Jornal de Opinião

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30/07/10

O verdadeiro cristianismo será o da compaixão (cum + passio)

As histórias de Jesus tornam claro o seguinte: a atenção especial de Jesus, de certo modo o seu primeiro olhar, não se dirigiu ao pecado dos outros, mas ao seu sofrimento.

E assim interroga o teólogo J. B. Metz: "Não terão talvez os cristãos ao longo do tempo compreendido e praticado o cristianismo demasiado exclusivamente como uma religião sensível ao pecado e consequentemente como uma religião pouco
sensível ao sofrimento? Não baniram os cristãos demasiado rápida e despreocupadamente do anúncio cristológico e escatológico a pergunta, o grito por Deus perante a história do sofrimento humano?

Esta mística da compaixão é, através dos outros que sofrem, uma mística "terrena"; ao mesmo tempo não frequentemente não é senão uma experiência assumida de uma "paixão por Deus", não para, desse modo, às experiências quotidianas, por vezes terrivelmente "profanas" de sofrimento, acrescentar uma religiosa, (...) mas para nesta mística da paixão por Deus reunir todas as nossas experiências de sofrimento que clamam ao céu, arrancá-las ao abismo do desespero e do esquecimento e encorajar uma nova praxis que inclui evidentemente a capacidade de culpa e a necessidade de conversão de quem age - não para a seguir anestesiar de novo a nova acção pública mediante um romantismo afastado da política, mas para lhe retirar a base do ódio e da violência pura. (1) Pois como bem diz o teólogo D. Bruno Forte: "A crise do sentido passa a ser a característica peculiar da inquietação pós-moderna. Neste tempo de pobreza, que, como observa Martin Heidegger, é 'noite do mundo', não por causa da falta de Deus, mas porque os homens já não sofrem com essa falta, a doença mortal é a indiferença, a perda do gosto na busca das razões últimas pelas quais valha a pena viver ou morrer, falta de 'paixão pela verdade', como afirma a Fides et Ratio. Para afirmar mais adiante: " A pior doença que hoje grassa no mundo é a falta de paixão pela verdade: este é o rosto trágico da condição pós-moderna. O clima da decadência leva os homens a não pensarem mais, a evitarem o esforço e a paixão pela busca do verdadeiro, e os impele a buscar vantagens imediatistas, a procurar o único interesse do consumo imediato. É o triunfo da máscara à custa da verdade: é o niilismo da renúncia do amor, quando os homens fogem à dor infinita da evidência do nada, fabricando para si máscaras para cobrir com elas a 'tragicidade' do vazio. No clima da decadência, até o amor se torna máscara e os valores reduzem-se a coberturas desfraldadas para esconder a falta de significado e de verdadeiras paixões: o homem resume-se a uma 'paixão inútil' (J. P. Sartre)". (2)

Neste mundo de crise, sem Deus e sem valores - não será esta a maior pobreza? - os cristãos, como discípulos de Cristo são chamados a seguir o Missionário do Pai, consagrado e enviado a levar a Boa Nova aos pobres (Lc 4, 16ss), que nos confiou explicitamente a missão de anunciar a Boa Nova do Reino a toda a criatura (Mt 28, 16-20).
A igreja terá de apresentar-se com um rosto sorridente e apaixonado pela maioria que irá engrossando nas pariferias da civilização, do poder, do bem comum justo e equitativo, e lançado na humilhação e no desprezo dos famintos e dos abandonados.

Armando Soares

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1. Igreja e Missão, Confer. no Congresso "Deus no século XXI e o
futuro do cristianismo", nº 204-206, p. 436 e ss. 2. Em Conferência
no Congresso Missionário Mundial, ano 2000, em Roma.

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