Ao compasso do tempo - 11 de Junho de 2010
É uma atitude rara, em meios culturais que fecharam os olhos à história, que um dos jornais menos apreciados, mas mais vendidos em Portugal, tenha dado o relevo merecido (porque já esquecido ou desconhecido) à Igreja do Sowetto, chamada de “Regina Mundi” (Nossa Senhora, Rainha do Mundo), na África do Sul.
Qual a importância?
No meio de lutas tribais entre brancos e negros, estes acharam que só havia um refúgio (ou um “colo”): o de Nossa Senhora, Mãe da Igreja!
Onde? Na igreja, situada no Sowetto, sob a designação de “Nossa Senhora, Rainha do Mundo”, não poderá haver perseguições, nem tiros, nem violência, nem buscas de “assassinos perigosos”, pela simples razão de não terem a pele branca.
Lá tive a graça de estar há poucos anos, na companhia do Padre Rui Pedro, ao tempo Director da Obra Católica das Migrações, numa visita ao serviço de emigrantes portugueses, na África do Sul.
Vi, “com os olhos que a terra há-de comer”, as cicatrizes deixadas pelas balas, disparadas pela Policia local, contra os africanos indefesos.
O refúgio e a paz, assim o pensaram, residiram numa Igreja Católica!
Sem comentários. Ou apenas um: a Igreja foi entendida pelos perseguidos e injustiçados como “o colo querido da Mãe”. Ninguém mata, ninguém fere, ninguém age contra o menino… Mas a Policia local, instigada por políticas informais, não teve nem respeitou os mais elementares sentimentos.
Oxalá que no Mundial de Futebol, a África do Sul não permita divisões entre epidermes nem os fanatismos do lucro, envolvendo o tráfico de mulheres e a exploração da sua dignidade.
Uma chamada de atenção para quem, habitualmente, defende tais princípios, esquecendo selvajarias e demais vitupérios contra a mulher!
Foram princípios destes que o Padre João Manuel Resina Rodrigues (1930-2010), do Patriarcado de Lisboa, há dias falecido, sempre defendeu, numa coerência de atitudes, numa luminosidade impar, numa ciência colectiva, de cujo currículo, ao contrário de “pés em bico”, nunca teve necessidade de mostrar diplomas nem currículos, como professor do Instituto Superior Técnico.
Viveu nas margens ao serviço dos habitantes das mesmas. Nunca teve considerações da parte de quem lhe era devedor. Recebeu a Justiça sem duma certa opinião pública, que aprendeu a nunca confundir o poder com a sabedoria. A categoria de cargos com cargos de categoria.
Foi, entre vários serviços à Igreja, Capelão da Academia Militar. Pessoalmente devo-lhe uma carta de solidariedade que conservo, quando repudiei, nos princípios da década de 90,a perseguição aos direitos humanos na China, que não foi tema do devido interesse / ou considerado politico de primeira mão, de Portugal, que então aí esteve, em visita oficial.
Na altura, não havia, na China (e no coração de políticos portugueses!), uma Igreja de “Regina Mundi”, na China!
MDN, Capelania Mor, 11 de Junho de 2010
Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança
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