Jornal de Opinião

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16/07/10

Nossa Senhora de Fátima e das vocações: história real

“No dia 13 de Outubro de 1917, último dia das aparições de Nossa Senhora, o seu pai foi a Fátima com mais dois ou três homens daquela freguesia [S. Simão de Litém] e, ao voltar, contava maravilhado o que vira de prodigioso. Tudo contribuiu para lhe [ao filho António] radicar na alma profundas convicções e lhe aumentar a fé” levando a dizer sim à vocação.

Esta narrativa é da revista Hospitalidade (nº 30 Abr-Jun1943 pp.43-51) em artigo que associa a memória de António Gameiro, Irmão de S. João de Deus, e os seus “traços biográficos” da autoria do Pe. João Gameiro Alexandre, OH, seu irmão.
Fr. António Gameiro Alexandre era superior-director da Casa de Saúde de S. João de Deus de Barcelos, quando O Pai o chamou no dia 10 de Fevereiro de 1943 com apenas 45 anos. Nascido a 31 de Julho de 1898 no Arnal, freguesia de S. Simão de Litém, Pombal, filho de Joaquim Gameiro Alexandre e de Joaquina Nogueira foi baptizado no dia 6 de Agosto de 1898.

Era camponês mas gostava de cuidar da sua aparência, “sabendo compor o cabelo à moda, e preparar-se com toda a elegância para as festas e reuniões”. O pároco do início do século “preocupava-se mais com o seu grande passal que com a santificação das almas”. Apesar de fascinado com as ilusões mundanas, o jovem António não descurava a sua prática cristã: terço em família, ladaínha de N. Senhora, etc.
Por 1916 o novo pároco, “cheio de zelo”, o Pe. Joaquim Bernardes, celebrava a missa diariamente na ermida do lugar do Arnal por a casa paroquial estar ainda ocupada pelo outro sacerdote. O facto de terem a missa perto e de este sacerdote visitar a casa dos pais de António “atearam a piedade nas almas daquele lugar” criando um novo clima espiritual. O jovem muito vivo e alegre, em contacto com o novo sacerdote, abriu-se mais à graça. Infelizmente esta influência espiritual durou pouco porque o Pe. Joaquim Bernardes foi vítima da pneumónica. Não se extinguiram, porém, alguns dos seus frutos benéficos.

E aqui entra N. Senhora com a experiência de graça do pai vivida em Fátima no dia 13 de Outubro de 1917 e o entusiasmo comunicado à família.A nota biográfica descreve uma experiência mística de António. Na festa de Santo Amaro, patrono da capela, houve missa solene e exposição do SS. Sacramento no custódia. “O povo comprimia-se à porta e falava sem respeito pelos Augustos Mistérios, que se estavam celebrando. Nisto [António] pensa quanto Jesus Sacramentado estava sendo esquecido e ultrajado e, olhando para a sagrada Custódia, vê não já uma hóstia mas um coração que o comove. Nesse dia à noite, refere à família o que vira, dizendo ter pena de não ter mandado olhar para a Hóstia um dos seus companheiros para saber se também ele via alguma coisa de extraordinário”.

António começou a reduzir os seus passatempos mundanos e a ser mais respeitoso e dedicado em casa. Durante o serviço militar manteve-se forte contra os respeitos humanos e permaneceu fiel à sua consciência e à devoção a Nossa Senhora.
Entrou na GNR em Lisboa e isso facilitava-lhe visitar a sua irmã mais velha, Maria, nas Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, na Idanha; e no Telhal os seus dois primos Irmãos de S. João de Deus: Fr. Manuel Maria (entrado em 1906) e Fr. Crisógono (José, entrado em 1913), que já tinham dito sim ao chamamento de Deus. Já preparado por Nossa Senhora as visitas despertaram nele a vocação hospitaleira a que ele respondeu entrando nos Irmãos de S. João de Deus a 28 de Fevereiro de 1922, aos 20 anos de idade. Professou a 24 de Fevereiro de 1924. Durante os breves anos de vida consagrada foi sucessivamente responsável por inúmeras actividades: “guarda nocturno, cozinheiro, esmoleiro, enfermeiro, superior da Casa de S. Miguel (1934) e da Casa de Barcelos (1937), começando aqui a sofrer dos rins sendo-lhe extraído um deles. Mesmo adoentado foi nomeado pelo governo geral da Ordem para 1º conselheiro provincial e superior do Telhal (1938), e em 1940 o capítulo provincial colocou-o de novo como superior da Casa de Barcelos (1940). A doença agravou-se e em oração veio a falecer em 10 de Fevereiro de 1943 rodeado de Irmãos.

O seu exemplo levou o seu irmão João a decidir juntar-se a ele nos Irmãos de S. João de Deus quando já no curso de teologia no seminário de Leiria por o ter visitado no Telhal. Conhecido na Ordem como o Padre João Gameiro Alexandre, foi religioso exemplar, sacerdote apostólico, formador, director espiritual e escritor-historiador da Provincia. E mais duas irmãs deles faleceram como religiosas hospitaleiras da mesma congregação. A irradiação apostólica de uns, em especial do Padre João Gameiro Alexandre, foi ocasião de que mais jovens de S. Simão de Litém respondessem às inspirações do Espírito e da Virgem de Fátima para se consagrarem na vida religiosa, entre os quais se conta o autor e o Pe. Manuel Nogueira, OH, que após 30 anos missionário em Nampula, faleceu em fama de santidade e têm o processo de beatificação prestes a ser aberto naquela diocese.
Fátima, 13 de Julho de 2010
Aires Gameiro


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