Por uma Igreja da compaixão (cum + passio)
"É lamentável constatar - salvo situações de tragédia como a do Haiti em 12 de Janeiro 2010, com acento na cidade de Port-au-Prince) que o pragmatismo da sociedade pós-moderna acabou ou amorteceu o sentido da solidariedade entre as pessoas.
Pensa-se mais no seu bem-estar, conforto e segurança. As pessoas são avessas a abrir a mão aos que precisam, mas não se coibem de gastar fortunas em coisas supérfluas,
como roupas que âs vezes nem usam, comidas cuja metade vai para o lixo.
Ao dizer: "eu tive fome e deram-me de comer... eu tive sede e deram-me de beber... eu estavam nu e vestiram-me", Jesus exalta a esmola dada, a caridade oferecida, a solidariedade compartilhada. A caridade é um dom. Ela nos vem por inspiração de Deus. Caridade é ter misericórdia.
É sentar junto, é escutar e participar ao lado do outro. A decomposição de miser (miserável) + corde (coração) nos aponta para uma atitude de quem sente no coração o sofrimento do pobre e marginalizado. A indiferença e a omissão fazem crescer a pobreza, a marginalidade, a infância abandonada, os meninos da rua, os bébés
jogados ao lixo e as famílias desfavorecidas. Esmola e caridade são juízos afins, que se interpenetram na busca da fartura do Reino, que primeiro é espiritual, e depois se transforma em bênçãos materiais em favor do pobre, do oprimido e do faminto.
A compaixão é um dos motores mais actuantes da caridade e da solidariedade. Na verdade, a compaixão brota a partir de uma profunda generosidade do coração humano. Se misericórdia é sentir com o coração a necessidade do outro, compaixão é sofrer solidariamente pela desgraça de alguém, próximo ou distante. Compaixão aparece pela
justaposição de cum + passio, capaz de evidenciar um sofrimento por causa das dores de alguém. Alguns dão a paixão, como sinónimo do amor, mas paixão, por derivar de pathos, aproxima-se mais de um sofrimento do que outra coisa. Tudo aponta para uma participação, com fulcro espiritual, na infelicidade alheia, o que suscita um impulso de ternura para com o sofredor. Na compaixão não sofremos
prioritariamente pela pessoa, mas pelo sofrimento da pessoa.
Compaixão é isto: sofrer pelo sofrimento, solidarizar-se com as dores e, ao mesmo tempo, fazer algo no sentido de erradicar ou minorar a desgraça. A compaixão é caracterizada através de acções, na qual uma pessoa procura ajudar aqueles pelos quais se compadece.
Jesus estava pregando na Galileia quando um homem leproso se aproximou dele. Sabendo do poder do Senhor, o leproso pediu que Jesus o curasse.
Ao ver o homem no seu sofrimento, Cristo ficou cheio de compaixão ( v. 41). Esse sentimento pode ser descrito em vários estágios que evidenciam o processo de compaixão do Mestre: Ele viu o homem, tomou conhecimento do seu sofrimento, ouviu os apelos do sofredor, teve compaixão do homem, conversou com o leproso e por fim, atento ao clamor do sofredor, curou-o. A exemplo de Jesus, nós cristãos devemos
mostrar a mesma compaixão em relação aos sofredores à nossa volta.
Precisamos reconhecer que as pessoas existem e que têm problemas reais para podermos falar palavras de conforto ou agir para ajudá-las.
A tarefa duma Igreja posta em dia não será outra, senão a de actualizar os gestos de Jesus. Por isso podemos dizer que a Igreja d) o presente e do futuro não será outra senão a Igreja que sofre com os que sofrem e se coloca no lugar deles para os humanizar integralmente.
Tem de ser a Igreja da compaixão. Há uma multidão de pobres de coisas materiais fundamentais para terem uma vida digna e sustentável e outra multidão daqueles que vivem indiferentes para com os outros porque rejeitaram Deus e sofrem a tragédia do vazio e da falta de sentido na vida. (Fundamentado em "A compaixão" de A. M. Galvão")
Armando Soares
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