Jornal de Opinião

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06/07/10

Férias, sobretudo, em casa

Dois terços dos portugueses farão o seu período (designado) de férias em casa, durante, sensivelmente uma semana. Esta é uma das conclusões de um estudo ao nível de dezanove países, isto é, quinze no contexto europeu e mais os Estados Unidos, Brasil, Colômbia e Índia.

Os resultados deste estudo foram publicados, esta semana, no jornal ‘Wall Street Journal’ e parceria com uma consultadora de mercado.
Por seu turno, os alemães e os holandeses são dos que mais dias dizem gozar de férias e ao longo de uma quinzena. Se os portugueses têm (ainda) a tendência a passar férias acompanhados pela família (76%), os espanhóis preferem ter férias sozinhos (13%), seguidos dos britânicos (11%) com idêntica atitude.

1. Férias: direito, dever ou intenção?
À luz da crescente cultura do lazer, vamos aferindo que as férias nem sempre são um direito de todos, mas antes uma condição de privilegiados com emprego e com capacidade económica mínima. No entanto, vemos crescer uma certa prosápia de fazer férias em lugares exóticos, sem olhar a custos e a exuberâncias provocatórias de tantos pobres, de desempregados, de vítimas de salários baixos e mesmo da exploração do trabalho alheio.
A máquina do (dito) turismo vai trucidando muitos incautos, na medida em que a promoção de certos clichés vai gerando ambição, mas nem sempre com qualidade de concretização. Há, com efeito, múltiplos excluídos da mesa faustosa de ricos sem escrúpulos que poderão voltar-se contra os fautores da sociedade do ‘faz-de-conta’, seja por conta própria, seja nas maquinações das invejas e das promoções insidiosas.

2. Verdade da crise ou crise de verdade?
Como poderão os pais educar os filhos se lhes prolongam a não assumpção da crise económica em que a família vive? Como poderão disfarçar por mais tempo, quando as dívidas se acumulam sobre as suas cabeças e os seus destinos? Até quando será adiada a verdade à luz das imensas dívidas sem pagamento?
Ora quando alguém – como o Presidente da República, nos tempos mais recentes – tenta denunciar o irrealismo de certos projectos, logo se levantam esqueletos em decomposição para dizerem que é mau falar verdade aos meninos que já não conseguem distrair as mazelas da arrogância. Cada vez mais se torna irresponsável fugir das consequências dos actos mal calculados. Urge, por isso, ser(mos) verdadeiros... mesmo que isso custe votos, a popularidade ou até o poder.

3. Férias estão postas em risco?
Tempo de descontracção, as férias podem servir para muita coisa ou para quase nada. Com efeito, as férias tornaram-se quase uma instituição de ‘direito adquirido’, fazendo parte das regalias laborais.
De facto, até agora – isto é, até à crise mais recente – não se questionava o direito a ter um mês pago sem trabalhar, pois este direito seria como que uma distribuição das ‘mais valias’ – expressão marxista de teor muito ideológico – que o patrão compartilhava com os empregados, que o ajudaram a gerar riqueza.
Mas, se o posto de trabalho está posto em risco, poderá ainda o patrão/empregador ter de pagar um mês sem que o trabalhador/empregado crie riqueza? Por isso, há quem questione se não será justo suspender a pagamento das férias enquanto as empresas – caso a caso – estiverem em dificuldade.
Efectivamente, em nada disto estão postos em causa os direitos laborais, mas antes ter-nos-emos de adequar às circunstâncias de cada momento, salvaguardando o mais possível o futuro de todos.

4. Que fazer nas férias?
A expressão ‘estar de férias’ por certo faz lembrar boas recordações, na medida em que esses momentos de descontracção nos permitem usufruir de vivências que a azáfama do trabalho nos impediu. As ocupações de férias para muitas pessoas quase se reduzem ao ‘não fazer nada’, numa espécie de preguiça em continuidade. Mas será este o melhor projecto de férias? Claro que não.
. Férias poderá ser (simplesmente) mudar de lugar ou tentar conhecer outros lugares diferentes.
. Férias poderá ainda ser o dar mais espaço às coisas de Deus e ao contacto com a natureza.
. Férias poderão como que incluir viver sem relógio, embora ao ritmo do descanso... em Deus e para os outros.

Para quem puder: boas férias em casa, na praia, passeando ou pelo campo...

A. Sílvio Couto
(asilviocouto@gmail.com)



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