Jornal de Opinião

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28/09/10

Compasso do Tempo de 21 de Setembro de 2010

Uma pausa na luta pela sobrevivência (de dinheiro, de critérios de gestão, de repugnância perante mais impostos, de desilusão… pois, afinal de contas, o conceito de desenvolvimento é igual… ao anterior)…

Um momento de contemplação para escutar o Cardeal Newman, beatificado por Bento XVI no decurso da sua viagem pastoral à Grã-Bretanha: “Desde o dia em que me converti ao catolicismo (…) nunca senti uma única dúvida” (Histoire de mes opinions religieuses, trad., Phénix Éditions, Paris, 2000, p. 367 sgs).
Foi esse o estado de espírito do Papa, de acordo com o que opinei junto à comunicação social.
O Sumo Pontífice não viveu a mínima hesitação. Tinha consciência das dificuldades, das objecções naturais, provenientes de escândalos e de doutrinas, de um clima mental pouco coincidente e simpático. Gostem ou não… façamos justiça a quem, de peito feito, com maneiras e simplicidade de viver, visita a casa do vizinho. E no entanto, conforme ouvi num canal radiofónico, o Papa entrou “no terreno do inimigo”. Nunca aceitarei tal linguagem. Um gesto de pastoreio, de diálogo entre mentalidades religiosas diferentes, entre uma Igreja pouco atreita a Roma ou uma Roma que se manifestou familiar e igual, nunca poderá merecer essa avaliação.
Ao contrário, reconheço a posição de um servo inteligente e culto, vivendo o dever missionário de se acotovelar com pessoas e mentalidades bem diversas do ponto de vista religioso, e em cujo âmbito, as vítimas e os oprimidos sexuais poderiam arrogar-se a repugnância de não permitir a proximidade de um membro de uma família, que nem a sua sombra seria de admitir!
Diante de qualquer julgamento da sociedade, a Igreja só tem uma forma de proceder: prosseguir enquanto cidadã e serva do mundo; não ter complexos mas oferecer a defesa dos mais feridos; estender a mão; atravessar a via pública; ser cavalheiro nos bons modos, tomar a voz e ser “tradutor” dos que não conhecem “a língua”; conviver com todos, sem exclusão de ninguém, mesmo dela diferindo; afrontar a discordância e provar que a Missão não é a de uma empresa, mas a de um Senhor, Pai e Irmão!
Nos dias que correm não era urgente que o poder em Portugal se mostrasse com esta naturalidade de viver? Não deveria ser no último minuto… Há muito tempo que “ a tempestade e o pavor” deveriam ter sido anunciados!
Em matéria de justiça social e de cuidado pelos mais infelizes ainda não vi a excelência dos “treinadores”. De um dia para o outro é “o mesmo do mesmo”. E as “cotas” sobem.
A presença de Bento XVI na Grã-Bretanha marca a diferença. E o Papa nunca teve essa intenção histórica. Como cumprir os objectivos do Milénio!

D. Januário Torgal Ferreira

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