de Jesus.
Mas, a determinada altura, João antecipa-se. Na verdade, o amor vai sempre à frente e chega sempre primeiro.
Como refere o comentário de Mateos-Barreto, «corre mais depressa o que tem a experiência do amor, o que foi testemunha do fruto da Cruz».
De facto, na hora da morte, só o amor (João) esteve presente. A autoridade (Pedro) ausentara-se. Só o amor é capaz de vencer o medo.
João chega primeiro ao sepulcro. É pelo amor que se atinge a meta e que se chega a Deus.
Só que, como reconhece S. Paulo, o amor também sabe ser paciente, também consegue esperar e, aspecto nada negligenciável, nunca é invejoso (cf. 1Cor 13, 4).
João vê o sepulcro vazio, mas não entra. Aguarda que Pedro venha.
O amor respeita a autoridade. Até porque sabe que, na Igreja, a autoridade está ao serviço do amor.
Não se trata de um mero gesto de deferência. É, sobretudo, um gesto de reconciliação.
É que, com as negações de Pedro (cf. Jo 18, 15-17.25), era a autoridade que vacilara, vacilara no amor.
Agora, o amor dá uma nova — e definitiva — oportunidade à autoridade.
João, que estivera junto à Cruz, não se arroga uma qualquer superioridade, estatuto tão fácil de avocar e sentimento tão pronto a exibir.
O amor é humilde. Sabe que a autoridade tinha negado Jesus, mas, por isso mesmo, deixa-a entrar em primeiro lugar para que, em primeiro lugar também, expresse o seu amor.

4. O amor é mesmo assim: uma sucessão de começos. A autoridade sente-se reabilitada e segura por correr atrás do amor.
Na Igreja de Jesus, a autoridade só faz sentido em função do amor.
Só correndo atrás do amor, a autoridade alcança o seu destino. É o amor que aponta o caminho à autoridade. Sem amor, a autoridade perde o norte, a bússola.
Eis, por conseguinte, uma novidade jamais superada. Pedro e João a caminho do sepulcro sinalizam, assombrosamente, o perfil da Igreja pelas estradas do mundo.
A autoridade é necessária. Mas só para tornar presente o essencial. E o essencial é o amor.
Porque, como alvitra o Evangelho (cf. Jo 20, 8), só com o amor se vê, só pelo amor se acredita.


João António Pinheiro Teixeira
padre


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05/04/10

Algumas razões para ‘ser padre’... hoje

No ‘ano sacerdotal’ em tempo de Páscoa

Enquadrado no ‘ano sacerdotal’, no contexto da celebração da Páscoa e ao ritmo das diversas vivências pessoais e comunitárias, sentimos como que um impulso – suficientemente racional muito para além do mero emotivo, embora razoavelmente emocional para não se tornar minimalistamente racionalista – de exprimir algumas (que não exclusivas) motivações para ser padre neste tempo, isto é, enquanto vivemos no hoje, à luz do passado e em abertura ao futuro.
Atendendo ainda aos múltiplos ataques – alguns roçando quase o ridículo – aos pecados – pessoais e sociais – de muitos clérigos (nos vários quadrantes do mundo) como que se torna imperioso apontar – sem qualquer defesa ou mesmo intento ressabiado – para as razões profundas ‘de ser’, ‘para ser’ e, sobretudo, ‘como ser’ padre... hoje.

* Ser feliz (identidade e vocação)
Ninguém poderá ajudar os outros a serem felizes, se o próprio não for feliz. Se, para qualquer vocação ou, mesmo, profissão isto é válido, tanto mais o é para o padre. Com efeito, o padre não é um castrado de sentimentos, embora os tenha entregado ao serviço de Deus pelos outros. O padre não é um infeliz na prossecução individualista dos seus afectos, embora os viva em entrega celibatária, o que não quererá significar solitária. O padre não foi amputado de qualquer das suas faculdades emotivas, embora as saiba, com maturidade, imolar positivamente ao Deus a quem serve no altar do sacrifício vivo e renovado cada dia.
Desgraçadamente há quem tente opinar sobre matérias que não conhece suficientemente ou que procure lançar confusão, tanto quanto é perceptível, a partir da sua incapacidade – emocional, afectiva ou intelectual – de dar (ao menos) o benefício da dúvida sobre a integridade moral doutrem.

* Comunicar a vida... como dom (valorização e missão) aos outros
Efectivamente, ninguém foi criado para obstaculizar – conscientemente – a capacidade de comunicar a vida, tanto na paternidade como na maternidade, tanto biológica, como psicológica e/ou espiritual. Certamente seria frustrante que alguém tenha sido ordenado padre para fugir à responsabilidade de ser presença do amor (paterno de Deus e materno em Igreja) como dom e missão de Deus neste mundo.
A dimensão de padre envolve algo mais do que uma capitulação fora dos desígnios de Deus. Pelo contrário, ser padre é assumir a força de Deus Pai, nas mais diversas dimensões. Com efeito, só quem nunca tenha percebido esta dimensão de paternidade do padre poderá considerar que este não é, de verdade, pai espiritual – na linguagem de alguns autores: ‘pater familias’ – de seus irmãos, tornados filhos por graça de Deus.
A vida espiritual – essa que dá, de facto, consistência às outras dimensões essenciais do nosso ser com os outros – ganha nova relação quando está influenciada pela força paterna de Deus, traduzida em gestos, em palavras, em sinais e em desafios de nova vida... em crescendo de maturidade divina.

* Mãos abençoadas e para abençoar (dimensão pneumatológica)... como Jesus
Se pretendêssemos encontrar uma faceta do corpo humano para simbolizar o ministério sacerdotal poderíamos – sem o fazermos de forma redutiva – apontar as mãos como símbolos mais significativos. As mãos do padre foram ungidas, na ordenação, e com as mãos, ele invoca o Espírito Santo (epiclese) na celebração dos diferentes sacramentos, comunicando-nos o poder do Senhor, hoje. Com efeito, as mãos do padre são o sinal distintivo e paradigmático da comunicação de Jesus entre os homens e mulheres do nosso tempo. Por isso, será de grande utilidade ministerial que o padre reflicta sobre o modo como usa as suas mãos e aos outros fiéis como entendem e atendem à função das mãos do padre.
Não será também casual que, na revelação de Jesus ressuscitado, as mãos (para além do lado aberto) são ‘lugares’ onde estão impressos os sinais da paixão gloriosa com que Cristo se faz presente com os seus. Das mãos trespassadas e gloriosas de Jesus nos venha, hoje, pelo ministério do padre a bênção de Deus... ressuscitada e ressuscitadora.

A. Sílvio Couto


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