A Igreja joga-se na RUA!
No rescaldo destes últimos dias, e em jeito de desabafo… Só espero que o Papa Francisco não morra, não resigne… e possa até durar muitos anos, caso venha a fazer um bom trabalho. É que me custou, muito pessoalmente, o histerismo destes dias, a parafernália de media montada em Roma, e a importância que estes dão ao que de facto não interessa, quando relatam ou descrevem a realidade: se o Papa improvisa, se tosse, se ri, se vai à casa de banho, se paga contas, se bebe café, se rompe protocolos, se anda a pé ou de autocarro… A Igreja Poder, Espectáculo, levada aos píncaros por João Paulo II, e que o HUMANO Bento XVI de forma inteligente procurou inverter numa insistência sobre a Fé, Esperança e Caridade, desligando-se dela pela resignação, devia ter aqui, neste novo Pontificado, um ponto final. O “espectáculo” da Igreja, que se joga de facto na RUA, está no seu serviço silencioso, na sua mística, na sua espiritualidade… e num seu governo que se veste e age com uma normal humanidade, típica de qualquer ser humano, que se respeite e respeite o outro seu semelhante. Num destes últimos comentários televisivos, ousei dizer o quão fundamental é para Igreja de hoje uma teologia intercultural e religiosa que evite o que já ontem o Papa Francisco proferiu na eucaristia com os cardeais: “Sem Cristo a Igreja transforma-se numa ONG piedosa”. Esta dualidade não só é perigosa, como vai continuar a manter a hierarquia da Igreja longe da realidade da RUA, longe da imanência, da encarnação do Deus cristão. A piedade de milhares de ONG pode não se alicerçar juridicamente em Cristo, mas ao viverem a favor das mesmas causas pelas quais Jesus de Nazaré deu a sua vida, elas podem ter sido até hoje mais Igreja do que a Cúria de Roma. Um nova teologia é uma teologia esvaziada de nomes, de divindades construídas à imagem e semelhança do que é efémero, passageiro, finito… mas cheia certamente do valor e da importância da DIGNIDADE HUMANA e do inexaurível VALOR da NATUREZA, com direitos também ela. Francisco de Assis, no encontro com os leprosos (que tinha evitado até então), reconheceu neles esta mesma Humanidade e na Natureza a Fraternidade que Tudo Diversifica e Une. Recuperar e salvaguardar a DIGNIDADE Humana e o VALOR da Natureza, é o caminho que em qualquer estação, tempo, hora ou lugar… cada um de nós deve saber trilhar. Foi esse o Caminho do Jesus da História, o desafio que ele mesmo abraçou e ao qual respondeu com o melhor e si, dando assim sentido à sua vida, contrariando o absurdo, o abandono da cruz. Esta a nossa Paixão, esta a nossa Páscoa. Teólogo Henrique Pinto
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