Jornal de Opinião

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08/11/10

O Ser e o fazer dos religiosos num Congresso Oficina

Podemos chamar oficina ao Congresso Internacional das Ordens e Congregações Religiosas (2-5 Nov.2010) por ter produzido e “vendido” mais de 160 temas investigados.

Durante cerca de oitenta horas e quarenta sessões de conhecimentos especializados distribuídos a cerca de mil clientes, equivaleu, sem favor, a um curso académico de um ano de duas horas semanais. Investigação histórica científica, séria, de todas as áreas e assuntos. Muitos deles ocultados por repetidas tácticas ideológicas, anticlericais, anti-jesuitismo e anticongreganistas agora desocultados por anos de investigação e postas à luz nesses dias. Textos de apoio de dois dicionários únicos e duas dezenas de volumes de apoio sobre a matéria deram nível ímpar à realização. Podia ser triunfalista nesta leitura do Congresso. Com milhares de razões para isso. Contudo,vou moderar-me.

Foram apresentados e avaliados factos, correntes de ideias, ideologias, modos de viver a vida de fé em Jesus Cristo, radicalismos de consagração e fundamentalismos sectários. Dois mil anos de história do cristianismo, da arte, filosofia, das ciências universais, da adesão a Jesus Cristo, Verbo do Pai, e ainda de deslizes e afeições a ídolos insidiosos, desfilaram na passarelle das salas do congresso. Vozes a ensinar, animar, interpelar, provocar, chocar e alertar os empenhados, os curiosos da história, os acomodados, os tíbios e os fiéis. As formas e os desvios da consagração e entrega a Cristo neste e naquele século; o que foram os consagrados, o que deviam ter sido, o fazer agitado e ganancioso sem o ser, o falso ser sem o fazer; formas e desvios da harmonia entre o ser e o fazer com Cristo e sem Cristo na fuga mundi e na renovatione mundi -- tudo por ali desfilou. As lições mostraram triunfos e fraquezas, oscilações e desvios no ser e no fazer dos religiosos, e no ser e fazer, ora imparcial ora sectário, dos semeadores de antijesuitismo, de anticongreganismo, anticlericalismo e de pseudociência.

As investigações mostram sucessivas ondas de harmonia de vida entre o ser e o fazer dos consagrados com Cristo presente e ondas de ser e fazer sem Cristo no centro. Umas a corrigir desvios em que a adesão a Jesus Cristo é substituída por adesão a ídolos; ondas de inconformismo com o espírito mundano e de conformismo com o mesmo espírito. Mostram religiosos e religiosas desviados e corrigidos e chamados à ordem por nova onda de seus pares mais fiéis ao Cristo despojado da Cruz. E “chamados” também pelos ataques implacáveis, injustos e cruéis de anticongreganistas, quais vozes desafinadas, contra desmandos, e quais linhas tortas oferecidas para que Deus e os fiéis servos ao seu serviço escrevam direito. Desmandos no apego ao ter e ao poder, ao fazer agitado e pavoneado de vaidades, aos prazeres e aos orgulhozinhos in-consagrados. Substituindo o ser com Cristo humilde na Cruz por querer ser os maiores mesmo em ridículos tronos de vã glória.

Chocaram as cenas de consagrados vítimas dos 1757, 1834 e 1910, irmãos dos que um tempo foram mendicantes de Deus por opção a dar lugar agora a consagrados mendigos de migalhas por humilhação injusta e banidos da cidadania pelos que se arrogaram o poder e lugar de Deus. Chocou aquele banido do seu país sem crime a reconhecer que foi pelo nosso orgulho que estamos a sofrer agora.

Pelo seus méritos a muitos níveis, o maior evento das comemorações da I República, deixou o apelo a todos os consagrados: mantende-vos consagrados, vivei consagrados! E ao “restos” dos anticongreganistas: sede homens de Ciência, com maiúscula!

Lisboa, 5 de Novembro de 2010

Aires Gameiro



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