Jornal de Opinião

São muitos os textos enviados para a Agência Ecclesia com pedido de publicação. De diferentes personalidades e contextos sociais e eclesiais, o seu conteúdo é exclusivamente da responsabilidade dos seus autores. São esses textos que aqui se publicam, sem que afectem critérios editoriais da Agência Ecclesia. Trata-se de um espaço de divulgação da opinião assinada e assumida, contribuindo para o debate de ideias, que a internet possibilita.

26/11/12

Novos caminhos e meios para ‘Apostolado do mar’

Realizou-se de 19 a 23 de Novembro, em Roma, na aula do Sínodo, Cidade do Vaticano, o XXIII Congresso mundial do Apostolado do mar, subordinado ao tema: ‘A nova evangelização no mundo marítimo – novos meios e instrumentos para a proclamação da Boa nova’. Participaram mais quatrocentas pessoas de setenta países, entre os quais Portugal, que esteve representado pelo Bispo promotor e pelo diretor nacional do Apostolado do mar. A presença de tantos participantes incluiu pessoas dos vários continentes: África (atlântica e índica), Ásia (desde Taiwan à Tailândia, passando pelo Japão e o Vietname), América (do norte, latina e central), Oceania (Austrália e Nova Zelândia), Europa (do norte, do sul, central e de leste), envolvendo bispos promotores e diretores nacionais, membros do Conselho Pontifício, delegados, clérigos e leigos, nas várias línguas, culturas e etnias, com expressões de fé, sobretudo, católica. Foram partilhadas várias experiências do ‘Apostolado do mar’, envolvendo a marinha mercante e a pesca, numa interligação de solidariedade (comites de bem-estar, de direitos humanos, de ações de pirataria, abandono de tripulações e aprezamento de barcos), com desafios para o futuro próximo... neste mundo do trabalho e das múltiplas expressões de fé... em dinâmica de nova evangelização. Do programa fizeram parte diversas vertentes do ‘Apostolado do mar’, desenrolando-se em cada dia um dos aspetos: a nova evangelização em geral, as relações eficazes com a indústria marítima, onde foi analisada a temática do ‘bem-estar como parte integrante da evangelização’. Um dos dias foi destinado à pesca. A questão da pirataria (com um testemunho muito vivencial) e a vertente dos navios de cruzeiro ocuparam também um dia. A encerrar o Congresso houve uma audiência com o Papa, tendo sido apresentada uma mensagem de esperança e em confiança ao mundo marítimo. = Ditos, fatos e números... ontem, hoje e para o futuro Dada a riqueza de um congresso como este foi, deixamos breves referências a números que foram apresentados por vários dos oradores, citando ainda frases que nos ficaram a retinir nos ouvidos e no coração. - Há, em todo o mundo, 36 milhões de pescadores e, em cada ano, 10% destes estão expostos a acidentes de trabalho. - Em 2003, mais de três mil barcos foram sequestrados por piratas e, todos os dias, ainda hoje, cem mil marinheiros navegam em águas onde há piratas. - ‘Temos de ser a voz profética dos que não têm voz’ (Bruno Ciceri, do Pontifício Conselho). - 4 de Outubro de 2020: centenário da fundação do Apostolado do mar, em Glagow, Escócia. - ‘A pesca sofre uma das maiores explorações... Estarão os pescadores defendidos?’ (Brandt Wagner, Genebra). - ‘Fé que se exprime com a linguagem dos nomes dos barcos... Fé que se alimenta do terrível e do fascinante... Maria e os santos [são vistos] como guardas’... dos pescadores (Dirk Demaeght, Bélgica). - Convenção Mundial do Trabalho (MLC 2006) entra em vigor a 20 de Agosto de 2013. - Há 200 barcos de cruzeiro, ao nível mundial, que produzem 30 milhões de euros ao ano. - ‘Cristo é maior do que a cultura [por vezes anti-cristã] e do que a Igreja’ (Hennie LaGrange, Grã-Bretanha). - ‘A presença nos portos, as visitas quotidianas aos navios aí atracados e o acolhimento fraterno nas horas de pausa das tripulações, são o sinal visível da solicitude para com quem não pode dispor de um acompanhamento pastoral normal’ (Papa Bento XVI). - ‘Sede o coração no mundo do mar... [apresentando] uma oportunidade de crescimento positivo’ (António Veglió, Conselho Pontifício). Momentos como este do XXIII Congresso mundial do ‘Apostolado do mar’ fazem-nos perceber a catolicidade da Igreja e a dimensão específica desta entre cada povo e cultura... Novos caminhos se abrem! António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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13/11/12

Afinal, que mal fez Isabel Jonet?

1. A discordância é um exercício meritório, um direito irrebatível e pode ser até uma obrigação indeclinável. Mas ela não pode contender com o reconhecimento da realidade. Exemplo: podemos não gostar do branco, mas não podemos deixar de reconhecer que o branco é branco. 2. Não é crime discordar do que Isabel Jonet diz. Mas é impossível não reconhecer o que Isabel Jonet faz. Ela pode não ter dito muito bem. Mas tem feito muito e bem. E isso é o que importa. E é o que mais depõe em seu favor. 3. E, já agora, quanto ao que ela disse, nem sequer vejo razão para tanta celeuma. Tudo se resume a isto: temos de aprender a viver na adversidade. Já S. Paulo o disse aos filipenses (4, 12): «Sei viver na riqueza e sei viver na pobreza». Mas não é isso que já estamos a fazer? Não sentimos que estamos a aprender a viver nesta situação difícil? 4. E, depois, é assim tão mau fazer caridade? Que seria de tantos sem a caridade de tantos? É claro que a caridade não pode ser uma forma de humilhar os outros, de mostrar superioridade sobre a vida dos outros. É verdade que a caridade não dispensa a justiça. E, acima de tudo, é importante perceber que a caridade não pode ser o pretexto para que tudo continue na mesma. Mas, em si mesma, a caridade é uma forma de amor. 5. Aliás, um dos efeitos mais nefastos que esta crise pode revelar é o que já está a acontecer: colocar as vítimas da crise umas contra as outras. É uma armadilha que alguém, astutamente, congeminou e na qual, pouco subtilmente, estamos a cair. As críticas a Isabel Jonet e aos que recebem alguns apoios sociais relevam desta cedência. 6. Volto a insistir: a crítica é legítima, mas, nesta altura, a unidade é (mais) necessária. Este é o momento de unir esforços e juntar vozes. Este não é o tempo de desperdiçar energias. O alvo dos pobres não podem ser os outros pobres. Nem, muito menos, aqueles que estão ao lado dos mais pobres. 7. A própria Igreja, que neste campo já faz muito, pode (e deve) fazer muito mais. Pode (e deve) intervir, falar, anunciar e denunciar. A acção é importante, mas, nesta fase, a palavra pode ser decisiva. 8. É preciso que a Igreja não pareça «eclesiocentrada» nem apareça «eclesio-sentada». A Igreja tem de estar sempre «teocentrada» e «antropocentrada», centrada em Deus e no Homem. Ela tem de estar cada vez mais ao lado dos pobres e dos que estão, aceleradamente, a empobrecer. É para isso que ela está no mundo. Foi para isso que Jesus Cristo veio à terra! 9. A crise desvela o que, muitas vezes, tende a estar velado: nem tudo é linear. O aumento da receita não tem de vir apenas (nem principalmente) dos impostos. E, mesmo quanto a estes, não é curial que sejam sempre os mesmos a sofrer o peso da factura. O pensamento linear, segundo o qual não há alternativas, não traz grandes benefícios. Já está gasto, falido. 10. Temos de reaprender o pensamento complexo. Temos de reaprender a ligar os conhecimentos, a ligar os contributos e (sobretudo) a ligar as pessoas. Era bom que houvesse muita gente como Isabel Jonet. E, graças a Deus, até há! João António Pinheiro Teixeira teólogo

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