Jornal de Opinião

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08/09/10

Septuagésimo aniversário da Diocese de Díli - Timor-Leste

Ocorre neste dia 4 de Setembro de 2010 o septuagésimo (70) aniversário da Diocese de Dili.

De facto, foi a 4 de Setembro de 1940 que o Papa de feliz memória Pio XII, através da bula Solmennibus Conventionibus erigia em Diocese as antigas missões de Timor Português até então dependentes da Diocese de Macau.
Na década dos anos 30 do século XX, o então Bispo de Macau, Dom José da Costa Nunes e o seu vigário geral particular para s Missões de Timor, o Reverendo Padre Abílio José Fernandes tinham estabelecido estruturas que mais tarde facilitariam a criação de uma nova de Diocese: consolidação das missões já existentes: Dili, Manatuto, Soibada, Alas, Oe-Cusse; abertura de novas Missões: Suro, aliás, Ainaro, Hatolia, Baucau e Ossu; abertura do Pré-Seminário em Soibada; consolidação da Escola de Preparação de Professores e catequistas; fundação de igrejas (Igreja matriz de Dili), a igreja de Ainaro; novas capelas (Atsabe, Balibó, Fatumaca,e Faubessi, Watolari, etc.); colocação de catequistas nas estações missionárias, consolidação e fundação de escolas do ensino primário (para o sexo masculino e feminino). Do Seminário de São José de Macau iam chegando novos sacerdotes que iam engrossando as fileiras dos missionários; a presença prometedora das irmãs Canossianas em Dare, Soibada e Manatuto. Por outro lado o bom clima sócio - politico proveniente do estabelecimento do Estado Novo favorecia o desenvolvimento das actividades missionárias nas Colónias. A capacidade diplomática do Bispo Dom José da costa Nunes em contactar e convencer as Autoridades Portuguesas de Lisboa, Macau e Timor Português, foram determinantes para a efectivação da erecção da Diocese de Díli.
Assim em Maio de 1940, a Santa Sé e a República Portuguesa assinaram a Concordata e o Acordo Missionário, instrumentos que criaram condições para o bom relacionamento entre o Estado Português e a Igreja e o benéfico desenvolvimento das Missões católicas no Ultramar Português. A 4 de Setembro desse mesmo ano, Sua santidade o Papa Pio XII, com a bula Solemnnibus Conventionibus criava várias dioceses no Ultramar (Angola e Moçambique) e a Diocese de Díli, na Ilha de Timor. Rezava assim a mencionada bula;
“Pio Bispo Servo dos Servos de Deus para perpétua memória.
Assinados, no dia sete de Maio deste ano, solenes acordos entre a Santa Sé e a República Portuguesa, e ratificada no primeiro dia seguinte mês de Junho, mais que tudo, se altera a jerarquia eclesiástica nas Colónias Portuguesas de África e Timor, Nós, que nada mais temos a peito do que promover o desenvolvimento do Catolicismo naquelas regiões distantes, depois de tudo maduramente pensado, e suprindo, em quanto é preciso, o consentimento de todos aqueles a quem interessa ou que julguem interessar-lhes, com a plenitude do nosso poder Apostólico, havemos por bem decretar o seguinte. [….].
IV. Finalmente a Ilha de Timor, na região dependente da república Portuguesa, até agora da jurisdição diocesana de Macau, separamo-la do território destas diocese, erigimo-la em nova diocese que se chamará de Díli, e constituímo-la sufragânea da Igreja Metropolitana de Goa, e sujeitamos os seus bispos pró tempore ao direito Metropolitano do Arcebispo de Goa e Damão.
Colocamos a sede prelatícia desta nova diocese na cidade de Díli, e erigimos em sé episcopal a igreja consagrada a Deus em honra de Nossa Senhora da Conceição, situada na mesma cidade”.
[…]
Dado em Roma, junto de S. Pedro, no dia 4 do mês de Setembro, do ano do Senhor de mil novesentos e quarenta, segundo do Nosso Pontificado. = G.S.T.
Luís Card. Migliore, Secretário de Estado.
Fr. R.C. Cardeal Rossi, Secretário da S. Congregação Consistorial
A efectivação da erecção da Diocese de Díli teve lugar no dia 18 de Janeiro de 1941, data em que o então Vigário geral e Superior das Missões de Timor, Padre Jaime Garcia Goulart, fora nomeado Administrador Apostólico com faculdade de bispo residencial, com título de Monsenhor “ex officio”.
Nesse longínquo ano de 1941, a nova Circunscrição eclesiástica tinha as seguintes missões: Paróquia de Díli (Padre Porfírio Campos e Pe. Alberto da Ressurreição Gonçalves); Missão de Alas (Pe. António da Conceição Grebaldo Fernandes); Missão Ainaro (Pe. Norberto de Oliveira Barros e Pe. António Manuel Pires); Missão de Baucau (Pe. António Manuel Serra e Pe. Júlio Augusto Ferreira), Missão de Hatolia (Pe. Francisco Madeira); Missão de Manatuto (Pe. Diogo José d’Álmeida; Pe. Carlos Rocha Pereira); Missão de Oe-Cusse (Pe. Francisco António Durão Quintão; Pe. Norberto Augusto Parada); Missão de Ossu: Pe. Francisco dos Santos Afonso); Missão de Soibada: Pe. Januário Coelho da Silva).
Outros sacerdotes presentes na Diocese: Pe. Artur Basílio de Sá, ecónomo; Pe. Jacinto António Campos, secretário particular do Administrador Apostólico; Pe. Ezequiel Enes Pascoal, director espiritual e professor no Pré-Seminário de Soibada e na escola de Professores e Catequistas; Pe. Manuel Silveira Luís, professor; Pe. Jorge Barros Duarte, professor de Música; Pe. Abílio Caldas (timorense), professor.
Nesse ano de 1941, trabalhavam na Diocese 21 sacerdotes, 20 religiosas Canossianas e um irmão auxiliar. Nas Missões e estações missionárias ajudavam os missionários 28 catequistas. Exista 7 igrejas e 18 capelas de alvenaria e17 cobertas de colmo ou capim. No campo de ensino, as Missões regiam 3 Colégios de meninas (Dili, Manatuto, e Soibada, e um de rapazes (Soibada). Além do pré-Seminário e a escola de Professores e Catequistas havia 25 escolas de instrução primária. Os católicos eram 29.899. As perspectivas para o crescimento da Diocese eram animadoras, mas infelizmente, a 21 de Dezembro de 1941, o território iria ser palco de confrontos armados entre Australianos, Holandeses e Japoneses. Com a invasão de tropas estrangeiras e a ocupação de Timor Português pelos Japoneses de 1942 a 1945, a nova Diocese iria sofrer um duro golpe na sua incipiente história.
Nesta evocação histórica, queria agradecer a Deus pela criação da mui amada Diocese de Dili e recordar a memória de todos os valorosos missionários (sacerdotes, religiosas e catequistas) que lançaram os fundamentos da Diocese que hoje celebra setenta anos de Vida: Viva a Diocese de Díli! Parabéns! Congratulations! Dirgahayo!

Porto, 4 de Setembro de 2010.
D. Carlos Filipe Ximenes Belo
Administrador Apostólico emérito de Dili e Prémio Nobel da Paz 1996.


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