Ao Compasso do Tempo - Crónica de 29 de Outubro de 2010
1. Citei há dias aos futuros oficiais de Portugal, na recepção aos novos alunos de Ensino Superior Militar, um pensamento de Óscar Wilde, expresso por um programa da SIC Notícias:
“Deus ao criar o Homem (nota minha: a Mulher e o Homem) sobrestimou a sua capacidade”.
Em português corrente: concedeu-lhe categoria a mais. E o canal televisivo mostra-nos cenas aterradoras: crianças destroçadas, idosas da Bósnia em sofrimento, atrocidades e barbáries em rostos de desolação.
2. A Humanidade (e a portuguesa) é capaz do melhor e do pior. E, nos últimos tempos, surgiram duas notícias, porventura com menos clareza, que tocam a Igreja em Portugal, que gostaria de melhor perceber. A primeira, chama a atenção para a questão das Misericórdias; a segunda, diz respeito aos “privilégios” concedidos à Igreja Católica e às demais confissões religiosas. Só que na hora de “apertar o cinto”, a Igreja Católica continua na carruagem de 1.ª; as demais confissões saiem do comboio, sem o mínimo respeito pela equidade.
No caso das Misericórdias, houve pronunciamentos na comunicação social, de um lado e de outro. Pessoalmente, tive pena que este problema, pouco digerido, e sobre uma questão onde seria importante entender a diferença entre associações de direito privado e público (para além do longo arrasto no tempo), viesse para a superfície das ondas, com risco de malévolas interpretações.
Por muito pouco que se saiba sobre problemas tão distanciados da opinião pública, como se poderá aceitar a acusação ou o irreflectido juízo de valor, em que se evoca a volúpia do domínio patrimonial, do dinheiro e das riquezas, dos prédios e dos montantes…!
E, no meio de toda esta tristeza, os pobres, a quem se destinam estes serviços de justiça e dignidade, parecem ser um pretexto… Não digo mais nada para não perturbar mais o assunto. Só em país pequeno há questões de bairro! Com o maior respeito pelo bairro…
Convicto estou de que as interpretações teóricas saberão encontrar a solução conforme, à luz da desgraça à qual se destinam.
Na outra questão (das várias concepções religiosas) surgem equívocos e limites. Em primeiro lugar, se há privilégios, deparamo-nos com um escândalo. Privilégios, concessões à ilharga, favores?! Ou são condições comuns e normais em ordem a um exercício de liberdade religiosa, onde são dominantes os aspectos de apoio social (similares aquelas condições a demais situações de associações culturais, de desporto, de ocupação dos tempos livres, etc, etc,) ou, se são excepções, acabem-se com os favores!
Comecemos por aqui. A restante questão “está na cara”: é uma aleivosia as outras confissões religiosas serem penalizadas, constituindo a Igreja Católica uma excepção! Numa altura de crise, por causa das “gorduras” dos mais poderosos, é fundamental que as instituições da Igreja Católica não queiram para si (e não querem…) o que não desejam para outros. A desigualdade da justiça. E “isto” num país, em que todos se aproveitam.
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