Porque discutem/gritam as pessoas umas com as outras?
Li, por estes dias, uma breve estória, que passo a contar... para posteriormente colhermos as lições – mesmo que mínimas – para a nossa vida do dia-a-dia... pessoal e social.
Um dia um pensador indiano fez a seguinte pergunta aos seus discípulos:
- Por que gritam as pessoas, quando estão aborrecidas?
Disse um deles:
- Gritámos porque perdemos a calma!
O pensador retorquiu:
- Mas porque havemos de gritar, quando a outra pessoa está ao nosso lado?
O discípulo replicou:
- Gritámos porque desejamos que a outra pessoa nos ouça.
E o mestre volta a perguntar:
- Então não é possível falar-lhe em voz baixa?
Foram surgindo outras respostas, mas nenhuma convenceu o mestre, tendo ele, por fim, esclarecido:
- Sabem porque se grita com uma pessoa, quando se está aborrecido? A razão é que, quando duas pessoas estão aborrecidas, os seus corações afastam-se muito e para poderem cobrir essa distância precisam de gritar de modo a poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem mais fortemente têm de gritar para se ouvirem uma à outra através da grande distância...
Por outro lado, sabem o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas? Não gritam, falam suavemente! E por quê? Porque seus corações estão mais perto, a distância entre eles é pequena e, às vezes, os seus corações estão tão próximos que nem falam, só sussurram. Aliás, quando o amor é muito intenso nem sequer é preciso sussurrar, basta apenas olhar, pois os seus corações entendem-se... porque estão muito próximos!
Por fim, o pensador concluiu, dizendo:
- Quando vocês discutirem não deixem que os vossos corações se afastem, não digam palavras que os distanciem ainda mais, pois chegará o dia em que a distância será tanta que não encontrarão o caminho de regresso...
Mesmo de forma simples podemos (e devemos) colher lições deste ‘episódio’ de teor um tanto moralista, na medida em que nele estão contidos vários desafios à nossa vida quotidiana, com maior ou menor repercussão no trato de uns para com os outros.
De facto, vemos com regular presença – desde os debates televisivos até às conversas de rua, passando pelo trato nas famílias – que as pessoas parecem não saber falar senão aos gritos, interrompendo-se mutuamente, cortando a linha de pensamento com futilidades, cruzando conversas... Está quase a tornar-se moda esta atitude de que ‘quem mais grita, mais razão tem’!
* Quando se usa ou não se usa a mesma linguagem
Certamente sabemos que para haver diálogo tem de verificar-se sintonia entre emissor e receptor, atendendo ainda à consonância de linguagens. Com efeito, podemos usar as mesmas palavras, mas dar-lhes conteúdos diferentes e não se faz conversa, antes se pode gerar mais confusão, discussão e, sobretudo, mal-estar.
Por entre a multiplicidade de códigos com que nos comunicamos, torna-se difícil – sobretudo num primeiro instante – descodificar tanto aquilo que nos dizem como aquilo que nós pretendemos revelar aos outros. Por vezes, será necessária uma boa dose de benevolência para que nos entendamos razoavelmente. As barreiras das línguas (idiomas) até nem são as mais difíceis de ultrapassar, se houver sintonia de linguagem. Quantas vezes um simples gesto ou mesmo um sorriso faz compreender quem, pelas palavras, não seria fácil comunicar.
Por outro lado, há situações onde mesmo que falando a mesma língua as pessoas desconversam porque cada qual pretende impor aos demais os significados nem sempre concordes das palavras usadas. Ainda recentemente vimos esta discrepância de conceitos (verbais e intelectuais) nas campanhas eleitorais – e foram três no espaço de cinco meses! – em que cada força partidária revestia de conteúdos palavras que os adversários também usavam mas às quais não conferiam o mesmo significado primário.
Urge, por isso, aprendermos a comunicar com a mesma linguagem, explicando, por vezes, os termos que usamos, quando se podem tornar dúbios os significados e fazendo o esforço por nos colocarmos do outro lado da nossa compreensão, isto é, será que o que dizemos é entendível por quem nos escuta.
* Querer aprender... continuamente
Num tempo onde as influências culturais são tão diversificadas, já não vêem todos os mesmos programas televisivos, já não comentam uniformemente as mesmas ‘graças’ (piadas) e nem sequer se confrontam com as mesmas modas ou tiques:
- torna-se essencial estar pronto a aprender sem querer ninguém impor-se;
- torna-se urgente ser compreensivo para com a diversidade sem querer nivelar os outros por si;
- torna-se imperioso viver em abertura aos outros, sabendo quem se é, respeitando e sendo respeitado;
- torna-se fundamental esclarecer os termos para consertar os conteúdos, por forma a sabermos crescer na aceitação e no compromisso.
* Em qual destes estádios nos poderemos encontrar?
* Até onde irá a capacidade humilde de reconhecimento das culpas e do arrependimento?
Por certo o desprezo será a maior ruptura na amizade e na concórdia entre as pessoas, tanto nas famílias como nas comunidades!
A. Sílvio Couto
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