Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

26/01/12

Crianças apadrinham os mais velhos

No ano passado havia – segundo dados das forças de segurança – cerca de dezasseis mil velhos, em Portugal, a viver sozinhos ou isolados. Embora estejam, por estes dias, a ser atualizados os dados, através da ‘Operação censos sénior’, poderemos tentar encontrar algumas das causas deste fenómeno de ‘abandono’ dos nossos mais velhos, queremos sugerir breves desafios...

Recorrendo, novamente, aos dados publicados, os distritos onde há mais velhos sós ou abandonados são: Santarém, Porto, Castelo Branco, Braga, Bragança, Vila Real e Aveiro... com mais de mil velhos em situação de abandono total ou parcial, em cada um dos distritos. Por seu turno, a ilha do Corvo, nos Açores, é o distrito onde este fenómeno tem menor expressão, somente catorze!
Quais são as causas mais profundas para que os mais velhos sejam, deste modo, abandonados e/ou neglicenciados? Com que fatores (internos, exteriores, culturais ou mesmo espirituais) temos de contar para tentarmos explicar o agravamento deste abandono? Será isto resultado de um estilo de vida ou de uma vida sem estilo humano? Como podem ter contribuído os mais velhos para que este fenómeno se tenha generalizado? Como serão tratados os filhos que assim abandonam os pais? Serão os (ditos) cristãos diferentes no seu comportamento?
Estas e muitas outras perguntas nos assaltam ao vermos o tratamento dado a tantos dos nossos mais velhos, andando em busca de propostas que possam atenuar esta chaga da nossa sociedade, cada vez mais materialista. Por isso, a proposta que apresentamos tem tanto de simples quanto de circunstancial, pois, tendo nós a responsabilidade – em razão do ofício e do ministério – dum lar de idosos e, conjuntamente, de um jardim-de-infância, queremos tão simplesmente deixar pistas neste ‘ano europeu do envelhecimento ativo e da solidariedade entre gerações’.

= Diálogo entre crianças e velhos: lições e projetos
Certamente já teremos visto um avô ou uma avó em conversa um neto ou uma neta ou vice-versa. O momento é ainda mais enternecedor quando o mais novo é muito pequeno, pois a distância física – pelo tamanho, pela diferença e até pel linguagem – se atenua nas condições psicológicas.
Quando assistimos à saída das crianças do jardim de infância e são os avós quem os procura podemos viver toda uma ressonância de mensagens mais ou menos perceptíveis... entre comunhões de sangue.
Sabemos como hoje muitas das nossas crianças são – agradavelmente – a companhia para os seus avós e estes sentem-se úteis pela ajuda que prestam a seus filhos/as... pais. Felizmente nem distinguimos a atitude de avô ou de avó... ambos sentem-se colaboradores nas dificuldades. Vivendo nesta sintonia vamos humanizando as relações entre gerações... onde os pais correm o risco de serem menos interventivos e até participantes no processo de educação.

= Crianças apadrinham/amadrinham... os mais velhos
Partindo das respostas sociais dos nossos centros paroquiais poderemos criar sinergias entre estas duas etapas do desenvolvimento humano: as crianças (tanto da creche como do jardim-de-infância ou mesmo do centro de atividades de tempos livres) poderiam assumir algum cuidado para com os mais velhos... muitos deles acima dos oitenta anos e, por isso, no estádio de ‘grandes velhos’, quais bisavós ou tetravós sociais e espirituais.
Se cada sala assumisse o cuidado de um certo número – entre seis e oito, num leque de vinte e cinco crianças – de velhos do lar ou de centro de dia poderíamos ir humanizando as nossas respostas sociais, envolvendo nessa aproximação os pais e outros participantes no processo educativo, bem como gerando proximidade e tempo de escuta para com muitos dos nossos velhos, que se vão fechando no seu mundo ou até são relegados para o limbo do esquecimento... mesmo que estejam com outros ao seu lado.
Numa espécie de contestação às vozes agoirentas que semeiam sinais da desgraça e do desespero, queremos lançar pétalas de boa harmonia entre os mais novos e mais velhos, tentando fazer com que adolescentes, jovens e adultos façam parte da solução positiva entre o berço e a bengala, aconchegando uns e amparando outros... terna e fraternamente.
Luz de serenidade e de ousadia a quanto obrigas... sempre em fidelidade ao Espírito de Deus em cada tempo e nos mais diversos lugares!

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)


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23/01/12

“Investimento” em filhos. Há outra solução?

Economista de grande competência, directora de uma das melhores escolas de negócios, recomendava aos pais que investissem nos estudos dos filhos porque era a melhor colocação das poupanças que podiam fazer. Investir em casas era um mau negócio e isso está à vista com tanta casa vazia.

Outra notícia dizia que a Andaluzia estava a ficar ocupada como os filhos dos emigrantes do norte da África e vazia de filhos de espanhóis. Muitos comentaristas vão dizendo que o Estado Social não é sustentável simplesmente porque os idosos suplantam os novos. Vai-se repetindo ainda o facto que após fecharem centenas de escolas primárias e secundárias, agora será inevitável fechar ou fundir muitas universidades. E a razão primeira não é a falta de verbas. A razão primeira é que faltam alunos para as escolas, os colégios e as universidades porque a demografia desceu este ano em Portugal aos níveis mais baixos de sempre.
E os pais a teimar investir em casas para ficarem vazias, em carros e artigos de luxo, roupas, alimentação cara e nociva; depois eles, os pais, ficam cada vez mais sós, mais entregues a uma casa em que vivem sós, adoecem sozinhos e morrem sozinhos. Podem estar rodeados de “coisas”, muitas coisas, mas estas não aquecem o coração, não dão vida humana. Abandonados? Não, eles é que têm vindo a abandonar a sua missão e a centrar-se no seu umbigo, a cuidar só de si mesmos. Esqueceram-se ou enganaram-nos de que uma vida melhor poderia ser só para eles e para poucos mais, um filho , dois ou nenhum. Esqueceram que a vida melhor é vivida em partilha com os humanos do passado, os do presente e os do futuro, os que vão nascer e os que vão morrer. Economia de armazenar coisas leva as pessoas a ficar rodeadas de coisas, afogadas em coisas, no desamparo, no vazio, no suicídio antecipado. A vida de pessoa circula entre pessoas, é troca, é energia, é amor, é luz que as põe em comunhão.
Os últimos cem anos criaram o individualismo como se a vida fosse só de indivíduos, ilhas, como se cada individuo não tivesse nada a ver com todos os da sua espécie, com os outros que nos vão suceder. A vida humana só adquire o seu sentido quando os indivíduos se assumem como pessoas que são, seres de relação que têm dimensões da sua vida nos outros, a recebem doutros; e podem ter a felicidade de dar muitas dimensões da própria vida a outros.
O começo da solução de muitos males da doença pós-moderna do individualismo suicida e desta crise está em “investir” em vidas dos outros, em filhos, em seres humanos, em pessoas e na sua igual dignidade. Haverá outra solução? Quanto mais se dá mais e melhor se vive e se vai viver. Investir demasiado em animais e em coisas não preenche o vazio actual. Ao contrário, quanto mais se investe em vidas de pessoas, mais se respeita a sua dignidade, mais se fica rico, mais cresce a vida. Assim faz a “família trinitária” das três pessoas divinas. Foi para isto que Cristo, uma dessas pessoas, veio para o pé de nós, e se “faz” nós para que tenhamos vida e vida em abundância e nos tornemos Ele.

Jan. 2012
Aires Gameiro




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Ao Compasso do tempo - 20 de Janeiro de 2012

Comemoram-se hoje, em Fátima, os cinquenta anos da existência da “Obra Católica das Migrações”. Nasceu nos momentos do “salto”, do medo, da fome, da separação de membros da família, da ausência do trabalho, ou, mantidos postos de laboração, da insuficiência dos salários.

Esses tempos heróicos (menos para os responsáveis de um país votado ao subdesenvolvimento e com as alternativas das “colónias” fechadas a quem cometia o crime de buscar um emprego) e os anos seguintes caíram no esquecimento para a maioria de opinião pública. Os emigrantes foram sempre considerados (e alguns condecorados) nas horas amargas do país, altura própria para bater à porta dos portugueses no estrangeiro à espera que eles enchessem os cofres do Estado… O economicismo vem de longe e os terrenos da emigração têm capítulos de exploração, de agiotagem, de oportunismo, de interesses escondidos. Os heróis são reduzidos à balança onde se pesam os dinheiros… O patriotismo não é muito o nosso forte, quando se trata de sagas de solidariedade. Em sessões solenes ou em paradas não faltam homenagens nem leituras retóricas dos gigantes do país. Mas nem aí (e talvez bem) se têm registado honras e gratidão perante vencedores dos desprezos da terra mãe. Era oportuno estudar estas questões, rever essas pessoas, reconciliarmo-nos com postergados do país. A Igreja esforçou-se por fazê-lo, e com os limites próprios de missão tão exigente, viveu a honestidade de estar com os mais sofredores. Houve leigos e padres, de que o país e a Igreja se devem recordar. Tenho pena que, no programa publicado, não apareçam lá como comunicadores ou presença na primeira fila, padres e leigos a quem a Obra Católica das Migrações tudo deve nas várias fases do seu serviço. Foram, com certeza, “servos inúteis” mas construíram a inutilidade da utilidade. Neste, e em todos os outros terrenos, é necessário cultivar uma mentalidade desenvolta, uma coragem evangélica, um à vontade de nunca se julgar superior ao mundo e às suas linguagens, um sentido convivente de gente normal, um sentir-se solidário com as lutas dos outros, quaisquer que sejam as suas opções religiosas e políticas.
A emigração foi um campo farpado da miséria e um laboratório de desenvolvimento dos mais descartáveis. Mas acho que a Igreja em Portugal, no seu todo, nunca encarou com o devido relevo evangélico esta questão. Num organigrama de proclamadas “novas evangelizações” era capaz de ser classificada nos lugares mais modestos a tal emigração… Não me contradigo. A Igreja devia ter ido mais longe.
Mais uma razão para aprender com caminhos andados e com os precursores. E tenhamos presente que é lá para fora que nos indicam a rota. Quando falta pão na nossa casa, comamo-lo na casa dos outros, com o nosso suor e dignidade. Mas assuntos de tal delicadeza não podem ser tratados com a ligeireza e o ar primário, com que têm sido.
Os emigrantes não são mercadoria de exportação. Nem aqueles que, não sendo emigrantes, se tornaram tais, ao dedicarem a sua vida a “vencedores”.
Estou convicto de que o tema migratório irá explodir entre nós.
Que resposta dará a Igreja de Portugal?


MDN – Capelania Mor, 20 de Janeiro de 2012
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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16/01/12

Ao Compasso do tempo - 13 de Janeiro de 2012

Da leitura destes dias não me apraz repetir o tema da maçonaria. A maior tormenta desta questão é confirmar-se a notícia de que, em nome do “recato”, alguns se revelaram menos púdicos, porque, no problema de “exploração do homem pelo homem” não há cautelas mas opressão. De acordo com uma das vozes respeitadas desse âmbito, deveriam ser expulsos, pela imoralidade do comportamento. Mas, em fronteira com esta perspectiva (do secretismo, da privacidade por regulamento, das cautelas e estratégias além cortinas), alguns procedimentos gerais nos merecem atenção:

a) como explicar a inocência de associações, se os seus membros, no dia a dia, até dispõem de uma “senha” para estabelecer aproximação de quem se julgava ali estranho? A “ideologia” da associação é significativa para gerar um clube. Uma seita usa também desse código. Não haverá essa intenção. Mas lá que se pratica, pratica… Diz-se uma palavra-chave. Alguns, ali ao lado, concluem: és do meu “clube”… secreto.

b) por que motivo pedir sigilo a respeito de algumas características, até de movimentos católicos, com o bom fito de utilizar a novidade, como revelação evangélica e o inusitado como explosão emocional?
Não vale a pena obter resultados de conversão à custa de efervescência de processos, até a esse momento, aferrolhados a sete chaves. O saber-se da regra de esconder desencadeia um clima mítico, parente rico ou pobre da suspeita e desconfiança. É bem previsível a cerimónia litúrgica do casamento. Não se “fez sigilo” do que vai ocorrer diante do altar. O mesmo se refira do acontecimento da ordenação sacerdotal. Pois, sem névoas nem escondimento, as pessoas vivem com alvoroço, uma beleza sem par… A serenidade e o clima normal, sem truques nem jogos de alma, exprimem a liberdade e a adesão espontânea, e até entusiástica. As explorações emocionais casam-se bem com o secretismo. Os dois elementos dão mau resultado. Pensar e amar dispensam aperitivos prévios… e, sobretudo, impróprios.

c) não posso entender as habilidades mistéricas que aconselham uma jovem ou um jovem, de maior idade, a fugir ao diálogo aberto com os pais ou outros responsáveis, deixando uma carta sobre a cama desses familiares, num certo dia, em que concretizaram o “salto” da família, para se consagrarem à Igreja e ao mundo. (escapulindo-se a uma conversa civilizada, quase com medo de, eventualmente, virem a ceder à menos concordância dos mais adultos) E as instituições católicas, promotoras destas deontologias, porventura já superadas, por que não publicamente desautorizarem tão bárbaros procedimentos? Se é que foram reais… Podem ter sido filhos do “mito” ou da conspiração, de que se alimentam muitas sectores mal pensantes.
O secretismo é mau conselheiro. Por todas as razões. Mas, mormente, pela de maior consideração: tudo se vem a saber!
Não tenham ilusões. Bem diabolicamente avisados andaram aqueles, que, prometendo o maior respeito pelos “tristes” da vida e pela austeridade do viver, pagam principescos salários, bem publicitados pela incoerência não escondida. O segredo é a alma do negócio?


MDN – Capelania Mor, 13 de Janeiro de 2012
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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14/01/12

Não nos resignamos

«2012 será um ano de sacrifícios para muitos portugueses. Mas será igualmente um ano em que a fibra do nosso povo virá ao de cima. Não nos resignamos. Somos um povo que se agiganta quando as adversidades são maiores e mais difíceis de superar. É nestas alturas que os portugueses conseguem ultrapassar-se a si próprios e surpreender tudo e todos. Eu acredito nos portugueses. O civismo, a coragem e a serenidade com que têm enfrentado estes tempos difíceis são dignos de todo o respeito e de enorme admiração. Portugal é maior do que a crise que vivemos».

Deixando que outros – políticos de partidos e sindicalistas de profissão, comentadores ‘sábios’ e opinadores de intenção – façam a hermenêutica (escondida nas entrelinhas) das palavras que deviam ser ditas, consideramos que este excerto da mensagem do Presidente da República de Ano novo como que – em nosso entendimento – lança pistas para o nosso futuro próximo.
De fato, há razões para este estado do país. Há culpados e causadores. Há soluções e deturpações. Há mentira e exageros na verdade! Queremos olhar aquelas palavras com esperança – palavra repetidamente dita pelo PR na referida mensagem – pois nós somos muito maiores do que afinal pensamos, como portugueses.

= Civismo na não-resignação
Do que temos visto em certas manifestações – tanto políticas como sindicais, em greves ou noutras tomadas de posição – são atitudes de pouco civismo, criando mal-estar entre os atingidos pelos (ditos) direitos dos reclamantes. Com feito, as mais recentes greves dos maquinistas do caminho de ferro foram disso um desagradável exemplo, pois atingiram largas fatias da população e criaram prejuízos ao país e ao empregador.
Esta falta de civismo é (ou pode ser) resultado do deficiente entendimento dos deveres de uns contra os direitos de outros. Esta falta de civismo resulta de uma inadequada forma de compreender certas lutas dos sindicatos, que, na maioria dos casos, são tiros no futuro do emprego que ainda vão tendo. Esta falta de civismo quase parece resultado do enclausuramento de certos dirigentes sindicais – perpassando as várias áreas de intervenção – que, já nem conhecendo o seu espaço profissional, como poderão gerar lutas corretas, sensatas e civicamente responsáveis?

= Coragem da não-resignação
Nos tempos que correm o risco de desanimar é tentação de uma razoável maioria. A resignação não pode ser virtude dos cobardes, mesmo que acomodados ao ‘não vale a pena’! A resignação não é nem pode ser deixar correr, pois outros farão por mim.
A não-resignação exige coragem para se comprometer na mudança. Cristamente dizemos ‘conversão’, sobretudo, aos valores do Evangelho. Por isso, a rotina de certos atos religiosos pode ser uma espécie de narcotização resignada e repetitiva de rituais ocos.
A não-resignação exige capacidade de discernimento à luz do Espírito de Deus, que sempre nos incomoda para um crescimento na profundidade de Deus em nós, levando-O àqueles que se possam acomodar ou egoisticamente centrar em si mesmos.

= Serenidade pela não-resignação
Diante da exigência em não ficarmos a ver de bancada o que nós devemos fazer no campo do jogo, a não-resignação só surtirá efeito se for vivida na serenidade em «aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar as que posso, sabedoria para distinguir umas das outras» -- como se diz a oração da serenidade dos Alcoólicos Anónimos.
Quando tantos barafustam e querem fazer da agressividade uma nova atitude política, é urgente compreender o desafio da serenidade.
Quando tantos se abespinham contra tudo e contra todos, mas não são capazes de deixar cair as suas regalias em favor dos mais desafavorecidos, é fundamental entender a serenidade como atitude cívica e moral.

Cremos que é chegada a hora de sabermos unir e condimentar a não-resignação com estes três ingredientes – civismo, coragem e serenidade – colocados pelo PR na sua mensagem de Ano novo. Queira Deus que, o ano de 2012, seja digno da confiança que nele depositamos!

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)


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11/01/12

Não ter medo de dizer que não

«Gosto muito do meu filho — dizia um senhor numa reunião de pais na escola — e procuro que ele se dê conta disso. No entanto, reconheço que algumas vezes o meu filho se porta mal. É verdade que ele só tem cinco anos de idade. Mas também é verdade que eu tento não me esquecer desse “detalhe” quando converso com ele sobre o seu comportamento.

«No outro dia, um psicólogo disse à minha mulher que nessas idades ninguém se porta propriamente mal. Simplesmente, faz com inocência algo que ainda não aprendeu que está mal. Eu, que não sou psicólogo nem nada que se pareça, não estou nada de acordo com isso. Já vi o meu filho portar-se mal. São coisas pequenas, evidentemente, mas ele sabe o que faz e tem consciência disso.
«E para o seu bem, procuro actuar com firmeza — não é sinónimo de violência — e dizer-lhe claramente que “não”. Ser claro, para mim, não é o mesmo que gritar. Também procuro explicar-lhe o porquê do meu “não”, de modo que ele possa entender. Assim, é mais fácil para ele obedecer àquilo que eu lhe digo, mesmo que não lhe apeteça.
«Muitas vezes, apercebo-me de que ele obedece não tanto por entender o que lhe digo, mas por confiar em mim. Porque sou seu pai. E, além disso, seu amigo. A paternidade é um facto. A amizade é uma conquista diária. E essa amizade entre nós também cresce quando ele percebe que eu lhe digo que “não” porque gosto dele — quando seria muito mais fácil para mim não lhe dizer nada».
Que gosto dá ouvir estas palavras tão sensatas! Os pais, se amam de verdade os seus filhos, não terão receio de, algumas vezes, dizer-lhes que “não”. Que pena se, por temor a contristar o filho ou a passarem eles um mau bocado, se habituem a ceder naquilo que não devem ceder! Quantos remorsos depois com o passar dos anos — e eles passam rapidamente — de não ter sabido dizer que “não” a tempo! Tudo se complica. Como diz o povo, cheio de sabedoria, é de pequenino que se torce o pepino.
Não é nada lógico dar aos filhos tudo aquilo que eles pedem. Nem deixá-los fazer tudo aquilo que lhes apetece. É preciso manter-se firmes, com uma firmeza amável e delicada que procede do amor. E convém não esquecer que a primeira qualidade do amor é a força para fazer o bem.
E se, depois de ter dialogado com os filhos e ouvido os seus argumentos, eles não gostam ou não entendem uma indicação dos pais? Nesse caso, penso que os pais não devem ceder naquilo que verdadeiramente consideram que é importante. O contrário seria claudicar num ponto nevrálgico da educação. Mais tarde, serão os próprios filhos a ouvir esse “não” no seu interior diante daquilo que poderiam fazer mas sabem que não devem fazer. Mas não nos enganemos: é muito difícil que esse “não” seja interiorizado pelos filhos se antes não foi pronunciado pelos pais.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria




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08/01/12

Ao Compasso do tempo - 06 de Janeiro de 2012

Os “justos” são a porção viva e sã, mas escondida, da comunidade a que pertencem (…). O fundamento da esperança no futuro é o reconhecimento dos “justos” que nos rodeiam, seja qual for o meio em que vivem e o apoio que somos capazes de lhes dar na sua “luta” pela justiça. Talvez isso sirva de antídoto contra a desilusão que nos causam os poderosos das finanças, da política ou do espectáculo (José Mattoso, Uma ideia para Portugal, Público, 6 de Março de 2010, p.2).


Será com tráfico de influências, com sociedades secretas e suas “pontes” e interesses com outros campos e sectores, com taxas de 3 euros (felizmente já corrigidas) por uma questão telefónica colocada a um clínico e o consequente desrespeito jogado sobre uma classe (seja ela quem fosse), com deslocalizações, após protestos de fidelidade patriótica, etc., que vamos fortalecer mentalidades cultas e sãs em ordem à estruturação de uma nova ordem social?
A Sodoma e a Gomorra dos nossos dias serão salvos… se ao menos, se mantiver de pé quem nos habituou a nunca utilizar outras poses…
O actual bastonário dos médicos chega ao ponto de sublinhar que há maneiras ou decisões (a das tais taxas moderadoras de 3 euros) que ultrapassam “os limites da racionalidade”, no sentido de serem irracionais… Nem que seja uma só pessoa… Uma só pode impedir a destruição, um só é bastante para construir uma cidade outra, sem vilanias, sem opressões em matérias tão sensíveis com as da saúde, sem confusões nem apagadas tristezas.
“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui/ Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/no mínimo que fazes/ Assim em cada lago a lua toda/brilha, porque alta vive” (Fernando Pessoa).
Morreu um desses “justos” em 18 de Dezembro de 2011. De nome Vaclav Havel, ex-presidente da República Checa. Não sei se não terá escrito o que se segue, a pensar em Portugal:
“Se não queremos ser controlados por forças anónimas, os princípios da liberdade, igualdade e solidariedade – os fundamentos da estabilidade e da prosperidade das democracias ocidentais – têm de começar a funcionar a nível global. (…) a política não é apenas uma tecnologia do poder (…) tem de ter uma dimensão moral (…). Assim, a união da Europa deveria constituir um exemplo para o resto do mundo sobre a melhor forma de enfrentar os vários perigos e horrores que nos cercam hoje” (Público, 15 de Novembro de 2004).
Como justificar a esperança, tão invocada em mensagens e votos nos inícios deste novo ano, se é difícil encontrar quem, diante de certas circunstâncias, se mantenha de pé?!

Nota: Relembro em comunhão o Padre David Vaz Monteiro, sacerdote da arquidiocese de Braga, falecido esta semana.
Foi capelão militar, tendo desempenhado as funções de chefia da assistência religiosa da Marinha.

MDN – Capelania Mor, 06 de Janeiro de 2012
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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Civilização ateia? Que lhe parece?

Está a ser de moda aparecer nos jornais e internet o tema da civilização ateia. Como se pela primeira vez o mundo tivesse aceitado viver numa civilização sem Deus. O tema é atribuído a Vacla Havel, o poeta e homem de governo checo já falecido que em 2000 disse em Praga: “a nossa é a primeira civilização ateia” da história, isto é, aquela que “perdeu a sua conexão com o infinito e a eternidade”. Ao perder esta conexão com o transcendente e a eternidade entregou-se a uma espécie de civilização suicida sem esperança e sem futuro.


Em primeiro lugar a minha reacção é de que não vivemos numa civilização sem Deus mesmo que se possa pensar nas muitas manchas de ateísmo prático e militante. Contudo basta considerar alguns números aproximados de pessoas que uma maneira ou outra mantém algum fé em Deus para não concordar. Pensemos nos 2,3 biliões de Cristãos (Católicos 1,2), no 1,5 biliões de Muçulmanos, 8-900 milhões de Hinduistas, cerca de 1,5 bilião de outras diversos grupos religiosos.

É certo que o mundo é oprimido por minorias, grupos, lóbis que lutam contra todos os tipos de religião. São máfias ateias, grupos de interesses e negócios lucrativos sem ética que pensam que são eles que controlam o mundo e se arrogam o comando da humanidade e da história. E pensam como se Deus e os grupos religiosos, os Católicos em primeiro lugar, já não tivessem lugar no mundo. Isto não é novo mas hoje é mais insidioso, melhor organizado e com mais meios incluindo até meios de multinacionais. Procuram atingir os seus objectivos promovendo o aborto, a baixa de natalidade em países inteiros, defendem todas as práticas sexuais aberrantes, a violência e o tráfico de crianças, de adultos, armas e drogas. Pode-se dizer que não temem a Deus nem ao Diabo.

Tudo isto já começou há muito tempo. O projecto de construir uma civilização sem Deus e sem horizontes de transcendência e de eternidade, segundo o meu pensar e análise, explodiu com grande ruído e violência com a República Francesa em 1789 com a adoração da deusa razão e a venda de catedrais para pedreiras, e desde então não tem cessado de ser imposto e desenvolvido por todos os meios por esses grupos.
O Papa Bento XVI disse em Berlim que sem Deus não há futuro para a humanidade. Alguns grupos continuam contudo a tentar provar o contrário. Por agora o resultado está à vista: nós vivemos mergulhados numa crise colossal de valores e de uma monstruosa corrupção. Os Cristãos, contudo, sabem e acreditam que Deus não está ausente, está bem presente no mundo e naqueles que o aceitam. Nós vamos ser fiéis à celebração da sua presença, Jesus Cristo, a Palavra de Deus feita Carne. Afinal a Civilização está a ser restaurada continuamente por Ele e pelos que vivem unidos na sua vida quotidiana.

Jan. 2012
Aires Gameiro



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06/01/12

Compasso do tempo do dia 06 de Janeiro de 2011

Os “justos” são a porção viva e sã, mas escondida, da comunidade a que pertencem (…). O fundamento da esperança no futuro é o reconhecimento dos “justos” que nos rodeiam, seja qual for o meio em que vivem e o apoio que somos capazes de lhes dar na sua “luta” pela justiça. Talvez isso sirva de antídoto contra a desilusão que nos causam os poderosos das finanças, da política ou do espectáculo (José Mattoso, Uma ideia para Portugal, Público, 6 de Março de 2010, p.2).

Será com tráfico de influências, com sociedades secretas e suas “pontes” e interesses com outros campos e sectores, com taxas de 3 euros (felizmente já corrigidas) por uma questão telefónica colocada a um clínico e o consequente desrespeito jogado sobre uma classe (seja ela quem fosse), com deslocalizações, após protestos de fidelidade patriótica, etc., que vamos fortalecer mentalidades cultas e sãs em ordem à estruturação de uma nova ordem social?
A Sodoma e a Gomorra dos nossos dias serão salvos… se ao menos, se mantiver de pé quem nos habituou a nunca utilizar outras poses…
O actual bastonário dos médicos chega ao ponto de sublinhar que há maneiras ou decisões (a das tais taxas moderadoras de 3 euros) que ultrapassam “os limites da racionalidade”, no sentido de serem irracionais… Nem que seja uma só pessoa… Uma só pode impedir a destruição, um só é bastante para construir uma cidade outra, sem vilanias, sem opressões em matérias tão sensíveis com as da saúde, sem confusões nem apagadas tristezas.
“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui/ Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/no mínimo que fazes/ Assim em cada lago a lua toda/brilha, porque alta vive” (Fernando Pessoa).
Morreu um desses “justos” em 18 de Dezembro de 2011. De nome Vaclav Havel, ex-presidente da República Checa. Não sei se não terá escrito o que se segue, a pensar em Portugal:
“Se não queremos ser controlados por forças anónimas, os princípios da liberdade, igualdade e solidariedade – os fundamentos da estabilidade e da prosperidade das democracias ocidentais – têm de começar a funcionar a nível global. (…) a política não é apenas uma tecnologia do poder (…) tem de ter uma dimensão moral (…). Assim, a união da Europa deveria constituir um exemplo para o resto do mundo sobre a melhor forma de enfrentar os vários perigos e horrores que nos cercam hoje” (Público, 15 de Novembro de 2004).
Como justificar a esperança, tão invocada em mensagens e votos nos inícios deste novo ano, se é difícil encontrar quem, diante de certas circunstâncias, se mantenha de pé?!

Nota: Relembro em comunhão o Padre David Vaz Monteiro, sacerdote da arquidiocese de Braga, falecido esta semana.
Foi capelão militar, tendo desempenhado as funções de chefia da assistência religiosa da Marinha.

MDN – Capelania Mor, 06 de Janeiro de 2012
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança


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05/01/12

2012… O ano do fim do mundo?

No verão passado, uma senhora professora abeirou-se de mim para me perguntar se 2012 seria mesmo o ano do fim do mundo.
No primeiro dia deste ano, com alguma intenção por certo, passou na SIC o filme “2012”.

Assim sendo, desejaria abrir o assunto à discussão dos meus leitores e dar sobre ele a minha pobre e despretensiosa opinião.
O dito filme, que tive o cuidado de ver, dirigido por Roland Emmerich, é um anúncio de catástrofes e um relato antecipado de eventos calamitosos que acontecerão no planeta, no ano agora decorrente. Fazendo referência ao famoso “Calendário de Contagem Longa” dos Maias, que, segundo alguns estudiosos, coloca em 2012 o “fim dos tempos”, o filme mostra a crosta terrestre a abrir-se em brechas de fogareiro e deslocar-se e a arder em fogo por efeito de graves e perigosas erupções solares, resultando daí inúmeros cenários apocalípticos, tais como destruidores tsunamis e horrendos terramotos, mergulhando o mundo todo num verdadeiro caos sem remédio e sem retorno.
Como referi, o anúncio do fim dos tempos por parte de alguns estudiosos reporta-se ao “Calendário de Contagem Longa Mesoamericano” mais conhecido por “Calendário Maia”. A ideia é a de que os Maias, que no seu calendário pré-colombiano terão previsto vários acontecimentos que vieram a verificar-se, nomeadamente a chegada do homem branco - Hernan Cortez - a 8 de Novembro de 1519, prevê também que algo de muito grave se passará no solstício de Inverno, a 21 de Dezembro de 2012, data que é considerada o final de um ciclo de 5.125 anos do referido calendário, relacionando-se com essa data vários alinhamentos astronómicos.
Nessa previsão e anúncio, o acontecimento será tão grave que o mundo, tal como o conhecemos, desaparecerá.
Diz quem sabe que, nessa data, durante o solstício, a Terra estará de facto alinhada com o Sol e com o centro da nossa galáxia – a Via Láctea -, que no centro da Galáxia existe um buraco negro supermassivo, e que o alinhamento da Terra com este buraco negro levará a uma profunda mudança do campo magnético terrestre, que trará consigo tsunamis, vulcões, e terramotos.
Que deveremos pensar acerca disto?
Sempre houve anúncios do fim do mundo através dos tempos: a convicção dos cristãos de Tessalónica de que a Vinda de Cristo estava por dias, tendo S. Paulo necessidade de lhes escrever para lhes recomendar que trabalhassem e não se deixassem enganar por ninguém… a crença do “milenarismo” que ocupou muitas mentes durante séculos… as promessas repetidas dos “Jeovás” que sempre abortaram e nunca se concretizaram… são, entre outros, muitos desses vaticínios falsos que se foram repetindo, uns atrás dos outros.
Repetindo uma tradição continuada, sempre ouvi o nosso povo dizer que o próximo fim do mundo será “de fogo”. Parece vir dar razão ao povo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, quando, na terceira “Conferência da ONU sobre o Clima”, pensando no aquecimento global e acelerado do planeta, disse peremptoriamente: "Estamos pisando fundo no acelerador e caminhamos para o abismo”.
Alguns estudiosos acreditam que 2012 é a data final para se achar uma solução para o inevitável “fim do petróleo” que poderá ocorrer nas próximas décadas e dizem que, se isso não se fizer, o mundo poderá entrar numa imensa recessão global e num posterior colapso económico: as nações irão lutar entre si pela última gota de petróleo. Isto poderá desencadear uma guerra no planeta e o fim da civilização como a conhecemos hoje - alertam esses estudiosos.
Como sabemos todos, Jesus anunciou diversas vezes o fim dos tempos: “Estava sentado Jesus no Monte das Oliveiras, e os discípulos aproximaram-se d’ Ele para Lhe perguntarem: Quando será isso e qual vai ser o sinal da Tua Vinda e do fim do mundo? Jesus respondeu: Tende cuidado e não vos deixeis enganar: ouvireis falar de guerras e tumultos, mas não quer dizer que seja o fim…Muitos vão perder a Fé…Hão-de aparecer falsos profetas que enganarão muita gente. A maldade aumentará de tal maneira que a fé e o amor de muitos arrefecerá. Mas aqueles que se mantiverem firmes até ao fim, serão salvos. (Mateus, 24, 3-14)
Consequentemente, e na linha da opinião de honestos e competentes cientistas, podemos dizer que a promessa do fim do mundo para 2012 não passa de uma ameaça infundada, aproveitada por muitos com objetivos pouco claros.
O que eu acho porém é que esta civilização em que vivemos, baseada na mentira, no orgulho, na injustiça, na exploração, na fraude, na corrupção e no oportunismo, na descrença, no desprezo por Deus, pelas Suas Santas Leis e pelas leis da Natureza, está à beira do colapso e, mais hoje, mais amanhã, irá chegar ao seu fim para ser trocada por outra.
Quando será?
Responderei com as palavras de Cristo:
…O dia e a hora desses acontecimentos é que ninguém sabe: nem os anjos no céu, nem o filho. Só o Pai é que o sabe. (Idem, 36)

Quanto a essa mudança de civilização, oxalá que seja em breve.

Resende, 03 de Janeiro de 2012

J. Correia Duarte



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02/01/12

Ao Compasso do tempo - 30 de Dezembro de 2011

O infortúnio pode ser um momento oportuno em ordem à felicidade. Diz-se.
Mas como? Mude-se de estilo, de formas de comportamento, de paradigma tão à moda. Mas alterar o quê?

a) Para quê gastos com idas a congressos, reuniões de grande porte, a encontros (todos do meu aplauso), quando não chegam aos interessados, conclusões, avanços, proposta de qualificação!

Que se faz de novo? Que processos começaram a ser tentados? O que mudou?
b) Porquê publicar revistas do melhor papel e recorte, ainda que de conteúdos magros, as quais se mantêm (como tantas outras coisas em Portugal!) porque suprimi-las seria sinal de fraqueza e de decadência, bem à vista de quem quiser ver?

c) Porquê construir ou manter volumosos edifícios, nascidos de esmolas e do bem querer de gente séria, com despesas gritantes na ordem da sua conservação, em vez de se enveredar por soluções mais convenientes, à semelhança da família que sentiu o dever de abandonar o casarão para habitar num simples andar?
Porquê tudo “à grande”…. quando a obra é a favor dos “pequenos”?

d) Porquê a propensão para molduras e brasões, para o fervilhar de instituições e novas místicas, e em que a realização máxima é sempre a de mais um santo fundador?
e) Lembram-se da odisseia (e da ilíada…) em que consistiu a construção de uma televisão de inspiração cristã?

Não haverá outras tantas derrapagens do mesmo género, mas em ponto pequeno?
f) E se secundando o convite para emigrar, os nossos desditosos desempregados vierem a defrontar-se com a tragédia da vingança? E se os naturais dos países que forem procurados nos fecharem as portas com as mesmas explicações e regras de quotas que alguns portugueses, em época recente, brandiram, fechando o portão da quinta?

g) E por que não alterar-se a ausência de pedagogia por parte do poder vigente, o qual, em cada curva do calendário, lá nos aparece (sem explicação nem sensibilidade) com mais um elemento adicional, com mais um imposto, com mais uma decisão “patriótica”? Por que será? Posso desejar-lhes um ano de 2012 menos mau do que o previsto?

Nota: Na sequência de tantos amigos aqui recordados, na altura da sua morte, permito-me evocar meu irmão Luís, falecido em 18 de Dezembro, no Hospital de S. José, em Lisboa, com uma pancreatite.

Sua mulher, os quatro filhos e os cinco netos sabem bem que nada se perde! Esta é a economia do Natal!

MDN – Capelania Mor, 30 de Dezembro de 2011
Januário Torgal Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e Forças de Segurança



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Expetativas... para 2012!

Sem nos deixarmos vencer pelas vozes agoirentas de tantos ‘profetas da desgraça’, tentaremos deixar um leque de sugestões – na sua maioria (quase) positivas – para o novo ano, auspiciando razoáveis expetativas, que dependem de nós e não pode(re)mos transferir para os outros...

A lista, que apresentamos, seguidamente, não é por escala de importância nem por razões de mentalidade, pois, se quisermos, esta listagem nunca estará fechada!

- Da verdade fazer lema. Quem se esconder por detrás da mentira é falso e serve o mal.
- Da poupança criar riqueza. Quem muito promete, quase sempre falha e, muitas vezes, engana.
- Do trabalho fazer mais do que uma ocupação. Não basta sobreviver é preciso viver com sentido de benfazer aos outros, trabalhando dignamente... como vocação e missão.
- Da coerência tornar-se discípulo. De pouco servirá ter boas intenções se, muitas delas, forem desejos inexequíveis.
- Do respeito (mútuo, pessoal, familiar, profissional e social) fazer promoção. Quando todos fizerem dos demais companheiros, a sociedade poderá deixar de ser floresta de interesses egoístas.
- Da tolerância fazer aceitação. Mais do que fazer valer os direitos, importa assumir os deveres... de uns para com os outros e de todos para com os mais desfavorecidos.
- Da igualdade fazer gerar a diferenciação. Na medida em que formos fraternos uns para com os outros mais crescerá a possibilidade de todos se aceitarem, respeitando as suas obrigações e hierarquizando as razoáveis competências.
- Da austeridade poderá acontecer (mais) justiça. Mais do que sentir-se vítima das restrições (económicas ou salariais) poderemos ter de inventar formas novas de participação no bem comum.
- Da solidariedade fazer crescer a caridade. Não basta dizer-se solidário com os outros, é preciso aproximar-se deles com o coração aberto... em forma de esponja.
- Do saber dar ao ser capaz de receber. Por muito pouco que se possa ter , pode surgir sempre uma oportunidade de partilhar desinteressadamente.
- Das boas intenções às possibilidades de concretizar. Mais do que dizer para os outros fazerem, importa ser capaz de se comprometer nas coisas simples de cada dia.
- Da barriga vazia/cheia à espiritualidade satisfeita. De pouco valerá dar de comer se não se derem razões para lutar por algo mais valioso, a vida espiritual.
- Da defesa dos valores ao questionamento dos comportamentos. Saber educar para a ética exige ter princípios morais onde Deus conte e os outros sejam sujeitos e não meros predicados... sem complemento.
- Da denúncia à compreensão. Mais do que contentar-se com reivindicações, importa escutar as razões de quem exige e de quem manda... encontrando as diferenças.
- Da sementeira à colheita. A participação nas tarefas faz-nos ser humildes, pois cada um deve ser parte da construção do todo... familiar, social, nacional.

Estas breves expetativas queira Deus amadurecê-las neste ano de 2012. Bom ano com a bênção de Deus!

António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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