Ateus a quem Deus incomoda
É frequente os ateus virarem teólogos. Coisa esquisita, por certo. Se não acreditam, porque se incomodam e perdem tempo a negar o que para eles não existe? Se é para empurrarem os crentes para a descrença, então tem que se lhes pedir que respeitem os sentimentos de quem não afina pelo seu diapasão. Muita gente simples é profundamente sábia e dispensa conselhos e ajudas daqueles que presumem de muito saber e pouco respeito.
É frequente os ateus virarem teólogos. Coisa esquisita, por certo. Se não acreditam, porque se incomodam e perdem tempo a negar o que para eles não existe? Se é para empurrarem os crentes para a descrença, então tem que se lhes pedir que respeitem os sentimentos de quem não afina pelo seu diapasão. Muita gente simples é profundamente sábia e dispensa conselhos e ajudas daqueles que presumem de muito saber e pouco respeito.
Quem subiu alto, por seu pé ou, como acontece frequentemente, porque outros o levaram ao colo, e se vê, por fim, no trono que lhe prepararam, se não tem consciência de que toda a glória é passageira, como “flor que murcha e erva que seca”, e de que não faltam na sociedade estátuas com pés de barro, acontece pensar que o esplendor do trono diviniza os mortais e é, por si, fonte de saber sem limites e razão para tudo poder afirmar ou negar.
Temos aí um exemplo de casa, que me aparece - é a minha opinião - como alguém atormentado pelos maus espíritos que procura exorcizar, sem grande resultado prático. Refiro-me ao Nobel Saramago. Nada tenho contra o senhor. Li um outro dos seus livros, Não consegui acabar alguns que ainda comecei. Por razões meramente literárias, não é o meu género, mas também não estranho nem me incomodo, que o seja de muitos dos seus leitores. Feita a casa na praça, tem de aceitar, se for capaz, quem queira opinar livremente sobre ela. O que ele faz com os outros
Por vezes penso que se trata de um homem incomodado, senão mesmo atormentado, pelos espíritos, talvez de Sofia, de Torga, ou até de gente de outras terras, onde se escreve em bom português, mas onde os padrinhos podem faltar ou serem menos eficazes.
Quando se sabe como se constrói um Nobel, das letras e não só, e qual a montagem que está por detrás do veredicto final, não é de estranhar que fiquem fantasmas pelo meio do processo. Depois do facto consumado, o problema não resolvido dá lugar a outros problemas. Saramago poderá sido talvez, um exemplo destas manobras. Não falta quem o pense e quem o diga.
É um homem orgulhoso e intocável. Fez do galardão um escudo de intocável. Não permite, a seu respeito, críticas e opiniões que não sejam de apreço e elogio. Mostra que não esquece nem perdoa e que, para além dele, ninguém, neste pobre mundo se lhe pode comparar. Sabe muito bem mover os cordelinhos que puxam o carrinho dos seus interesses. Este retrato deduz-se facilmente e sem preconceitos, das suas intervenções. Sem que seja necessário inventar ou deturpar. Ele próprio diz que precisa de mostrar que está vivo. Muito bem. Um propósito positivo de que ninguém o pode impedir. Por isso, agora, eufórico, escreve sem parar. As intervenções multiplicam-se. Os livros sucedem-se. A venda está de há muito assegurada. Só há que cuidar que os títulos sejam apelativos. A idade, agora, é jus e fama que abre portas. Do passado, o que lá vai, lá vai.
Há uns tempos, de modo mais insistente, o ateu virou teólogo. Afirmativo e dogmático em relação à religião que detesta. Dia a sabedoria do povo que quem tem olhos tortos, entorta as coisas mais direitas. Não sei, por isso, se o caminho escolhido lhe dará prémios e êxitos.
Desta vez, parece ser o fratricida Caim que lhe dá ensejo para matar o Deus, inventado por pobres escravos que Ele mesmo escravizou e que, na sua cegueira, teimam em O dizer vivo. O livro está a chegar, mas o autor já foi dizendo o que pretendia. O marketing funciona.
Não se pode esperar que Saramago acerte a pontaria contra o Deus que para ele não existe, mas que o incomoda, mesmo tratando-se de uma mera invenção de escravos…
A Bíblia exige fé para penetrar na sua mensagem. Os crentes e as igrejas cristãs não temem os tiros secos do desprezo ou do ódio. Serão os puros de coração verão a Deus. Puros de coração são os humildes, os únicos capazes de ser verdadeiros até ao fim. Puros, sem manobras egoístas, sem refolhos que coleccionam pó, sem misturas espúrias.
Há sempre para todos um fim inevitável. Para um crente é um início em que tudo aparecerá definitivamente claro. Um momento para nos apresentarmos sem recomendações e sem galardões. Um momento único da verdade total.
A sorte de todos, crentes ou não crentes, é a mesma. Quem acolhe nesse encontro inevitável de regresso à Fonte da vida, será sempre o Deus Pai, que tem, no seu amor misericordioso para com todos, a expressão mais eloquente do seu projecto salvador da dignificação do homem.
António Marcelino
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