Jornal de Opinião

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19/06/10

Ao compasso do tempo - 18 de Junho de 2010

Há anos escrevi um artigo intitulado «Tudo se vem a saber». Referia-me a escritos que diziam respeito à vida de cada um, a qual, nunca clandestina, foi (e é) do alcance de meia dúzia de pessoas.

Nos últimos meses vivi essa sensação, com o acrescento de que já tinha perdido o rasto aos acontecimentos. Confessando-me: já me tinha esquecido dos factos que passo a narrar.
Não cultivo nem nunca cultivarei auto-biografias. Acho-as detestáveis. Mas, sadiamente, não é disso o meu assunto.
Ao ler com o maior gosto e proveito o livro de Irene Flunser Pimentel (Cardeal Cerejeira - O Príncipe da Igreja, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2010), deparo-me com a página 248, onde a autora relata a vigília da paz celebrada na igreja de S. Domingos, em Lisboa, em 31 de Dezembro de 1968, organizada por um numeroso grupo de católicos, secundando o apelo do Papa Paulo VI que, em 8 desse mês, sublinhara “a paz é possível, a paz é obrigatória”. O episcopado português emitira, a 13, uma pastoral a apelar à celebração do “Dia Mundial da Paz”, em 1 de Janeiro de 1969.
O Senhor Cardeal Cerejeira acabaria por aceitar a realização dessa cerimónia, apesar de algumas “objecções” (sic, no texto), desde que fosse respeitado o carácter sagrado da celebração.
Pois a citada vigília é historiada, pormenor a pormenor, por um membro da JUC (Juventude Universitária Católica), o qual, a meu pedido, me escreveu para a casa paroquial da “Basilique”, de Argentevil, nos arredores de Paris.
E cito a autora: “Segundo uma carta apreendida pela Pide/DGS, dirigida (…) ao padre Januário Torgal Mendes Ferreira, então a residir em França, aquela (vigília) tinha começado com o canto “onde haja caridade e amor” (…). E a narrativa prossegue.
Ao fim de 41 anos agradeço ao António Melo (por onde andará ele?) a amizade desse relato, o qual só agora li!
Já é fonte de História mais uma carta de quem “viu, ouviu e leu”).
A outro documento tive acesso há dias, quando li com muita saudade a obra “Artur Santos Silva – uma vida pela Liberdade”, Porto, 2010, Grgal Impressores, (da responsabilidade da Família, com numerosos testemunhos, entre os quais tive o gosto de marcar presença).
Mas já me tinha esquecido de uma carta trocada com o Senhor Drº Artur Santos Silva (Pai), após o enterro de seu filho Nené, ao qual presidi em Outubro de 1970.
A queridíssima Família “Santos Silva”, teve a bondade de dar à estampa esse momento tão doloroso da nossa vida!
Tudo se vem a saber. A História devolve-nos textos e acontecimentos. Para além deles, permanecem intraduzíveis os sentimentos da altura. “Malhas que o Império tece”.


MDN, Capelania Mor, 18 de Junho de 2010
Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança


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