‘Se calhar até podia... mas não era a mesma coisa!’
Esta frase ouvimo-la na publicidade, sobretudo em áreas da comunicação e, particularmente, da televisão. Mais uma vez um slogan publicitário nos pode permitir termos assunto para reflexão, sem perdermos o cariz cristão da nossa intenção.
Aquela frase tenta resumir algum contentamento pelo produto publicitado, embora (quase) fosse escusado... tanto na sua aquisição como na ostentação manifestada.
De facto, há, no nosso mundo consumista, tiques de egoísmo, muitos deles (mais ou menos) tolerados pela nossa consciência narcotizada por valores essencialmente materialistas.
- Vivemos centrados no ‘ter’ muito, ter mais e em exagero crescente.
- Convivemos mal com as restrições aos nossos desejos – por vezes legítimos, mas há outros menos correctos – de satisfação possessiva.
- Tendo-nos sido criadas necessidades – muitas delas psicologicamente insufladas pela vaidade – artificiais, agora vamos tendo dificuldade em alimentá-las...
- Numa tentativa de evolução em matéria de bem-estar e de sucesso, os outros podem surgir-nos como adversários para conseguirmos vencer nesta guerra de conquista... emocional.
Poder podia...
Efectivamente, podia ser o nosso mundo mais justo, mas fraterno e até mais verdadeiro, se cada um de nós colocasse os outros à frente das suas próprias preocupações. No trato que temos uns com os outros nem sempre atendemos às suas necessidades, mas pomo-nos, normalmente, em primeiro lugar. Andamos muito a olhar para nós mesmos – repare-se na atitude de caminharmos de olhos no chão – e olhamos pouco para os rosto daquele que connosco se cruzam.
A começar em casa – família, trabalho/emprego, etc. – temos de saber olhar mais para a face daqueles/as que se encontram, habitual ou ocasionalmente, connosco e descobriremos muitas novidades... Podia tudo ser diferente se a distinção começasse em nós e à nossa volta. O perfume da nossa simpatia ofuscaria, então, o do laboratório... com que tantas vezes nos tentamos disfarçar!
... Mas não era a mesma coisa!
Atafolhados de coisas – por fora e por dentro – vivemos uma certa instabilidade, que a mais recente ‘crise’ – é mais cultural do que económico/financeira – veio pôr a nu. De facto, foram-nos criadas expectativas demasiado altas: onde quase tudo era dado e muito pouco pedido. Muitos dos responsáveis sócio-políticos foram negligentes nas propostas e ainda mais na leitura das consequências. Vivemos, deste modo, num ambiente de alienação colectiva... bem diferente da cultura da poupança com que muitos dos nossos avós foram estruturando a sua existência. Em menos de três gerações – se tivermos em conta o final da II guerra mundial – ficamos quase ao nível da situação de muitos deles, que passaram fome e tiveram racionamento de bens essenciais.
Não é a mesma coisa ter tido e agora ver-se depenado. Não é a mesma coisa apertar o cinto que antes estava na posição acertada às possibilidades. Não é a mesma coisa ter voado alto e agora aterrar de emergência.
Com efeito, as gerações mais novas, habituadas a ter tudo, mesmo sem pedir, terão de ser reeducadas para o usufruto do essencial. Nascidos muitos em ‘berços de ouro’ terão de contentar-se com catres de fabrico em série. Alimentados com refeições de encomenda terão de sujeitar-se às sobras dos excedentes da UE. Vestidos com as últimas marcas, muitos terão de submeter-se aos saldos...
Agora vamos aferindo a mesa à bolsa, podendo viver numa maior verdade, descobrindo a riqueza da partilha e saboreando as alegrias da sinceridade para connosco mesmos e uns para com os outros.
António Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)
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