Jornal de Opinião

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07/06/10

Ao compasso do tempo - 04 de Junho de 2010

Confesso que não entendi. A notícia, assinalando a inconveniência (ou impossibilidade?!) de ser vetada a aprovação parlamentar do casamento homossexual por motivos das razões de crise, patentes em Portugal, não me convenceu.
Não se pode pugnar por razões, dado o ambiente irrespirável do ponto de vista social? Haveria perturbações de ordem pública? Assistiríamos a desmandos e à anarquia? Haveria marchas de protesto, legitimadas pelo poder constituído, conforme ocorreram, sem um arranhão, no passado 29 de Maio? Agravar-se-ia a medonha crise financeira?
Se pensar é proibido, cá estou eu a transgredir e a aumentar a balbúrdia, sem quaisquer danos.
Tolerância, sempre! Mas, de braço dado, com a inteligência!
A transferência anormal do conceito de casamento para a situação do enlace conjugal entre homem e homem e mulher e mulher, à luz do direito natural e das liberdades sociais, deveria ter motivado discussão pública, troca de razões, sem receio de assembleias gerais ou de paixões partidárias. É normal em regime democrático. Mais: é obrigatório e pedagógico (a falar é que a gente se entende… ou não). Mas nada desses procedimentos normais. O melhor é passar entre a chuva e não ficar molhado.
Sem a mínima ligação do afundar da crise com uma hipotética recusa de aprovação (embora não seja desta a minha ocupação, agora), vá de “fechar a torneira”, face a uma presumível inundação…
Para mim, de forma primeira, o ofensivo reside no desrespeito pela arte de pessoa. Desculpem-me: qualquer burro come palha. Mas nunca com trejeitos de tão farta desqualificação!
Não se resolve o problema do recto entendimento em procurar um “site” e aí ler (e reler) uma comunicação.
Por que razão o construtor do documento não o explicou, desprendido do texto decorado, com argumentos devidos, nada difíceis para quem é seguidor do bem superior e comum dos portugueses (as)?!
E já que me aventurei por estes caminhos, não poderei deixar sem resposta duas situações, nascidas desse parto.
A primeira é atinente a previsões da próxima Campanha presidencial. Essas previsões, ou esses dados futuros, nunca deveriam ter sido objecto de menção. A crítica merecia ser dirigida à falta de cabeça e não a meras consequências utilitaristas. A insolência lógica e a perversidade ética (qualquer motivo basta para nos desembaraçarmos – mesmo no sentido espanhol – de princípios rigorosos) constituíam as personagens únicas e tristes da cena!
A segunda situação, derivada da primeira, consistiu no “assalto” a alternativas de pessoas (só por troça ou brincadeira de péssimo gosto foram publicitados certos nomes).
E os analistas arrumaram logo a questão: “isto” é obra de um sector Católico radical! Já temos um espelho da deriva perigosa islâmica.
E, assim, se vai cumprindo Portugal!
Lisboa, MDN, 04 de Junho de 2010
Januário Mendes Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança


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